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quarta-feira, 20 de junho de 2018

Contos e Lendas do Mundo (América do Norte: Contos da Grande Lebre)

Segundo contos narrados pelas tribos algonquinas, o deus Michabo era filho do Vento do Oeste e portador da Luz. De palavra fácil e vigoroso, tomou a forma do primo do coelho, a lebre.

Michabo, a Grande Lebre, nadava no oceano. Com as suas poderosas patas traseiras, era um excelente nadador. Mergulhou até onde o oceano era de um azul muito escuro, as longas orelhas espetadas para trás.

Nunca mergulhara tão fundo, e resolveu ver se conseguia chegar ao fundo. Continuou, cada vez mais para baixo, até os pulmões darem a sensação de ir rebentar. Chegou então ao fundo do oceano.

Em triunfo, apanhou um grão de areia e voltou à superfície, empunhando o grão na pata. Colocou então o troféu do seu triunfante mergulho na superfície do oceano. Aí, o simples grão transformou-se num milhar de grãos, e de um milhar num milhão... até formar uma ilha, depois um continente, depois algo ainda maior.

Mas qual a extensão? Os Algonquinos contam que um dia um lobo pequeno deu consigo num extremo da terra e resolveu atravessá-la. Quando o lobo chegou à idade adulta, o outro extremo ainda não se vislumbrava... mas prosseguiu a sua caminhada, determinado a atingir o seu objetivo. Vagueou anos a fio, até que os seus anos se esgotaram atingira a velhice sem ter completado a sua viagem. Quando o animal se deitou para morrer após uma longa vida, o extremo da terra ainda não se vislumbrava. Era esta a extensão da terra.

Muitos povos - de muitas tribos e muitas raças - vieram viver nesta terra. Este pedaço de terra, criado a partir de um grão de areia, é aquilo que agora entendemos como Terra, e Michabo foi o seu criador.

Um dia, a Grande Lebre passava por um enorme rio que corria por entre as árvores como uma gigantesca cobra prateada. Um rapaz estava de pé nos baixios da água cristalina, imóvel como as pedras do leito pedregoso do rio. De repente, um peixe passou como um raio prateado junto à superfície. O rapaz lançou-lhe uma lança - a ponta afiada falhou por pouco o alvo. O rapaz apanhou a lança e ficou novamente imóvel, à espera que o peixe seguinte passasse por perto.

Michabo deitou-se, encostado a uma rocha, ao sol da tarde, e pensou naquilo que acabara de ver. Achava que o rapaz quando fosse homem seria provavelmente um bom caçador e pescaria muitos peixes para a sua mulher e filhos. Mas deveria haver certamente uma maneira mais fácil de arranjar comida.

Ainda a pensar neste problema, a Grande Lebre mergulhou no sono, ao sol da tarde. Quando acordou, sentiu algo a tinir no alto da cabeça. Imaginem a sua surpresa quando descobriu que, enquanto estivera a dormir, uma aranha tecera uma delicada teia entre as suas orelhas!

No entanto, Michabo não ficou zangado. Riu-se. Apanhou cuidadosamente a aranha entre as suas patas e pousou-a suavemente em cima de uma rocha, de onde ela desatou a fugir em busca de abrigo... não antes de ele ter estudado a delicada teia que ela tecera. Dera uma ideia ao deus.

A aranha usava a teia para apanhar moscas... moscas que ela comeria mais tarde. Costumava tecer a sua teia num ramo - ou até entre as orelhas de um deus - e esperava que as moscas voassem até lá e ficassem presas.

Porque não fazer uma teia semelhante de fio? Teria de ser muito maior e mais forte do que a teia da aranha, mas a ideia era a mesma. Em vez de lançarem uma teia para o ar para apanharem moscas, as pessoas poderiam atirar uma rede para dentro de água para apanharem os peixes. E foi assim que a rede de pesca foi inventada - graças à Grande Lebre e à aranha.

Noutra ocasião, Michabo, deixara a sua terra no Oriente - a terra da Luz e do Bem - e estava sentado na margem de um rio, a fazer desenhos na areia molhada com um galho. Um homem e uma mulher passaram por ele, cumprimentaram-no, depois foram apanhar ervas para a floresta.

Sem grandes cogitações, a Grande Lebre, preguiçosamente, desenhou os contornos deles na areia.

Ao regressarem, passaram uma vez mais por Michabo e a mulher olhou para as imagens que ele desenhara na areia. E perguntou-lhe o que é que ele estava a fazer.

- A fazer desenhos - disse-lhes ele.

O homem riu-se.

- Parecemos nós os dois a caminhar lado a lado - disse ele com alegria e apontou para as figuras na areia.

- E essas árvores parecem a floresta ali defronte - disse a mulher, entusiasmada. - E muito inteligente! Parece uma história, não em palavras mas em rabiscos na areia. Quem os vir, saberá que um homem e uma mulher foram à floresta.

- E voltaram com ervas - disse Michabo, fazendo outro desenho a seguir. Deu um pulo, maravilhado, e aspirou o vento com o focinho a fungar, como uma lebre vulgar faz quando tem uma grande ideia. 

- Se eu fiz vários desenhos, cada um dos quais com um significado diferente, então as pessoas poderiam deixar mensagens umas às outras - disse ele alegremente. - Nem sequer teriam de estar no mesmo lugar, ao mesmo tempo, para falarem umas com as outras. Que invenção mais útil!

E foi assim que, segundo os Algonquinos, a escrita pictórica foi inventada.

Michabo mostrava frequentemente ser um verdadeiro amigo do seu povo. Ensinava-lhe muitos truques de caça - como a altura para esperar e a altura para atacar, e a forma de seguir uma presa contra o vento para que ela não se apercebesse da sua presença - e dava-lhe muitos amuletos para o ajudar. Porém, antes da vinda de cada Inverno, deixava os seus amigos humanos e voltava para a sua terra, para o seu longo sono, pronto a voltar na Primavera seguinte.

Criador, inventor, impostor ou louco, havia sempre um lugar no coração de Michabo para o seu povo, e nos corações dos Algonquinos para ele.
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Algonquinos (ou Algonquianos)

Os algonquianos eram um grupo de tribos nativas americanas que tradicionalmente ...

Os algonquinos eram um grupo de tribos nativas americanas que tradicionalmente falavam idiomas semelhantes e tinham modos de vida parecidos. Crees, moicanos, delawares, ojibwas, shawnees e algonquinos são algumas das muitas tribos algonquianas.

No início, os algonquianos provavelmente viviam no sul do Canadá, em uma área ao norte do rio São Lourenço. Ao longo do tempo se espalharam e terminaram ocupando grande parte dos Estados Unidos e do Canadá atuais. Seu território incluía a Nova Inglaterra, a região chamada Costa Atlântica, a área dos Grandes Lagos e parte das Grandes Planícies.

A maior parte dos algonquianos construiu suas aldeias ao longo dos rios. Eles cultivavam milho, feijão e abóbora nas áreas próximas. Caçavam veados, coelhos e castores e, às vezes, animais maiores, como alces, uapitis e bisões. Confeccionavam boa parte de suas roupas com peles de animais.

A maioria dos povos algonquianos construía casas em forma de abóbada chamadas wigwams (cabanas). Algumas tribos erguiam casas compridas de madeira e de casca de árvore suficientemente grandes para abrigar várias famílias. Outras viviam em tendas em formato de cone.

Havia várias práticas religiosas entre os algonquianos. A maioria das tribos compartilhava a crença em um grande espírito chamado Manitu. Acreditava-se que ele estava presente em todas as coisas na Terra.

Os algonquianos que moravam ao longo do litoral do Atlântico estiveram entre os primeiros índios a estabelecer contato com os colonizadores europeus. Acolheram os primeiros imigrantes peregrinos dos Estados Unidos e os colonizadores da cidade de Jamestown, que chegaram no início do século XVII. Muitos morreram de doenças trazidas pelos colonos europeus. Os recém-chegados também obrigaram os índios a abdicar de suas terras. Em meados do século XIX, a maior parte dos algonquinos vivia em reservas que lhes foram destinadas. Milhares de pessoas de ascendência algonquiana ainda vivem nos Estados Unidos e Canadá.

Fontes:

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Folclore dos Estados Unidos (Lenda Indígena Abenaki: História da Criação e A Importância de Sonhar)

Grande Espírito, em um tempo não conhecido por nós olhou aproximadamente e não viu nada. Sem cores, sem beleza. Tempo ficou em silêncio na trevas. Não havia nenhum som. Nada poderia ser visto ou sentido. O Grande Espírito decidiu preencher esse espaço com luz e vida.

De seu grande poder, ele comandou as faíscas da criação. Ele ordenou Tolba, o grande da tartaruga para vir das águas e tornar-se a terra. O Grande Espírito moldou as montanhas e os vales nas costas de tartaruga. Ele colocou as nuvens brancas no céu azul. Ele ficou muito feliz e disse: "Tudo está pronto agora. encherei este lugar com o movimento feliz da vida. "Ele pensou e pensou sobre que tipo de criaturas que ele faria.

Onde é que eles vivem? O que eles fariam? Qual seria o seu propósito ser? Ele queria um plano perfeito. Ele pensou tanto que ficou tão  cansado e adormeceu.

Seu sono foi cheio de sonhos de sua criação. Ele viu estranhas coisas em seu sonho. Ele viu animais rastejando sobre quatro patas, alguns em duas. Algumas criaturas voando com asas, alguns nadavam com barbatanas. Lá  haviam plantas de todas as cores, cobrindo o chão por toda parte. Insetos zumbiam ao redor, os cachorros latiam, os pássaros cantavam, e os seres humanos chamados uns aos outros. Tudo parecia fora do lugar. O Grande Espírito pensou que ele estava tendo um sonho ruim. E pensou que nada poderia ser este imperfeito.

Quando o Grande Espírito despertou, viu um castor mordiscando um ramo. E percebeu o mundo de seu sonho tornou-se sua criação. Tudo ele sonhou havia se tornado realidade. Quando ele viu o castor fazer a sua casa, e uma represa para fornecer uma lagoa para a sua família  nadar, então ele sabia que cada coisa tem o seu lugar, e fim no tempo.

Tem sido dito entre o nosso povo de geração em geração. Não devemos questionar nossos sonhos. Eles são a nossa criação.

Fonte:
Toca da Morgana

domingo, 13 de outubro de 2013

Folclore dos Estados Unidos (Lenda Abenaki: Estória do Tambor)

Diz-se que, quando Tunkashila (o Avô Universo), estava a dar um lugar a todos os espíritos que habitam e tomam parte da habitabilidade da Mãe Terra, se escutou um som, uma forte explosão à distância.

Tunkashila escutou o som a aproximar-se cada vez mais até estar mesmo à sua frente.

-Quem és tu?- perguntou o Criador

-Eu sou o Espírito do Tambor- foi a resposta- e venho pedir-te que me permitas
participar nestas coisas maravilhosa que estás a criar.

- E como queres tu participar?

-Gostava de acompanhar o canto das gentes, quando se cante desde o coração eu próprio vou cantar como se fosse o bater do grande coração da Mãe Terra. Desta maneira toda a criação cantará em harmonia!

Tunkashila atendeu ao pedido e a partir de então o tambor tem acompanhado as vozes que cantam desde o coração. Para todos os primeiros povos do mundo (indígenas), o tambor constitui o centro das canções e é o catalisador para o espírito destas se elevar até ao Criador de modo a que as orações cheguem aonde estão destinadas a ir. O som do tambor traz integridade, respeito, entusiasmo, solenidade, força, coragem e cumprimento das próprias canções. Trata-se do bater do grande coração da Mãe Terra concedendo aprovação a todos os que nela habitam. A águia abraça esta medicina e conduz a sua mensagem ao Criador e aí se transforma a vida das gentes.

Para os índios, (Pajés e Xamãs), o tambor é o 'cavalo ou canoa' que os transporta para outras dimensões da realidade. Sua vibração é extremamente forte, capaz de propiciar a cura e a ampliação da consciência por ressonância vibratória. Quando o tambor é tocado, sua vibração é sentida dentro do corpo, criando um efeito purificante. Através das ondas sonoras, entramos em ressonância e ativamos a memória ancestral do homem como espécie e indivíduo.

Instrumento de cura e manifestação.

As vibrações do tambor mudam as ondas cerebrais de beta para ALFA, as ondas cerebrais alfa são as ondas do estado de meditação, as ondas que abrem o portal da genialidade, o lado direito do cérebro, o lado direito do cérebro é a nossa parte feminina, é a energia criativa individual e ao mesmo tempo a energia criativa de 'Tudo que Existe", o eu quântico onde não há mais a noção do ego linear que diz (Como a energia criativa pode ser minha e do Universo inteiro ao mesmo tempo?) essa noção diz respeito apenas as leis dessa dimensão linear, egóica, ao transcender essa dimensão Tu é Individual e TUDO QUE EXISTE ao mesmo tempo, sentir o que É ISSO é meditação, é a iluminação, é dizer "É ISSO" é dizer ao Universo "EU SOU" e assim perceber a irmandade de todas as coisas, portando, as vibrações do tambor são um instrumento quântico de cura interior, de autoconhecimento, de magia, a real magia..

Fonte:
Grupo Xamanismo

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Folclore dos Estados Unidos (Lenda Ojibwa: Como o Morcego Veio a Ser o Que É)

Nota:
Os ojibwas foram um povo indígena da América do Norte, igualmente divididos entre os Estados Unidos e o Canadá. Habitavam a região a oeste e em volta do lago Superior.
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Há muito tempo atrás, enquanto o sol se levantava pela manhã, ele chegou perto demais da Terra e ficou preso nos galhos mais altos de uma grande árvore.

Quanto mais o Sol tentava escapar mais ele ficava preso. Então, chegou a noite.

Logo, logo, todos as aves e animais notaram. Alguns acordaram, então voltaram a dormir pensando que tinham se enganado e não era hora de levantar.

Outros animais, que amavam a noite, como a pantera e a coruja, estavam realmente contentes porque permanecia escuro, assim ele podiam continuar a caçar.

Mas após um certo período, tanto tempo havia se passado que as aves e animais souberam que havia algo errado.

Ele se reuniram em Conselho na escuridão.

“O Sol se perdeu,” disse a águia.

“Devemos procurar por ele” disse o urso.

Assim, todos os pássaros e animais foram procurar pelo Sol.

Eles olharam em cavernas e nas profundezas da floresta e no topo das montanhas e nos pântanos.

Mas, o Sol não estava lá. Nenhum dos pássaros ou animais pôde encontrá-lo.

Então, um dos animais, um pequeno esquilo marrom teve uma idéia. “Talvez o Sol esteja preso em uma árvore alta,” ele disse.

Então, o pequeno esquilo marrom começou a pular de árvore em árvore, indo cada vez mais para o leste. Enfim, no topo de uma árvore muito alta, ele viu um raio de luz.

Ele escalou e viu que era o Sol. A luz do Sol estava pálida e ele parecia fraco.

“Ajude-me Pequeno Irmão!,” disse o Sol.

O pequeno esquilo marrom chegou mais perto e começou a mastigar os ramos que prendiam o Sol. Quanto mais perto ele chegava, mais quente ficava. Quanto mais galhos ele mastigava, mais brilhante o Sol se tornava.

“Eu tenho de parar agora!” disse o pequeno esquilo marrom. “Meu pelo está queimando. Ele estava ficando todo preto!”

“Ajude-me!,” implorou o Sol. “Não pare agora”

O pequeno esquilo continuou o trabalho, mas o calor do Sol estava muito quente e ele estava muito mais brilhante. “Minha cauda está se queimando!” disse o pequeno esquilo marrom. “Não posso fazer mais que isso!”

“Ajude-me!,” disse o Sol. “Logo eu vou estar livre!”

Assim, o pequeno esquilo marrom continuou a mastigar. Mas a luz do Sol estava brilhante demais agora.

“Estou ficando cego!,” disse o esquilinho. “Preciso parar!”

“Só um pouquinho mais!,” disse o Sol. “Eu estou quase livre!”

Finalmente, o pequeno esquilo marrom soltou o último dos ramos.

Logo que ele fez isso, o Sol se libertou e subiu para o céu.

A escuridão desapareceu sobre a Terra e era dia novamente. Por todo o mundo pássaros e animais ficaram felizes.

Mas, o pequeno esquilo marrom não estava feliz. Ele foi cegado pela claridade do Sol. Sua longa cauda tinha sido queimada até o fim e o que ele tinha de pêlo agora estava preto.

Sua pele tinha se esticado por causa do calor e ele estava suspenso no topo da árvore, incapaz de se mover…

Lá em cima no céu, o Sol olhou e sentiu pena do pequeno esquilo marrom. Ele tinha sofrido muito para salvá-lo.

“Pequeno Irmão,” disse o Sol. “Você me ajudou. Agora, eu vou de dar algo. Há algo que você sempre tenha desejado?”

“Eu sempre quis voar,” disse o pequeno esquilo. “Mas eu estou cego agora, e minha cauda se queimou.”

O Sol sorriu “Pequeno Irmão,” ele disse, “de agora em diante você voará melhor que as aves. Porque você veio tão perto de mim, minha luz sempre estará brilhando para você, e além disso você enxergará no escuro e ouvirá tudo ao seu redor enquanto voa.

“De agora em diante, você dormirá quando eu levantar nos céus e quando eu disser adeus para o mundo, você acordará.”

Então o pequeno animal que uma vez foi um esquilo caiu do galho, esticou suas asas de pele e começou a voar.

Ele não mais sentiu falta de sua cauda e de seu pêlo marrom e ele sabia que quando a noite chegasse novamente, seria sua hora. Ele não mais poderia olhar para o Sol, mas ele reteve a alegria do Sol dentro de seu pequeno coração.

E assim foi, há muito tempo atrás, o Sol mostrou sua gratidão para o pequeno esquilo marrom, que  não era mais um esquilo, mas o primeiro de todos os morcegos.

fonte:
http://www.firstpeople.us/FP-Html-Legends/HowTheBatCameToBe-Ojibwa.html
Texto em português http://casadecha.wordpress.com

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Folclore dos Estados Unidos (Ne Hwas, a sereia)

Há muito tempo atrás, havia um índio, com sua esposa e duas filhas. Eles viviam perto de um grande lago, ou no mar e a mãe avisou às meninas para nunca ir para a água, pois se assim o fizessem  algo que aconteceria com elas.

Elas, no entanto, enganavam a mãe repetidamente. Quando nadar é proibido torna-se ainda mais agradável. A beira do lago acabava em uma ilha. Um dia elas nadaram até lá, deixando suas roupas na praia. Os pais as perderam.

O pai tentou encontrá-las. Ele as viu nadando ao longe e chamou por elas. As meninas nadaram até a areia, mas não foram longe. Seu pai perguntou-lhes porque não podiam. Elas gritaram que tinha ficado tão pesadas que era impossível. Elas estavam muito viscosas, e tinham virado serpentes cintura para baixo. Após mergulhar algumas vezes neste lodo estranho elas se tornaram muito bonitas, com longos cabelos e olhos negros e luminosos, com faixas de prata em seu pescoço e braços.

Quando o pai foi buscar as suas roupas, elas começaram a cantar em tons mais maravilhosos:

“Deixe-as lá
Não lhes toque
Deixe-as lá! “

Ouvindo isso, sua mãe começou a chorar, mas as meninas continuaram:

“É tudo culpa nossa,
Mas não nos culpem
Isso não será nada o pior para você.
Quando você estiver na sua canoa,
Então você não precisará de remo
Vamos levá-lo junto!”

E assim foi: quando seus pais foram na canoa, as meninas a levaram para  todo lugar.

Elas as encontraram na água, e as perseguiu para tentou capturá-las, mas elas eram tão escorregadias que era impossível segurá-las, até que um, pegando a sereia pelos longos cabelos negros, conseguiu cortá-lo.

Então a menina começou a balançar a canoa e ameaçou virá-la, a menos que seu cabelo fosse devolvido. O índio que havia ludibriado a sereia a princípio recusou, mas como as sereias ou donzelas serpentes, prometeram que todos eles se afogariam a menos que isso fosse feito eles devolveram e assim sendo, foi desfeito o bloqueio que a impedia de continuar. E no dia seguinte, elas foram ouvidas onde elas tinha sido vistas pela última vez e o cabelo da sereia que havia sido cortado, estava crescendo novamente.

Fontes:
http://www.sacred-texts.com/nam/ne/al/al57.htm
http://www.firstpeople.us/FP-Html-Legends/Ne-Hwas-The-Mermaid-Passamaquoddy.html
Texto em português http://casadecha.wordpress.com

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Folclore dos Estados Unidos (Wendigo, O Espírito Canibal)

Parte da mitologia algonquina, principalmente das tribos Cree e Ojibua, o wendigo tem muitas aparências segundo as lendas, tanto pode ser um tipo de pé-grande canibal, com longos dentes e um silvo perturbador que pode ser ouvida à distância, quanto pode ser um esqueleto ambulante, com pele cinza, olhos fundos de cadáver, e que às vezes só pode ser visto de lado, porque de frente ele aparenta ser apenas uma linha fina. Outro aspecto é sua fome incontrolável, quanto mais se alimento mais tem fome… Pode comer dezenas, centenas mas sempre terá fome… Por isso o wendigo é símbolo de ganância e insaciedade. Outra característica é seu odor. Quando um wendigo está perto se sente um odor de podridão sem igual, como se carcaças estivessem ao seu redor.

No conto de Algernon Blackwood, o wendigo aparentemente toma conto do corpo do guia, e o faz desaparecer na mata. Contemporâneo de Lovercraft, ele cria um clima de imenso terror onde não se descobre se tudo é real ou alucinação coletiva… O guia começa a ouvir uma voz sibilante e cavernosa o chamando, sente um cheiro ruim e estranho e desaparece na mata. O conto descreve o que se chama “febre das matas”, quando tudo aquilo (silêncio, mata, solidão) engloba o homem de tal maneira que ele corre para a floresta de onde não mais retorna, vítima da febre.

    Outro aspecto é sua fome incontrolável, quanto mais se alimento mais tem fome… Pode comer dezenas, centenas mas sempre terá fome… Por isso o wendigo é símbolo de ganância e insaciedade. Outra característica é seu odor. Quando um wendigo está perto se sente um odor de podridão sem igual, como se carcaças estivessem ao seu redor.

Parece ser o que acontece como guia, mas depois de muito procurar, o restante do grupo, senta ao redor da fogueira e ouve um som vindo do alto das árvores… Chamado por um deles, uma coisa cai no acampamento. É o guia, mas totalmente transfigurado… Pele pendurada no corpo, olhar feroz e alucinando, olhos esbugalhados, voz vinda das profundezas….O wendigo dele se apoderou.

O mito do wendigo está relacionado à prática do canibalismo. Muitas vezes, devido a fome e frio, principalmente durante o inverno, alguém recorria ao canibalismo para sobreviver. Fazendo isso, ele seria possuído pelo espírito do wendigo e se tornaria um.

Então tanto existe o wendigo enquanto criatura, peluda ou não, como também existe a possessão do espírito demoníaco do wendigo.

Em algumas lendas desse povo, alguém também pode se tornar um wendigo se necessário para proteger seu povo ou lar de algum perigo. A pessoa se torna um gigante e depois de passado o perigo ele pode retornar à forma humana ou se embrenhar no mato para nunca mais aparecer.

    Chamado por um deles, uma coisa cai no acampamento. É o guia, mas totalmente transfigurado… Pele pendurada no corpo, olhar feroz e alucinando, olhos esbugalhados, voz vinda das profundezas….O wendigo dele se apoderou.

Em um conto lido por mim, também podem se apresentar wendigos bons e maus… Como no caso do casal que vivia com o filho e foi visitado pelo wendigo. Ele nada fez ao casal, apenas ficou se servindo da caça trazida pelo homem e foi embora dando de presente um arco e flechas mágicos…. Porém tempos depois, a mulher estava sozinha e vendo outro wendigo se aproximando, não teve medo. Este ao chegar perto se mostra hostil e ela é morta quando tenta fugir.

    (…)O próprio índio reconheceu os sintomas e admitiu que iria se tornar o monstro, pedindo que alguém o matasse antes disso… Então deixaram o irmão dele para a tarefa, ficando por perto para ajudá-lo se necessário. Ele acertou o coração do “wendigo”, mas não houve sangue(…)

Também na literatura encontramos a “psicose do wendigo”, quando mesmo com comida à disposição, a pessoa come carne humana. Um dos casos mais famosos é o de Swift Runner, um caçador de Alberta, que comeu sua mulher e cinco filhos, mesmo a uma distância relativamente curta do posto de abastecimento. Ele foi julgado e condenado em Fort Saskatchewan.

Outro caso famoso é do chefe Cree e xamã Jack Fiddler, que entre seu povo era respeitado por localizar e exorcizar wendigos, matando alguns índios no processo. Ele e seu irmão foram julgados culpados por um tribunal, mas ele até o fim insistiu que estava livrando o povo de um mal maior e que poderia se espalhar se nada fosse feito.

Porém, para essas tribos é aceitável matar um wendigo. Casos foram julgados em que índios eram réus por esse motivo. Como Machekequonabe, uma índia que matou o seu pai adotivo, que estava possuído pelo espírito do wendigo.

Em outro caso índios Cree observaram que um membro do grupo estava se tornando um wendigo. O próprio índio reconheceu os sintomas e admitiu que iria se tornar o monstro, pedindo que alguém o matasse antes disso… Então deixaram o irmão dele para a tarefa, ficando por perto para ajudá-lo se necessário. Ele acertou o coração do “wendigo”, mas não houve sangue, então os outros vieram e acertaram o moribundo com pedaços de pau e queimaram o corpo em uma estaca. Para matar o wendigo é designado sempre um parente, assim se evita que a família queira vingança contra o carrasco.

Também um índio de nome Abisahibs matou uma família inteira em Yor Factory. Ele foi posto a ferros por um comerciante de Hudson´Bay. Ele foi solto porque gerou uma comoção entre os índios do local, que temiam caçar com ele por perto, mesmo preso. Mas mesmo solto ele não deixou o local e foi preso novamente, talvez pela própria segurança. Então os índios Cree resolveram fazer sua própria justiça, tiraram ele da prisão, o mataram com um machado e queimaram o corpo para que o espírito não os assombrassem.

O wendigo é contado em lendas e documentos oficiais. Espírito da floresta ou simplesmente faminto por carne humana, ele não mais assombra como antes. Porém, nos primórdios da colonização quando a floresta ainda “chamava” pelos incautos penso como seria estar só naquela imensidão solitária ouvindo os ruídos da mata sem saber exatamente o que seriam….

Só, naquele local o homem deveria ser possuído por algum mal ancestral que o faria novamente ser o caçador bestial de outras épocas, predando até mesmo a seus semelhantes.

Esse é chamado demoníaco do wendigo, o espírito canibal.

Fontes:
http://books.google.com.br/books?id=MJTuqyabJTgC&pg=PA75&dq=wendigo&as_brr=0#v=onepage&q=wendigo&f=false
Texto em português http://casadecha.wordpress.com
Imagem: http://www.shipoffools.wikia.com

sábado, 5 de outubro de 2013

Folclore dos Estados Unidos (A Lenda do Cervo Branco)

Muitas lendas surgiram devido ao desaparecimento da colônia inglesa de Roanoke. Livros, contos, quadros, séries, filmes falam sobre o assunto.

O livro de Sallie Southall Cotten, “O Cervo Branco: O Destino de Virginia Dare” é uma tentativa de explicar o destino da colônia e de Virginia Dare, a primeira criança de descendência inglesa nascida nas Américas.

Quanto à chegada de europeus à província de Terra Nova, no Canadá, há muito já se descobriu que os vikings foram os primeiros a chegar aqui, 500 anos antes de Colombo.  Graças às pesquisas de Helge Ingstad, descobriu-se as ruínas de L’Anse aux Meadows no Canadá, e segunda os contos nórdicos, uma mulher de nome Gudrun deu à luz um filho que seria o primeiro descendente de europeus nessa terra…

Mas voltando ao livro, ele narra como Virginia cresceu na tribo de Manteo,  winona significa “primeira filha” em Sioux e ska, significa branca. Ela cresceu e se tornou uma linda mulher. Okisko um jovem chefe índio queria casar com ela, só que Chico um velho feiticeiro também queria a mesma coisa.

O velho tentou em vão convencê-la a se casar com ele. Rejeitado ele lançou um feitiço sobe ela e a transformou em um cervo branco.

Okisko estava decidido a reverter a maldição e pediu ajuda a um feiticeiro do bem chamado Wenokan. Okisko fez um flecha com uma concha de ostra e Wenokan a banhou em uma fonte mágica, transformando-a em uma pérola. Para quebrar o feitiço Okisko deveria acertar a flecha mágica no cervo branco e ela se tornaria novamente Winona-Ska.

Nesse meio tempo, o jovem Wanchese, filho daquele que foi à Inglaterra com Manteo, resolveu matar o cervo encantando para ter fama. Para matar esse animal especial seria necessário uma flecha de prata. Por coincidência o pai dele tinha ganhado uma da rainha Elizabeth I quando ele visitou a Inglaterra.

Um dia, Okisko viu o cervo branco próxima das ruínas de Fort Raleigh, na ilha de Roanoke. Mais que depressa ele apontou sua flecha de pérola para o animal. Infelizmente, Manteo também disparou sua flecha de prata no cervo.

