segunda-feira, 6 de julho de 2009

Lucie Laval (19 Abril 1895 – 21 Janeiro 1914)

Lucie Laval nasceu em Dakar, Senegal, em 19 de abril de 1895, filha de Maurício Laval e Alix Laval. Nascida na África do Norte, quando seu pai ali estava no desempenho de suas funções de diplomata francês, Lucie voltou à França para receber instrução primária. Deixou o seu país em 1908, aos 13 anos de idade, vindo para o Brasil. Com seus pais, residiu algum tempo em Minas Gerais, para, em 1911, fixar residência em Curitiba, onde viveu três anos incompletos, no entanto repletos de fulgurantes lampejos de sua criação poética.

A menina inteligente, só aqui, aos 17 anos, encontrou sua alma de poetisa, e o livro “Dans l’ombre”, com os seus quarenta e nove poemas, foi escrito de um jato, de abril a outubro de 1913, em Curitiba, e publicado postumamente no Rio de Janeiro em 1924.

A sua descobridora foi a intelectual Georgina Mongruel que, acompanhada pela moça, compareceu a uma reunião do Centro de Letras do Paraná.

Morreu, no dia 21 de janeiro de 1914, em Curitiba, vítima de moléstia cardíaca, aos 19 anos, “pedindo ao médico, já às portas da morte, que a salvasse, porque ela queria viver, queria cantar todas as estações da vida e a sua página única era apenas uma primavera cheia de tempestades”.
Obra:

Em Curitiba, colaborou nos jornais e revistas da época (Gazeta do Povo, Diário da Tarde, Revista do Centro de Letras do Paraná, Álbum do Colégio Renascença, Senhorita). Em Ponta Grossa, seus inspirados poemas enriqueceram algumas páginas do Diário dos Campos, periódico que, tempos depois, critica o Centro de Letras do Paraná pelo injusto esquecimento da obra de Lucie Laval.

Lucie Laval, nos três anos em que viveu no Paraná, particularmente nos sete meses (abril a outubro de 1913) em que descobriu a sua alma de poetisa, conquistou para sempre um lugar entre os bons poetas paranaenses. Apesar da pálida luminosidade física, legou-nos o brilhantismo da poesia triste, porém consoladora. A palavra, artifício do existir ilimitado, foi (re)construída na busca de traçar na convulsão interior de sentimentos um caminho de reflexão e entendimento de usa própria essência.

Ressonâncias melancólicas, estrofes diáfanas de versos sem alegria, mas indisfarçadamente belos. Num abismo de contrastes de percepções e encantos a mergulhos solitários nos momentos – silêncio. A poesia de Lucie Laval despetala-se em instantes de sedutor lirismo físico a contatos profundos com o “eu”, desnudando-o na ausência do humano, em confissões apenas temerosas da majestade dos céus.

A solidão, a tristeza, a amargura na percepção do outro tornam-se, nas linhas poéticas de Lucie Laval, sentimentos ternos e fogem de sua acepção negativa ao revelarem o perfil de uma alma sofredora e de uma aparência frágil.

Em sua poética, a solidão justifica, não é justificada. Preferindo a ausência aos momentos de presença, o que perturba e “agita” o eu-lírico é aquilo que o faz perceber-se, sentir-se e envolver-se no outro. A solidão é exposição de sentimentos dolorosos, mas saudáveis. A presença vem causar a esse equilíbrio um sofrimento tumultuado, uma ilusão, uma percepção falsa.

A sensibilidade da emoção jovem aliada à capacidade de elaboração de poemas em atmosferas de melancólica ternura e esperançada tristeza tornam Lucie Laval poeta de sutil criatividade e incontestável harmonia sentimental.

Fontes:
– CENTRO Feminino de Cultura. Um século de poesia: poetisas do Paraná. Curitiba: Imprensa Oficial do Estado do Paraná, 1959.
– SANTOS, Luísa Cristina dos. “Lucie Laval”. Ponta Grossa: Diário da Manhã, 17 de junho de 2001.
Luisa Cristina dos Santos.

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