domingo, 22 de setembro de 2024

Arthur Thomaz (O Pó de Pirlimpimpim)

A malvada bruxa que roubou o pó e tentou voar, fracassou porque para isso é necessário ter pensamentos alegres. A fada Sininho, um dia cansada de ser artista secundária na história de Peter Pan, resolveu arriscar voo até uma cidade que ouviu ser chamada de maravilhosa.

Veio ao Rio de Janeiro. Sobrevoou a metrópole, cumprimentou o Cristo, lambeu o Pão de Açúcar (não achou nada doce), teve que tampar seu narizinho ao passar pela Lagoa Rodrigo de Freitas e pela Baía de Guanabara, pegou carona no bondinho, onde ficou parada no alto por falta de energia elétrica, e foi conhecer algumas praias famosas, nas quais não pôde descer por excesso de lixo e de fezes de animais que os donos insistem em levar para passear.

Escapou de vários tiros ao sobrevoar os morros, desferidos por traficantes que a confundiram com helicóptero da PM. Em São Conrado, misturou-se às dezenas de coloridas asas-deltas que flanavam pelo ar.

Pegou um táxi e veio até Ipanema, onde ficou em um lindo hotel com vista para o mar. Na manhã seguinte, após descansar da extenuante viagem, comprou um sumário biquíni na loja do hotel e foi até a praia. Observou maravilhada a imensa diversidade da fauna que se reunia em diferentes postos da orla.

Em uma delas, notou que após fumar uma estranha erva, o grupo parecia voar como se tivesse borrifado seu pó de pirlimpimpim. Curiosa, resolveu experimentar esse cigarrinho artesanal. Notou que apesar de ficar muito leve, não conseguia alçar voo, tossiu bastante e continuou pela areia. 

Encontrou uma tribo de alegres rapazes e moças que se beijavam sofregamente, independentemente de qualquer distinção sexual, e que pareciam levitar de tanta frescura. Beijou muitas e muitos dessa tribo, mas novamente não conseguiu voar.

No Arpoador, deparou-se com saudáveis corpos bronzeados que a convidaram para surfar em magníficas ondas, mas que também não a fizeram alçar voo.

Em outra região, encontrou um grupo que se dedicava inteiramente à cultura, lendo e declamando poemas maravilhosos, mas que também não a fizeram decolar.

Já quase desesperançada, ouviu de alguém que haveria uma roda de samba em um local na Lapa. Meio sem saber o que era samba, muito menos roda e Lapa, pediu a um taxista que a levasse até lá. Ao entrar no local indicado, deparou-se com pessoas requebrando os quadris em um ritmo frenético. 

Conheceu um rapaz magro e de cor morena, que imediatamente a convidou para dançar algo que ele chamou de Samba de Gafieira. Sininho foi às nuvens nos braços daquele homem. Mal sentia seus pés no chão, e após dançar três canções, percebeu que nem precisava mais do seu pozinho para levitar.

Hoje, Sininho é proprietária de uma casa de show na Lapa, com o sugestivo nome ”Dançando nas Alturas”, cujo barman é Peter Pan, especializado em drinques verdes, com uma pitadinha de certo pó, e que seu efeito principal é levar os dançarinos às nuvens.

Em frente a essa maravilhosa casa noturna está escrito em letras garrafais: “entre sempre aqui com pensamentos alegres”.

Felizes, jamais voltaram à Terra do Nunca.

Fonte: Arthur Thomaz. Leves contos ao léu. Santos/SP: Bueno Editora, 2021. 
Enviado pelo autor 

Vereda da Poesia = 116 =


Trova de
CAMPOS SALES
Lucélia/SP, 1940 – 2017, São Paulo/SP

Nos telhados da cidade
a garoa não cai mais
somente a minha saudade
ainda escorre nos beirais!
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Poema de
APARECIDO RAIMUNDO DE SOUZA
Vila Velha/ES

Remédio ideal

Cada vazio
Existente
em minha alma
Cabe uma partícula
Que completa
Você
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Trova de
IZO GOLDMAN
Porto Alegre/RS, 1932 – 2013, São Paulo/SP

A sorte, esquiva e malvada,
não dá “chance”, só trabalho...
Eu a sigo pela estrada,
e ela foge pelo atalho!...
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Soneto de
DOROTHY JANSSON MORETTI
Três Barras/SC, 1926 – 2017, Sorocaba/SP

Dia Brusco

Plena manhã é um triste lusco-fusco
como se a tarde já tivesse entrado.
Que depressão me traz o dia brusco,
tudo cinza, sombrio, meio enlutado!

As casas vestem-se de um tom pardusco,
tudo parece velho e desbotado…
Inutilmente, em cada canto eu busco
o brilho e a cor de um dia ensolarado.

Adoro o sol. Adoro a chuva mansa
que alegre cantarola na enxurrada
e me recorda os tempos de criança.

Mas dia brusco, seco e carrancudo,
tange meus nervos e eu, mal-humorada,
só vejo sombras de velhice em tudo!
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Trova de
DÁGUIMA VERÔNICA DE OLIVEIRA
Santa Juliana/MG

Não se compra, tendo em vista
que não se vende alegria;
felicidade é conquista
que se faz no dia a dia.
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Poema de
ANTONIO JURACI SIQUEIRA
Belém/PA

Que Pena...

Já não falo de mim. Não vale a pena
pois a pena que eu sentir do meu penar
é tão vã quanto as penas ressequidas
de um pássaro empalhado e tão inútil
quanto a pena da caneta que secou.

Apenas te direi que sinto pena
das penas que perdi durante o voo
no céu da solidão cumprindo a pena
imposta pela pena algoz do teu amor.
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Trova Popular

Muito vence quem se vence
e muito diz quem diz tudo, 
porque ao discreto pertence
a tempo fazer-se mudo.
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Dobradinha poética (trova e soneto) de
LUCÍLIA ALZIRA TRINDADE DECARLI
Bandeirantes/PR

Doce Olhar

Teu olhar, pura magia,
transmite doçura tanta,
que em mim tira a nostalgia
e qualquer medo suplanta!

Transmite o teu olhar real doçura…
Pergunto-me se existem tais momentos
em que este olhar, despido de candura,
reflete o fel de alguns maus pensamentos.

Aqueles pensamentos de amargura,
que em todos nós evocam sofrimentos,
pois não existe, creio, uma criatura
livre no mundo, sem quaisquer tormentos…

Mas este olhar, que inspira em mim confiança,
fala de amor, de paz e de esperança,
logo afugenta o meu triste pensar.

Volto a te olhar, atenta e embevecida…
Se em tuas mãos coloco a minha vida,
no teu olhar eu quero mergulhar!…
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Trova de
MARA MELINNI
Caicó/RN

Seca: quanta desventura
enche a terra de tristeza!
O homem sofre, mas a cura
vem da própria natureza.
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Poema de
ANTERO JERÓNIMO
Lisboa/Portugal


Na árvore sagrada
mágica mística
berço da Criação
lugar singular
o combatente abrigou a sua fé

Ali, em partidas e chegadas
milhares depositaram as suas preces
invocando o seu deus
orando pelos seus
e pelos irmãos da guerra
que regaram de sangue a vermelha terra

Quão grande 
pode ser a fé do Homem.
Crê-se que a árvore
é uma ponte para o céu.
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Trova Humorística de
THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA
São Paulo/SP

É mãe de um casal!... e é duro
olhar a cena espantosa:
a filha em pijama escuro!
- O filho... em baby-doll rosa!
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Soneto de 
ANTÔNIO OLIVEIRA PENA
Volta Redonda/RJ

Soneto de aproximação

A vida, ao teu redor, vê com alegria;
nos jardins, conta as flores que se abriram;
esquece as murchas, já sem poesia,
e aquelas cujas pétalas caíram.

Retém, do lábio teu, tudo o que é bom,
e as linhas do sorriso do teu rosto;
não te deixes levar pelo desgosto,
nem digas nada em pesaroso tom.

Que saibas rir, malgrado o sofrimento;
não te incomode nunca a noite escura,
tampouco, por teu corpo, as cicatrizes...

Guarda que as nuvens as dissipa o vento,
e que a árvore que mais alcança altura
tem mais fundas, no chão, suas raízes.
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Trova de
ELMO GOMES 
Rio de Janeiro/RJ (1929 – 2006)

Surda e muda a criatura,
brincando com seus irmãos, 
tece frases de ternura
que ela diz na voz das mãos.
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Poema de
VANDA FAGUNDES QUEIROZ
Curitiba/PR

Menino da feira

Menino da feira,
esperto e magrinho,
tão cedo na vida
perdeu seu lazer.

Carreto, moça?
Baratinho, dona!
Posso cuidar do carro, tia?

Menino insistente
pedindo com os olhos
que guardam no fundo
segredos do lar…
(Talvez o pai fugiu…
A mãe leva para fora…
Oito irmãozinhos com fome...)

Menino
sem direitos…
só deveres.
Seus pais, onde estarão?
Talvez você seja filho…
da minha própria omissão.
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Trova Funerária Cigana

A minha alma não morreu,
desfaleceu no transporte,
na ocasião do gemido
que meu irmão deu na morte.
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Soneto de 
GIOCONDA LABECCA
(Campanha/MG, 1931 – 2020, São Paulo/SP)

Aspiração

Se eu pudesse, morrer, morrer olhando,
daqui desta janela bem defronte,
o Céu, a Vargem, a Campina e o Monte,
e junto a mim a minha Mãe orando...

E a natureza toda me embalando
ao som de salmos, murmurando a fonte,
e o sol tépido e morno no horizonte
e sorrateiramente se escambando...

Ver meus irmãos em orações funéreas,
mandando aos Céus em espirais etéreas
a fumaça do incenso, espesso véu...

E eu, vendo a vida plena de esplendores,
dizer, sorrindo nos meus estertores:
— Que tarde azul para subir ao Céu!
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Trova Humorística de
JOAQUIM CARLOS 
Nova Friburgo/RJ

Safado como ninguém,
o guri reage assim:
quando o padre diz “Amém...”
ele completa: “doim!”
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Poema de 
RITA MARCIANO MOURÃO
Ribeirão Preto/SP

A poesia pede silêncio

Poetar é meu jeito de estar sozinha,
esquecer o mundo e suas ameaças.
A poesia pede silêncio, recolhimento.
O silêncio me leva a exorcizar os demônios
que insistem em amordaçar a minha liberdade
de ser e de amar.
A poesia me aproxima de Deus!
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Trova de
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR

Ah, belos tempos dourados, 
que os sonhos não trazem mais... 
Bailavam, corpos colados, 
olho no olho, os casais! 
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Soneto de 
JOÃO RANGEL COELHO
Juiz de Fora/MG, 1897 – 1975, Rio de Janeiro/RJ

Mãos

As tuas longas mãos alvinitentes,
despetalando rosas ao luar,
são brancas, "como dois lírios doentes"
no lago emocional do meu olhar.

Meu triste amor!... Nas horas mais pungentes
da minha vida boêmia e singular,
as tuas mãos de seda, transparentes,
teceram meu destino, a acarinhar.

Quando partiste, as tuas mãos esguias,
num derradeiro gesto de agonias,
tremularam de manso aos olhos meus

e, com saudade imensa e dolorida,
deixaram para sempre a minha vida
na balada tristíssima do adeus.
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Trova de
LISETE JOHNSON
Butiá/RS, 1950 – 2020, Porto Alegre/RS

Quando criança, eu ficava
olhando o céu, a cismar:
- quem, tão alto, a luz ligava
para acender o luar!
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Hino da 
LAPA / PR

I
Junto a Dulcídio e Carneiro
No cerco da Lapa, um dia,
Mostramos ao mundo inteiro
Que a nossa gente sabia,

Pela justiça e o direito
Lá nos campos de batalha
Pelejar peito a peito
Ao rouco som da metralha

Estribilho:
Que campos verdes, que alegre terra,
Terra mais bela que esta não há:
Quantas riquezas no seio encerra
A linda terra do Paraná!

II
Como é feliz quem caminha,
Assim denodadamente,
Pronto, sempre, em linha,
Gesto firme, olhar em frente.

Bendita seja esta imagem
Da Pátria sonora e bela...
Que orgulho de ter coragem
Para poder defendê-la

Estribilho:
Que campos verdes, que alegre terra,
Terra mais bela que esta não há:
Quantas riquezas no seio encerra
A linda terra do Paraná!

III
Cair no combate e sangue
Dar pela Pátria querida,
Em ondas, o nosso sangue,
Em ondas, a nossa vida,

É uma esplêndida vitória
Que arrebata e que consola:
Dai-nos senhor, essa glória
Dai-nos senhor, essa esmola!

Estribilho:
Que campos verdes, que alegre terra,
Terra mais bela que esta não há:
Quantas riquezas no seio encerra
A linda terra do Paraná!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

Trova Humorística de 
SELMA PATTI SPINELLI
São Paulo/SP

Que me perdoa, se eu peco,
pois sou um homem de fé:
Mas já vi padre em boteco
rezando pra "Santo mé"!!!
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Soneto de 
LILINHA FERNANDES
Rio de Janeiro/RJ, 1891 – 1981

A casa onde nasci

Era minha esta casa. Eu a conheço...
Janelas amplas... larga porta... a escada
por onde agora em pensamento desço
para ver como nasce uma alvorada.

O laranjal cheiroso, o mato espesso...
O poço onde era a roupa bem lavada.
No pátio, bem no centro, eu não me esqueço,
a amendoeira por meu pai plantada.

Dava guarda ao portão um jasmineiro
que de flor se vestia o ano inteiro
e hoje está triste e velho como eu.

Casa velha! deixaste de ser minha...
Assim, tudo que amei, tudo que eu tinha,
deixou, há muito tempo, de ser meu!
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Trova de 
ARLINDO TADEU HAGEN
Juiz de Fora/MG

Eu te imploro, por favor
não insistas nesse adeus,
se não for por meu amor,
fica pelo amor de Deus!
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Fábula em Versos de
JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry/França, 1621 – 1695, Paris/França

O leão e o rato

Saiu da toca aturdido
Daninho pequeno rato,
E foi cair insensato
Entre as garras dum leão.
Eis o monarca das feras
Lhe concedeu liberdade,
Ou por ter dele piedade,
Ou por não ter fome então.

Mas essa beneficência
Foi bem paga, e quem diria
Que o rei das feras teria
Dum vil rato precisão!
Pois que uma vez indo entrando
Por uma selva frondosa,
Caiu em rede enganosa
Sem conhecer a traição.

Rugidos, esforços, tudo
Balda sem poder fugir-lhe;
Mas vem o rato acudir-lhe
E entra a roer-lhe a prisão.
Rompe com seus finos dentes
Primeira e segunda malha;
E tanto depois trabalha,
Que as mais também rotas são.

O seu benfeitor liberta,
Uma dívida pagando,
E assim à gente ensinando
De ser grato a obrigação.
Também mostra aos insofridos
Que o trabalho com paciência
Faz mais que a força, a imprudência
Dos que em fúria sempre estão.

Dicas de Escrita (Como escrever uma história de mistério) – Parte 1

texto por Lucy V. Hay
Um bom mistério terá personagens fascinantes, um suspense emocionante e um quebra-cabeça que manterá você virando as páginas. Mas pode ser difícil escrever uma história de mistério cativante, especialmente se você nunca tiver tentado antes. Com a preparação, o brainstorming, o planejamento, a edição e o desenvolvimento certo das personagens, você pode criar seu próprio mistério envolvente.


PREPARANDO-SE PARA ESCREVER

1. Entenda a distinção entre o gênero mistério e o gênero suspense
Os mistérios quase sempre começam com um assassinato. A grande questão é quem cometeu o crime. Os suspenses costumam começar com uma situação que leva a uma grande catástrofe, como um assassinato, um assalto a banco, uma explosão nuclear etc. 

A grande pergunta em um texto desse gênero é se o herói pode ou não evitar que a catástrofe aconteça. 

Nas histórias de mistério, o leitor não sabe quem cometeu o assassinato até o fim do romance. Elas são centradas no exercício intelectual de tentar descobrir as motivações por trás do crime ou a resposta para o quebra-cabeça.

Os mistérios tendem a ser escritos em primeira pessoa enquanto os suspenses, são muitas vezes escritos na terceira pessoa e a partir de vários pontos de vista. As narrativas de mistério costumam ter um ritmo mais lento, conforme o herói, detetive ou protagonista tenta resolver o crime. Há também menos cenas de ação nelas do que nos suspenses.

Como os mistérios costumam ser mais lentos, as personagens geralmente têm mais profundidade e melhor acabamento neles do que em um suspense.

2. Leia exemplos de mistérios 
Há muitas grandes histórias desse gênero que você pode ler para ter uma noção do que é um mistério bem escrito e bem desenvolvido.

"A Mulher de Branco", de Wilkie Collins: esse romance de mistério do século XIX foi escrito originalmente no formato de série, por isso a história avança em passos medidos. Muito do que se tornou norma em ficção policial foi feito por Collins neste livro, por isso trata-se de uma introdução envolvente e instrutiva ao gênero.

"O Sono Eterno", de Raymond Chandler: Chandler é um dos maiores escritores do gênero, criando histórias envolventes sobre os desafios e as atribulações do detetive particular Philip Marlowe. Este é um investigador durão, cínico, mas honesto que se envolve em uma trama com um general, sua filha e um fotógrafo chantageador. O trabalho de Chandler é conhecido por seu diálogo afiado, bom ritmo e herói interessante.

"As Aventuras de Sherlock Holmes", de Sir Arthur Conan Doyle: um dos detetives mais famosos do gênero, junto com seu igualmente famoso parceiro de investigação Watson, resolve uma série de mistérios e crimes nesta compilação de histórias. Holmes e Watson injetam seus traços de personalidade únicos ao longo das narrativas.

"Nancy Drew", de Carolyn Keene: toda a série se passa nos Estados Unidos. Nancy Drew é uma detetive. Os amigos próximos dela, Helen Corning, Bess Marvin e George Fayne aparecem em alguns mistérios. Nancy é filha de Carson Drew, o advogado mais famoso de River Heights, onde vivem.

"Hardy Boys", de Franklin W. Dixon: esse romance é semelhante a Nancy Drew e fala sobre dois irmãos: Frank e Joe Hardy, detetives talentosos. Eles são filhos de um investigador muito famoso e às vezes ajudam nos casos dele.

"A Crime in the Neighborhood", de Suzanne Berne (sem tradução para o português): esse romance de mistério recente se passa na Washington suburbana dos anos 1970. Ele se concentra em um crime que ocorre no bairro, o assassinato de um jovem. Berne intercala uma história de amadurecimento com o mistério da morte do jovem em um subúrbio chato e sem graça, mas consegue tornar a história bastante interessante.

3. Identifique a personagem principal em uma história de exemplo
Pense em como o autor apresenta o protagonista e em como o descreve.

Por exemplo, em "O Sono Eterno", o narrador em primeira pessoa de Chandler se descreve por suas roupas na primeira página: "Eu estava usando meu terno azul-claro acinzentado com camisa azul-escura, gravata, lenço dobrado no bolso, sapatos pretos, meias de lã pretas com bordados azuis. Estava limpo, impecável, barbeado e sóbrio, e não estava ligando se alguém percebia. Eu era tudo o que um detetive particular de boa aparência deve ser".

Com essas frases iniciais, Chandler torna o narrador distinto pela maneira dele descrever a si mesmo, a sua roupa e a seu trabalho como detetive particular.

4. Note o ambiente ou o período de tempo de uma história de exemplo 
Pense em como o autor situa a história no local ou no período de tempo.

Por exemplo, no segundo parágrafo da primeira página de "O Sono Eterno", Marlowe coloca o leitor no tempo e no cenário: "O saguão principal da mansão Sternwood tinha dois andares." O leitor agora sabe que Marlowe está na frente da casa dos Sternwoods e que essa é uma casa grande, possivelmente de pessoas ricas.

5. Considere o crime ou mistério que a personagem principal precisa resolver
 Qual é o crime que o protagonista tem de solucionar ou com o qual ele deve lidar de alguma forma? Poderia ser um assassinato, uma pessoa desaparecida ou um suicídio suspeito.

Em "O Sono Eterno", Marlowe é contratado pelo General Sternwood para "cuidar" de um fotógrafo que tem chantageado o general com fotos vergonhosas da filha dele.

6. Identifique os obstáculos ou problemas que a personagem principal encontra
Um bom mistério manterá os leitores envolvidos complicando a missão do protagonista com obstáculos ou problemas.

Em "O Sono Eterno", Chandler complica a busca pelo fotógrafo fazendo com que este seja morto nos primeiros capítulos, seguido pelo suicídio suspeito do motorista do general. Assim, o autor coloca dois crimes para Marlowe resolver.

7. Note a resolução do mistério
Pense em como ele será resolvido no final da história. A solução não deve parecer muito óbvia ou forçada, mas também não deve ser muito estranha ou inacreditável.

A resolução deverá parecer surpreendente para o leitor, sem confundi-lo. Uma das vantagens é que você pode regular o ritmo da história para que o desfecho se revele aos poucos, em vez de apressadamente.
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continua…

Fonte: Wikihow

Recordando Velhas Canções (Chove lá fora)


(Valsa, 1957) 

Compositor: Tito Madi

A noite está tão fria
Chove lá fora
E essa saudade enjoada
Não vai embora
Quisera compreender
Por que partiste
Quisera que soubesses
Como estou triste
E a chuva continua
Mais forte ainda
Só Deus sabe dizer
Como é infinda
A dor de não saber
Saber lá fora
Onde estás, como estás
Com quem estás agora

A Melancolia da Saudade em 'Chove Lá Fora'
A música 'Chove Lá Fora', interpretada pelo cantor e compositor Tito Madi, é uma expressão lírica da melancolia e da saudade. A letra descreve um cenário onde a noite fria e a chuva que cai lá fora são elementos que compõem a atmosfera de tristeza e reflexão do eu lírico. A chuva, frequentemente associada à tristeza e à introspecção, serve como metáfora para o estado emocional do narrador, que se encontra imerso em sentimentos de perda e saudade.

O eu lírico expressa um desejo de compreensão e busca por respostas sobre a partida de um ente querido. A repetição da frase 'Chove lá fora' reforça a sensação de isolamento e a continuidade da dor que parece não ter fim. A chuva que 'continua mais forte ainda' pode ser interpretada como o agravamento da dor emocional que o narrador sente, uma dor que apenas Deus conhece a profundidade e a extensão.

A música também aborda a angústia da incerteza, refletida na última estrofe, onde o eu lírico questiona o paradeiro e o bem-estar da pessoa amada. A ausência de respostas e a impossibilidade de saber se a pessoa está bem ou com quem está agora ampliam a sensação de desamparo e solidão. Tito Madi, conhecido por suas canções românticas e pela suavidade de sua voz, consegue transmitir com maestria a emoção contida na letra, tornando 'Chove Lá Fora' um clássico da música brasileira que toca profundamente os corações que já sentiram a dor da saudade.

sábado, 21 de setembro de 2024

Carolina Ramos (Trovando) “25”

 

Geraldo Pereira (A Mangueira e a Cerejeira)

Em tarde assim, de suave tropicalidade, com os ventos alísios assoprando o frescor dos ares, mesmo que a ansiedade fustigue a intimidade d’alma, antecipando momentos de tensão emergente, nada pode ser melhor que saborear uma manga Rosary, presente de Oswaldo Martins de Souza, leitor habitual desses meus escritos. Ainda mais, se a morosidade das horas permite a leitura atenta das contribuições do agrônomo ao estudo dessas frutas da Ilha de Itamaracá. Considerações de caráter técnico e ao mesmo tempo sociológico ou antropológico, pelo que traz dos convívios pretéritos, das superstições e das crenças. 

Prendo-me, particularmente, à lenda da manga Primavera, uma das mais saborosas daquele recanto, nascida dos amores frustrados de um padre por uma moça.

Corriam os anos do século XVII e o jovem Saldanha apaixonara-se, perdidamente, pela moçoila casadoira de nome Sancha, cortejando-a o mais que podia ou o mais que lhe permitiam as regras do tempo. Decidido, foi à presença do pai e decantou os sentimentos, recebendo, todavia, a maior de todas as negativas de que se tem notícia pras bandas de Itamaracá. Voltou cabisbaixo e por certo chorou baixinho as lágrimas de todas as perdas, o pranto da decepção estabelecida. Mas, não desistiu, antes buscou o caminho das glórias, para impressionar o resistente sogro. Lutou contra os holandeses e venceu batalhas, matou gente e quase morreu, levantou-se ninguém sabe como, depois de ter sido considerado destinado já à outra dimensão da vida. Bateu à porta do seminário e se fez sacerdote. 

Um dia, sem esquecer nunca do semblante de Sancha, mandado trabalhar em terras da Ilha, tomou-se da coragem que anima os amantes condenados à sina das rupturas e procurou a velha amiga, que solteira ainda vivia em companhia de um irmão e sua prole. Bateu à porta vestido a caráter, de batina e barrete! Foi ela quem se achegou e o recebeu, ouvindo-lhe pronunciar o nome que agora tinha: Pe. Aires Ivo. Não resistiu à identificação do antigo amor, da face que mostrava ainda traços da juventude e da voz, cuja tonalidade apontava a idade, mas conservava o timbre dos outroras vividos. Caiu por terra, fulminada, inerte, diante da inesperada visita, da surpresa e da condição que adotara, a de celibatário. 

Morreu, porque se morre mesmo, quando a decepção faz consolidar o desgosto!

Foi sepultada em cova rasa, rodeada de jasmins e numa das vezes em que o cura por lá voltou, para retomar imaginárias aproximações, com as quais convivera a existência inteira, plantou uma semente de manga no canto desses seus proibidos encantos. A mangueira desabrochou viçosa, cresceu em busca dos céus e deu o mais doce de todos os frutos de que se sabe em terras assim, quinhentona já: a manga Primavera. 

Plantada em solo diferente daquele das origens, fora da Ilha e longe daquela fada, que é madrinha também, não repete o sabor de mel, o adocicado do gosto, pra que não se fale de Aires, o padre ou de Sancha, a musa! Nem a ciência e nem a técnica conseguiram explicar a lenda ou mudar de hábitos a árvore dos amores rompidos.

E nessa mesma tarde, de suave tropicalidade, encontro no computador uma correspondência de lugar distante, bem distante. Chega de Tóquio, assinada por amiga minha, Harumi de prenome, dando conta que a sakura, a cerejeira dos japoneses, floresceu e encheu as ruas da cidade com a beleza das pétalas. Há gente sentada na relva admirando as flores, jovens e velhos, casais enamorados e errantes solitários. 

Será que existem homens como o cura de Itamaracá ou mulheres como Sancha embevecidos com o efêmero fenômeno, rebuscando passados e fantasiando amores? Talvez sim! Talvez não! Mas, por todo o tempo em que este mundo durar, quer queiram ou quer não queiram, amantes embevecidos hão de chorar as perdas, derramando as silentes lágrimas das distâncias, com as quais regam as árvores de bons frutos das lembranças eternizadas.

Fonte: Geraldo Pereira. A medida das saudades. Recife/PE, 2006. Disponível no Portal de Domínio Público.