sábado, 23 de dezembro de 2017

Carlos Leite Ribeiro (O Boneco de Trapos)

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Era uma vez um boneco de trapos...

O Natal estava à porta e, numa casa modesta, a mãe viúva e as suas duas filhas, trabalhavam afincadamente na confecção de bonecos de trapos.

O último boneco da última série saiu defeituoso: uma perna mais curta, um braço mais comprido e até o olhar era vesgo.

- Não vamos mandar este boneco para a loja, pois, está muito defeituoso - disse-lhe uma das filhas.

- É um fato, este boneco ficou com muitos defeitos - concordou a mãe, que continuou - mas talvez passe e não seja devolvido. Nós precisamos tanto de dinheiro...

- Sendo assim, minha mãe, vamos então mandar também o "aleijadinho".

E o Boneco de Trapos, com uma perna mais curta, um braço mais comprido e com o olhar vesgo, lá foi para a loja...

Em outra casa modesta, outra mãe falava a sua filha mais nova:

- Tu minha filha, queres oferecer uma prenda de Natal àquela menina que mora além, naqueles prédios novos, mas nós somos pobres e não podemos oferecer nenhum brinquedo caro.

- Podemos comprar qualquer coisa barata, uma simples lembrança - disse-lhe a criança - para mais, ela deu-nos umas roupinhas que nos fizeram muito arranjo.

- Pronto, não insistas mais. Vai à loja e compra um brinquedo que seja barato.

E foi assim que, o Boneco de Trapos, defeituoso, com uma perna mais curta, um braço mais comprido e o olhar vesgo, bem embrulhado e com um laço colorido, foi parar a uma casa menos modesta, onde habitava uma menina, que tinha muitos brinquedos caros e bonitos...

- A tua amiguinha ali de baixo, a que no outro dia deste aquelas roupas, trouxe-te esta prenda.

- Ah, mas que boneco tão imperfeito, mamã! que hei de de fazer com ele? É tão feio?!

- Brinca com ele - retorqui-lhe a mãe - Talvez depois o consideres bonito.

Pouco convencida, a menina não arranjou outra brincadeira que não fosse colocar o Boneco de Trapos, no centro do alvo dos dardos, e, com uma precisão quase matemática, começou a espetá-lo. Pouco a pouco o boneco foi-se desfazendo, e, assim, quase desfeito, foi parar na manhã da véspera de Natal, a um contentor de lixo...

Nessa manhã, uma mãe levava sua filha pela mão e, ao passar por um contentor de lixo, a criança exclamou:

- Mãe, olha aquele boneco de trapos. É tão bonito, deixa-me levá-lo?

- É um boneco tão imperfeito, já desventrado, para que tu o queres? Só servia para sujar a casa.

- Mãe, eu nunca tive um boneco, e este, até é coxinho como eu. Tu, minha mãe, até podias arranjá-lo, para mais, o Pai Natal nunca se lembrou de mim!

E a criança lá levou o boneco para casa, que à noite já estava consertado e com os defeitos corrigidos. Até parecia outro...
 
Quando nessa noite, foi para a cama, a menina aleijadinha, orgulhosamente, deitou o Boneco de Trapos a seu lado, e disse à mãe:

- Mãe, tu que és tão habilidosa, que consertaste tão bem este boneco, não podias consertar também e minha perninha, para eu ficar tão bonita como ele?

Comovida, a mãe limpou uma lágrima que, teimosamente lhe caia pela face abaixo, e, tristemente, respondeu-lhe:

- Infelizmente não posso, minha filha. Mas confiemos em Deus e na boa vontade dos Homens. Talvez para o ano que vem, possas ser curada...

E um ano passou...

A menina aleijadinha, depois de fazer algumas operações e de ser bem tratada, recuperou do seu defeito físico.

- Mais um ano em que não podemos fazer uma festinha nesta noite. Nem sequer um brinquedo te posso dar, minha filha - lamentava-se a mãe.

- Não te preocupes, mãe, eu já recebi uma grande prenda, pois, estou completamente curada e, para mais, tenho o Boneco de Trapos, que sempre me acompanhou. Ele é tão bonito, não é, mamã?!

O frio lá fora era intenso e talvez nevasse...

Aquela mãe, depois de aconchegar os cobertores a sua filha e ao seu Boneco de Trapos, olhou-o com mais atenção, e, teve a sensação que este lhe sorria e lhe dizia:

- Obrigado, mãe, vai descansar, pois eu velarei pela nossa menina...

E será mesmo que... Nessa Noite em que dizem que os animais falam, os Bonecos de Trapos, também falam?

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