domingo, 7 de julho de 2024

Recordando Velhas Canções (Luar do Sertão)


Compositor: Catulo da Paixão Cearense

Ah, que saudade
Do luar da minha terra
Lá na serra branquejando
Folhas secas pelo chão
Este luar cá da cidade tão escuro
Não tem aquela saudade
Do luar lá do sertão

Não há, oh gente, oh não
Luar como este do sertão
Não há, oh gente, oh não
Luar como este do sertão

A lua nasce
Por detrás da verde mata
Mais parece um sol de prata
Prateando a escuridão
E a gente pega na viola que ponteia
E a canção é a lua cheia
A nos nascer no coração

Não há, oh gente, oh não
Luar como este do sertão
Não há, oh gente, oh não
Luar como este do sertão

A gente fria
Desta terra sem poesia
Não se importa com esta lua
Nem faz caso do luar
Enquanto a onça
Lá na verde da capoeira
Leva uma hora inteira
Vendo a lua derivar

Não há, oh gente, oh não
Luar como este do sertão
Não há, oh gente, oh não
Luar como este do sertão

Coisa mais bela
Neste mundo não existe
Do que ouvir-se um galo triste
No sertão se faz luar
Parece até que alma da lua
É que descansa escondida na garganta
Desse galo a soluçar

Não há, oh gente, oh não
Luar como este do sertão
Não há, oh gente, oh não
Luar como este do sertão

Ai quem me dera
Que eu morresse lá na serra
Abraçado à minha terra
E dormindo de uma vez
Ser enterrado numa cova pequenina
Onde à tarde a sururina
Chora a sua viuvez

Não há, oh gente, oh não
Luar como este do sertão
Não há, oh gente, oh não
Luar como este do sertão
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Saudades do Luar Sertanejo 
A música 'Luar do Sertão', composta por Catulo da Paixão Cearense, é uma expressão lírica da nostalgia e do amor profundo pelas raízes sertanejas do autor. Através de sua poesia, Catulo evoca a beleza e a simplicidade do sertão, contrastando-a com a vida na cidade, que ele percebe como carente de poesia e beleza natural.

O refrão 'Não há, oh gente, oh não, Luar como este do sertão' serve como um estribilho que reforça a ideia central da música: a incomparabilidade do luar no sertão em relação a qualquer outro lugar. Essa repetição não apenas enfatiza a saudade sentida pelo poeta, mas também celebra as características únicas do sertão, como a lua que nasce por detrás da mata e o som melancólico de um galo ao luar. A descrição sensorial rica transforma a paisagem sertaneja em um personagem vivo na letra da música.

Além disso, a música toca em temas de morte e eternidade, especialmente no último verso onde o autor expressa o desejo de morrer no sertão, abraçado à sua terra. Isso reflete não apenas um desejo de retorno às origens, mas também uma busca por paz final na terra que ele tanto ama. Através dessa música, Catulo da Paixão Cearense não apenas compartilha sua saudade, mas também imortaliza a cultura e o ambiente do sertão brasileiro em sua obra.

A toada "Luar do Sertão" é um dos maiores sucessos de nossa música popular em todos os tempos. Fácil de cantar, está na memória de cada brasileiro, até dos que não se interessam por música. Como a maioria das canções que fazem apologia da vida campestre, encanta principalmente pela ingenuidade dos versos e simplicidade da melodia. Embora tenha defendido com veemência pela vida afora sua condição de autor único de "Luar do Sertão", Catulo da Paixão Cearense deve ser apenas o autor da letra.

A melodia seria de João Pernambuco ou, mais provavelmente, de um anônimo, tratando-se assim de um tema folclórico - o côco "É do Maitá" ou "Meu Engenho é do Humaitá" -, recolhido e modificado pelo violonista. Este côco integrava seu repertório e teria sido por ele transmitido a Catulo, como tantos outros temas. Pelo menos, isso é o que se deduz dos depoimentos de personalidades como Heitor Villa-Lobos, Mozart de Araújo, Sílvio Salema e Benjamin de Oliveira, publicados por Almirante no livro No tempo de Noel Rosa.

Há ainda a favor da versão do aproveitamento de tema popular, uma declaração do próprio Catulo (em entrevista a Joel Silveira) que diz: "Compus o Luar do Sertão ouvindo uma melodia antiga (...) cujo estribilho era assim: 'É do Maitá! É do Maitá"'. A propósito, conta o historiador Ary Vasconcelos (em Panorama da música popular brasileira na belle époque) que teve a oportunidade de ouvir "Luperce Miranda tocar ao bandolim duas versões do 'É do Maitá': a original e 'outra modificada por João Pernambuco', esta realmente muito parecida com Luar do sertão".

Homem humilde, quase analfabeto, sem muita noção do que representavam os direitos de uma música célebre, João Pernambuco teve dois defensores ilustres - Heitor Villa-Lobos e Henrique Foreis Domingues, o Almirante - que, se não conseguiram o reconhecimento judicial de sua condição de autor de Luar do Sertão, pelo menos deram credibilidade à reivindicação. Ainda do mesmo Almirante foi a iniciativa de tornar o Luar do Sertão prefixo musical da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, a partir de 1939.

Fontes:

sábado, 6 de julho de 2024

José Feldman (Analecto de Trivões) 33

 

Arthur Thomaz (Surpresos)

As cenas a seguir transcorrem em um pequeno restaurante no centro de uma capital brasileira.

Ruth, Celso, Roberta e Aleixo, em uma mesa no canto do recinto, surpresos, sem terem a mínima noção de como vieram parar ali.

No sentido de que nossos milhares de leitores não se percam no enredo, vamos explanar quem são as quatro atônitas personagens.

Ruth, cuja família aristocrática iniciou seu declínio financeiro e social na queda do Império, era concursada na Secretaria de Segurança, no cargo de policial datiloscopista.

Celso, médico urologista, considerado excêntrico pelos seus colegas no hospital, era um tanto sonhador, e nas horas vagas, um inventor.

Roberta, uma bela mulher, formada em Psicologia, mas que optara pela maternidade, passando os dias a bronzear-se nas piscinas do luxuoso condomínio em que vivia.

Aleixo, por sua vez, era desembargador de algum alto tribunal de justiça.

Surpresos, sem atinarem por qual razão estavam ali sentados, sem sequer se conhecerem, permaneciam calados, entreolhando-se.

Aleixo, acostumado a falar em tribunais, tentou iniciar uma aproximação, logo rechaçada por Roberta, irritada por estar perdendo tempo de bronzeamento em sua piscina.

Mais alguns minutos de silêncio, quando Ruth, já pensando na cena de ciúme de seu marido, ao descobrir que ela não estava na repartição, assumiu o controle da situação, colocando sua arma sobre a mesa e ordenando que todos se apresentassem imediatamente.

Celso, pouco acostumado a ver armas, lívido, balbuciou seu nome e profissão.

Aleixo citou artigos dos códigos penais relativos à exibição de armas em público, sendo ignorado por Ruth, que ainda mandou-o sentar e apresentar-se logo.

Em seguida, Roberta mostrou, trêmula, seus documentos apontando sua condição de psicóloga e socialite, ouvindo deboches dos presentes.

Celso, em determinado momento, timidamente, arriscou-se a aventar a hipótese de estarem mortos.

Ruth, “delicadamente”, deu-lhe um tremendo beliscão. O grito de dor serviu de resposta à tola manifestação do rapaz.

Roberta foi até a janela do recinto, e ao olhar para fora, deparou-se com um tenebroso vazio.

Celso, cada vez mais lívido, tirou do bolso uma caixa de remédios tarja preta, que costumava tomar nas horas de pânico e ofereceu a cada um, o que prontamente foi aceito por todos.

Aleixo foi até o telefone no balcão e ligou para sua assessora. As palavras estranhamente perdiam-se no ar, nunca chegando à interlocutora.

Celso, por ser um inventor e cultuar hábitos exóticos, lembrou que ensinara sua secretária do consultório a ler sinais de fumaça, como os indígenas americanos. Propôs ao grupo fazer uma fogueira nos fundos do restaurante para enviar os sinais. Porém, ao tocar na maçaneta, ela transformou-se em gelatina. Voltou à mesa desalentado.

Ruth, por sua vez, lembrou das aulas que recebera na infância de seu tio-avô Zetho, Vice-Almirante da Armada Brasileira, e radioamador, que, pacientemente, lhe ensinara o Código Morse. Foi até a parede e tentou enviar uma mensagem, mas a parede amolecia ao toque de seus dedos, sem produzir nenhum som. Irritada, voltou à mesa e disparou um tiro para o alto, a fim de recuperar o controle da situação.

Do buraco causado pelo projétil no teto, começaram a cair, incessantemente, pétalas de rosas, que cobriram o grupo, e que por isso tiveram que mudar de mesa, para não serem soterrados.

Roberta, timidamente, sugeriu que tentassem sair pela porta principal.

Diante da obviedade da ideia, todos, ordeiramente, foram até ela, abriram e encontraram um salão idêntico ao que estavam.

Foram até a porta desse recinto e abriram. Novamente depararam-se com outro salão, idêntico ao que estavam.

E a seguir, outro, outro e outro…

Fonte: Arthur Thomaz. Leves contos ao léu: insondáveis. 1. ed. Santos/SP: Bueno Editora, 2024. Enviado pelo autor 

Vereda da Poesia = 54 =


Trova Humorística de Pouso Alegre/MG

NEWTON MEYER
1936 – 2006

Careca? Não creio sê-lo, 
e o fato impede que eu minta:
Tenho um fio de cabelo,
mas, quase com metro e trinta!
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Poema de Brasília/DF

LURDIANA ARAÚJO

Fogueira

Coração, deixa de besteira,
O amor é apenas uma fogueira
Queima a alma inteira.

Como fogo na lareira
Vai nos queimando como madeira
Nos consumindo a vida inteira.

É uma chama traiçoeira
Quer nos sufocar, apedrejar,
Aniquilar.

Nunca tente pular esta fogueira
Uma ferida corta a carne quer não queira,
E nos aprisiona nesta chama traiçoeira.

É inútil relutar, nem mesmo nossas cinzas,
Conseguem se libertar de alguma maneira.
O amor é apenas uma fogueira, chama traiçoeira.
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Aldravia do Rio de Janeiro/RJ

GLÓRIA FONTES PUPPIN

transformar
  é
  difícil
    mexe
    com
      inconsciente
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Soneto de Teresina/PI

CHICO MIGUEL
(Francisco Miguel de Moura)

Nós e o planeta

Nascemos num oceano de incertezas,
São vidas sobre vidas, muitas vidas.
Que no combate até desconhecemos
Se são amigos nossos ou inimigos.

A ciência desvenda-nos perigos
De vírus a bactérias, faz vacinas
Contra os males fatais que nos imolam,
Pois somos nós os monstros. E sorrimos.

Também, com relação ao universo,
Somos futuros vírus já dispersos,
Na Terra, onde seremos os seus réus.

Fazemos, desta casa azul, um lixo…
Pensando (ou sem pensar) que com tudo isto
Estamos, corpo e alma, indo pro céu.
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Trova Premiada na Ilha de Guanabara, 1965

CEZÁRIO BRANDI FILHO 
(Juiz de Fora/MG)

Quanta gente gostaria
de ter a vida da gente,
sem saber que isso seria
trocar tristezas, somente.
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Poema de Portugal

ANA HATHERLY
(Anna Maria de Lourdes Rocha Alves Hatherly)
Porto, 1929 – 2015, Lisboa

Pensar é encher-se de tristeza

To think is to be full of sorrow
J. Keats, Ode to a nightgale

Pensar é encher-se de tristeza
e quando penso
não em ti
mas em tudo
sofro

Dantes eu vivia só
agora vivo rodeada de palavras
que eu cultivo
no meu jardim de penas

Eu sigo-as
e elas seguem-me:
são o exigente cortejo
que me persegue

Em toda a parte
ouço seu imenso clamor
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Quadra Popular de Minas Gerais

Morena, se tu soubesses
o quanto eu te quero bem,
tu não rias, não brincavas,
perto de mim, com ninguém.
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Soneto de Lisboa/Portugal

ALFREDO SANTOS MENDES

Adeus juventude

Depois da juventude ultrapassada,
a vida passa a ter outro sentido.
E todo o aprendizado adquirido,
Será o nosso guia de jornada!

Teremos pela frente, tudo ou nada.
Qual deles será de nós, o nosso adido?
Será que ficaremos no olvido?
Nossa porta estará sempre fechada?

Há que sorrir em cada despertar.
E nunca esquecer de comentar:
que há mais um dia todas as manhãs!

