quarta-feira, 14 de maio de 2025

David de Carvalho (Bentinho da Samambaia)


Cada um cai do cavalo como quer. Através de uma série de contos da roça, o autor, David de Carvalho, pretende mostrar algumas realidades estratificadas no quadro sócio-cultural de Minas Gerais, procurando captar, também, na temática, traços típicos do comportamento do montanhês, tais como o humor e a tristeza. 
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Indo para o Largo da Capela do Rosário, o Doutor Alonsinho caminha firme e prumado. Indo ao lado dele, meio encumbucado, o Bentinho da Samambaia ora coçava as costas, ora ajeitava a correia. De repente, ele tirou um envelope amarrotado do bolso traseiro da calça:

– Recebi hoje notícias do primo Florindo, que está bem de vida em São Paulo, só trabalhando como servente de pedreiro, mas não entendi o raio dos rabiscos dele, porque os garranchos parecem letras de médico. Está parecendo que ele escreveu assim: “Bentinho, partiu-se o pote no cimento do meio-fio, ô fim de mundo!”

O Doutor Alonsinho pegou o cartão:

– Por favor, deixe-me ver!

O Doutor Alonsinho correu os olhos nos dizeres do cartão:

– Bentinho, você está confundindo topografia com caligrafia e posto artesiano com parto cesariano. Você fugiu da escola? O que está escrito aqui é o seguinte: “Bentinho, participo-te o nascimento do meu filho, o Sigismundo.” Tinha razão o seu pai, o velho Agripino, quando recomendava a você que alisasse mais o banco na escola do Mestre Candinho.

O Bentinho da Samambaia coçou o rosto:

– É!… Deveras, o velho Agripino me recomendava isso. E também: – “Bento, se de tudo você vier um dia a pensar em deixar a lida da roça, então aprenda primeiro o ofício de pedreiro, ainda que não seja um pedreiro inteirado e sim um meia-colher, porque na reconstrução da Europa, depois de acabar a guerra, você vai ficar podre de rico.”

O Doutor Alonsinho franziu a testa:

– Bentinho, qual é o animal que faz cocô em forma de grão de café?

– Cabrito, uai!

– Em forma de bolinho do tamanho de um ovo?

– Cavalo, ora pois!

– E em forma de uma broa?

– Cuá! Só pode ser boi.

– E em que dia, mês e ano Pedro Álvares Cabral descobriu o Brasil?

– Ah! Isso lá eu vou saber, doutor?!

– Você só entende é de cocô mesmo! E fique sabendo que a pessoa que não aprende a escrita e a leitura torna-se desconfiada, a ponto de deixar passar a oportunidade de ganhar dinheiro.

O Bentinho da Samambaia mudou de assunto:

– Doutor, aquele de peito estufado que vai indo ali na frente, de chapéu de aba larga, lenço vermelho no pescoço e botas de cano como sanfona, é o Já Caiu. Hi-hi-hi!… Explico melhor, é o Lindolfinho das Cachebras, mas só é conhecido pelo apelido, desde certa vez num rodeio na cidade de Cláudio, com a tropa do Zé Capitão, fazendeirão lá das bandas de Divinópolis. Antes de montar na égua Pinga Fogo, o Lindolfinho das Cachebras virou para a assistência e acenou o chapelão de aba larga: – “Vou fazer esta égua pingar fogo de suor e dançar no compasso do estalo da minha tala.”

O Bentinho da Samambaia voltou a ajeitar a correia:

– Êta diaba de calça que não pára no lugar! A gente sunga, sunga, e não adianta. Ãh? E daí? Daí que o Lindolfinho das Cachebras caminhou pomposo para o meio do campinho onde a Pinga Fogo estava arreada, laçada, sugigada pelo Quinquim Barba e dois capatazes do Coronel Quinto Tolentino. Parecendo ter o rei na barriga, o Lindolfinho das Cachebras montou nela e ficou acenando o chapelão de aba larga para Deus e todo o mundo e contando farofa: – “Ah, eguinha mixuruca e pangaré, agora é que você vai conhecer um peão bamba!” Atrás de um funilão, o Múcio da Dona Quita animava o peão: – “O Zé Capitão oferece cinquenta contos de réis para o Lindolfinho das Cachebras, se ele conseguir segurar os pulos da Pinga Fogo. Fulano oferece tanto. Beltrano oferece tanto. Sicrano oferece tanto.” E o Múcio da Dona Quita anunciou com todo o rompante: – “Agora, vai montar na Égua Pinga Fogo o …” O Quinquim Barba e os dois capatazes soltaram a bicha e o Múcio da Dona Quita completou: – “Já caiu!”

