SINCERIDADE
Havia sido ensinada a mentir. Por isso, desde menina, mentia para todos, compulsivamente. Não havia quem a fizesse dizer a verdade. Casou-se porque mentiu ao pretendente que o amava e, quando engravidou, mentiu para si mesma que queria filhos.
Trabalhava num emprego que detestava e dizia para todos que o adorava. Assim como tomar chá com suas amigas, a cada quinze dias. Aliás, tinha mesmo amigas?
Velhinha, convenceu-se de que tinha sido alegre. E o pior de tudo: acreditou nisso.
A MAIS PURA VERDADE
O menino só dizia verdade. Nunca lhe passou pela cabeça que, no mundo dito civilizado, isso pudesse ser uma falha de caráter. A mentira social se insinuara e já se constituía bem aceita entre os viventes. Assim, a mais pura verdade do menino era vã.
Na escola, numa autêntica aula de Escrita, o Mestre do pobre identificou nele um jovem talento a surgir. E o incentivou a fazer da suposta mentira uma sincera aliada.
Hoje, autor de renome, escreve, sim, a mais pura verdade, e todos juram que não.
Fonte:
textos enviados pelo autor
Nenhum comentário:
Postar um comentário