Não, meus desertos não são feitos de areia, pedras e sal. Meus desertos são períodos hiatos em minha existência, que, às vezes, parece mais de uma, ou mais de mil, ao mesmo tempo. Tempo. Eis a areia que escorre de um lado para o outro na ampulheta, tanto a de dentro, quanto a de fora. Porque, não sei se você sabe, mas um deserto interior só pode nascer quando existe um descompasso entre a ampulheta interior e a outra, a exterior. Deus é muito engenhoso mesmo! Fez o homem à Sua imagem e semelhança, ou seja, não igual a Ele, mas à imagem e semelhança Dele, um vislumbre do que um dia poderemos, ou que poderíamos ser.
Meus desertos, na verdade, são minhas lágrimas não choradas, minhas músicas não cantadas, meus enterros que não fiz direito. Por isso, ao meu redor, fantasmas emocionais, mentais e espirituais me fazem ver os fantasmas que deixei para trás, sem direção. Pois meus desertos são minha forma de estancar meu choro, meu som, minha falta do que me faz falta e eu não quero ver. Cego, tateio no escuro dos meus desertos a saída para o meu próprio oásis.
Cansado, com a trouxa da vida nas costas, me encosto-me à beira do mundo e me vejo passar. Sim, eu me desdobro e me vejo passar entre os vivos, certo de que eu também, feito eles, também vivo e, nessa hora, me apalpo um pouquinho, para me certificar de que estou mesmo entre todos. Todos vivem seus desertos, isso é certo. Os meus, embora não venham do Saara, nem das dunas tão lindas dos Lençóis Maranhenses, meus desertos são tão vastos quanto a Inteligência Divina. Pena, que eu seja humano!... Pena, que eu seja um!... Não, não quero mais ter pena de mim... Quero enxergar o outro lado da fúria e chegar, chegar a mim.
Fonte: O Autor
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