E quando já passados muitos anos,
não devemos chorar os desenganos,
mas olhar com orgulho nossas cãs!
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Trova de Santos/SP

CAROLINA RAMOS

Bichinho cheio de manha,
terno e manso quando quer;
mas, zangado, morde e arranha:
- É gato? - Não... é mulher!
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Poema dos Estados Unidos

WALLACE STEVENS
Reading/ Pensilvânia, 1879 – 1955, Hartford/Connecticut

O Homem da Neve 

É preciso uma mente de inverno
 Para olhar a geada e os ramos
 Dos pinheiros cobertos pela nevada

E há muito tempo fazer frio
 Para observar os zimbros arrepiados de gelo,
 Os abetos ásperos no brilho distante

Do sol de janeiro; e não pensar
 Em qualquer miséria no som do vento,
 No som de umas poucas folhas

Que é o som da terra
 Cheia do mesmo vento
 Que sopra no mesmo lugar vazio

Para alguém que escuta, escuta na neve,
 E, ausente, observa
 Nada que não está lá e o nada que é.
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Haicai de São Paulo/SP

IRENE M. FUKE

Mãos arroxeadas
Se aquecem ao sol de inverno.
Mendigo na praça.
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Soneto do Rio de Janeiro/RJ

OLEGÁRIO MARIANO
(Olegário Mariano Carneiro da Cunha)
Recife/PE, 1889 – 1958, Rio de Janeiro/RJ

A velha mangueira

No pátio da senzala que a corrida
Do tempo mau de assombrações povoa,
Uma velha mangueira, comovida,
Deita no chão maldito a sombra boa.

Tinir de ferros, música dorida,
Vago maracatu no espaço ecoa…
Ela, presa às raízes, toda a vida,
Seu cativeiro, em flores, abençoa…

Rondam na noite espectros infelizes
Que lhe atiram, dos galhos às raízes,
Em blasfêmias de dor, golpes violentos.

E, quando os ventos rugem nos espaços,
Os seus galhos se torcem como braços
De escravos vergastados pelos ventos.
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Trova de Parede/Portugal

OLÍVIA ALVAREZ MIGUEZ BARROSO

A vida, com temperança,
vinda desde pequenino,
é rumo de confiança,
ensinamento divino.
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Glosa de Fortaleza/CE

NEMÉSIO PRATA

MOTE
Feito um filme de cinema,
ao beijar a tua face,
te dediquei um poema
do amor... que agora renasce!
José Feldman 
(Campo Mourão/PR)

GLOSA
Feito um filme de cinema,
daqueles, do tempo antigo,
onde a atriz era de extrema
beleza, sonhei contigo!

Na penumbra do cinema,
ao beijar a tua face
veio-me, logo, o dilema:
qual será o desenlace?

Hoje, lembrando da cena
passada na mocidade,
te dediquei um poema
para matar a saudade.

Desperto da sonolência
veio-me, como num passe
de mágica, a efervescência
do amor... que agora renasce!
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Aldravia de Ipatinga/MG

MARÍLIA SIQUEIRA LACERDA

a
vida
corre
depressa
qual
aldravias
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Soneto do Rio de Janeiro/RJ

ERNÂNI ROSAS
(Ernani Salomão Rosas Ribeiro de Almeida)
Florianópolis/SC, 1886 – 1955, Rio de Janeiro/RJ

Convalescente

Convalesço dos males da Quimera
partindo sempre de um desejo rude,
a malograda sorte da galera
que aportar com delírio nunca pude…

Do amor, nada pretendo com veemência
pela vida misérrima que arrasto!
Eu sinto o frágil coração tão gasto
às futuras e rudes penitências…

Desconheço o rigor dessa ironia
Quando o sol tomba na água e eril centelha
sem n´a apagar em fulva alegoria…

Amo a noite, amo o espelho do Universo
nunca a chaga de um Deus que se avermelha
no sangue que palpita no meu verso!…
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Trova Premiada em São Francisco de Itabapoana/RJ, 2007

ALMIR PINTO DE AZEVEDO 
(Cambuci/RJ)

Trovadores versejando
com dom divino e fecundo,
com suas mãos derramando
beleza e paz pelo mundo...
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Poema de Angola

AIRES ALMEIDA SANTOS
Chinguar, 1922 - 1991, Benguela

Poema para minha filha

Para ti, querida
Rosas e mel
E estrelas rutilantes,
Risos gritantes,
Muita ternura e carinho

E o Sol
Brilhando muito
Em frente ao teu caminho.

Deixa comigo o fel, 
A dor, o desespero 
Deixa que eu fira a pele 
Nos ásperos abrolhos 
Da vida.

Deixa chorar meus olhos
 Deixa comigo
 O peso do sonho tão antigo.

Para ti, querida 
Paz, amor, ternura 
Estrelas rutilantes, 
Rosas e Mel…
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Triverso de Juiz de Fora/MG

CECY BARBOSA CAMPOS

Cansaço

Dormir sem sonhar
com os fatos da vida
pra não mais chorar.
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Setilha do Rio Grande do Sul

DELCY CANALLES
Pedro Osório, 1931 –  ?, Porto Alegre/RS

O bálsamo da esperança
nos vem com a Primavera,
que chega alegre em setembro,
depois de uma fria espera,
pois ela é a estação das flores,
dos perfumes, dos amores,
dos sonhos e da quimera!
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Trova de Maringá/PR

A. A. DE ASSIS

O mar, a jangada, o vento;
a bordo, ao luar, nós dois.
Construa no pensamento
a cena que vem depois...
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HINO DE UBERABA/MG

Da jornada de fé, corajosa
De bandeiras por todo o Brasil,
Tu surgiste, Uberaba formosa,
Na campina, sob um céu de anil.

És Uberaba, o formoso
E mais rico florão,
Desde nosso sertão
Valoroso.
Oh! Grande terra gentil,
Um torrão sem igual,
No Planalto Central
Do Brasil

Não transiges com teu inimigo,
Mas acolhes, gentil, em teu colo,
Os que vêm ao trabalho, contigo,
Procurando elevar o teu solo.

És Uberaba, o formoso
E mais rico florão,
Desde nosso sertão valoroso.
Oh! Grande terra gentil,
Um torrão sem igual,
No Planalto Central
Do Brasil 

Tuas matas, teus campos, teu montes,
De riquezas sem par, peregrinas,
Construíram, entre teus horizontes,
A mais bela das jóias mais finas!

És, Uberaba, o formoso
E mais rico florão,
Desde nosso sertão valoroso.
Oh! Grande terra gentil,
Um torrão sem igual,
No Planalto Central do Brasil.
* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * 

O Louvor à Terra do Zebu
O Hino de Uberaba, como muitos hinos municipais, é uma composição que exalta as qualidades e a história da cidade, localizada no estado de Minas Gerais, Brasil. A letra do hino destaca a bravura e a fé dos fundadores da cidade, que é descrita como tendo surgido corajosamente durante a expansão territorial do país, marcada pelas bandeiras, expedições que adentravam o interior do Brasil em busca de riquezas e terras para colonizar.

A canção prossegue enaltecendo Uberaba como um 'florão', uma joia preciosa e rica do sertão brasileiro, destacando sua beleza e valor. A menção ao 'Planalto Central' situa geograficamente a cidade, que embora não esteja no Planalto Central do Brasil, está em uma região elevada do território mineiro. A letra também faz referência à hospitalidade do povo uberabense, que acolhe a todos que chegam para trabalhar e contribuir com o desenvolvimento local.

Por fim, o hino celebra as riquezas naturais de Uberaba, como suas matas, campos e montes, que são comparados a 'riquezas sem par'. A cidade é conhecida por sua importância na agropecuária, especialmente na criação de gado zebu, e o hino faz jus a essa característica ao construir uma imagem de Uberaba como uma 'jóia mais fina' entre as cidades brasileiras, ressaltando seu valor único e sua contribuição para a riqueza nacional. (https://www.letras.mus.br/hinos-de-cidades/942731/
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Poetrix do Rio de Janeiro/RJ

LILIAN MAIAL

doa-se

coração adestrado
com pedigree, vacinado,
só não obedece ao dono
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Soneto de Santos/SP

ELISA BARRETO

Velhas fotografias

Velhas fotografias, amarelas,
lembram vidas da vida que passou.
São guardiãs fiéis, são sentinelas,
que a arte no papel eternizou.

Guardam características singelas
de épocas que a evolução tragou.
Na estrutura da vida são janelas
que o palácio do tempo conservou.

Olham-me da parede, penduradas,
como a indagar-me, muito admiradas,
por que eu as fito tão frequentemente . . .