As duas flechas acertaram o cervo ao mesmo tempo. A flecha de Okisko transformou-o em uma linda mulher novamente, só que a flecha de Manteo também acertou seu coração.  Okisko correu até ela, mas Virginia morreu em seus braços.

Desesperado ele corre até a fonte mágica e banha as duas flechas nas águas, implorando pela vida de Winona. Quando ele voltou para o local, não havia sinal nem de Virginia, nem de cervo. Mais tarde, o cervo branco reaparece olhando para ele com olhos lindos e tristes. Então ela corre para as matas.

Desde esse dia, até hoje muitas pessoas dizem que veem um cervo branco fantasmagórico próximo da área onde a Colônia Perdida fez seu primeiro assentamento.

E essa foi uma das lendas sobre Virginia Doe, talvez o mistério nunca seja explicado, nem mesmo com o projeto de análise do DNA dos índios da área, mas talvez seja mais interessante imaginar o que teria sido feito de todos…

Fonte:
http://www.learnnc.org/lp/pages/1647
Texto em português http://casadecha.wordpress.com

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Folclore dos Estados Unidos (O Legado do Povo Assiniboine)

Nos tempos antigos, eles tinham um belo costume de capturar um pássaro (1), para liberá-lo sobre a sepultura na noite do enterro, assim o pássaro carregaria o espírito do morto para o descanso celestial. E a sua ansiedade de resgatar os corpos dos guerreiros mortos em batalha, e a impossibilidade de deixar os velhos e indefesos para morrerem sozinhos no deserto, foi  o resultado de uma crença de que as almas daqueles que não receberam os ritos funerários vagariam inquietos e infelizes.

Pode-se facilmente imaginar que um povo que tanto amou o seu lar e reverenciou o túmulo de seus pais, ficaria indignado e com raiva, ao ver-se tratados desumanamente e tendo as relíquias sagradas dos mortos arrancadas e espalhadas com indiferença como se fossem pedras, ou ossos dos alces e os veados da floresta.

Foi este sentimento que muitas vezes os levou a atos de hostilidade, que aqueles que testemunharam atribuíram a eles grande crueldade e barbárie. Um exemplo ocorreu em Nova Inglaterra, onde as peles postas na sepultura da mãe de um Sachem foram roubadas e o cacique reuniu seu povo e os convocou para a vingança. Ele se inspirou em sua piedade filial, e os ditames de sua religião. Ele assim ele falou:

“Quando a última das gloriosas luzes de todo o céu ficaram debaixo deste mundo, e as aves ficaram em silêncio, eu começo meu repouso, como é de meu costume. Antes que os meus olhos se fechassem, julguei ver uma visão, em que meu espírito estava muito perturbado, e tremendo nessa visão triste o espírito gritou, “Eis, meu filho, aquele em que me alegrei, veja os seios que te amamentaram, as mãos que te mantiveram quente, e alimentaram. Podes esquecer de se vingar daqueles povos selvagens que desfiguraram o meu túmulo, desdenhando de nossa relíquias e honrados costumes? Veja agora que a sepultura de um Sachem é igual a de pessoas comuns, desfigurada por uma raça ignóbil. Tua mãe queixa-se, e implora tua ajuda contra essas pessoas gatunas, que recentemente invadiram a nossa terra. Se isso não for feito não vou descansar tranquila no meu eterno descanso.”

Essa tribo tem sido conhecida a visitar o local que havia habitado, em tempos antigos, e o lugar do enterro de seu povo, apesar de abandonado há eras, e passar horas em silenciosa meditação, e fará isso até que toda a esperança tenha morrido em seus peitos, ou a última gota de sangue seja derramada, não deixam a grama que cobre o pó de qualquer de seus parentes seja pisado por estranhos.

Sobre sua hospitalidade  a qual me referi várias vezes,  há muitas estórias para ilustrar esse traço de seu caráter. O egoísmo que continuamente vi naqueles que estavam ávidos de lucro, era algo que eles não poderiam compreender. Em muitas das suas aldeias, existia uma casa para hospedar visitantes, onde eles eram acomodados, enquanto os anciãos iam à coleta de peles para eles pudessem dormir, e comida para eles comerem, sem esperar recompensa.

Era rude para as pessoas ficar encarando os forasteiros quando eles passavam nas ruas, e  eles tinham tanta curiosidade quanto os brancos, mas eles não ficariam felizes em se intrometer entre eles e examiná-los. Eles, às vezes, escondiam-se atrás de árvores, a fim de olhar para estranhos, mas nunca se olhou abertamente para eles. Sua respeitosa atenção aos missionários era freqüentemente o resultado de suas regras de polidez, como é uma parte do código do índio, que cada pessoa deve ter uma audiência respeitosa.

Seus conselhos tem uma regra de decoro, e nenhuma pessoa é interrompida durante um discurso. Alguns índios, depois de respeitosamente ouvir um missionário, pensaram que eles deveriam relatar algumas de suas lendas. Mas o bom homem branco não pôde conter a sua indignação, e chamou-as de fábulas tolas, enquanto afirmava que o que ele tinha dito a tribo era uma verdade sagrada.

O índio, por sua vez, se ofendeu e disse: “Nós escutamos suas histórias. Porque você não ouvir as nossas? Você não sabe nada sobre as regras de civilidade!”

Em outra estória, um caçador, em suas andanças por presas, acabou em uma assentamento de brancos na Virgínia, e em virtude da inclemência do tempo, buscou refúgio na casa de uma agricultor, que ele viu na porta de casa. Foi recusada a sua entrada na casa. Estando ele com muita fome e sede, pediu um pedaço de pão e um copo de água fria. Mas a resposta a pedido foi:

“Não, você não terá nada aqui. Vá embora cachorro índio!”

Alguns meses depois, este mesmo fazendeiro se perdeu na mata, e depois de um dia cansado de andanças, chegou a uma cabana indígena, em que ele foi bem acolhido. Perguntando sobre a distância mais próxima de um assentamento, e encontrando-se longe demais para ele pensar em ir naquela noite, ele perguntou se ele poderia pernoitar. Muito cordialmente os donos da casa responderam que ele tinha liberdade para ficar, e todos eles estavam a seu serviço. Deram-lhe comida, eles fizeram uma fogueira para animar e aquecê-lo, e lhe deram pele de veado limpa para servir de cama, e prometeram conduzi-lo no dia seguinte em sua jornada. De manhã, o caçador índio e o fazendeiro partiam através da floresta. Quando chegaram à vista de uma habitação do homem branco, o caçador, antes de ir embora, voltou-se para seu companheiro, e disse: “Você não me reconhece?”

O homem branco foi tomado por horror que ele tinha ficado em poder de quem ele tinha maltratado a um tempo atrás, e esperava agora a experimentar a sua vingança. Mas, quando começava a pedir desculpas, o índio interrompeu, dizendo:

“Quando você ver pobres índios desmaiando por um copo de água fria, não lhes diga mais uma vez: “vá embora, seu cachorro índio” e voltou para suas terras.

Qual deles foi mais cristão e seguiu mais o preceito que dizia “Na medida em que vos fizestes vos ao menor destes, o fizestes para Mim? “
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Nota:
(1)
Os pássaros são ligados a jornada da alma depois da morte. Para as tribos norte-americanas, soltar um pássaro durante o enterro, significa que ele está levando a alma do morto para o seu repouso eterno.


Fontes:
http://www.mythencyclopedia.com/Be-Ca/Birds-in-Mythology.html
Texto em português disponível em http://casadecha.wordpress.com

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Folclore dos Estados Unidos (Rugarou, o Homem Lobo)

Imagem de Rebecca Ryals Russell
No episódio 4 da quarta temporada de Sobrenatural, Sam e Dean são chamados por um caçador de nome Travis para ajudá-lo a matar um rugarou. Ele conta aos irmãos que há alguns anos ele matou um rugarou, pensando que tinha terminado com a “maldição”, mas infelizmente ele descobriu que a esposa dele tinha tido um bebê e agora essa criança era um homem adulto que em breve se transformaria, pois a maldição do rugarou seria transmitida aos seus descendentes.

Logo o filho do rugarou sofreria uma metamorfose, ficaria com uma fome insaciável e logo provaria carne humana, a partir daí nunca mais deixaria de ser um canibal. Bem, ao contrário do descrito nas lendas, o rugarou do Sobrenatural mais parece um zumbi, com sua pele putrefata parecendo soltar-se do corpo.

Mas nas diversas versões da lenda original,  um rugaru ou rugarou (Roux-Ga-Roux, Rugaroo, or Rugaru) seria uma espécie de lobisomem. O mito começou a ser disseminado nas comunidades americanas de origem francesa e por isso se confunde com a lenda do lupgarou, o homem lobo. Essas estórias vem tanto dos imigrantes canadenses como de franceses que imigraram para a Louisiana.

Loup é a palavra francesa para logo e garou, do franco arcaico garulf, cognato da palavra inglesa werewolf). O loupgarou é um homem que se transforma em animal. É mais comumente descrito como um ser humano com cabeça de lobo, lembrando muito a lenda do lobisomem.

No folclore da Louisiana ele representa uma variante da pronúncia original do francês loup-garou. As estórias de rugaru seriam comum na Louisiana francesa. Ambas as palavras são usados como se tivessem o mesmo significado no sudeste da  Louisiana.  Alguns o chama de rougarou, outros de  loup garou.

Nas lendas dos cajun (1) é uma criatura que vaga pelos pântanos de Acadiana e Greater New Orleans, e nos campos e florestas da região.

Acredita-se que seja uma dessas estórias que se diga pra inspirar medo e obediência, para crianças ou para que católicos não deixem de ir à igreja. É dito que os católicos que desobedecerem a quaresma serão perseguidos e mortos pelo rugaru. Na lenda do loupgarou, aqueles que deixarem de observar a quaresma por sete anos seguidos, serão transformados em lobisomem.

Uma lenda comum, diz que o rugaru está sob feitiço por 101 dias, depois disso a maldição é transferida para outra pessoa, se o rugaru sugar o sangue dela. Isso lembra o mito do vampiro, em que a maldição é transmitida para outro pelo ato de sugar o sangue, com a diferença de que o vampiro não consegue se livrar de sua condição.