O Bentinho da Samambaia enfiou a barra da camisa por dentro da calça:

– Enquanto o Lindolfinho estava batendo a poeira da roupa, cheguei perto dele: – “Você machucou?” Com cara de tatu que caiu da garupa, ele ficou me olhando com os olhos parados: – “Eu não e você?” Ora! Que pergunta mais estonteada. Então eu estava bancando o peão? Olhei sério para ele: – “Você deu uma pirueta muito esquisita. Achei até que você tivesse quebrado o pescoço.” Ele me encarou de cara fechada: – “Deixe de ser bobo, sô, porque cada um cai do cavalo como quer! E fique sabendo que, até para cair, o peão precisa de ter a sua destreza!” Deixei para lá. Daí que ele passou a ser conhecido só por Já Caiu.

Já passando em frente da Capela do Rosário o Bentinho da Samambaia tirou o chapéu de palha, fez o em-nome-do-padre e reajeitou a calça:

– Doutor Alonsinho, este “causo” puxou outro na minha ideia. Naquele tempo, eu costumava vir cá para o Arraial do Empanturrado no fim de semana. E ficava sapeando na alfaiataria do Dico. Como o Dico tinha sempre que dar umas saidinhas, eu ficava tomando conta da alfaiataria para ele. Até passar ferro de brasa nuns panos eu passava. Certo dia, lá estava eu, quando apareceu lá um viajante de tipo prosa, pândego e gorducho e me perguntou onde era o negócio do Vivico da Venda. Expliquei para ele e, de troça, recomendei que falasse gritado com o Vivico, porque ele era surdo que nem uma porteira. Na hora, até inventei um “causo” e contei para ele, que certa vez o Vivico, quando estava com a mulher perrengue e desenganada, estava xingando no mandiocal no fundo da horta da casa dele, porque uma porca tinha fuçado por lá. Disse até que encomendei ao Vivico para colocar uma peia ou forquilha como canga na fujona. E que, no outro dia, passando pelo mesmo lugar, lá estava de novo o Vivico. Que então perguntei como ia passando a comadre, a mulher dele. E ele, que por ser surdo que nem tiú, achou que eu estava perguntando pela porca, me respondeu: – “Não usei nem peia e nem forquilha. Preferi colocar a bicha no chiqueiro de engorda.”

O Bentinho da Samambaia tirou do bolso traseiro um lenço e passou na testa:

– Assim que o viajante saiu, passei em frente da venda do Vivico. Então, expliquei para ele que acabava de sair da alfaiataria um viajante procurando a venda dele. E recomendei ao Vivico que o mesmo era muito surdo e que conversasse gritado com ele. Fiquei imaginando a gritaria que os dois iam arrumar. Mais tarde, eu estava soprando atrás do ferro de brasa na alfaiataria do Dico, quando voltou o viajante gorducho, alegre e pândego e me apertou a mão: – “O senhor está de parabéns, porque, andando pelo arraial, só li letreiros escritos com erro: Bazar Ção Pedro, Pharmácia Bom Jezus…” O gorducho passou as palmas das mãos na barrigaça: – “Daí que voltei para a ospedaria, sem h mesmo e resolvi dar um prêmio de quinhentos mangos para o dono do letreiro que estivesse escrito corretamente. E o único que encontrei certo foi o do senhor. Portanto, a Alfaiataria Águia de Ouro está de parabéns. Então, aqui está o prêmio, a pelega.” Pensei comigo: – “O que ele está querendo é tirar desforra do trote, pois deve ter gritado tanto no ouvido do Vivico e o Vivico no dele, até que descobrissem a minha malasartice.” Virei para o viajante: – “Aqui mais aqui para o senhor! O senhor está querendo troçar comigo, porque o nome certo é Alfaiataria Agúia de Ouro.” Ele arregalou os olhos: – “Agulha?!” Fechei a cara para ele? – “Não. Agúia mesmo, porque cada um cai do cavalo como quer.”
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(David de Carvalho, ensaísta, contista, pesquisador. Itaúna/ MG)

Fontes:
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Célio Simões (O nosso português de cada dia) “São outros quinhentos”


A expressão “Outros quinhentos” tem origem numa prática legal da Península Ibérica. Antigamente, uma multa de 500 soldos (moeda de ouro na Roma antiga) era aplicada a quem injuriasse um nobre, cujo valor teria que ser pago para que o infrator pudesse merecer a absolvição. Porém, mesmo com o pagamento, se a ofensa fosse repetida, o reincidente teria que pagar outros 500 soldos, dizendo as autoridades que eram “Outros quinhentos”, e não aqueles já quitados, indicativo de que se tratava de nova culpa e outra penalidade, embora no mesmo valor pecuniário, pela repetição da injúria.  

Luís da Câmara Cascudo, historiador, sociólogo, musicólogo, antropólogo, etnógrafo, folclorista, poeta, cronista, professor, advogado, jornalista, escritor prolífero que viveu em Natal (RN), dedicando-se ao estudo do folclore e da cultura brasileira, em seu “Locuções Tradicionais no Brasil”, confirma que se o condenado voltasse a cometer delito semelhante ao anterior, pagaria outros 500 soldos: “Compreende-se que outra qualquer vilta, vitupério sem razão, posterior à multa cobrada, não seria incluída na primeira. Matéria para novo julgamento. Outra culpa. Outro dever. Seriam, evidentemente, outros quinhentos”.

A partir dessa prática punitiva, chegou-se ao longo do tempo a essa conhecida expressão, cujo significado atual indica algo que é diferente, que refoge (evita) do senso comum, que representa uma nova situação, tendo como corolário consequências mais agravantes ou algo muito mais difícil. Basta exemplificar, para ser facilmente entendido: “Emprestar dinheiro em banco é fácil, mas pagar os juros que eles cobram, são outros quinhentos” …

O saudoso apresentador, ator, cantor, músico e compositor paulista Rolando Boldrin, um dos maiores divulgadores da vida interiorana, da cultura caipira e da música sertaneja, num dos programas televisivos em que contava seus “causus”, ofereceu outra explicação para a origem da expressão “São outros quinhentos”, tão histriônica quanto imaginativa. 

Explicou o artista que quando o padrão monetário no Brasil era o mil-réis, apareceu numa cidadezinha do interior um sujeito espertalhão, com o objetivo de aplicar um golpe para ganhar dinheiro fácil dos ingênuos moradores locais. Concebeu o pilantra e pôs em prática uma narrativa fantasiosa – a de que deixara aos cuidados do vigário da paróquia, homem insuspeito e confiável, a vultosa quantia de 500 mil-réis – enquanto ele se ausentaria durante certo tempo, em demorada viagem para outro estado. O religioso teria assumido, sob palavra de honra, o compromisso de lhe devolver o mesmo valor, quando um dia voltasse. Tudo papo furado, coisa de trapaceiro passado na casca do alho.

Concebido o golpe infame, o safado saiu alardeando para todo mundo essa história fantasiosa, justificando que a significativa quantia que deixaria sob a custódia do padre, ele a ganhara honestamente, pelo seu intenso e diuturno labor como caixeiro-viajante que lhe rendera polpudas comissões, mercê das vendas que realizara por toda aquela região.

Depois de propositadamente alardear tal fábula pelos lugares públicos de maior concentração de pessoas, o arguto trambiqueiro sumiu por meses, mas um dia finalmente voltou, com o óbvio intuito de rematar o golpe adrede preparado, tendo encontrado o sacerdote oficiando a missa de domingo na principal igreja da comunidade, que apinhada de gente anônima e dos figurões do lugar, assistia embevecida as exortações da homilia do eloquente presbítero.

Nem bem o pároco encerrou sua prédica, surge o espertalhão próximo do altar e perante uma plateia perplexa, incisivamente passou a exigir a devolução da quantia supostamente confiada ao clérigo, alegando urgência pois precisava viajar no dia seguinte, deixando-o atordoado e sem entender nada, limitando-se a jurar por todos os santos da Corte Celeste, que não guardara quantia nenhuma, nem dele nem de ninguém. 

– Claro que deixei os 500 mil-réis com o senhor, obtemperou o malandro aos gritos! E não adianta se fingir de inocente, pois aqui na cidade todo mundo sabe desse fato, asseverou o golpista sem nem tremer a cara.

Na igreja formou-se grande alarido, com alguns manifestando incredulidade e outros censurando a suposta velhacaria do padre, que imotivadamente se recusava a devolver o numerário que lhe fora confiado. A discussão seguiu acalorada, o padre alegando nada saber sobre o assunto e o trambiqueiro cobrando a pequena fortuna que afirmava ter deixado sob a sua guarda.

Foi quando surgiu no imbróglio uma terceira personagem – o rico e poderoso coronel do lugar, fazendeiro, chefe político influente e grande amigo do padre – que sensibilizado pela saia justa pela qual estava passando seu estimado amigo e querendo livrá-lo daquele descomunal constrangimento (até mesmo porque, homem vivido, já percebera toda a armação daquele refinado pilantra) interferiu bradando para o vigarista, com seu vozeirão de derrubar muro, que ele estava redondamente equivocado:

– O senhor está enganado! Não foi com o vigário que o senhor deixou os seus 500 mil-réis. Foi comigo, tá lembrado? Depois da missa passe na minha casa que eu vou lhe devolver tudo, lá a gente vai conversar direitinho, isso eu lhe garanto… Disse e deixou flutuando no ar a subjacente ameaça de dar uma peia naquele escroque, quando ele fosse receber a tal grana em sua residência.

Mas o embusteiro, pilantra escolado, daquele tipo que fareja dinheiro mesmo quando está constipado, percebendo que poderia tirar duplo proveito daquela situação, retrucou de bate pronto na presença dos fiéis que lotavam a igreja:

– Coronel, no momento só estou querendo receber os 500 mil-réis que ficaram com o padre. Aqueles que o senhor diz que eu deixei com o senhor, “São outros quinhentos…”.

Eis a segunda versão, tão improvável quanto divertida, da origem dessa expressão, utilizada quase diariamente, nas circunstâncias as mais inusitadas. Como, por exemplo, no tenso diálogo entre o guarda de trânsito e o motorista de um ônibus caquético, que trafegava com lanternas e faróis quebrados, excesso de passageiros e os pneus literalmente carecas.

Cioso de seu papel fiscalizador, o zeloso policial fez sinal para o motorista encostar, e com cara de pouquíssimos amigos exigiu o de sempre:

– Habilitação e os documentos do veículo!

– É pra já seu guarda, falou o chofer, mãos trêmulas em busca das credenciais solicitadas, guardadas num saco plástico no porta-luvas do mostrengo.

– Vocês estão tentando eleger outro Papa aí dentro desse ônibus?  

– Papa? Que Papa? Não estou entendendo nada…

– É que até agora só está saindo fumaça preta da descarga. Significa que o motor está desregulado, poluindo o meio ambiente e afetando a saúde pública. É infração grave, com multa e cinco pontos na carteira.  Como o coletivo está todo estropiado, vai ficar retido até ser feita toda a regularização…

– Pera aí seu guarda! Não faça isso comigo. Esse ônibus, mesmo detonado como está, é o meu ganha-pão. Se a papelada está toda em ordem, essa história de meio ambiente e saúde pública são outros quinhentos!… Dá pra gente conversar?…
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Célio Simões de Souza é paraense, advogado, pós-graduado em Direito e Processo do Trabalho, escritor, professor, palestrante, poeta e memorialista. Membro da Academia Paraense de Letras, membro e ex-presidente da Academia Paraense de Letras Jurídicas, fundador e ex-vice-presidente da Academia Paraense de Jornalismo, fundador e ex-presidente da Academia Artística e Literária de Óbidos, membro da Academia Paraense Literária Interiorana e da Confraria Brasileira de Letras, em Maringá (PR). Foi juiz do TRE-PA, é sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós, fundador e membro da União dos Juristas Católicos de Belém e membro titular do Instituto dos Advogados do Pará. Tem seis livros publicados e recebeu três prêmios literários.

Fonte:
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domingo, 11 de maio de 2025

Mensagem na Garrafa = 141 = O que é ser mãe…


JOSÉ FELDMAN
Floresta/PR

O que é Ser Mãe…

Quando a dor se aproxima, ela é a luz,
com um beijo e um abraço, tudo se acalma.
Mãe, teu amor é o que sempre traduz
na tempestade da vida, és nossa alma.

O sol desponta no horizonte, e o dia começa com um cheiro doce de café fresco e o som suave de risadas infantis. É o Dia das Mães, uma data que, embora comemorativa, sempre parece ser um lembrete do que significa ser mãe. Para muitas, ser mãe é um chamado, uma jornada que começa muito antes do primeiro choro do bebê e se estende por toda a vida.

Desde o momento em que a gravidez é anunciada, um turbilhão de emoções toma conta. A alegria e a ansiedade se misturam, enquanto o corpo passa por transformações. As noites em claro começam antes mesmo do bebê nascer, com as preocupações sobre o que está por vir. São os medos que dançam na mente: "E se não for capaz? E se algo der errado?" Cada movimento do pequeno ser dentro de si é um lembrete do milagre da vida e da responsabilidade que está por vir.

Quando finalmente o bebê chega, a realidade se instala. As primeiras semanas são um oceano de noites em claro, com choros e fraldas trocadas em meio a olheiras profundas. Mas cada sorriso que surge, cada pequeno gesto de carinho, faz todo o cansaço valer a pena. 

Ah, como é doce ver o primeiro sorriso, o primeiro balbuciar de palavras que ecoam como música no coração. "Mãe" se torna a palavra mais bela que alguém pode ouvir.

