quinta-feira, 9 de julho de 2009

Antonio Brás Constante (Escrevendo sobre a Morada da Escrita)

Pintura de Iaman Maleki
Se o livro é a casa do escritor, seu universo é nômade e segue itinerante pelas feiras dos livros. Feiras que voam como pássaros livres ao sabor dos ventos, e que anualmente vem nos visitar, esperando por nossa vinda, para que junto com seus filhos textuais possamos alçar nossa mente ao infinito e também voar.

O que é o livro senão uma expressão do ser e do viver, viver e respirar, respirar e sentir, sentir e amar. Seja através do toque dos olhos nos símbolos desenhados no papel, como se eles dançassem em um baile, ou da visão tácita ao se deslizar a ponta dos dedos que acariciam folhas em Braille. Formas diferentes de sorver a literatura, ambas unidas pelo mesmo saber e sabor, transmitidos pela leitura.

Do concreto se erguem as cidades, das palavras se constroem os livros, e ambos se encontram nas feiras dedicadas a leitura. Jovens cidades centenárias, com problemas de gente grande (por exemplo, escrever é tão viciante quanto viver, a droga é que muitos preferem as drogas), e que são feitas de ferro e famílias, vidro e vida, aço e amizade, cimento e sonhos, tudo mesclado em mil fragmentos, e impulsionada por milhares de corações.

Pelas veias desses lugares onde repousam nossos lares, andamos rumo ao futuro, muitas vezes esquecendo que somos parte do presente onde se trilham os caminhos que poderão melhorar ou piorar o seu semblante, e que isto depende de nós e de nossos semelhantes. Somos moradores de seu ventre, e nele tantas vezes descansamos, e ao acordar continuamos nossa história, que se torna parte da memória de nossa cidade.

Neste contexto, aqui transcrito em forma de texto, quando percebermos o poder que temos na existência e na vida das localidades onde moramos, e que atos singelos como partilhar de eventos tão belos como as feiras do livro, podem vir a transformar nossos caminhos. Prestigiar tais acontecimentos torna-se mais do que uma manifestação social, sendo um gesto de amor.

Somos pessoas divididas por faixas e trilhos, muros e cercas, individualismo e medo, mas quando nos vemos unidos, formamos um povo com centenas, milhares e até milhões de seres vivos e pensantes. A partir daí começamos a ter a noção da força que podemos ter como sociedade, e de que conseguiríamos fazer até o céu tremer e o chão flutuar com o poder de nossa união.

Cada um de nós é uma letra, nossas famílias formam as palavras, nossos círculos de amizades criam frases, e todas estas frases compõem a cidade onde moramos. As feiras do livro são chances de nos encontrarmos com nossos semelhantes, enquanto nos perdemos no salutar hábito da leitura. E a leitura é alimento que não sacia, ao contrário, ela instiga o apetite do leitor, tornando-o um devorador assíduo de textos, recheados de palavras, temperados com novas idéias e, em muitos casos, adoçados com pitadas de poesia e humor.

Ao terminar de escrever este texto, tendo o frio como companheiro, quis dar minha contribuição não apenas como escritor, mas como cidadão, transformando sentimentos em palavras. Espero que estas palavras tragam a tona à energia que reside dentro de você, conduzindo-o até os livros que esperam por sua chegada de páginas abertas.

Fonte:
Colaboração do autor

Nenhum comentário: