segunda-feira, 7 de outubro de 2024

Humberto de Campos (Feminice)


(Sobre uma frase de Emile Faguet, 1847 – 1916)

D. Elisabeth Saldanha era apontada no Rio de janeiro como a senhora de vida mais acentuadamente elegante entre quantas, até hoje, possuiu a cidade. Honesta por educação e por temperamento, ninguém lhe apontou, jamais, um deslize, uma falha, uma simples leviandade de conduta. Em uma terra em que a maledicência enche as bochechas a cada canto da rua, ela fizera o milagre de conservar sempre limpo, sem a menor mancha do hálito da calunia, o espelho de cristal da sua reputação

Os seus hábitos mundanos não eram, entretanto, propícios à conservação desse conceito. Adorando o marido e sendo idolatrada por ele, havia uma vaidade que ela colocava acima de tudo na terra; e esta eram o teatro, os chás, os jantares, as conferências literárias, os concertos, e, sobretudo, a visita às amigas, num desperdício de tempo, de frases e de vestidos que lhe parecia verdadeiramente encantador.

Certo dia, porém, ao sair do Municipal, D. Elisabeth descuidou-se um pouco do mantô bordado de dragões de ouro e cegonhas de seda, e apanhou uma pneumonia. A ciência médica da cidade foi, toda ela, mobilizada em uma noite. E tal é o prestigio da medicina diante da morte, que, dois dias depois, o Dr. Alfredo Saldanha penetrava o portão do cemitério de São João Batista, segurando, sem tirar o lenço dos olhos, uma das alças do caixão funerário da sua querida Elisabeth.

Enquanto se dava isso aqui na terra, uma alma, imponderável como o ar e mais alva, talvez, que um floco de neve, batia, suave, à porta do Paraíso.

- Seu nome? - perguntou S. Pedro, abrindo a portinhola, encantado com tanta candura.

- Elisabeth Saldanha, meu santo.

O apostolo fitou-a com simpatia, e continuou no interrogatório:

- E que fizeste na tua vida, minha filha? – A recém-chegada franziu a testa morena e perfeita, como se consultasse a si mesma.

- Não ouviste, filha? Que é que fizeste na tua vida?

Elisabeth ia, pela primeira vez, se atrapalhando, mas, recobrando a serenidade, indagou:

- Eu?

E, com um sorriso, que lhe abotoava a boca num beijo:

- Eu fiz... muitas visitas!

São Pedro sorriu, bondoso, e a grande chave rangeu, faiscando estrelas, na enorme fechadura dourada.

Fonte: Humberto de Campos. A Serpente de Bronze. Publicado originalmente em 1925. Disponível em Domínio Público.  

Recordando Velhas Canções (Vida de bailarina)


(samba-canção, 1954) 
Compositores: Américo Seixas e Chocolate

Quem descerrar a cortina
Da vida da bailarina
Há de ver cheio de horror
Que no fundo do seu peito
Existe um sonho desfeito
Ou a desgraça de um amor
Os que compram o desejo
Pagando amor a varejo
Vão falando sem saber
Que ela é forçada a enganar
Não vivendo pra dançar
Mas dançando pra viver!

Obrigada pelo ofício
A bailar dentro do vício
Como um lírio em lamaçal
É, uma sereia vadia
Prepara em noite de orgia
O seu drama, passional
Fingindo sempre que gosta
De ficar a noite exposta
Sem escolher o seu par
Vive uma vida de louca
Com um sorriso na boca
E uma lágrima no olhar

A Dualidade da Vida de uma Bailarina: Entre o Sonho e a Realidade
A música 'Vida de Bailarina', é uma profunda reflexão sobre a vida de uma bailarina que, por trás das cortinas, esconde uma realidade dolorosa e cheia de sacrifícios. A letra revela a dualidade entre a aparência glamorosa e a dura realidade enfrentada por essas artistas. A bailarina, que deveria viver para dançar, acaba dançando para sobreviver, sendo forçada a enganar e a se submeter a situações degradantes para manter-se financeiramente.

A canção utiliza metáforas poderosas para descrever a situação da bailarina. Comparando-a a um 'lírio em lamaçal', a letra sugere a pureza e a beleza que são manchadas pelas circunstâncias adversas. A bailarina é retratada como uma 'sereia vadia', uma figura mítica que, apesar de sua beleza e encanto, está presa em um ciclo de vícios e orgias noturnas. Essa imagem reforça a ideia de que, embora a bailarina possa parecer deslumbrante e feliz por fora, ela carrega um profundo sofrimento interno.

Além disso, a música aborda a questão da exploração e da objetificação das mulheres no mundo do entretenimento. A bailarina é obrigada a fingir prazer e a se expor, sem ter a liberdade de escolher seus parceiros ou seu destino. O contraste entre o 'sorriso na boca' e a 'lágrima no olhar' simboliza a máscara que ela é forçada a usar, escondendo sua verdadeira dor e tristeza. A letra de 'Vida de Bailarina' é um poderoso comentário social sobre as dificuldades e os sacrifícios enfrentados por muitas mulheres que trabalham no mundo do espetáculo, revelando a dura realidade por trás do brilho e do glamour.

Personagens típicas da noite carioca nos anos trinta e quarenta, essas bailarinas serviram de motivo a algumas composições como "Garota do Dancing", de Alberto Ribeiro e Jorge Faraj. Nenhuma, entretanto, alcançaria o prestígio de "Vida de Bailarina", lançada por Ângela Maria em 1954 e revisitada por Elis Regina, dezoito anos depois. Representante ilustre da classe foi Elizeth Cardoso, bailarina antes de se tornar cantora profissional.

Fontes:
– https://www.letras.mus.br/angela-maria/44140/
– Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello. A Canção no Tempo. Vol. 1. Editora 34, 1997.

domingo, 6 de outubro de 2024

Edy Soares (Fragata da Poesia) 60: Primavera

 

Nilto Maciel (Insensatez)

Enquanto despejava o resto da terceira cerveja nos copos, Airton pigarreou e olhou para mim.

– Esse meu irmão é o gênio da publicidade.

Os três, ao mesmo tempo, agarramos os copos e, no engolir a bebida, perdi as palavras iniciais de Fernando.

– Jornalista frustrado, rabiscador de frases de encomenda, assessor da burguesia.

O primeiro soluço morreu nos corredores mal-assombrados do esôfago, tal o meu susto. Ora, para mim Fernando só podia estar feliz, por voltar ao trabalho e ao exercício da comunicação. Além do mais, pagavam-no relativamente bem.

– Não seja ingrato.

Pela calçada, os primeiros habitantes da noite engatinhavam, ainda farsantes, medrosos, macios.

– Olha que pernas!

Fernando não deu ouvidos ao irmão, nem desviou os olhos dos meus. Também neles não havia nenhuma cólera. Porém, me fulminaram suas palavras de agradecimento por ter-lhe tirado a barriga da miséria, tê-lo livrado da futura companhia dos mendigos e devolvido ao convívio dos comunicadores.

–  Nunca vou me esquecer disso, nem de você.

Airton continuava a farejar o rabo da noite, venta metida no copo, e eu pedia a Deus que a língua dele inventasse obscenidades e fizesse Fernando olhar e cheirar e desejar tudo, menos relembrar o passado.

– Apesar disso, eu quero mesmo é voltar ao jornal.

A quarta cerveja chegou menina pelas mãos do garçom e se dividiu pura para nós três. Nem ela, porém, fez menos amargo Fernando.

– Você não pode nem pensar nisso. Eles são capazes de acabar com a imprensa para impedir uma coisa dessas.

Do outro lado da calçada, letras vermelhas pintavam no muro palavras que os carros não me deixavam ler. E eu olhava por cima dos ombros de Fernando, como se suas orelhas me interessassem. Ele as alisava de vez em quando, irredutível em suas opiniões.

– Lá eu me sentia bem, coerente comigo mesmo, apesar das porradas.

As luzes dos bares e lupanares atraíam as mariposas para o festim de todas as noites. E Airton se debatia dentro do copo, incapaz de voar.

– Onde está a incoerência da publicidade?

Fiz um último esforço para ler o mural que a noite apagava. Um automóvel engoliu-o, antes de se meter nos labirintos do ouvido de Fernando.

– Cuidado!!!

Os irmãos se assustaram e rimos.

– Eu queria acordar o Airton.

O garçom trouxe outra cerveja, ofereceu tira-gosto, insistiu até perder a paciência.

– O publicitário é um propagandista do supérfluo, um camelô do capital. Quer dizer,  o leal conselheiro do rei, filósofo-bobo da corte, espécie vulgar de Maquiavel.

Pedi outra cerveja e a opinião de Airton, embora nenhuma das duas pudesse fazer Fernando se acalmar. Pelo contrário, quanto mais bêbado, mais se tornava amargo, e quanto mais enaltecido, mais se auto-criticava.

Airton voltou a chamá-lo de inteligente, a ponto de pensar pelos burgueses. Talvez ironizasse, talvez só falasse besteiras.

Fernando sorriu. Sim, era mais um dos fílósofos da burguesia. Apenas não escrevia ensaios.

Irritei-me, e de nada serviu minha irritação. Acusou-se de crápula. Aliás, não sabia a diferença entre ser e estar sendo. Tão sutil a diferença que outros podiam apenas estar sendo, enquanto ele podia ser o próprio.

Não, nem ele era nem estava sendo crápula. Éramos apenas empregados da burguesia.

Feriu-me. Eu ia terminar advogado de torturadores. Não entendi de imediato a frase. Explicou-me: sendo o publicitário e o torturador ambos meros trabalhadores, não são responsáveis por seus atos,  porque mandados. E não podem se recusar a cumprir suas tarefas, sob pena de demissão.

Chamei-o de simplista. O torturador era um criminoso pago pelo Estado ou por grupos do Poder, enquanto o publicitário um intelectual pago por agências de publicidade.

Concordou comigo. Apenas não abria mão de chamá-los de assessores do Poder. Ou instrumentos.

Fernando fazia questão de se torturar, de se proclamar um lacaio do capitalismo. Tive vontade de mandá-lo plantar batata ou virar guerrilheiro. Mas seria encerrar o assunto e eu queria ajudá-lo. E meti o jornalista no meio. O profissional que se sujeitava a trabalhar na imprensa burguesa. Sem falar, é claro, do que comunga com as ideias do dono do jornal. Era ou não um assessor do Poder?