È que as fotografias tomam vida
e a alma de alguém, quando nos foi querida,
nelas palpita misteriosamente.
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Trova de Caicó/RN

PROFESSOR GARCIA

Nas areias calcinadas
desse deserto sem fim...
A vida deixou pegadas
perdidas dentro de mim!
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Fábula em Versos da França

JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry, 1621 – 1695, Paris

O doido que vende siso

Um doido, pelas ruas, pelas praças,
Dizia, em seu pregão: «Quem compra siso?»
E os sempre crentes homens acudiam
À compra diligentes.
Primeiro, de barato, dava o doido
Muita careta, muita monaria;
Mas, logo que ensacava na algibeira
Dinheiro dalgum zote,
Com um bofetão, que vinha rebolindo,
Lhe dava duas braças de barbante
Aos tais fregueses, em lugar de siso.
Uns se agastavam; mas que vale irar-se?
Ser, por iras, de todos mais zombado?
Rir como os outros fora mais acerto;
Ou safar-se, sem chus, nem bus, levando
O bofetão, e o fio.
Quer bem levar de todo a surriada
Quem esquadrinha sentido figurado
No proceder dum louco.
Que razão há que dar de doidarias?
Quanto chocalha em testos desvairados
A mão do Acaso o volve.
Mas fio e bofetão davam tortura
A certas cachimônias.
Um dos logrados vai-se ter com um sábio,
Que logo lhe emborcou, sem muito empacho,
O oráculo seguinte:
«Hieroglíficos meros vende o doido.
Deve o prudente duas braças pôr-se
Longe, de quem tem eiva no miolo,
Se afagos tais não quer recolher dele.
Bom siso vos vendeu. Não sois logrado.»
(tradução: Filinto Elísio)

Recordando Velhas Canções (Risque)


Compositor: Ary Barroso

Risque …
meu nome do seu caderno
Pois não suporto o inferno
Do nosso amor fracassado

Deixe ...
que eu siga novos caminhos
Em busca de outros carinhos
Matemos nosso passado

Mas, se um dia, talvez, 
a saudade apertar
Não se perturbe, afogue a saudade
Nos copos de um bar

Creia...
toda a quimera se escoa
Como a brancura da espuma
Que se desmancha na areia
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Despedidas e Recomeços
A música 'Risque', composta pelo renomado Ary Barroso, aborda temas profundos de despedida, desilusão amorosa e a busca por renovação emocional. Através de uma letra poética e carregada de emoção, o compositor expressa o desejo de encerrar um capítulo doloroso de sua vida amorosa, pedindo que seu nome seja removido do caderno da amada, simbolizando o fim de uma relação.

O uso da metáfora 'não suporto o inferno do nosso amor fracassado' intensifica a dor e o sofrimento causados pelo amor que não deu certo, destacando o tormento emocional vivido pelo eu lírico. A canção segue com o desejo de seguir novos caminhos e buscar novos carinhos, indicando uma tentativa de cura e de seguir em frente, apesar das memórias do passado que ainda podem ressurgir.

A parte final da música traz uma reflexão sobre a efemeridade dos sentimentos e das situações, comparando-os à espuma que se desmancha na areia. Ary Barroso usa essa imagem para sugerir que, assim como a espuma, os sentimentos intensos e até mesmo a saudade eventualmente se dissipam, permitindo que a vida continue. A recomendação para afogar a saudade em copos de um bar revela uma abordagem um tanto melancólica de lidar com a dor, típica de muitas canções de desamor.

Foi talvez para mostrar que sabia fazer samba-de-fossa tão bem quanto os especialistas - e, de quebra, faturar em cima da moda do momento que Ary Barroso compôs "Risque". Compôs e se deu bem, pois a música, lançada por Aurora Miranda em 52, firmou-se como um dos grandes sucessos do ano seguinte, na voz de Linda Batista.

Na realidade, porém, "Risque" não chega a alcançar o nível das melhores obras de Ary, limitando-se a repetir lugares comuns do gênero ( o "Inferno do amor fracassado", a "Saudade afogada nos copos de um bar"...), sobre uma melodia também comum. Muito mais interessante, pelo menos do ponto de vista melódico, é um outro samba-de-fossa de sua autoria, "Folha morta", lançado à mesma época com menor repercussão.

Fontes: