Sandra Cristina e seus pais estavam sentados na esplanada de um café, na chamada varanda de São Pedro de Moel, tomando um refresco.
Estávamos no meio da tarde e todas as mesas estavam ocupadas, quando um casal de estrangeiros, de ar distinto, acercou-se deles e o homem delicadamente perguntou:
Dr. Roger: - Seriam tão amáveis que nos dessem licença de ficarmos na vossa mesa? ... é que não existe nenhum lugar vago, e estamos a "morrer" de sede?...
André: - Para nós até será uma honra. Por favor, sentem-se estejam à vontade.
Dr. Roger: - Então, se nos dão licença, nós somos o casal Richter, americanos de Nova Iorque.
André: - Nós somos os Mendes, aqui de São Pedro de Moel. Os senhores são turistas, não é verdade?
Entretanto, tinham-se sentado todos, e o pai de Sandra Cristina, encomendou mais dois refrescos. Sua filha teve a percepção, por uma misteriosa sensibilidade de que alguma coisa estranha se iria passa na sua vida. Uma espécie de ansiedade tomava-a toda, quase impedindo de ver a sua curiosidade fosse disfarçada, para mais, a senhora Jodie Richter a observava de quando em vez.
Em determinado momento, André Mendes, pensativo desabafou:
André: - Richter... Richter... Escuta, Sandra Cristina, este nome não te diz nada?
Sandra: - Não sei paizinho? ...
André: - A minha filha anda sempre na Lua. Também não admira, pois são os seus dezoito anos...
Emília: - Minha filha, pois eu ia jurar que já li este nome muitas vezes...
Dr. Roger: - É natural que sim, pois tenho trabalhado muito...
Emília: - Por acaso o senhor não é médico?
Dr. Roger: - Sou sim.
Sandra: - Papás, eu conheço o nome sim, e até já via a fotografia deste senhor, naquela revista alemã, sobre as sumidades do nosso século! É ele, sim, o maior especialista em enxertos ósseos do nosso tempo! ...é o senhor, não é?! Diga lá...
Dr. Roger: - Não sei se serei o maior especialista, como a menina, amavelmente me classifica, mas lá que sou médico, sou. Chamo-me Roger Richter, e sou especialista em ossos. Mas porquê?
Sandra: - Porquê?! ... Ainda pergunta porquê?...
Sandra Cristina rompeu então num pranto convulsivo, embora chorasse muito baixinho. A mãe da pequena, explicou ao casal a insólita atitude da rapariga.
Os Richter fizeram-se de muito admirados, e o médico, em certa altura, deixou escapar a frase milagrosa:
Dr. Roger: - Pois é, realmente uma pena que, uma rapariga tão nova e tão fascinante, como a vossa filha, sofra desse defeito. Há quanto anos teve o acidente, Sandra Cristina?
Sandra: - Quase há sete anos, Sr. Doutor. É tempo demais para se tentar qualquer coisa, não é?
Dr. Roger: - Depende... Olhe Sandra, tenho muito interesse em observá-la.
Sandra: - Oh Sr. Doutor, que feliz eu seria, se…
Jodie: - Vamos lá, não é caso para a Sandra se excitar assim. Meu marido não pode prometer-lhe nada, mas olhe que ele é quase mágico...
Sandra: - É por isso mesmo que me sinto tão feliz!
O casal Mendes tinha trocado um rápido olhar de compreensão, e o pai de Sandra, numa voz pesada, disse como um criminoso a confessar o seu delito:
André: - Mas, como lhe hei de dizer Doutor... Nós não temos meios materiais para pagar uma operação dessas, para mais feita por um especialista como o senhor.
Sandra: - Pois é verdade, Sr. Doutor, os meus pais não têm meios financeiros…
Dr. Roger: - Vocês, portugueses, são todos de uma grande precipitação, que até vos estraga a alegria de viver! São Pedro de Moel é uma das mais belas praias de Portugal, e vocês parecem apostados em viver em tragédia. Ninguém vos falou em dinheiro, não é verdade?
Emília: - Pois não, mas nós...
Dr. Roger: - Também não fizemos nenhum contrato, não é verdade? Eu disse apenas que gostaria de observar a sua filha, e isto, se ela e os senhores estiverem de acordo. Valeu?
André: - O pior é que...
Dr. Roger: - Deixem-me falar, por favor. Ando em férias pela Europa, e recebi uma gentileza de um casal desconhecido, que me proporcionou o mais saboroso refresco que tomei em toda a minha vida. Talvez possa recompensá-los desta vossa amabilidade, pedindo-vos que me deixem observar Sandra Cristina.
Houve um silêncio feliz, ou, mais exatamente, um silêncio em que os Mendes recearam entender o que ouvira. Mas logo ficou combinada a hora matinal, no dia seguinte, o Dr. Richter os visitaria, para uma primeira observação da perna e da anca de Sandra. A pequena, durante toda a noite, não conseguiu dormir. No mais íntimo da sua alma, agradecia à providência Divina que tivesse colocado no seu caminho, aquele casal bondoso, que se condoera da sua desgraça.
Nem por sombras poderia lembrar-se de uma possível intervenção de Luís Carlos, naquele processo, se bem que fosse o pintor, a pessoa pela qual mais lhe interessava melhorar do seu defeito físico.
Sentindo-a inquieta e a remexer-se na cama, a mãe enfiou um roupão e foi ter com ela ao quarto:
Emília: - Porque não dormes minha filha?
Sandra: - E tu, porque estás acordada?
As duas sorriram, com os olhos brilhantes de esperança. Momentos depois, também o pai da Sandra, o André Mendes, estava presente. O seu rosto, normalmente calmo, apresentava um colorido e uma excitação excepcional:
Sandra: - Papá, não é um momento maravilhoso?
Emília: - Não te agarres já a esperanças tão grandes, minha filha.
Sandra: - Concordo plenamente contigo, mas seria como um grande e maravilhoso milagre.
Emília: - Lembra-te que o acidente já foi há muito tempo, e que os ossos já solidificaram.
Sandra: - Eu sei isso tudo, mas deixa-me sonhar com um milagre que me possa acontecer.
André: - Mas deves pensar que já é um pouco tarde. Mulher não vem pra a cama que daqui a pouco começa a anoitecer?
Emília: - Vai indo tu, pois eu ficarei um pouco mais com a Sandra.
André: - Então um bom resto de noite, e procura sossegar.
Emília: - Agora que o pai se foi embora, diz-me lá, tu ainda pensas no Luís Carlos, não é verdade? Não estranhes a minha pergunta, mas as mães sabem tudo a respeito das filhas, especialmente das filhas da tua idade.
Sandra: - Não te sei responder, mãe…
Emília: - Tenho a sensação de que tu não te excitarias tanto, se o Luís Carlos não tivesse passado pela tua vida!
Sandra: - Talvez tenhas razão. Não sei porquê, mas tenho a esperança de que ainda um dia o encontrarei ... E então...
Emília: - Tem calma, minha filha, e escuta-me.
Sandra: - Sou toda ouvidos, mãe.
Emília: - De todos os homens que existem no mundo, o Luís Carlos, é aquele que eu reputo ser mais indiferente a teu respeito, melhor, à falta de respeito.
Sandra: - Pode ser que tenhas razão, e é por isso que eu muito queria estar curada, quando ele me reencontrar!
Emília: - És uma alma nobre, minha filha. Mas não deves ficar com essa ideia fixa, de que voltarás a encontrar o Luís Carlos. Até pode ser que ele não volte a São Pedro de Moel.
Sandra: - Ainda agora ele fez uma exposição em Lisboa. Li nos jornais, e só por vergonha é que não pedi ao pai que fossemos lá...
Emília: - Vergonha de quê?
Sandra: - De lhe aparecer ainda com este defeito.
Emília: - Só por isso? Olha lá, tu fizeste alguma coisa de indecoroso e que te possa envergonhar?
Sandra: - Bem sabes que não!
Emília: - Então, não te entendo...
Sandra: - Oh, nem eu sou capaz de te explicar, mas portei-me como se tivesse feito tudo o que há de pior.
Emília: - Bem, com esta conversa toda, já são mais do que horas para ir dormir, para podermos estar bem dispostas quando o Sr. Doutor chegar.
Sandra: - Ele disse que vinha às nove horas... Achas que ele vai faltar e nunca mais o vamos ver?
Emília: - Não, minha filha! Que disparate de pensamento.
Sandra: - Desculpa, mas estou muito nervosa!
Emília: - O Dr. Roger Richter é uma celebridade mundial, não é um troca-tinta qualquer.
Sandra: - Oh mãe, não te zangues com a tua filhinha que está muito nervosa.
Emília: - Se ele se comprometeu a fazer uma coisa, sem que ninguém lhe pedisse, decerto que não faltará. Dorme descansada, vá. Um beijinho...
continua...
Estávamos no meio da tarde e todas as mesas estavam ocupadas, quando um casal de estrangeiros, de ar distinto, acercou-se deles e o homem delicadamente perguntou:
Dr. Roger: - Seriam tão amáveis que nos dessem licença de ficarmos na vossa mesa? ... é que não existe nenhum lugar vago, e estamos a "morrer" de sede?...
André: - Para nós até será uma honra. Por favor, sentem-se estejam à vontade.
Dr. Roger: - Então, se nos dão licença, nós somos o casal Richter, americanos de Nova Iorque.
André: - Nós somos os Mendes, aqui de São Pedro de Moel. Os senhores são turistas, não é verdade?
Entretanto, tinham-se sentado todos, e o pai de Sandra Cristina, encomendou mais dois refrescos. Sua filha teve a percepção, por uma misteriosa sensibilidade de que alguma coisa estranha se iria passa na sua vida. Uma espécie de ansiedade tomava-a toda, quase impedindo de ver a sua curiosidade fosse disfarçada, para mais, a senhora Jodie Richter a observava de quando em vez.
Em determinado momento, André Mendes, pensativo desabafou:
André: - Richter... Richter... Escuta, Sandra Cristina, este nome não te diz nada?
Sandra: - Não sei paizinho? ...
André: - A minha filha anda sempre na Lua. Também não admira, pois são os seus dezoito anos...
Emília: - Minha filha, pois eu ia jurar que já li este nome muitas vezes...
Dr. Roger: - É natural que sim, pois tenho trabalhado muito...
Emília: - Por acaso o senhor não é médico?
Dr. Roger: - Sou sim.
Sandra: - Papás, eu conheço o nome sim, e até já via a fotografia deste senhor, naquela revista alemã, sobre as sumidades do nosso século! É ele, sim, o maior especialista em enxertos ósseos do nosso tempo! ...é o senhor, não é?! Diga lá...
Dr. Roger: - Não sei se serei o maior especialista, como a menina, amavelmente me classifica, mas lá que sou médico, sou. Chamo-me Roger Richter, e sou especialista em ossos. Mas porquê?
Sandra: - Porquê?! ... Ainda pergunta porquê?...
Sandra Cristina rompeu então num pranto convulsivo, embora chorasse muito baixinho. A mãe da pequena, explicou ao casal a insólita atitude da rapariga.
Os Richter fizeram-se de muito admirados, e o médico, em certa altura, deixou escapar a frase milagrosa:
Dr. Roger: - Pois é, realmente uma pena que, uma rapariga tão nova e tão fascinante, como a vossa filha, sofra desse defeito. Há quanto anos teve o acidente, Sandra Cristina?
Sandra: - Quase há sete anos, Sr. Doutor. É tempo demais para se tentar qualquer coisa, não é?
Dr. Roger: - Depende... Olhe Sandra, tenho muito interesse em observá-la.
Sandra: - Oh Sr. Doutor, que feliz eu seria, se…
Jodie: - Vamos lá, não é caso para a Sandra se excitar assim. Meu marido não pode prometer-lhe nada, mas olhe que ele é quase mágico...
Sandra: - É por isso mesmo que me sinto tão feliz!
O casal Mendes tinha trocado um rápido olhar de compreensão, e o pai de Sandra, numa voz pesada, disse como um criminoso a confessar o seu delito:
André: - Mas, como lhe hei de dizer Doutor... Nós não temos meios materiais para pagar uma operação dessas, para mais feita por um especialista como o senhor.
Sandra: - Pois é verdade, Sr. Doutor, os meus pais não têm meios financeiros…
Dr. Roger: - Vocês, portugueses, são todos de uma grande precipitação, que até vos estraga a alegria de viver! São Pedro de Moel é uma das mais belas praias de Portugal, e vocês parecem apostados em viver em tragédia. Ninguém vos falou em dinheiro, não é verdade?
Emília: - Pois não, mas nós...
Dr. Roger: - Também não fizemos nenhum contrato, não é verdade? Eu disse apenas que gostaria de observar a sua filha, e isto, se ela e os senhores estiverem de acordo. Valeu?
André: - O pior é que...
Dr. Roger: - Deixem-me falar, por favor. Ando em férias pela Europa, e recebi uma gentileza de um casal desconhecido, que me proporcionou o mais saboroso refresco que tomei em toda a minha vida. Talvez possa recompensá-los desta vossa amabilidade, pedindo-vos que me deixem observar Sandra Cristina.
Houve um silêncio feliz, ou, mais exatamente, um silêncio em que os Mendes recearam entender o que ouvira. Mas logo ficou combinada a hora matinal, no dia seguinte, o Dr. Richter os visitaria, para uma primeira observação da perna e da anca de Sandra. A pequena, durante toda a noite, não conseguiu dormir. No mais íntimo da sua alma, agradecia à providência Divina que tivesse colocado no seu caminho, aquele casal bondoso, que se condoera da sua desgraça.
Nem por sombras poderia lembrar-se de uma possível intervenção de Luís Carlos, naquele processo, se bem que fosse o pintor, a pessoa pela qual mais lhe interessava melhorar do seu defeito físico.
Sentindo-a inquieta e a remexer-se na cama, a mãe enfiou um roupão e foi ter com ela ao quarto:
Emília: - Porque não dormes minha filha?
Sandra: - E tu, porque estás acordada?
As duas sorriram, com os olhos brilhantes de esperança. Momentos depois, também o pai da Sandra, o André Mendes, estava presente. O seu rosto, normalmente calmo, apresentava um colorido e uma excitação excepcional:
Sandra: - Papá, não é um momento maravilhoso?
Emília: - Não te agarres já a esperanças tão grandes, minha filha.
Sandra: - Concordo plenamente contigo, mas seria como um grande e maravilhoso milagre.
Emília: - Lembra-te que o acidente já foi há muito tempo, e que os ossos já solidificaram.
Sandra: - Eu sei isso tudo, mas deixa-me sonhar com um milagre que me possa acontecer.
André: - Mas deves pensar que já é um pouco tarde. Mulher não vem pra a cama que daqui a pouco começa a anoitecer?
Emília: - Vai indo tu, pois eu ficarei um pouco mais com a Sandra.
André: - Então um bom resto de noite, e procura sossegar.
Emília: - Agora que o pai se foi embora, diz-me lá, tu ainda pensas no Luís Carlos, não é verdade? Não estranhes a minha pergunta, mas as mães sabem tudo a respeito das filhas, especialmente das filhas da tua idade.
Sandra: - Não te sei responder, mãe…
Emília: - Tenho a sensação de que tu não te excitarias tanto, se o Luís Carlos não tivesse passado pela tua vida!
Sandra: - Talvez tenhas razão. Não sei porquê, mas tenho a esperança de que ainda um dia o encontrarei ... E então...
Emília: - Tem calma, minha filha, e escuta-me.
Sandra: - Sou toda ouvidos, mãe.
Emília: - De todos os homens que existem no mundo, o Luís Carlos, é aquele que eu reputo ser mais indiferente a teu respeito, melhor, à falta de respeito.
Sandra: - Pode ser que tenhas razão, e é por isso que eu muito queria estar curada, quando ele me reencontrar!
Emília: - És uma alma nobre, minha filha. Mas não deves ficar com essa ideia fixa, de que voltarás a encontrar o Luís Carlos. Até pode ser que ele não volte a São Pedro de Moel.
Sandra: - Ainda agora ele fez uma exposição em Lisboa. Li nos jornais, e só por vergonha é que não pedi ao pai que fossemos lá...
Emília: - Vergonha de quê?
Sandra: - De lhe aparecer ainda com este defeito.
Emília: - Só por isso? Olha lá, tu fizeste alguma coisa de indecoroso e que te possa envergonhar?
Sandra: - Bem sabes que não!
Emília: - Então, não te entendo...
Sandra: - Oh, nem eu sou capaz de te explicar, mas portei-me como se tivesse feito tudo o que há de pior.
Emília: - Bem, com esta conversa toda, já são mais do que horas para ir dormir, para podermos estar bem dispostas quando o Sr. Doutor chegar.
Sandra: - Ele disse que vinha às nove horas... Achas que ele vai faltar e nunca mais o vamos ver?
Emília: - Não, minha filha! Que disparate de pensamento.
Sandra: - Desculpa, mas estou muito nervosa!
Emília: - O Dr. Roger Richter é uma celebridade mundial, não é um troca-tinta qualquer.
Sandra: - Oh mãe, não te zangues com a tua filhinha que está muito nervosa.
Emília: - Se ele se comprometeu a fazer uma coisa, sem que ninguém lhe pedisse, decerto que não faltará. Dorme descansada, vá. Um beijinho...
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