Atingi-lhe o calcanhar. Perguntou se suas reportagens serviam ao Poder. Claro que não. Do contrário, não teria sido mandado para a rua. Logo, tornava-se impossível a coerência do jornalista consigo mesmo na imprensa burguesa.

Não havia salvação.

O assunto se esgotou aí e logo mais nos despedimos.

Encontramo-nos de novo, passado quase um mês. Parecia outro. Abraçou-me com euforia, mostrava-se alegre, otimista, satisfeito com o trabalho. Andava às voltas com a criação da melhor campanha de sua vida. Coisa de deixar qualquer gênio da propaganda com inveja.

De início, mantive-me reservado, embora procurasse retribuir a euforia. Supus estivesse me provocando. Não se tratava disso, porém. Nem uma só palavra sua soou falsa. Falava de dentro mesmo.

Interessei-me pelo título da campanha, pelos textos, por tudo, e ele me encheu de informações. Tratava-se de uma campanha patrocinada pelo Sindicato dos Produtores de Massas. A população ia trocar a carne, o arroz, o feijão, o leite pelo macarrão. Eu ia ver o povo gordo.

Não toquei na discussão passada, atento às suas palavras, feliz com sua felicidade, olhos mirados nele, quase sempre, ou nas muitas folhas de papel que carregava. Nelas, trazia anotadas frases, textos, poemas, tudo relacionado ao novo trabalho.

Convidou-me a acompanhá-lo, sem dizer para onde ia, e fomos. Apenas a caminhar pelas ruas, feito dois vagabundos. E falava sem parar, como se toda a fala do mundo desaguasse de sua boca. Até aí, porém, nada de imaginar isso ou aquilo. Se me ocorreu alguma ideia foi a de sempre – que cérebro aquele!

Ao avistar um conhecido, chamou-o. O rapaz assustou-se, escondeu-se e só não se perdeu de vista devido ao faro de Fernando. Talvez não fossem tão íntimos para uma cena daquelas. Além do mais, meu amigo havia se tornado mais conhecido por sua prisão, embora assinasse reportagens polêmicas. Estranhei a cara de espanto do outro e mais ainda os modos de Fernando. Pois, sem qualquer preâmbulo, pôs-se a repetir aos brados os motivos de sua alegria, a reler os manuscritos da campanha do macarrão. Para livrar o sujeito do embaraço, apresentei-me, dizendo-me amigo “desse grande Fernando Darque”. O malandro se aquietou. Logo, porém, alegou estar com pressa e se retirou.

Por um instante pensei em perguntar a Fernando se não achava ridículo chamar alguém aos gritos no meio da rua e, sobretudo, ler aquilo.

Nem bem arranjava palavras para a sabatina e lá apareceu outro conhecido. O mesmo vexame, a mesma lengalenga, macarrão aqui, macarrão ali, e o sujeito a se aborrecer, pedir licença para se retirar.

A essas alturas, não me restava nenhuma dúvida mais sobre o destino de Fernando. E, para fortalecer minha convicção, convidou-me a comer macarronada, embora tivéssemos almoçado fazia coisa de uma hora e fôssemos ambos avessos a massas. Procurei-lhe no rosto qualquer sinal de brincadeira e só alcancei a insistência para o convite. Se eu recusasse, não contasse mais com sua companhia e muito menos com sua amizade. E procuramos um restaurante e o encontramos e fiz das tripas coração para nem sonhar com uma indigestão.

Mal começou a comer, chamou o garçom, gabou-o, quis saber do nome do mestre-cuca, dos cozinheiros, deixou a mesa e correu à cozinha a enaltecer os empregados. Saí em seu auxílio, temeroso de mal-entendidos e, a piscar o olho para o pessoal, conduzi-o de volta ao salão. Nisso, o proprietário se apresentou. Para quê? Fernando se encheu de mais falas, fez o elogio da casa, da comida italiana, das massas alimentícias, do trigo, das fábricas de macarrão, sob os olhares espantados dos clientes famintos e do gordo dono do restaurante.

Só me restava pedir a conta, pagá-la, acrescida de boa gorjeta, inventar um compromisso urgente e conduzi-lo à rua.

Nunca deixei de me preocupar com Fernando, apesar de não o ter visto mais com vida. Andei ainda a procurá-lo na agência onde trabalhava, nos jornais, por toda a cidade. A correria do dia-a-dia, porém, logo ocupou meu espírito de outras preocupações. Quando parei, já não me restava fazer nada, a não ser lamentar a desgraça. E talvez não o salvasse, por mais que o seguisse, guiasse, guardasse. A loucura já o dominava. Pois não está louco quem armazena macarrão, por temor de sua escassez no mercado? E mil vezes insensato quem se joga a um panelão cheio de água fervente e deixa o bilhete: “Sirvam-se, que estou bem cozido”?

Fonte: Nilto Maciel. Punhalzinho Cravado de Ódio, contos. Secretaria da Cultura do Ceará, 1986. Enviado pelo autor.

Jaqueline Machado (“Vidas secas”, de Graciliano Ramos)

Vidas secas, de Graciliano Ramos, é um dos romances mais importantes do cenário literário brasileiro. Escrito em 1938, a obra nos leva a refletir e também a se indignar com o horror da desigualdade social. 

O romance fala de uma família que foge da seca pela caatinga, em busca de água e comida. 

O protagonista, é Fabiano, sua esposa é a sinhá Vitória que levava o filho mais novo escanchado no quadril. Um pouco atrás ia o filho mais velho e a cachorra: Baleia. 

Quase não conversavam. Primeiro, porque tinham pouco assunto. Depois, porque precisavam poupar as forças físicas. 

Os juazeiros se aproximavam, recuavam e sumiam.

Cansado, o filho mais velho se pôs a chorar e sentou no chão.   

- ‘Anda, condenado do diabo”! -  Gritou-lhe o pai. - Não obtendo resultado, o castigou com a ponta da bainha da faca. Acuado, sossegou, deitou, fechou os olhos.  

A família tinha um papagaio, que foi sacrificado para matar a fome. 

Exaustos, encontram uma fazenda aparentemente abandonada. Lá, buscaram refúgio. Fabiano encontra água no bebedouro dos animais. Baleia caça um preá. Eles ficam felizes, pois, finalmente, haviam encontrado água e comida.

Fabiano se vê dono daquela fazenda. Mas descobre que ela tem dono. E precisa negociar com o fazendeiro para não ter que voltar a seguir a caatinga rala com a família. Seus serviços, então, são trocados por abrigo e comida. 

Em certo momento, o filho faz uma pergunta. Fabiano fica irritado. Afinal, pensar não leva a nada. E lembrou do senhor Tomás da Bolandeira, que apesar de possuir muita cultura, morreu na seca. 

Ele queria desfrutar de uma vida melhor. Sua mulher sonhava ter uma cama igual ao do seu Tomás da Bolandeira. 

Permanecem por um tempo na fazenda. Conhecem pessoas, vão a algumas poucas festividades, mas na maior parte do tempo, desfrutavam mesmo dos sofrimentos. Um dos maiores foi a morte da cachorra Baleia, que estava muito debilitada. Depois, a seca voltou a castigar a terra, matando os animais de sede. E a família teve que fugir de novo, debaixo de um calor escaldante, sem destino. 

Ou seja, devido às más governanças e más distribuições de terra, o ciclo de dor e desalento se repete…

Fonte: Texto enviado pela autora 

Recordando Velhas Canções (Volta por cima)

(Samba, 1962) 

Compositor: Paulo Vanzolini

Chorei
Não procurei esconder
Todos viram, fingiram
Pena de mim não precisava
Ali onde eu chorei, qualquer um chorava
Dar a volta por cima que eu dei, quero ver quem dava

Chorei
Não procurei esconder
Todos viram, fingiram
Pena de mim não precisava
Ali onde eu chorei, qualquer um chorava
Dar a volta por cima que eu dei, quero ver quem dava

Um homem de moral não fica no chão
Nem quer que mulher lhe venha dar a mão
Reconhece a queda e não desanima
Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima
Reconhece a queda e não desanima
Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima

Chorei
Não procurei esconder
Todos viram, fingiram
Pena de mim não precisava
Ali onde eu chorei, qualquer um chorava
Dar a volta por cima que eu dei, quero ver

Um homem de moral não fica no chão
Nem quer que mulher venha dar a mão
Reconhece a queda e não desanima
Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima
Reconhece a queda e não desanima
Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima
Reconhece a queda e não desanima
Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima

Resiliência e Orgulho: A Mensagem de Superação em 'Volta Por Cima'
A música 'Volta Por Cima', é um hino de superação e resiliência. A letra fala sobre a experiência de passar por um momento difícil, chorar e sentir a dor da queda, mas, acima de tudo, sobre a capacidade de se reerguer e seguir em frente. A expressão 'dar a volta por cima' é uma metáfora para superar adversidades, mostrando que, apesar dos desafios, é possível se recuperar e continuar a jornada com dignidade e força.

O refrão da música destaca a importância da autoconfiança e do orgulho pessoal. O 'homem de moral' mencionado na letra simboliza alguém que, mesmo após enfrentar uma situação que o leva às lágrimas, não se deixa abater permanentemente. Ele não espera por ajuda externa, mas reconhece sua própria capacidade de se levantar e seguir em frente. A mensagem é clara: é essencial reconhecer os próprios erros ou fracassos, mas sem deixar que eles definam quem somos.

A canção também aborda a questão da vulnerabilidade e da autenticidade emocional. O narrador não tem vergonha de suas lágrimas e não se preocupa com a opinião alheia. Isso reflete uma atitude de honestidade com os próprios sentimentos, que é fundamental para o processo de cura e crescimento pessoal. 'Volta Por Cima' é, portanto, uma ode à força interior e à capacidade humana de superar obstáculos, mantendo a cabeça erguida e o coração aberto para novas possibilidades.

Não é verdade que “Volta por Cima” tenha alguma coisa a ver com a morte do filho do autor ocorrida anos depois de sua criação. A letra deste samba é isto sim, “uma questão de filosofia de vida, como eu gostaria de ser”, afirma o Dr. Paulo Vanzolini mestre em Zoologia pela Universidade de Harvard, diretor do Museu de Zoologia da USP e um dos mais festejados componentes do reduzido grupo de compositores paulistas de sucesso nacional.

Os versos ajudariam a popularização da expressão “dar a volta por cima”, citada no dicionário Aurélio como o ato de superar resolver uma situação difícil, desagradável, problemática.

Oferecido a alguns cantores, “Volta por Cima” acabou gravada pelo mineiro Noite Ilustrada, numa ocasião em que Vanzolini estava em viagem na Amazônia. Noite Ilustrada atuava na boate Moleque, onde os frequentadores costumavam fazer coro sempre que ele interpretava a composição. Então, atendendo à pretensão do sambista, o produtor Alfredo Borba autorizou a gravação, que teve um arranjo bem simples do clarinetista Portinho. Quando Vanzolini retornou a São Paulo, foi surpreendido com o seu samba tocando nas rádios e disputando as primeiras colocações nas paradas, para logo se fixar como o maior sucesso de Noite Ilustrada.

A propósito, este apelido pitoresco foi dado ao cantor (que se chama Mário de Souza Marques Filho) em 1951, quando ele participava de um show comandado por Zé Trindade na cidade mineira de Além Paraíba. No momento da apresentação, o comediante esqueceu o seu nome e, vendo-lhe num bolso um exemplar da revista Noite Ilustrada, não se apertou: “E agora com vocês a grande revelação... Noite Ilustrada.” Daí em diante o apelido pegou de tal forma que até Denise, mulher do cantor, o chama de o Noite. 
Fontes:
https://www.letras.mus.br/jorge-aragao/286389/significado.html
http://cifrantiga3.blogspot.com.br/2006/06/volta-por-cima.html 

sábado, 5 de outubro de 2024

Therezinha Dieguez Brisolla (Trov’ Humor) 40

 

José Feldman (O Último Passeio)

Na pequena cidade de Vila Esperança, onde as ruas eram adornadas por flores e o canto dos pássaros ecoava pela manhã, viviam dois idosos, Dona Dora e Seu Domingues. Ambos eram conhecidos por sua amizade sincera e pela companhia de seus fiéis cães: Mel, uma labradora de pelagem dourada, e Pingo, um vira-lata esperto e brincalhão.

Com o passar dos anos, a vida trouxe desafios a Dona Dora, que perdeu seu marido recentemente, e a Seu Domingues, que lutava contra a solidão e a tristeza. Em um dia nublado, enquanto caminhavam juntos com seus cães, o ar parecia pesado, como se a cidade também carregasse suas dores.

Enquanto conversavam, Mel e Pingo, em sua inocência canina, começaram a brincar. De repente, os cães correram em direção a um parque abandonado, onde uma densa neblina se formou. Curiosos, os idosos seguiram seus animais.

Ao entrarem no parque, foram surpreendidos por um cenário mágico. As árvores, cobertas de flores brilhantes que nunca tinham visto, dançavam suavemente ao vento. O ar estava impregnado de um perfume doce, e uma luz suave parecia emanar do chão.

“É como se estivéssemos em outro mundo”, disse Dona Dora, maravilhada.

“Talvez seja”, respondeu Seu Domingues, com um sorriso. “Um lugar onde podemos deixar nossas preocupações para trás.”

Enquanto exploravam, encontraram um banco antigo, coberto de musgo. Sentaram-se, e a magia do lugar começou a trabalhar. As memórias de seus amores perdidos e de suas lutas começaram a se dissipar, como a neblina ao sol. Eles riram, contaram histórias de suas juventudes e, pela primeira vez em muito tempo, sentiram-se leves.

De repente, Mel e Pingo começaram a ladrar em direção a uma árvore gigante. Ao se aproximarem, notaram que a árvore tinha uma porta entre suas raízes. A curiosidade falou mais alto, e os quatro entraram.

Dentro, encontraram um mundo de possibilidades. Havia trilhas que levavam a diversas paisagens: campos floridos, montanhas majestosas e riachos cristalinos. Cada passo que davam parecia rejuvenescê-los, e seus corações, outrora pesados, agora pulsavam de alegria.

“Olhe, Dora! Vamos escalar aquela montanha!” exclamou Seu Domingues, com o entusiasmo de um jovem.

E assim, entre risadas e corridas, os dois idosos enfrentaram a montanha, desafiando seus limites. Enquanto escalavam, seus cães os seguiam, como guardiões da felicidade recém-descoberta.

No topo, a vista era deslumbrante. O sol começava a se pôr, tingindo o céu de laranja e rosa. Dona Dora e Seu Domingues, ofegantes, sentaram-se e contemplaram a beleza ao redor. Ali, no ápice, perceberam que as dificuldades da vida eram apenas montanhas a serem superadas.

“Não importa a idade, Dora. Sempre podemos encontrar novos começos”, disse Seu Domingues, olhando nos olhos dela.

“Sim, Domingues. A vida pode ser mágica, mesmo depois de tantas tempestades”, respondeu ela, com um sorriso.

Quando decidiram voltar, a neblina do parque os envolveu novamente, e em um instante, estavam de volta à realidade. Contudo, algo havia mudado. A tristeza que os acompanhava havia se dissipado, e a amizade e a esperança floresceram em seus corações.

Dali em diante, Dona Dora e Seu Domingues continuaram a passear juntos, agora com um novo olhar sobre a vida. As memórias de sua aventura mágica os inspiraram a enfrentar os desafios do dia a dia, sempre com um sorriso, acompanhados de Mel e Pingo, que, sem saber, foram os verdadeiros guias para a superação de seus obstáculos.

E assim, na pequena Vila Esperança, a vida continuou, cheia de cores e possibilidades, mesmo para aqueles que já haviam vivido tanto.
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Estrutura do Conto acima: 

Introdução
Apresentação dos personagens: Dona Dora e Seu Domingues, dois idosos amigos.

Contexto
A vida cotidiana em Vila Esperança e os desafios enfrentados por eles.

Desenvolvimento
Os idosos caminham com seus cães, Mel e Pingo.

A atmosfera pesada da tristeza é introduzida.

Os cães levam os idosos a um parque abandonado, onde encontram uma realidade mágica.

Clímax
Descoberta do banco antigo e a transformação emocional dos personagens.

A entrada na árvore mágica, que os transporta a um mundo de novas possibilidades.

Aventura
Exploração de paisagens mágicas e superação de desafios, como a escalada de uma montanha.

Momentos de alegria e rejuvenescimento.

Conclusão
Reflexão no topo da montanha sobre a vida e a superação de obstáculos.

Retorno à realidade, mas com uma nova perspectiva.

A continuação das caminhadas e o fortalecimento da amizade.

LIÇÕES TRANSMITIDAS AO LEITOR

1. Superação de Obstáculos
A vida pode apresentar desafios difíceis, mas é possível superá-los com coragem e apoio mútuo.

2. Valorização das Relações
A amizade e o apoio entre pessoas são fundamentais para enfrentar momentos difíceis. Conexões emocionais podem trazer conforto e alegria.

3. Redescoberta da Alegria
Mesmo após perdas e tristezas, é possível redescobrir a alegria e a magia da vida, basta estar aberto a novas experiências.

4. Importância do Presente
A história enfatiza viver o momento presente e aproveitar as pequenas oportunidades de felicidade que surgem no dia a dia.

5. Transformação e Crescimento Pessoal
Através da experiência compartilhada, os personagens se transformam, mostrando que o crescimento pessoal pode ocorrer em qualquer fase da vida.

6. O Valor da Curiosidade
A curiosidade e a disposição para explorar o desconhecido podem levar a descobertas valiosas e experiências enriquecedoras.

Fonte:
José Feldman. Labirintos da vida. Maringá/PR: IA Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul, 2024

Dicas de escrita (O Conto Fantástico)


O conto fantástico é uma forma literária que se distingue por introduzir elementos sobrenaturais ou inexplicáveis em cenários aparentemente realistas. Sua origem remonta a tradições orais e contos folclóricos, mas sua consolidação como gênero literário ocorreu principalmente a partir do século XIX.

Origens

As histórias fantásticas têm raízes em mitos e lendas que tentavam explicar fenômenos naturais ou a condição humana. Contos como "A Menina dos Fósforos", de Hans Christian Andersen, exemplificam essa tradição.

O romantismo, no início do século XIX, trouxe uma nova valorização do sobrenatural e do irracional. Autores como Edgar Allan Poe e Mary Shelley exploraram o fantástico em suas obras, criando atmosferas sombrias e personagens atormentados.

Edgar Allan Poe, considerado um dos mestres do conto fantástico, introduziu elementos de horror psicológico e mistério. Sua obra "O Corvo" e contos como "O Gato Preto" destacam o uso da atmosfera e da introspecção.

H. P. Lovecraft, na primeira metade do século XX, Lovecraft desenvolveu o que se conhece como "horror cósmico", onde a insignificância do ser humano frente a forças superiores é central. Seus contos, como "O Chamado de Cthulhu", são marcos do gênero.

Jorge Luis Borges trouxe uma abordagem metafísica ao conto fantástico, entrelaçando realidades e ficções. Seus labirintos narrativos e jogos de espelho, como em "A Biblioteca de Babel", desafiam a lógica e a linearidade.

Clarice Lispector incorporou elementos fantásticos em sua prosa introspectiva, explorando a subjetividade e a condição humana, como em "A Paixão Segundo G.H.".

Angela Carter, com uma perspectiva feminista, reimaginou contos de fadas e mitos, trazendo uma nova dimensão ao fantástico em obras como "A Companhia de Lobos".

CARACTERÍSTICAS

Ambiguidade: O fantástico geralmente apresenta uma linha tênue entre o real e o sobrenatural, deixando o leitor em dúvida sobre a natureza dos eventos.

Atmosfera: O ambiente é crucial; uma atmosfera de mistério e tensão é frequentemente criada por meio de descrições vívidas e detalhes sensoriais.

Personagens Complexos: Os protagonistas frequentemente enfrentam dilemas internos e crises existenciais, refletindo suas inseguranças e medos.

Quebra da Lógica: Elementos irracionais ou impossíveis são integrados à narrativa, desafiando as expectativas do leitor e a lógica convencional.

Exploração da Subjetividade: Muitas vezes, o conto fantástico mergulha na psicologia dos personagens, explorando seus desejos, medos e traumas.

O conto fantástico é um gênero rico e multifacetado, que evoluiu ao longo dos séculos e continua a cativar leitores e escritores. Suas características únicas e sua capacidade de questionar a realidade fazem dele uma forma de arte literária sempre atual e provocativa. Autores contemporâneos continuam a explorar suas possibilidades, garantindo que o fantástico permaneça relevante na literatura moderna.

CARACTERÍSTICAS COMPARADAS A OUTROS GÊNEROS

O conto fantástico possui características distintas que o diferenciam de outros gêneros literários. Essas características tornam o conto fantástico um gênero único e provocativo, permitindo que autores explorem o inexplicável e o irracional de maneiras que desafiam a percepção do leitor. Essa liberdade criativa é um dos aspectos mais atraentes do fantástico em comparação com outros gêneros literários.

Aqui estão as principais características do conto fantástico em comparação com outros gêneros:

1. Elementos Sobrenaturais

Fantástico: Introduz elementos sobrenaturais ou inexplicáveis em um cenário cotidiano, desafiando a lógica. A busca por entender quem somos, muitas vezes através de experiências sobrenaturais ou transformações.

Realismo: Foca em eventos plausíveis e cotidianos, sem a presença do sobrenatural.

2. Ambiguidade

Fantástico: Cria incerteza sobre a veracidade dos eventos, deixando o leitor em dúvida quanto à realidade.

Ficção Científica: Geralmente estabelece regras claras sobre seu universo, com explicações lógicas para os fenômenos.

3. Atmosfera

Fantástico: Utiliza uma atmosfera de mistério e tensão, frequentemente com descrições vívidas que evocam sensações de estranhamento.

Narrativa Realista: Foca em uma ambientação familiar e reconhecível, com menos ênfase na criação de uma atmosfera de suspense.

4. Personagens e Psicologia

Fantástico: Personagens frequentemente enfrentam dilemas internos e crises existenciais, refletindo sobre suas identidades e medos. A exploração de medos primordiais, como o medo da morte, da solidão ou do desconhecido, muitas vezes personificados em criaturas ou situações fantásticas.

Literatura de Aventura: Foca mais na ação e no desenvolvimento da trama do que na profundidade psicológica dos personagens.

5. Quebra da Lógica

Fantástico: Aceita a irracionalidade como parte da narrativa, permitindo que eventos impossíveis ocorram.

Gêneros como o Realismo Mágico: Embora também misturem o real e o fantástico, geralmente mantêm uma lógica interna que explica as ocorrências extraordinárias.

6. Exploração de Temas Filosóficos

Fantástico: Muitas vezes aborda questões existenciais, como a natureza da realidade e a condição humana.

Romance Histórico: Foca em eventos e contextos históricos, com menos ênfase em questões filosóficas profundas.

7. Estrutura Narrativa

Fantástico: Pode adotar estruturas narrativas não lineares ou fragmentadas, refletindo a confusão e o estranhamento. A manipulação do tempo, com narrativas que desafiam a linearidade ou exploram memórias distorcidas.

Ficção Tradicional: Geralmente segue uma estrutura mais linear e previsível.

Esses temas ajudam a dar profundidade às narrativas fantásticas, permitindo que os autores abordem questões existenciais e sociais de maneira única e provocativa.
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AUTORES PRINCIPAIS

Vários autores são reconhecidos por explorar temas recorrentes no conto fantástico. Aqui estão alguns deles, junto com suas contribuições:

1. Edgar Allan Poe
Temas: Medo, identidade, alienação.
Obras: "O Corvo", "O Gato Preto".

2. H. P. Lovecraft
Temas: O desconhecido, medo, insignificância humana.
Obras: "O Chamado de Cthulhu", "A Cor que Caiu do Céu".

3. Jorge Luis Borges
Temas: Realidade e ilusão, tempo e memória.
Obras: "A Biblioteca de Babel", "O Jardim dos Caminhos que se Bifurcam".

4. Clarice Lispector
Temas: Identidade, alienação, autoconhecimento.
Obras: "A Paixão Segundo G.H.", "A Hora da Estrela".

5. Angela Carter
Temas: Crítica social, transformação, o sobrenatural.
Obras: "A Companhia de Lobos", "O Conto da Aia".

6. Franz Kafka
Temas: Alienação, identidade, transformação.
Obras: "A Metamorfose", "O Processo".

7. Italo Calvino
Temas: Realidade e ilusão, o sobrenatural.
Obras: "As Cidades Invisíveis", "Se um Viajante numa Noite de Inverno".

8. Shirley Jackson
Temas: Medo, isolamento, crítica social.
Obras: "A Assombração da Casa da Colina", "A Loteria".

9. Ray Bradbury
Temas: O desconhecido, crítica social, tempo.
Obras: "As Crônicas Marcianas", "Fahrenheit 451".

10. Neil Gaiman
Temas: O sobrenatural, identidade, transformação.
Obras: "Deuses Americanos", "O Oceano no Fim do Caminho".
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COMO ESCREVER UM CONTO FANTÁSTICO

Escrever um conto fantástico envolve uma mistura de criatividade e estrutura. Aqui estão algumas etapas e dicas para te ajudar:

1. Escolha um Tema
Pense em temas universais, como identidade, medo, ou transformação. O que você quer explorar?

2. Crie um Mundo Fantástico
Desenvolva um cenário que desafie a lógica do mundo real. Pode ser um lugar mágico, uma dimensão alternativa ou uma versão distorcida da realidade.

3. Personagens Cativantes
Crie personagens com profundidade. Eles podem ser humanos, criaturas fantásticas ou até mesmo objetos animados. Dê a eles motivações e conflitos internos.

4. Introduza Elementos Sobrenaturais
Incorpore fenômenos inexplicáveis ou mágicos. Isso pode ser um objeto poderoso, uma criatura mítica ou uma habilidade sobrenatural.

5. Crie um Conflito
Todo conto precisa de um conflito. Pode ser interno (um dilema pessoal) ou externo (um antagonista ou uma força que ameaça o mundo).

6. Ambiguidade e Mistério
Mantenha um tom de incerteza. O leitor deve se questionar sobre a realidade dos eventos. Isso adiciona profundidade e provoca reflexão.

7. Desenvolva a Narrativa
Estruture a história em três partes: introdução, desenvolvimento e conclusão. Apresente o cenário, desenvolva o conflito e, finalmente, resolva a trama.

8. Explore Temas Profundos
Use a fantasia como uma metáfora para questões existenciais, emocionais ou sociais. Isso dá peso à sua narrativa.

9. Revise e Edite
Após escrever o primeiro rascunho, revise. Verifique a coerência da história, o desenvolvimento dos personagens e a fluidez da narrativa.

10. Leia Referências
Leia contos fantásticos de autores consagrados. Isso ajudará a entender diferentes estilos e abordagens dentro do gênero.

Dicas Adicionais:

Use Descrições Vivas: Evite generalizações. Descreva os sentidos (visão, som, cheiro) para criar uma atmosfera envolvente.

Mantenha o Ritmo: Equilibre cenas de ação com momentos de reflexão.

Inspire-se em Mitos e Lendas: Muitas histórias fantásticas têm raízes em mitologias. Isso pode fornecer uma base rica para sua narrativa.

Fonte: José Feldman. Dissecando a magia dos textos: Contos e Crônicas. Maringá/PR: IA Poe.  Biblioteca Voo da Gralha Azul. 2024.

Recordando Velhas Canções (A saudade mata a gente)

(Toada, 1948) 

Compositores: João de Barro e Antônio Almeida 

Fiz meu rancho na beira de um rio
Meu amor foi comigo morar
E na rede nas noites de frio
O meu bem me abraçava pra me agasalhar

Mas agora meu Deus, vou-me embora
Vou-me embora e não sei se vou voltar
A saudade nas noites de frio
meu peito vazio virá se aninhar

A saudade mata a gente, morena
A saudade é dor pungente, morena
A saudade mata a gente, morena
A saudade é dor pungente, morena

A Dor da Saudade em 'A Saudade Mata a Gente'
A música 'A Saudade Mata a Gente', de João de Barro, é uma canção que explora profundamente o sentimento de saudade e a dor que ele provoca. A letra começa descrevendo um cenário idílico, onde o eu lírico constrói um rancho à beira do rio e vive momentos de felicidade e aconchego com seu amor. A imagem da rede nas noites frias, onde o casal se abraça para se aquecer, evoca uma sensação de intimidade e conforto, criando um contraste com o que está por vir.

No entanto, a narrativa toma um rumo melancólico quando o eu lírico anuncia que precisa partir, sem saber se um dia voltará. A incerteza do retorno e a iminente separação introduzem o tema central da música: a saudade. A saudade é descrita como uma dor pungente, uma dor que se aninha no peito vazio nas noites frias. Essa personificação da saudade como algo que se aninha no peito enfatiza a intensidade e a persistência desse sentimento, que não se dissipa facilmente.

A repetição do refrão, 'A saudade é dor pungente, morena / A saudade mata a gente, morena', reforça a ideia de que a saudade é uma dor quase insuportável, capaz de consumir a pessoa por dentro. A palavra 'morena' adiciona um toque de pessoalidade e carinho, sugerindo que a canção é uma mensagem direta para alguém específico. João de Barro, conhecido por suas composições que frequentemente abordam temas de amor e perda, utiliza uma linguagem simples e direta para transmitir uma emoção universal, tornando a música acessível e tocante para qualquer ouvinte.

"A Saudade Mata a Gente" é mais uma canção sobre o velho tema do amor singelo, ambientado na vida campestre ( "Fiz meu rancho na beira do rio / meu amor foi comigo morar..."), gênero que tem como paradigma "Casinha pequenina".

Mas, além de ser uma bela composição, esta toada teve como um dos motivos de seu êxito uma excelente interpretação de seu lançador, o cantor Dick Farney.

Então no auge da popularidade, Dick explora muito bem as notas graves do estribilho, em contraste com a outra parte que, aliás, recorre a um trecho da ópera "Aída", de Verdi - o bailado da 2'' cena do 2° ato ( "Festa da sagração de Radamés"). Existindo havia quase dez anos, a parceria João de Barro / Antônio Almeida só alcançaria o sucesso em 1948, com "A Saudade Mata a Gente" e a marchinha "A Mulata É a Tal".
Fontes:
– Letras de Músicas Brasileiras
– Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello. A Canção no Tempo. Vol. 1. Editora 34, 1997.