Outras estórias mostram o rugaru desde como um cavaleiro sem cabeça até o ser derivado da bruxaria.  Em algumas versões, somente uma bruxa pode criar um rugaru – tornando-se ela mesma um lobo ou por amaldiçoar pessoa com a licantropia.

A criatura rugaru é tema de muitas lendas dos nativos norte-americanos. Algumas versões variam do pé grande (sasquatch) ao wendigo.

Alguns estudam a ligação da palavra rugaru, de origem francesa, dentro do folclore dos índios norte-americanos. A palavra não é de origem Ojibwa , mas notadamente de origem francesa. Talvez tenha sido assimilada pelos Ojibwa de Turtle Mountain e os Chippewa da Dakota do Norte, devido ao contato deles com missionários e mercadores de origem francesa, para poderem nomear uma criatura humanóide e peluda.

Enquanto que o wendigo é uma critura temida, o rugaru é  visto como sagrado ligado à  Mãe Terra, assim como o pé-grande.
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Nota:
(1) Os cajun são um grupo étnico,  descendentes de canadense da Acadia ou Nova Escócia, províncías do Canadá, com traços de cultura predominantemente francesa, inclusive o idioma.


Fonte:
http://casadecha.wordpress.com

domingo, 29 de setembro de 2013

Folclore dos Estados Unidos (Origem da Terra dos Haida)

O corvo saiu da Terra e escalou o céu, causando grande confusão entre o Povo Celestial. Por isso, eles acabaram jogando ele nas águas.

Antes dos dias de nossos avós não havia nada, além de água. Era tudo água, com exceção de um único recife. Lá viviam seres sobrenaturais.  Mas eles ficavam todos amontoados. O corvo voou tentando arrumar um lugar onde pudesse ficar de pé,  mas ele não podia imaginar aonde.

Então ele olhou para o céu. Era sólido. Era tão lindo e o corvo estava fascinado por ele. Ele disse: “vou até lá!”, então ele correu o bico pelo céu e o escalou.

Ele viu que a Cidade dos Céus era um lugar bem grande. O chefe vivia lá e na casa do chefe havia um bebê.  Quando a noite chegou,  o corvo pegou o bebê pelo calcanhar e balançou os ossos para fora. Então ele vestiu a pele e fingiu que era o bebê.  Porém, mais tarde ele saiu da pele do bebê e virou corvo novamente.  Ele voou de casa em casa e fez muita bagunça. Enfim uma mulher o viu e avisou para todos.

Então o chefe reuniu sua gente e eles cantaram uma canção para o corvo. Era uma canção mágica, e no meio da canção o corvo deixou de se segurar, e caiu do Cidade dos Céus até que atingiu as grandes águas;

Então o berço ficou a deriva nas águas por um bom tempo. O corvo chorou, então ele mandou a si mesmo que dormisse, mas quando o corvo dormiu, alguma coisa disse: “Seu poderoso pai manda você entrar”. O corvo se recobrou rápido. Ele olhou em direção ao som, mas não viu nada, não havia coisa alguma ali. Logo a voz repetiu as palavras.

Corvo olhou através do buraco em seu lençol de pele de marta. Então, através das águas veio um mergulhão dizendo, “Seu poderoso pai diz para você entrar!”.

O corvo desceu pelo totem até chegar a uma casa submersa, onde encontrou o Homem Gaivota, seu pai. Figura: Totem de uma casa Haida.

O corvo se levantou. Seu berço estava indo ao encontro de uma grande alga marinha. Ele caminhou sobre ela, e olhem! Na verdade era um totem de duas cabeças feito de pedra. Quando o corvo desceu, descobriu que ele podia respirar tão facilmente quando no ar acima.

Abaixo do totem havia uma  casa. Alguém disse, “venha, entre meu filho, eu ouvi falar que você quer emprestar algo de mim”. O corvo entrou. No fundo da casa estava sentado um velho Homem Gaivota (1). O ancião mandou ele até uma caixa que estava pendurada em um canto. O corvo a abriu e tirou de dentro dois grandes pedaços de alguma coisa. Uma era preta e a outra estava coberta com pontas brilhantes.

O Homem Gaivota pegou os dois pedaços e mostrou para o corvo. Ele disse. “coloque este pedra pontuda na água primeiro, e depois coloque a preta. Então tire um pedaço de cada e cuspa fora e os pedaços vão se reunir;” assim ele falou.

Quando o corvo saiu, ele colocou o pedaço preto na água primeiro. Quando ele bicou um pedaço da pedra com pontos brilhantes e jogou na água, as pontas se juntaram novamente. Ele não fez como tinha sido orientado. Então ele voltou para a pedra preta, bicou e cuspiu fora de novo. Os pedaços ficaram presos. Então eles começaram a se transformar em terra. Ele colocou isso na água, e isso se esticou até se tornar a terra dos Haida (2). Do outro pedaço ele fez o continente.
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Notas:
(1)
Para os haida, os animais são seres muito poderosos, que podem se transformar a seu bel-prazer, provavelmente o homem gaivota deveria ser uma gaivota que no momento estava assumindo a forma humana.

(2)
A tribo haida é um tribo norte-americana, cujos territórios se estendem desde os Estados Unidos até o Canadá. A nação é dividida em clã das Águias e clã dos Corvos. Eles são hábeis em construir canoas e outras tribos sempre tiveram medo de guerrear com eles no mar.

Fonte:
JUDSON, Katherine B. Myths and Legends of British America. 1917.
Texto em portugues obtido em http://casadecha.wordpress.com

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Folclore dos Estados Unidos (Crenças dos Haida)

Aldeia Haida
Segundo a lenda, quando uma orca aparece em frente de uma aldeia Haida, ela está tentando dizer que ela já foi humana

O Mundo da Terra é plano, e acima há um céu sólido como uma grande bola. Em cima do topo do céu está o País dos Céus. O céu se levanta regularmente, e assim as nuvens se chocam contra as montanhas e fazem barulho.

O Mundo da Terra está suspenso, mas descansa sobre O Sagrado Que Pára e Se Move, e ele repousa sobre uma caixa de bronze. Sobre o peito dele está um poste que alcança os céus.  Quando o Sagrado Que Pára e Se Move está para se mover, uma marta escala o poste fazendo o barulho de trovão que é sempre ouvido antes do terremoto. Porque quando este Sagrado se move, causa um terremoto.

No País dos Céus, o poder maior é de Poder-do-Céu-Iluminado. Ele dá poder a todas as coisas.  As nuvens são seus lençóis. Nuvens de chuva são o disfarce do Pássaro Trovão(1). Quando as penas do Pássaro Trovão farfalham fazem um barulho muito alto.

O Vento Sudeste vive debaixo do mar. O Vento Nordeste permanece ao longo das montanhas do norte.

Há muitas tribos do Povo do Oceano. Agora, na terra dos Haida, que são as ilhas Queen Charlotte a terra e o mar são emaranhadas de uma extraordinária maneira.

Assim é com a terra do Povo do Oceano – o Povo Octopus (2), o Povo Golfinho, o Povo Orca, e o povo Cachalote. De todos os povos do oceano, o povo Orca é o mais poderoso. Eles tem cidades dispersas ao longo da costa, debaixo da água, assim como os índios tem suas aldeias acima, ao longo da costa.

Quando um homem morre na terra dos Haida, ele segue uma trilha até que ele alcança a praia de uma baía. No outro lado da baía está a Terra Fantasma. Então ele chama, e logo aparece do lado oposto uma pessoa empurrando uma balsa. Essa balsa é feita de cascas de cedro de qualidade, como aquelas usadas nos anéis da sociedade secreta. Então a balsa vem de onde estava para o lugar onde o homem está de pé, e carrega ele.

Lá na Terra Fantasma existem inúmeras aldeias, e muitas cabanas em cada uma. Assim, se um homem procura por sua mulher lá, vai levar um longo tempo fazendo isso. Essas aldeias estão em inúmeras enseadas, perto da água, assim como estão as aldeias dos Haida na terra.

Quando comida ou gordura é colocada na fogueira de uma família de uma homem que acabou de morrer, essa comida aparece para ele de imediato, por isso ele não fica com fome. E, se sua família canta canções bem alto quando ele morre, então ele entra orgulhoso na Terra Fantasma, com sua cabeça erguida. É dado a ele um bom nome nessa terra. Mas se os parente não fazem isso, ele entra cabisbaixo na Terra Fantasma, e as pessoas não vêem importância nele. Quando um homem entra na Terra Fantasma há sempre uma dança em sua homenagem.

Pessoas que são afogados vão para a Terra das Orcas.  Nas primeiro eles vão para o Supremo-do-Mar que dá a eles suas barbatanas e então eles vão para as casas de outras orcas. Quando as orcas se reúnem na frente de uma aldeia, se deduz que eles são seres humanos que morreram afogados e agem desse modo para informar às pessoas.

Um homem que foi para a Terra Fantasma, após ter estado lá por um certo tempo, põem todos os seus pertences numa canoa e vai para Xada, que é a segunda Terra Fantasma. Então ele vai para uma terceira, e depois para uma quarta, e então volta para a terra na forma de uma mosca azul. Portanto, quando uma mosca azul esbarra em um homem na terra, ele diz: “este é meu amigo, que me diz dessa maneira que ele me reconhece.”

Em um lugar além da Terra Fantasma, e apenas visível de lá, vive um chefe chamado Grande Nuvem Andarilha.  Ele possui todo o salmão (3 ). Quando um jogador morre, ele vai até Grande Nuvem e joga com ele. Os prêmios são o salmão e fantasmas. Quando Grande Nuvem Andarilha ganha, muitos fantasmas entravam na Terra Fantasma. Quando o jogador ganha, há uma grande migração de salmão.
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Notas:

(1)
Na mitologia indígena norte-americana, um poderoso espírito em forma de pássaro. Pela sua obra, a terra se encheu de água e vegetação. Se crê que o raio é uma faísca de seu bico, e o bater de suas asas produz o trovão. Muitas vezes é representado com uma cabeça extra em seu peito. Ele é frequentemente acompanhado de pássaros espíritos menores, muitas vezes em forma de águias ou falcões. Embora sua lenda seja muito conhecido na América do Norte, muitas figuras similares são encontradas na mitologia da África, Ásia e Europa (onde é associado com o pica-pau).

