domingo, 16 de setembro de 2018

Luiz Poeta (Poemas Escolhidos) 2


ESPORAS 

Sob as esporas do desejo, o tempo corre...
O tempo escorre como grãos por entre os dedos,
O sal da lágrima... de mel... nos lábios morre,
numa saudade que eterniza alguns segredos.

Nas asas leves do sonho, uma ansiedade,
que não invade, apenas acaricia
a fantasia de se amar em liberdade,
numa vontade que embevece e extasia.

Do vendaval mais sedutor, ninguém recua
e a pele nua sempre pede algum afeto,
o dialeto sensual deixa que flua
a emoção feliz de um sonho predileto.

Sob a carícia do amor, o enlevo voa, 
a alma boa é uma pétala no ar... 
a voz macia se dilui... jamais ecoa
e a luz melhor sempre ilumina um doce olhar.

Quem tem o dom de transformar as cicatrizes
na experiência, observa mais que fala, 
cura as tristezas com sorrisos mais felizes
e deixa livre a esperança que o embala.

Da calmaria, resta alguma correnteza.
Por natureza, só quem consegue sonhar, 
sabe que amar, bem mais que um gesto de nobreza, 
é a certeza de poder se libertar.

FILOSOFOME

Quem filosofa sobre a fome, não conhece
A verdadeira dimensão do sofrimento,
Só fotografa a visão que o apetece,
E só registra o instantâneo de um momento.

Quem sente a fome no instante em que observa
Um infeliz morrendo à míngua, abandonado,
Sabe que a dor do desamor é que conserva
A solidão em seu olhar desesperado.

Certas pessoas se alimentam de vaidade,
De arrogância,covardia e falsidade,
E o poeta mostra...em sua poesia...

Que os indigentes infelizes passam fome
E o egoísta é um bicho que só come
A sua própria solidão... e hipocrisia.

FLUTU...ÂNSIAS

Quando parto sem partir, estou sonhando...
... ou sofrendo solidões compartilhadas
com olhares cujas luzes apagadas 
sempre tentam me dizer que estão... me amando.

Quando volto sem nem ir, esbarro em mim... 
... mas sou outro vendo as pedras da estrada, 
meu olhar tropeça em bocas tão caladas...
. ..que meu sonho recomeça... pelo fim.

Sou assim: um ser que só se observa 
num espelho aleatório à abstração. 
Meu sorriso - teimoso - só se conserva, 
no momento em que a razão perde a... razão.

Minha lágrima insiste... eu a desfaço, 
entretanto não disfarço a minha dor, 
camuflar o sofrimento é um erro crasso, 
mesmo assim, eu mudo o tom, falo de amor.

Ah... no instante em que eu retorno dos enleios
e te olho... minha amada invulgar, 
não preciso me iludir com outro olhar
porque volto a me soltar nos devaneios.

Já não parto... me reparto e me diluo
nos teus olhos onde encontro um doce afeto. 
Se meu sonho é meu brinquedo predileto, 
quando brinco com teus sonhos... eu... flu... tu.. o.

MOSAICO

Tu me inventas no vazio do teu peito,
Com teu jeito de sonhar com os pés no chão;
Quando acordas, tu nem mais sabes direito
De que lado fica o teu coração.

Tu me ajeitas no teu quadro sem moldura,
Com ternura, tentas reconstituir
Os momentos de amor, mas a loucura
Só te faz, estranhamente... desistir.

Num mosaico de emoções, tu me produzes,
Tuas luzes reprojetam meu desenho,
Na miragem do que vês, tu te seduzes,
Tu me tens  e eu... simplesmente... não te tenho.

Quando, então, percebes que não me criaste,
E me vês sumir  no ar que se evapora,
O anseio vão do amor que cativaste
Fica em ti... e a imagem... vai embora.

Estilhaças teu mosaico colorido
Sem sentido... e cada peça arremessada,
Surreal é como um pássaro ferido
Esquecido na poeira de uma estrada.

Tua lágrima escorre e a maquiagem
Se dissolve em tua face abandonada
Nos espelhos que só mostram tua imagem
Que te fita mas que não te diz.... mais nada.

VELAS E VENTOS

Se navegar é dar velas ao vento,
voar é descobrir asas e penas.
assim, quando se quer águas serenas,
mister é se buscar o firmamento.

Amar é se soltar na correnteza,
voar é dar ao ser a dimensão
do amor dentro do próprio coração
e ter... na emoção... luz e leveza.

Assim, quando se ama de verdade,
percebe-se que é na felicidade
que o coração encontra o paraíso

E para se sentir feliz e leve
é só compreender que a vida é breve,
por isso é que sonhar sempre é preciso.

VELHAS PORTAS SEMPRE NOVAS 

Caminhos velhos nunca são velhos caminhos,
seres antigos respeitam portas fechadas,
porque eles sabem construir seus próprios ninhos 
e não se enganam com a beleza das fachadas.

Se nelas batem e o futuro lhes atende,
eles entendem que o presente é tão fugaz,
que toda vez que uma lâmpada se acende,
a escuridão se rende e fica para trás.

Pessoas velhas nunca são velhas pessoas,
que embora vivam mergulhadas no passado,
sempre conseguem descobrir que as coisas boas 
podem às vezes rebrotar do lado errado.

Quem as liberta da tristeza é a alegria
de mergulhar no tempo e ver que as coisas sãs
eram sementes de uma doce rebeldia
que os fazia construir novas manhãs.

Sem a saudade dos momentos mais felizes, 
elas seriam como os jovens complicados
que nunca sabem distinguir, como aprendizes,
se os caminhos que se dão, estão errados.

E ficam tristes quando alguém que nem viveu,
os ignora, e fala sobre o que nem viu,
filosofando sobre o que não percorreu, 
e sobre portas ele mesmo nem abriu.

Por isso mesmo, quando estão mais inaudíveis,
quando ninguém quer mais ouvir a sua história,
eles conversam com saudades invisíveis
e se abrigam num cantinho da memória.

As suas portas são tantas... tantos caminhos, 
que eles podem escolher o que trilhar...
...e adormecem... escolhendo entre os carinhos
mais indeléveis... um que os possa... consolar.

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