AMOR
O gato chegou de esguelha, moroso, amorado.
Chegou, gateou, miou um miado de desejo.
Derramou um olhar de sultão, denunciando volúpia.
Palmeou o terreno, miou mais afinado.
Saracoteou exibindo felinidade.
Agradou, submeteu-se.
A lua romântica prateou o gato.
O miado se alongou, alcançou a lua e se fez orgasmo.
REGRESSO
Na bica de água fresca me debruço.
Bebo o tempo e a espera, me farto de renovo.
Foi então que colhi gotas d’água e com elas
quis me fazer represa, eternizar o momento.
Mas elas não se prenderam em meu corpo
gasto pelos climas de outras paisagens.
Meu chão se empedrou, ficou cinzento
e minha alma sofre de um matagal sufocante.
Só na poesia me desbravo e me despedro.
TERRA MINHA
Este meu jeito de engaiolar lembranças
é para guardar um punhado da Terra em que nasci.
É a maneira de reduzir meu isolamento rodeado de distâncias.
Todas as manhãs meus ouvidos varam os confins do passado
e ouvem um passaredo barulhando dentro de mim.
Aí, eu me encanto com o encantamento que tem gosto de barulhar.
Coisas de alumbramentos, renovo de poeta para encurtar lonjuras.
Lá o amanhecer põe glorias nos horizontes
que do lado de cá, só enxergo no pensar.
Ali também ficou meu despropósito de corça
correndo lampeira, relvada da de capim gordura,
desapegada de medos e futuros.
Os medos acordaram e até botaram trancas em meus sonhos.
Perdi o gosto de gostar.
Gostar é correr livre, ser rio descompromissado
derramando levezas sobre o corpo da Terra amante.
Isso já não sou. Hoje quem me relva é a saudade.
Saudade de você Terra minha, berço de renomados estadistas,
JK, Tancredo e tantos outros que não tiveram medo de se exercer.
Oh, Minas Gerais, quem nasce em suas paisagens assina contrato de fidelidade,
carrega no peito seus aconselhamentos e a bravura de seus heróis.
Boa Terra, sou cria do seu sertão.
O seu chão me fez árvore, me enraizou e os pássaros em mim gorjeiam
Mas a distância me corrói e me soma para menos.
REFLEXÃO
Neste Natal, Senhor meu Deus,
quero me despir de mim para me revestir da tua rica presença.
Quero ostentar em todos os dedos das minhas mãos
o brilho da fraternidade, o desapego do egoísmo e as chaves da sabedoria
para que meu coração esteja aberto às tuas palavras.
Sei que nada sou, nada posso sem a graça da tua luz que me transmuda e me transcende.
Somente Tu, Senhor, conheces as minhas fragilidades e o prazo de validade
dos dias do meu tempo.
Sei que o futuro a Ti pertence e que o presente é uma dádiva tua.
Dou-Te glórias por teres me permitido chegar até aqui e reconheceres a minha fraqueza.
Perdoa a minha insensatez, perdoa-me pela fé não professada
e pelo amor que neguei ao irmão abandonado, sem ilusão e sem esperança.
Ensina-me a repartir os dons que me destes e a deixar por onde passo
o sinal da tua presença.
Despoja-meda vaidade, da ganância e faça do meu coração uma nova manjedoura sem ouro e sem prata,
mas rica em atos e palavras que traduzam a minha fé.
Que este Natal, chegue frondoso de esperança e recheado do amor
que abastece os corações vazios de Ti.
Senhor meu Deus, fica comigo, a noite já desce, o mar se avoluma.
Eu preciso da tua presença para o êxito da minha travessia.
Feliz e Santo Natal a todos.
Fonte: A Autora
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