(2)
O nome devilfish se aplica tanto à manta (arraia gigante), quanto à uma espécie de polvo.

(3)
O salmão chum, Oncorhynchus keta, é uma espécie de  peixe anadromo da família do salmão. É um salmão do pacífico, e também é conhecido como salmão cachorro e salmão Keta , and is often marketed under the name  salmão Silverbrite. O nome salmão chun vem do dialeto Chinook que se originou como uma gíria de comerciantes da pacífico nordeste e que espalhava desde o rio Columbia até o Alaska.  O chum significa “localizado” ou “marcado”, enquanto “Keta” vem dos evenkis da Sibéria oriental.


Fonte:
UDSON, Katherine B. Myths and Legends of British America. 1917.
Texto em portugues obtido em http://casadecha.wordpress.com

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Folclore dos Estados Unidos (A Banshee dos Sertões)

A Banshee aparece com os cabelos esvoaçantes no alto do planalto, parece querer dizer algo, mas se alguém pergunta o que ela quer, ela grita e foge.

“O inferno, com suas chamas”, é assim que os sertões de Dakota sempre foram chamados. A nomenclatura  se encaixa no lugar. É um local onde antes era o fundo do mar, com suas camadas de barro moldadas pelas geadas e inundações em formas como pagodes, pirâmides e cidades geminadas. Cânions em forma de labirinto varridos pelo vento aparecem entre esses picos fantásticos, que são brilhantes na cor, mas sombrios, selvagens, e opressivos.  Cursos traiçoeiros sobre as colinas acasteladas, cascavéis se aquecem nas bordas das cratera que ficam acima de jazidas de carvão, e os homens selvagens estavam aqui, desesperados tentando se esconder contra o avanço da civilização.

A banshee (1) que aqui habita, pode ter sido alguma mulher branca vítima do ciúme de um pele vermelha e agora assombra a região da chapada chamada de “Watch Dog”, ou ela pode ter sido uma mulher índia que foi morta por lá. De qualquer forma,  há uma banshee no deserto cujos gritos têm congelado o sangue daqueles que não temeriam a visão de um urso ou uma pantera.  Ao luar, quando o cenário é mais sugestivo e sobrenatural, e os ruídos de lobos e corujas inspiram sentimentos desconfortáveis, o fantasma é visto em uma colina uma milha a sul de Watch Dog, os cabelos soprando ao vento, lançando os braços em gestos estranhos e desconexos.

Se o grupos de guerreiros,  emigrantes,  vaqueiros, caçadores, qualquer um que bem ou mal estiver passando por este lugar, acabar passar pelo chapadão assombrado durante a noite, as rochas são iluminados por flashes de fósforo e a banshee corre para cima delas.  Como se quisesse dizer, ou como se espera de uma pergunta que tenha ocorrido a ninguém a pedir, ela fica ao lado deles, em atitude de apelo, mas se perguntam o que ela quer ela arremessa os braços no ar e com um grito que ecoa através das ravinas amaldiçoadas por um quilômetro, ela desaparece e um instante depois se vê torcendo as mãos no topo da colina. Gado não pasta perto dessa colina assombrada e os vaqueiros mantém distância dela, pois até agora não foi dita a palavra que vai resolver o mistério da região ou acalmar a infeliz banshee.

A criatura às vezes tem um companheiro, às vezes, que é um esqueleto desencarnado que cambaleia sobre as cinzas e argila e assombra os acampamentos em busca de música. Se ele ouvir alguma melodia ele vai sentar-se à sua porta e fica acenando a cabeça para ela um tempo, se um violino é deixado ao seu alcance, é avidamente pego e será tocado até o meio da noite. A música é maravilhosa:  tão suave como a agitação do vento nas árvores,  mas tão dura como o grito de um lobo ou surpreendente como o agitar de uma cascavel. Quando o leste começa a clarear a música vai ficando fraca, e fica leve até que cessa completamente.  Mas quem a escuta não deve  seguir o violinista, porque o esqueleto se afasta, é vai levá-lo para uma  armadilha rochosa, de onde é impossível escapar, e a música vai te intoxicar, enlouquecer, e finalmente arrancar a alma de seu corpo.
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Nota:
(1) Um espírito feminino do folclore gaélico que se acredita, que ao uivar, está pressagiando a morte de alguém na família.  Origem do termo: gaélico irlandês bean sídhe, mulher das fadas; banshee: bean, mulher (do irlandês arcaico ben) + sídhe, fada (do irlandês arcaico síde)


Fonte:
Myths And Legends Of Our Own Land, Charles M. Skinner.
http://www.gutenberg.org/files/6615/6615-h/6615-h.htm#2H_4_0205
Texto em portugues, disponivel em http://www.casadecha.wordpress.com

sábado, 21 de setembro de 2013

Folclore dos Estados Unidos (Lenda Wyandot: A Criação do Mundo)

Haviam pessoas que viviam além do céu.  Eles eram os Wyandots. Um dia, o pajé disse para o povo a cavar em volta das raízes da macieira selvagem perto da cabana do chefe e os índios começaram a cavar. A filha do chefe estava deitada próximo.  Assim que os homens cavaram,  um barulho repentino os assustou.  Eles pularam para trás.  Eles haviam quebrado o piso do País dos Céus, e a árvore e a filha do chefe caíram através do buraco.

Nessa época o mundo não era nada mais do que um grande lençol de água. Não havia nenhuma terra em lugar nenhum.  Alguns cisnes nadando sobre a água no ouvido um estrondo de trovão. Foi a primeira vez que se ouviu um trovão no mundo.  Quando olharam para cima, eles viram a árvore e uma mulher estranha caindo da a mulher estranha cair do País dos Céus. Um deles disse: “Que coisa estranha está caindo?”  Então, ele acrescentou, “a água não vai sustentá-la. Vamos nadar em conjunto para que ela possa cair sobre nossas costas. “Então, a filha do chefe caiu sobre suas costas, e se deitou.

Depois de algum um tempo um cisne disse: “Que faremos com ela? Não podemos nadar desse jeito por muito tempo. Os outros disseram: ” Vamos para perguntar à Grande Tartaruga.  Ele provavelmente vai convocar um Conselho.  Então saberemos o que fazer.

Eles nadaram em torno da Grande Tartaruga e perguntaram-lhe o que fazer com a mulher em suas costas. Grande Tartaruga rapidamente enviou um mensageiro com um mocassim para os animais, então eles vieram de uma só vez para um grande Conselho. O Conselho se reuniu por um bom tempo. Então alguém se levantou e perguntou sobre a árvore. Ele disse que talvez os mergulhadores pudessem descer e ficar um pouco de terra de suas raízes, se eles descobrissem onde a árvore havia afundado. Grande Tartaruga disse: “Sim.  Se conseguirmos pegar terra, talvez possamos fazer um ilha para esta mulher. Então, os cisnes levaram todos para o local onde a árvore havia caído no fundo das águas.

Grande Tartaruga convocou mergulhadores. Primeiro foi a lontra, o melhor de todos eles.  Ele afundou de uma só vez para longe da visão.  Ele passou um longo, longo tempo.  Finalmente ele apareceu, mas ele engasgou e estava morto.  Então o rato almiscarado foi enviado. Ele também passou um longo, longo tempo. Muskrat também morreu.  Em seguida o castor foi mandado para baixo para obter a terra das raízes da árvore.  O castor também se afogou. Muitos animais morreram afogados.

Grande Tartaruga bradou:  “Quem vai se oferecer para ir para baixo para buscar a terra?” Ninguém quis se oferecer, até que no último minuto uma velha rã disse que iria tentar.  Todos os animais riram. A velho rã era muito pequena e feia.  Grande Tartaruga observou ela atentamente, mas enfim ele disse: “Bem, você tenta então.”

Para baixo nadou a velha rã.  Enfim ninguém podia mais vê-la, apesar dela descer muito lentamente. Então eles esperaram que ela voltasse. Eles esperaram e esperaram e esperaram.  Eles começaram a dizer: “Ela nunca vai voltar.”  Então eles viram uma pequena bolha na água. Grande Tartaruga disse: “Vamos nadar até lá. Lá é onde a velha rã está vindo. Assim foi feito. Então a velha rã veio lentamente à superfície, perto de Grande Tartaruga. Ela abriu a boca e cuspiu alguns grãos de terra que caíram no casco de Grande Tartaruga. A velha rã morreu também.

Pequena Tartaruga logo começou a esfregar a terra ao redor das bordas do casco de Grande Tartaruga.  A terra começou a crescer e virou uma ilha. Os animais olhavam à medida que crescia.  Em seguida, a ilha se tornou grande o suficiente para a mulher para viver, assim ela pisou na terra.  A ilha cresceu mais e mais,  até que se tornou tão grande quanto o mundo é hoje.

Quando um terremoto acontece, é porque grande tartaruga moveu seu pé. Às vezes ele fica cansado de carregar o mundo.(1)
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Nota:

(1)
Nos mitos cosmológicos de muitas culturas uma tartaruga sustenta o muno nas costas ou até mesmo sustenta os céus.


