Trova Humorística de Juiz de Fora/MG
HELOISA ZANCONATO
- Meu guri só diz tolice!...
E o garoto retrucou:
- Mas, papai, tudo o que eu disse
foi você quem me falou!...
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Soneto do Rio de Janeiro/RJ
MANUEL BANDEIRA
(Manuel Carneiro de Souza Bandeira Filho)
Recife/PE, 1886 – 1968, Rio de Janeiro/RJ
A CAMÕES
Quando n’alma pesar de tua raça
A névoa da apagada e vil tristeza,
Busque ela sempre a glória que não passa,
Em teu poema de heroísmo e de beleza.
Gênio purificado na desgraça,
Tu resumiste em ti toda a grandeza:
Poeta e soldado... Em ti brilhou sem jaça
O amor da grande pátria portuguesa.
E enquanto o fero canto ecoar na mente
Da estirpe que em perigos sublimados
Plantou a cruz em cada continente,
Não morrerá sem poetas nem soldados
A língua em que cantaste rudemente
As armas e os barões assinalados.
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Soneto de Lisboa/Portugal
FERNANDO PESSOA
(Fernando Antonio Nogueira Pessoa)
1888 – 1935
AH UM SONETO!!!
Meu coração é um almirante louco
que abandonou a profissão do mar
e que a vai relembrando pouco a pouco
em casa a passear, a passear...
No movimento (eu mesmo me desloco
nesta cadeira, só de o imaginar)
o mar abandonado fica em foco
nos músculos cansados de parar.
Há saudades nas pernas e nos braços.
Há saudades no cérebro por fora.
Há grandes raivas feitas de cansaços.
Mas - esta é boa! - era do coração
que eu falava... e onde diabo estou eu agora
com almirante em vez de sensação?…
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Poema de Catanduva/SP
ÓGUI LOURENÇO MAURI
O FASCÍNIO DO TEU SORRISO
Não sei como tu consegues ser assim!...
Nenhum contratempo tira teu sorriso.
Eu queria tal postura também pra mim.
É de um humor igual ao teu que preciso...
De tua euforia, tenho feito meu remédio,
Minha terapia é teu rosto risonho.
É sempre tua alegria que me espanta o tédio,
Preso a teu estado d'alma me recomponho.
Ah!... Se Deus me desse teu temperamento...
De quem sorri mesmo nas horas mais duras,
A esperança anularia meu desalento,
Fazendo meu astral chegar às alturas.
Este teu sorriso de puro fascínio,
Com todo o charme de matiz cativante,
Deixou meu coração sob teu domínio,
Prisioneiro de outro, num peito triunfante.
Quando noto, de orelha a orelha, teus lábios,
Um traçado horizontal num rosto lindo,
Percebo-te a usar a estratégia dos sábios,
Convicto de que me ganhaste sorrindo.
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Soneto de Campo dos Goytacazes/RJ
ANTONIO ROBERTO FERNANDES
São Fidélis/RJ, 1945 – 2008, Campos dos Goytacazes/RJ
SEM MEDIDA
Quem diz que ama muito ou pouco, mente
ou não conhece o amor, na realidade,
pois não se mede o amor em quantidade,
se ama, ou não se ama, simplesmente.
Quem ama, embora sonhe com a eternidade,
ainda assim não sonha o suficiente
e em nada modifica o amor que sente,
seja na dor ou na felicidade.
Não há um meio olhar ou um meio beijo.
Ninguém tem dez por cento de um desejo
nem existe carícia desmedida.
E o amor, sem ter tamanho, é tão profundo
que podemos achá-lo num segundo
ou procurá-lo, em vão, por toda a vida.
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Haicai de Campinas/SP
GUILHERME DE ALMEIDA
(Guilherme de Andrade de Almeida)
Campinas, 1890-1969, São Paulo/SP
Um gosto de amora
comida com sol. A vida
chamava-se "Agora".
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Sextilha de São Simão/SP
THALMA TAVARES
(Vicente Liles de Araújo Pereira)
Descobri um grande amor
– meio século já faz -
e ainda hoje é o motivo
que sempre alegre me traz,
por ser a troca constante
de ternura, amor e paz.
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Glosa de Fortaleza/CE
NEMÉSIO PRATA
(Nemésio Prata Crisóstomo)
MOTE:
Um sonho lindo que eu tive
onde tudo era harmonia
acordei... não me contive...
Era um sonho!... Que agonia!
José Feldman
Campo Mourão/PR
GLOSA:
Um sonho lindo que eu tive
trouxe-me doces lembranças
quando jovem, em aclive,
via na vida esperanças!
Fora uma bela visão
onde tudo era harmonia
dando-me viva impressão
do quão feliz eu seria!
Hoje em infausto declive
na vida, sem me por freio,
acordei... não me contive...
foi só mais um devaneio!
Que o sonho fosse verdade
era tudo o que eu queria,
mas quedei-me à realidade:
Era um sonho!... Que agonia!
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Epigrama de Salvador/BA
LAFAIETE SPINOLA
(Lafaiete Ferreira Spínola)
1909 – 1975
Uma coisa aconteceu
Que a todo o mundo intrigou:
O Tesouro emagreceu
E o tesoureiro engordou!
(sobre um tesoureiro que guardava o dinheiro público em seu próprio bolso)
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Soneto do Rio de Janeiro/RJ
JOÃO BARAFUNDA
(João Francisco Coelho Cavalcanti)
São Luiz do Quitunde/AL, 1874 – 1938, Rio de Janeiro/RJ
ROSA
Como um botão de rosa despontando
era assim Rosa — meu primeiro amor;
passava às rosas seu perfume dando
e dando às rosas sua rósea cor.
Quando Rosa morreu, todos, chorando,
rosas puseram no caixão (que dor!)
E as rosas forma pálidas ficando,
ficando triste como a extinta flor.
E foi-se a rosa de meu coração...
Porque fugiste, amor puro e perfeito?
Porque morreste, flor inda em botão?
Tu, que foste rainha das formosas
flores, hás de viver sempre em meu peito.
Tens em meu peito um túmulo de rosas.
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Spina de São Paulo/SP
CARLA BUENO OLIVEIRA
ESQUEÇO DE TUDO
Esqueço de tudo
desde que conheci
você, meu universo.
Você tornou-se a minha vida,
a razão de tudo, enfim,
de existir cada novo verso.
Foi tão bom isso acontecer,
não poderia ser o inverso!
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Trova de Campinas/SP
ARTHUR THOMAZ
(Arthur Thomaz da Silva Neto)
Em um lugar no passado...
Hoje, ao ver nosso retrato
esquecido e amarelado,
eu culpo o destino ingrato.
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Poema do Rio de Janeiro/RJ
LENA JESUS PONTE
(Lena Rúbia Ferreira de Jesus Ponte)
DE PASSAGEM
Na rua dorme um menino
sem lençol de afeto.
Na rua sonha um menino
sonhos sem imagens.
Na rua seca um menino
sem sequer as miragens de um deserto.
O menino dorme,
abraçado à calçada,
aconchegado ao cimento.
Que faz todo mundo neste momento exato?
Dormimos todos um sono profundo.
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