A jornada de ser mãe é, no entanto, um caminho repleto de desafios. A educação e a criação dos filhos são tarefas que exigem paciência, dedicação e, acima de tudo, amor. Cada ensinamento é uma semente plantada, e as mães se tornam jardineiras da vida, cuidando para que essas sementes cresçam saudáveis e fortes. Elas se preocupam com a alimentação, a educação, as amizades… Tudo isso enquanto tentam equilibrar o trabalho e as demandas do lar.

Quando os filhos ficam doentes, o coração da mãe se parte em mil pedaços. As noites em claro se tornam ainda mais dolorosas, com a angústia de ver a criança sofrendo. É uma batalha diária, de cuidar, de confortar, de estar presente. E mesmo quando os filhos crescem e começam a explorar o mundo, as preocupações não diminuem. Cada machucado, cada queda é um novo motivo de apreensão. A mãe se vê sempre pronta para oferecer um abraço, um beijo, um remédio e, principalmente, um amor que cura.

E quando a adolescência chega, o desafio se intensifica. Os filhos começam a buscar sua identidade, e muitas vezes, isso significa desviar-se do caminho que as mães imaginavam. As brigas e desentendimentos são inevitáveis, e o coração materno sente cada uma das feridas. Mas, em meio a toda a dor, existe algo mais forte: o perdão. Porque ser mãe é também saber compreender, é aceitar que os filhos são seres humanos que erram e aprendem. E, assim, mesmo quando fazem escolhas que as magoam, as mães sempre encontram forças para abraçá-los novamente, com amor incondicional.

Ser mãe é uma batalha diária, onde o amor e o sacrifício se entrelaçam em um fio invisível que une gerações. É trabalhar fora e, ao chegar em casa, ainda ter disposição para brincar, ouvir, entender e apoiar. 

É viver em um constante estado de alerta, sempre atenta às necessidades dos filhos, mesmo quando isso significa esquecer-se de si mesma.

No final do dia, quando os filhos dormem tranquilamente, a mãe olha para eles e sente que, apesar de todas as dificuldades, cada lágrima, cada sorriso, cada desafio valeu a pena. E, mesmo com o coração cansado, ela se sente rica, porque sabe que o amor que dá é o mesmo amor que receberá de volta, em forma de abraços e sorrisos que iluminam até os dias mais sombrios.

Neste Dia das Mães, celebramos não apenas a figura materna, mas toda a complexidade e beleza de ser mãe: a força que vem da vulnerabilidade, a coragem que nasce do amor e a capacidade de perdoar e recomeçar. 

Que cada mãe se sinta abraçada, valorizada e reconhecida, pois o que fazem vai além do dia a dia; elas moldam o futuro com seu amor incondicional.

Fontes:
José Feldman. Gangorra do tempo. Maringá/PR: Plat. Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul. 
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Asas da Poesia * 20 *


Poema de 
ATÍLIO ANDRADE
Curitiba/PR

A todas as mulheres

O dia amanheceu, iluminado.
Mesmo com um… céu carrancudo
até o sol está, ainda distante
mas, a alegria está no mundo
brilhando como diamante.
Você!!! Sim, você!
Você que é mãe, menina, mulher
linda como sempre, do teu jeito,
sempre buscando a paz
em dias tão violentos…
Você Mulher, ilumina com raios
de alegria, os dias que seguem
mostrando sempre os caracóis
a desenrolar nesta teia chamada vida
e sem você tudo para… (acredite)
Você é luz, brilho, sabedoria…
É Mulher… e hoje é seu dia.
Parabéns… Parabéns 
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Trova de
PAULO ROBERTO OLIVEIRA CARUSO
Niterói/RJ

Deus criou o mundo inteiro
em seis dias de trabalho;
do Seu suor derradeiro
foi que nos surgiu o orvalho.
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Poema e Trova do Folclore Africano de
MARLY RONDAN
São Paulo/ SP

Ossanha

Ossanha. Orixá das Ervas…
Guarda as folhas na cabaça.
Muitos segredos preservas.
Pões sucos na minha taça…

Orixá das folhas, ervas:
Alecrim, Boldo e Cidrão.
Proteje nossas reservas.
Livra a Terra da agressão.

É o Orixá da cor verde.
Ossanha habita a floresta.
Quem não a conhece perde…
Da Natureza essa Festa!

Senhor - Senhora das folhas,
Comanda as ervas sagradas.
Tira com elixir as falhas…

Elixir que dá vigor.
Protege nossa saúde.
Ossanha cura esta dor!
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Poema de
SALOMÓN DE LA SELVA
Nicarágua (1893 – 1958)

A bala

A bala que me fira
será bala com alma.
A alma dessa bala
será como seria
a canção de uma rosa
se cantassem as flores
ou o olor de um topázio
se cheirassem as pedras
ou a pele de uma música
se nos fosse possível
as cantigas tocar
desnudas com as mãos.
Se o cérebro me fere
me dirá: Eu buscava
sondar teu pensamento.
E se me fere o peito
me dirá: Eu queria
dizer-te que te quer
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Soneto de
LUIS VAZ DE CAMÕES
Coimbra/Portugal (1524/25 – 1580)

Soneto 5

Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que se ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade
É servir a quem vence o vencedor,
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade;
Se tão contrário a si é o mesmo amor?
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Trova de
PROFESSOR GARCIA
Caicó/ RN

Esta distância tão triste,
entre nós dois, na verdade,
mede a distância que existe
entre o amor e a saudade!
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Poema de
AFONSO SCHMIDT
Cubatão/SP (1860 – 1964) São Paulo/SP

O Poema da Casa Que Não Existe

Onde a cidade acaba em chácaras quietas
e a campina se alarga em sulcados caminhos
achei a solidão amiga dos poetas
numa casa que é ninho, entre todos os ninhos.

Térrea, branquinha, com portadas muito largas,
desse azul português das antiquadas vilas
e uma decoração de laranjas amargas
que perfumam da tarde as aragens tranquilas.

Ergue-se no pendor suave da colina,
escondida por trás dos eucaliptos calmos;
tem jardim, tem pomar, tem horta pequenina,
solar de Liliput que a gente mede aos palmos ...

Neste ponto, a ilusão, a miragem, se some;
olho para você, eu triste, você triste.
Enganei uma boba! O bairro não tem nome,
a estrada não tem sombra, a casa não existe!
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Trova de 
ADEMAR MACEDO
Santana do Matos/ RN, 1951 – 2013, Natal/ RN

Com certa preponderância 
eu impus esta verdade:
Quem inventou a distância 
não conhecia a saudade!...
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Poema de 
AMAURY NICOLINI
Rio de Janeiro/RJ

Onde Estava Você?

Onde estava você quando eu andava
sem um norte pra guiar os meus caminhos
que acabaram em lugar nenhum?
Não tive com quem dividir o meu carinho,
que nas curvas da estrada ao chão deixava
como de traste inútil apenas um.
Onde estava você, que surge agora
com a luz e o esplendor de uma aurora
que promete vida, amor, bonança e sorte?
Você chegou quando eu estou indo embora,
e eu, que tanto esperei por essa hora,
sinto que junto também me chegue a morte.
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Trova de
IZO GOLDMAN
Porto Alegre/ RS, 1932 – 2013, São Paulo/ SP

Com seu valor aumentado, 
saudade é a restituição 
do que já nos foi cobrado 
pelos sonhos e a ilusão...
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Hino de
AFOGADOS DE INGAZEIRA/ PE

Terra de sol de encantos mil
Do Pajeú a nobre princesa
De Pernambuco e do Brasil
És do progresso a chama acesa.

O teu nome da lenda surgiu
De um casal que no rio sumiu
Hoje és tu, Afogados da Ingazeira
No Sertão o estandarte de glória
Os teus filhos fizeram história
Que enobrece a nação brasileira.

Brava terra de amor e de luz
Que nasceu sob a sombra da cruz
Grandioso será teu porvir
E abraçado ao símbolo da fé
A lutar sempre firme de pé
O progresso e a riqueza hão de vir.

Na esperança de um mundo melhor
Construindo uma pátria maior
Um teu filho não foge ao dever
Dedicado ao estudo e ao trabalho
Com o livro, o arado ou o malho
A certeza terá de vencer.
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Trova Premiada de
RITA MARCIANO MOURÃO 
Ribeirão Preto/ SP

Escrevo, mas sou discreta, 
me anulo, libero a mente 
e deixo solto o poeta 
que só fala o que ele sente.
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Poema de 
SYLVIA PLATH
Boston/ EUA (1932 – 1963) Londres/ Inglaterra

Palavras

Golpes
De machado na madeira,
E os ecos!
Ecos que partem
A galope.

A seiva
Jorra como pranto, como
Água lutando
Para repor seu espelho
Sobre a rocha

Que cai e rola,
Crânio branco
Comido pelas ervas.
Anos depois, na estrada,
Encontro

Essas palavras secas e sem rédeas,
Bater de cascos incansável.
Enquanto do fundo do poço, estrelas fixas
Decidem uma vida.
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Trova de
GERALDO PIMENTA DE MORAES
São Sebastião do Paraíso/MG (1913 – 1997) Passos/MG

Saudade é livro à distância,
que o tempo vive escrevendo,
enquanto a gente, com ânsia,
de olhos fechados, vai lendo…
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Quadra Popular

Não penses que pela ausência
eu de ti me hei de esquecer;
quanto mais longe estiver,
mais firme te hei de ser.
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Soneto de
DOMINGOS FREIRE CARDOSO
Ilhavo/ Portugal

Só se chora por quem parte
 
Choremos por quem parte sem voltar
A ser presença viva à nossa mesa
E desse imenso reino da tristeza
Desça à terra num raio de luar.

Ausente, para sempre, em nosso olhar
Terá em nosso peito a fortaleza
Que guarda a delicada vela acesa
Da memória que brilha em seu altar.

De saudade será a sua imagem
Que se esvai como um barco na viagem
No denso nevoeiro, rumo ao norte.

Só quando a sua face tão inteira
Não nos assomar, sem que a gente queira
Só então foi levada pela morte.
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Glosa de
GISLAINE CANALES
Herval/RS, 1938 – 2018, Porto Alegre/RS

Nossa guerra de amor...

MOTE:
Ah, o amor...O amor fascina,
quando na cama o combate
triunfalmente termina
num belo e gostoso empate!
A. A. de Assis
(Maringá/PR)

GLOSA:
Ah, o amor...O amor fascina!
Sempre tontos de emoção,
estouram, a adrenalina,
nossos beijos de paixão!

É quase uma guerra fria,
quando na cama o combate
usa as armas da euforia
e com elas se debate!

Com gemidos em surdina
a guerra do amor se faz...
Triunfalmente termina
na calmaria da paz!

Nessa luta incontrolada,
ninguém exige resgate,
e ela é sempre terminada,
num belo e gostoso empate!
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Haicai de
WAGNER MARQUES LOPES
Pedro Leopoldo/MG

Passa o tempo frio.
É pé... Mais pé de aguapé
que acoberta o rio.
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Soneto de
RAIMUNDO CORREIA
Cururupu/MA, 1860 – 1911, Paris/França

Fim de comédia

O pano sobe, e o povo, satisfeito,
Aplaude a farsa, e ao riso não resiste;
“Gosta um moço da filha de um sujeito,
E este não quer que a filha case; ao triste

No fundo do jardim promete a amante
Um rendez-vous, longe do pai tirano;
Mas pilha o velho o escândalo flagrante,
E ambos vão casar-se… e cai o pano.”

Dizem os velhos que o teatro ensina.
Então tu podes sem pesar, menina,
Seguir este conselho: solta a rédea

Deste amor, que é o meu e o teu tormento,
Que há de a nossa comédia em casamento
Findar, como findou a tal comédia.
= = = = = = = = =  

Aldravia de
AMÉLIA LUZ
Pirapetinga/MG

Fui
linha
e
ponto
tecendo
remendo
= = = = = = = = =  

Martelo Agalopado, de
MARCO HAURÉLIO 
Riacho de Santana/BA

Galopando o cavalo pensamento 
(duas estrofes de cordel)

A Senhora dos Túmulos observa 
O vaivém da tacanha mocidade,
Que despreza a virtude e a verdade
E dos vícios se mostra fiel serva,
Porém nada no mundo se conserva:
Sendo a vida infindo movimento,
É a Morte um novo nascimento
A inveja é o túmulo dos vivos —
O herói repudia esses cativos,
Galopando o Cavalo Pensamento.

Das trombetas ecoam novo som,
O tinido das armas me atordoam,
O rufar de tambores longe soam,
Destruindo o último Panteon
Será esse sinal o Armagedon?
Ou apenas mais um renascimento
De um ciclo que traz o advento
Duma aurora de brilho sem igual,
Sem início, sem meio e sem final,
Galopando o cavalo pensamento.
= = = = = = = = =  

Epigrama de
ROBERTO CORREIA
Salvador/BA, 1876 – 1937

Burro, a cegueira da sorte
Elevou-te e, ao sol, espelhas
Mas guardas o mesmo porte
E as mesmíssimas orelhas.
= = = = = = = = =  

Soneto de
ARTUR DE AZEVEDO
São Luis/MA, 1855 – 1908, Rio de Janeiro/RJ

Tertuliano, o paspalhão

Tertuliano, frívolo peralta,
Que foi um paspalhão desde fedelho,
Tipo incapaz de ouvir um bom conselho,
Tipo que, morto, não faria falta;

Lá um dia deixou de andar à malta
E, indo à casa do pai, honrado velho,
A sós na sala, diante de um espelho,
À própria imagem disse em voz bem alta:

— Tertuliano, és um rapaz formoso!
És simpático, és rico, és talentoso!
Que mais no mundo se te faz preciso?

Penetrando na sala, o pai sisudo,
Que por trás da cortina ouvira tudo,
Severamente respondeu: — Juízo!
= = = = = = = = =  

Poema de
ROBERTO PINHEIRO ACRUCHE
São Francisco de Itabapoana/RJ

Quem sou eu

Eu sou um caso,
um ocaso!
Eu sou um ser,
sem saber quem ser!
Eu sou uma esperança,
sem forças!
Eu sou energia,
ora cansada!
Eu sou um velho,
ora criança!
Eu sou um moço,
ora velho!
Eu sou uma luz,
ora apagada!
Eu sou tudo,
não sou nada!
= = = = = = = = =  

Soneto de
EDMAR JAPIASSÚ MAIA
Miguel Couto/RJ

A missa do compadre 

Ia vivendo meio aposentado, 
celibatário que era por vontade, 
por ter sofrido, em plena mocidade, 
uma desilusão de amor frustrado… 

Porém, um dia, foi comunicado 
da morte do compadre na cidade, 
e este fato lhe trouxe, na verdade, 
a esperança deixada no passado… 

O infausto passamento deu-lhe o ensejo 
de sentir despertado um só desejo, 
que trazia no peito adormecido… 

E foi durante a missa do compadre, 
que, amparando em seus braços a comadre, 
baixinho, agradeceu ao falecido!
= = = = = = = = =  

Trova de
ALEXANDRE RODRIGUES FERNANDES
Vila Nova de Gaia/Portugal

Quem me dera ser quem era,
em vez daquilo que sou...
Voltas sempre, primavera.
Minha infância... não voltou!
= = = = = = = = =  

Poema de
VITÓRIO NEMÉSIO
Ilha Terceira/Açores, 1901 – 1978, Lisboa/Portugal

A concha

A minha casa é concha. Como os bichos
Segreguei-a de mim com paciência:
Fechada de marés, a sonhos e a lixos,
O horto e os muros só areia e ausência.
Minha casa sou eu e os meus caprichos.
O orgulho carregado de inocência
Se às vezes dá uma varanda, vence-a
O sal que os santos esboroou nos nichos.
E telhados de vidro, e escadarias
Frágeis, cobertas de hera, oh bronze falso!
Lareira aberta pelo vento, as salas frias.
A minha casa... Mas é outra a história:
Sou eu ao vento e à chuva, aqui descalço,
Sentado numa pedra de memória.
= = = = = = = = =  

Quadra Popular

Hoje não venhas tarde
Dizes-me tu com carinho
Ou compras um relógio novo
Ou amanhã vai de carrinho.
= = = = = = = = =  

Décima de
JOSÉ LUCAS DE BARROS
Serra Negra do Norte/RN, 1934 – 2015, Natal/RN

Até parecem mentira
Certas coisas deste mundo:
Numa fração de segundo
A roda do tempo gira;
Um instante se retira,
Outro pula no tablado;
O tempo é tão apressado
Que passa pisando a gente…
Futuro é quase presente,
Presente é quase passado.
= = = = = = = = = 

Poema de
WASHINGTON DANIEL GOROSITO PÉREZ
Irapuato/ Guanajuato/ México

O alquimista
 
O homem se vê fragmentado, mutilado 
é um ser esmagado pelas circunstâncias
dias de incertezas constantes,
de quebra-cabeças, sem cabeças,
onde faltam peças.
 
O silêncio quebrado por vozes lamentosas,
rodeia tudo,
alvoroço da extinção no tempo.
 
O homem está suspenso,
a escuridão irremediável o habita.

Numa fenda de impotência,
o alquimista sonha...
 
A tristeza está presente,
em seus profundos olhos cinzentos,
nos sulcos de sua testa.

É marcado por uma fenda de impotência
que cheira a sono eterno.
 
Ideologias adormecidas,
no espaço e tempo existenciais.
 
Ele fica atordoado com a imagem
que simboliza a oclusão do pensamento.
(tradução do espanhol: José Feldman)
= = = = = = = = =  
 
Trova de
LUCILIA A.T. DECARLI
Bandeirantes/PR

Com saudade, nunca esqueço 
da atenção que ela nos dava…
Tinha valor, mas não preço,
o amor de mãe que ofertava.
= = = = = = = = =  

Poema de
CÉLIA EVARISTO
Lisboa/ Portugal

Sou feita de amor

Sou feita de esperança,
do pó do caminho.
Sou o olhar de uma criança
que habita cada ninho.

Sou mar, 
doce maresia, 
onda em que navega
um barco com mestria.

Sou feita de sonhos,
de abraços,
de emoção,
de sorrisos,
de beijos,
de inspiração.

Sou feita de amor.
Um amor puro e sincero,
fugaz e eterno.
Uma flor
que desabrocha destemida,
sem receio de florir.

Sou feita de lágrimas
que penetram a terra
e regam o jardim.

Sou feita de amor,
Sou feita de mim.
= = = = = = = = =