Fonte:
UDSON, Katherine B. Myths and Legends of British America. 1917.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Folclore dos Estados Unidos (O Fantasma de Dangerfield Newby)

Um dos rebeldes comandados por John Brown, era um homem negro chamado Dangerfield Newby. Ele foi libertado por seu pai branco, mas sua mulher e sete filhos ainda estavam escravizados perto de Warrenton, VA.  O dono de sua esposa disse a Dangerfield, que pelo valor de $ 1.500,00 (mil e quinhentos dólares) iria vendê-la e os seus filhos mais novos. Quando Newby levantou a soma com o pai branco para comprá-los, o capitão subiu o preço. Ele ficou angustiado e ainda mais pensando na carta que recebeu da esposa:

“Querido marido: Eu quero que você me compre logo que possível, pois se você não o fizer, alguém fará. Os empregados são ruins e fazem de tudo para me jogar contra a patroa. Querido marido. . . Nos últimos dois anos foram como um pesadelo para mim. Diz-se que o dono está com falta de dinheiro. Se assim for, não sei quando ele pode me vender, e depois todas as minhas esperanças brilhantes no futuro são destruídas, pois se há uma coisa que me ilumina em meus problemas, é estar com você, porque se eu pensar que eu nunca mais iria vê-lo, esta terra não teria encantos para mim. Faça tudo que puder por mim, e eu não tenho nenhuma dúvida que você vai. Eu quero vê-lo tanto.”

Desesperado, então ele se juntou a John Brown, um abolicionista, na esperança de libertar sua mulher e filhos.

Mas os rebeldes não foram felizes, pois os cidadãos se armaram contra eles  na madrugada do dia 17.  Havia uma grande quantidade de armas na cidade pois eram fabricadas lá, mas não havia muita munição, e os habitantes da cidade atiravam em qualquer coisa.

Um tiro atingiu Dangerfield Newby na garganta, matando-o instantaneamente. Ele se tornou o primeiro a morrer na revolta. O povo se lembrou da Rebelião de Nat Turner 30 anos antes, em South Hampton e eles se ficaram tão enfurecidos em seu medo e ignorância, que descontaram a frustração no corpo do Newby. Ele foi mutilado e arrastado para um beco próximo, onde foi deixado aos porcos. Inclusive há um livro da época que cita, que “os bons cidadãos da cidade nem deram bola ao gosto da carne dos porcos nessa época”.

Desse dia em diante o beco foi chamado de “Beco do porco”. Algumas noites, se você andar pelas ruas de Harpers Ferry, pode acontecer de você encontrar um homem negro de aproximadamente 45 anos, vestindo calças largas e um velho chapéu, com uma terrível cicatriz em sua garganta, e você vai saber que você encontrou Dangerfield Newby, ainda tentando libertar sua esposa e filhos.

Fontes:
http://www.pbs.org/wgbh/aia/part4/4p2941.html

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Folclore dos Estados Unidos (Lenda dos Pimas: A História da Criação)

Mulher Pima
Introdução:

O ancião, Comalk Hwak-Kih (Carmurça Fina) começou dizendo que estas eram estórias que ele costumava ouvir seu pai contar, sendo passada de pai para filho, e quando ele era pequeno ele não dava muita atenção, mas quando ele se tornou homem ele decidiu que iria aprendê-las, e pediu a seu pai que as ensinasse, o que o seu pai fez, e agora ele sabia todas elas.

A História da criação

No começo, não havia terra, água – nada. Havia apenas uma Pessoa, Juh-wert-a-Mai-kai (O Curandeiro da Terra).

Ele apenas flutuava, pois não havia lugar para ele pisar. Não havia sol, nem luz, e ele apenas flutuava na escuridão, que era a própria Escuridão.

Ele vagava por lugar nenhum até que ele decidiu que já tinha vagado demais. Então ele esfregou em seu peito e  tirou moah-hahttach, que é a respiração, ou terra gordurosa. Isto ele esfregou na palma e sua mão e equilibrou. Ela caiu três vezes, mas na quarta vez ficou suspensa no meio do ar e lá permanece até agora como o que chamamos de Terra.

O primeiro arbusto ele criou foi o arbusto greasewood (1).

E ele fez formigas, formigas pequeninas, para viver naquele arbusto, sobre a seiva que saia de seu tronco.

Mas essas formiguinhas não faziam nada de bom, então ele criou as formigas brancas, e estas trabalhavam e aumentavam a Terra; e elas a mantinham crescendo, maior e maior, até que ficou grande o suficiente para ele permanecer sobre ela.

Então ele criou a Pessoa. Ele o fez de seu olho, tirado da sombra de seus olhos, para o ajudá-lo, para ser como ele, e para ajudá-lo a criar árvores e seres humanos e tudo o que estava sobre a Terra.

O nome deste ser era Noo-ee (o Abutre).

A Nooee foi dado todo o poder, mas ele não trabalhou para o que ele foi criado. Ele não ligava em ajudar Juhwertamahkai, mas ele o deixou por sua própria conta.

E assim o Curandeiro da Terra criou ele mesmo as montanhas e tudo o que foi semeado e bom de comer. Pois se ele tivesse criado os seres humanos primeiro eles não teriam nada para se sustentar.

Mas depois de fazer Nooee e antes de fazer as montanhas e sementes para comida, Juhwertamahkai fez o sol.

A fim de fazer o sol ele primeiro fez a água, e então ele a colocou num vaso oco, como um prato de barro (hwas-hah-ah) para ficar duro como gelo. E esta bola dura ele colocou no céu. Primeiro ele colocou ela no Norte, mas isso não funcionou; então ele a colocou no Oeste, mas isto não funcionou; então ele a colocou no Sul, mas isto não funcionou; então ele a colocou no Oeste e lá ele funcionou como ele queria.

E a lua ele fez do mesmo jeito e ele tentou nos mesmo lugares, como os mesmos resultados.

Mas quando ele fez as estrelas ele encheu a boca de água e cuspiu nos céus. Mas na primeira noite as estrelas não iluminaram o bastante. Então ele pegou a Pedra Curandeira (diamante), o tone-dum-hw-teh, e a despedaçou, e pegou os pedaços e os jogou nos céus para se misturar com a água nas estrelas, e então houve luz bastante.

E assim Juhwertamahkai, esfregou o seu peito novamente, e dessa substância ele obteve dois bonequinhos, e ele os colocou na Terra. E eles eram seres humanos, homem e mulher.

E assim por um tempo as pessoas se multiplicaram até que encheram a Terra. Pois os primeiros pais era perfeitos, e não havia doença e nem morte. Mas quando a Terra se encheu, então não havia nada para comer, então eles mataram e comeram uns aos outros.

Mas Juhwertamahkai não gostou do jeito que seu povo agiu, matando-se uns aos outros, e então ele deixou que o céu caísse sobre eles e os matasse. Mas quando o céu caiu ele pegou uma estaca e quebrou um buraco nele, através do qual ele e Nooee emergiram e escaparam, deixando atrás deles toda a gente morta.

E Juhwertamahkai, estando agora no topo do céu caído, fez de novo o homem e a mulher, do mesmo jeito que antes. Mas esse homem e mulher ficaram cinzas quando velhos, e suas crianças ficaram cinzas mesmo jovens, e seus filhos ficaram cinzas ainda mais jovens, e assim foi até que os bebês ficaram cinzas ainda no berço.

E Juhwertamahkai não gostou disso, e deixou o céu cair de novo, e criou tudo de novo do mesmo jeito, e dessa vez ele criou a terra como é hoje.

Mas no início a inclinação do mundo estava para o ocidente, e não havia montanhas subindo dessa inclinação e não havia verdadeiros vales, e toda a água cáia e não havia água para o povo beber. Então Juhwertamahkai mandou Nooee para voar entre as montanhas, e sobre a terra, para cortar vales com suas asas, assim a água poderia ser contida e distribuída e haveria bastante para as pessoas beberem.

Assim o sol era macho e a lua era fêmea e eles se encontravam uma vez por mês. E a lua se tornou mãe e foi para uma montanha chamda Tahs-my-et-tahn Toe-ahk (montanha do sol maravilhoso) e lá deu à luz a um bebê. Mas ela tinha tarefas para fazer, virar-se e prover luz, assim ela fez um cantinho para sua criança juntando arbustos de ervas daninhas e o deixou lá. E a criança, não tendo leite, foi nutrida pela terra.

E essa criança era o coiote, e quando ele cresceu, ele saiu para caminhar e nessas andanças ele chegou até a casa de Juhwertamahkai e Nooee, onde ele ficou vivendo.

E quando ele chegou lá Juhwertamahkai reconheceu ele e o chamou de Toe-hahvs, porque ele esta deitado nos arbustos com esse nome.

Mas agora lá do Norte veio outro poderoso personagem, que tinha dois nomes, See-ur-huh e Ee-ee-toy.

Assim Seeurhuh significa irmão mais velho, e quando esse personagem veio até Juhwertamahkai, Nooee e Toehahvs ele chamou eles de seus irmãos mais novos. Mas eles afirmara que eles estavam aqui primeiro e eram mais velhos que ele, e havia uma disputa entre eles, Mas finalmente ele insistiu tanto, e apenas para agradá-lo, eles o deixaram ser chamado de irmão mais velho.

Notas:

Greasewood é um arbusto encontrado em solos alcalinos e salinos desde o Canadá até o México. Os indígenas usam as sementes e folhas como alimento, pois tem gosto salgado. Os Hope e outros antivos as usam para combustível e varas de plantação. que tem gosto Indians used the seeds and leaves, which taste salty, for food (Elmore, 1976). The Hopi and other Native Americans use greasewood for fuel and for planting sticks (USDA Plant Profiles). No Parque Histórico Nacional da Cultura Chaco é utilizado para a construção, especialmente de vergas, de combustível, sendo uma das madeira preferida para fogueiras usado pelo povo Kiva.


Fonte: 
LLOYD, J. Williams. Aw-Aw-Tam Indian Nights, 1911.
http://www.sacred-texts.com/nam/sw/ain/index.htm

sábado, 14 de setembro de 2013

Folclore dos Estados Unidos (O Coiote e a Tartaruga)

Uma noite, o Bebê Tartaruga estava com muita fome então ele decidiu deixar a segurança do rio em busca de alimento.

Logo ele encontrou um cacto com frutas muito doces.

O bebê tartaruga andou sozinho, comendo e rindo.

O sol forte se levantou e começou a bater no deserto.

Quando o Bebê Tartaruga procurava por mais comida,  percebeu que estava perdido.

A tartaruguinha começou a chorar.

O coiote ouviu o choro e foi investigar.  O Bebê Coiote estava escondido debaixo de um arbusto e  rapidamente o coiote fez planos para o jantar.

“Era uma canção bonita que você estava cantando. Por favor, continue enquanto eu construir uma grande fogueira para cozinhar você”

“Eu não estava cantando. Enfim, meu casco é muito duro. Mesmo o fogo mais quente não pode penetrá-la.”

“Bem, então, eu vou levá-lo ao topo da mais alta montanha e deixá-lo cair sobre as rochas abaixo.”

“Pff! Eu já lhe disse. Meu casco é tão espesso que eu vou simplesmente cair fora das rochas e fugir.”

Coiote pensou muito sobre como botar o Bebê Tartaruga em sua barriga.

“Eu vou te levar para o rio, afogá-lo, e então eu vou te comer.”

“Oh não, por favor, me afogar no rio. Tudo menos isso!”

“Ha! Eu sabia disso.”

“Por favor, continue cantando, é muito agradável”.

“Eu não estou cantando.”

Logo ele que chegou ao rio, o Bebê Coiote jogou a tartaruga na água.

“Coiote bobo. Obrigado por me trazer para casa.”

O coiote tinha sido enganado pelo Bebê Tartaruga. Ele ficou tão irritado que ele pulou no rio, mas a corrente era forte e que levou o coiote rio abaixo.

O Bebê Tartaruga estava seguro agora e nunca se afastou demais das margens do rio.

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Notas:

A Estória do Coiote e da Tartaruga foi um vídeo feito por Tim F. Salinas da tribo Navajo e colocado no YouTube.com em 10 de dezembro de 2006.  Não se sabe exatamente o local onde foi gravado, mas uma equipe do Pasadena City College fez a gravação em 2003.

Como outras histórias nativo americanas, a história do Coiote e da Tartaruga tem uma lição para o público. As crianças também podem aprender que não é sábio se desviar para longe do local onde você está seguro, e esta lição é voltada principalmente para crianças, comparando elas com a tartaruguinha, que também é inexperiente e acaba por afastar-se do rio. Todas as tradições orais servem a um propósito na sua cultura, e além de entretenimento, essa estórias ensinam muitas lições.


Fonte:
http://casadecha.wordpress.com/category/estados-unidos/

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Rúhiyyih Rabbani (Poemas Avulsos)

Biblioteca Manuel Antonio Pina, in Facebook
EM TUDO ESTÁ TUA LEMBRANÇA
Em tudo está tua lembrança,
Na chuva e no sol,
Nos passos nas escadas...
Como uma noiva eu cheguei, há muito tempo,
Os seixos nas trilhas,
E as ruas de muitas cidades,
O caminhar em teus belos jardins,
Cada flor e rosa e árvore...

Em mim mesma está tua lembrança,
Pois tuas palavras e teus olhares
Me alcançam de mil formas,
Formas simples e gentis do dia-a-dia
Vivido tanto tempo juntos.

Como um planeta, giro em minha órbita
Em voltas, voltas, voltas
E meu centro é esta dor infinita,
A insaciável saudade de ti,
O amor que abrasa todo meu peito.
 
POR QUE SE FECHOU A PORTA DO PARAÍSO?

Um bom homem teve um sonho:
Duas Almas Santas saíam dos sepulcros
E levavam consigo o nobre rebento
De sua gloriosa e elevada estirpe;
Regressavam então à tumba,
A parede selava seu repentino bocejo
E tudo era silêncio.

Por que se fechou a sublime porta do paraíso?
Um furacão arrebatou o plano de Deus
E, envolvendo-o em asas de fogo,
Apressou-se através daquele majestoso portal.
Em meio a estrondos de ensurdecedoras ondas de ar
Fechou-se ante a face dos homens.

Agora, em todas as terras, eles observam
Os frios portões altaneiros do Céu
E, como crianças, de olhos assustados,
Buscam uma fresta qualquer, uma fenda de luz!

Como os trigais se curvam e suspiram
Nos poderosos ventos estivais,
Assim são fustigados os corações dos homens;
Debatem-se em agonia,
Dor, desespero, esperança desvairada, orações.
Por que, Deus, ó Poderoso Deus, por quê?

Em ondas esta indagação bate
Às portas do Teu Reino
E sempre sempre o eco
Retorna solitário, miserável, vazio --
Por quê?

Somos teus filhos, Senhor!
Mostra misericórdia, ó Tu que tens piedade dos escravos.
Perdoa, cura, estende a mão,
E salva-nos de nós mesmos.

De outro modo, afundamos em noite universal,
Mergulhados em círculos e círculos de trevas
E todo o Teu dia luminoso some
Para sempre de nossos corações, e nós
E outros, que ansiavam por menos,
Caímos na perdição eterna.

INVOCAÇÃO

Nada mais pode curar esta ferida;
Só a terra e o pó
Podem estancar esta dor.
Derramai a terra gentil,
Em cujos grãos a vida
Se prende de mil modos,
Jogai-a sobre minha cabeça e meu coração;
Somente isso me pode curar.

O bálsamo do maior dom da vida:
A morte, majestosa, final, selo dos selos.
Dai-me isso para estancar meu sangue,
Pois a ferida sangra sem sessar.
Eu desmaio, eu cambaleio, eu caio;
Ah, Deus! Misericórdia!
Não nos escutas?
Também nos negas teus ouvidos
Como Tua face
Que nos mostravas
Na face de um ser amado?

Piedade, ó Compassivo!
Rebenta as cadeias,
Liberta-me.
Todo o meu ser anseia,
Como um rio inquieto,
Pelo deserto da morte!

RELÓGIOS DA ALMA E DA MENTE
 
As horas correm lentas...
Não nos relógios feitos por homens,
Mas nos relógios estranhos da alma e da mente
Ajustados com a catástrofe e a dor.

Um minuto são mil pensamentos,
Um pensamento doloroso, um ano,
Um mês é a dor lacerante de ontem
E, ontem, um vida toda que passou...

Passado e presente se fundem na memória
E a memória se torna eterna:
O futuro se volta como uma serpente
E crava no coração
O veneno negro do passado.

Cada segundo cai como água,
Desgasta a pedra da vida,
Mas a vida arde como teias de aranha
Numa repentina labareda.

AFLIÇÃO

Como o açúcar se dissolve na água
Até que os dois se tornam um só,
Assim a dor e o pesar em mim
Misturam-se totalmente.

Poderei eu afastar de meus lábios
A poção ardente
Da amargura
Adoçada com todo meu amor?

Pode alguém separar o coração
De seu sangue
E seguir vivendo em paz?
Ah, não!

Cada recordação querida,
Envolta em espinhos,
Eu seguro e abraço com dor
E choro enquanto exulto!

AH. MEU AMOR!
Ah, meu amor,
Eles me dizem
“Seca tuas lágrimas
E deixa de sofrer—
Não é adequado
Ante a eternidade
Lamentar tanto
E tanto tempo!“

Eles não vêem
Que todo meu íntimo
Clama por ti
Como se fosses
Meu coração
Arrancado vivo
De meu peito!
Que colocarei eu
Nessa ferida aberta?

O dia para mim é noite
E a noite é um dia aterrador
Estranho
Que queima em memórias.
Eles me pensam
Enlutada por ti
Como uma esposa
Se enluta por
Seu mui-amado companheiro.

Como poderei algum dia
Fazê-los compreender
Que não se trata disso?

Eu te pranteio
Como a chuva
Chora sua nuvem perdida,
Como o raio
Queima por seu perdido sol,
Como o perfume
Desmaia por sua flor perdida,
Como cada eco morre
Por sua perdida voz!

Jamais soube
Que tal força eu possuía.
Como um estranho metal
Forjado para o espaço exterior
Eu subsisto em meio ao calor
Da saudade ardente!
Mas a incandescência
Virá afinal:
Cedo ou tarde
Minh’alma queimará
Sua prisão
E partirá.

O SEGREDO

Curvei-me ante a Morte
E disse-lhe “Bom-dia,
Não ficarás comigo
Para uma dança?“

Ela sorriu forçado e se curvou,
Por sua vez, em longa deferência;
E pensei: ela não despreza
Meu convite.

Mas quando foi hora
De iniciar a dança
Ela não assumiu seu posto;
Apenas ficou olhando.

“Por que apenas olhas,
Parceira minha”, disse eu
“Vem! pois tentarei
Uma valsa contigo.”

Ela me olhou
Por longo tempo
E então disse sorrindo:
“Danço contigo
Todo o tempo
Pois estou em ti,
Sempre e sempre,
Minha fibra está lá.”

“Quê? Eu tão cheia
De sangue e vida,
Em meu coração não bate
Nem esforço nem dor!”

“Mesmo assim”,
Disse-me a Morte,
“Eu estou em ti.
Vê teu interior!”

Senti, ao observar
Minhas mãos,
Os ossos nus
Dentro da carne,

E todo meu ser
Era pleno de ossos,
Minha caveira como pedra
Atrás de meu rosto vivo.

“Sou um esqueleto”
Disse-lhe eu,
“Muito antes de morrer
Tu estás em mim!”

Ela sorriu de novo,
Um sorriso gentil,
“Espera mais um pouco
E eu chegarei

“E te chamarei
Para mim, para o amor, para a vida
Para longe da luta,
Para os campos da paz;

“Lá colherás
Margaridas
Nos campos raros
Cada flor uma estrela;

“Não terás angústias
Nem pesar nem lágrimas;
Eu te prometo o sono
E o descanso afinal;

“Sê paciente mais um pouco,
Vê como cada dia eu cresço
Em ti, mais profundo meu domínio
Sobre tua vida.”

O esqueleto
Brilha como uma luz
Através da pele tão fina,
Até que enfim
Ele consome
A gaiola, e livre
Virás a mim,
Mas não agora.

Fonte:
http://www.bahai.org.br/