sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Olivaldo Junior (Um professor..)


"Quero falar de uma coisa / Adivinha onde ela anda / Deve estar dentro do peito / Ou caminha pelo ar"... Quem não se lembra dessa linda música de Milton Nascimento e de Wagner Tiso? Pois ela acabou virando um hino quase obrigatório em todas as formaturas Brasil afora desde que fora lançada, em 1983, além de se tornar a música que marcou a morte do ex-presidente Tancredo Neves, sendo executada inclusive durante o seu funeral. Coração de Estudante... Existe ideia mais pura de coração, mais genuína de real interesse pelo mundo, pela vida, por tudo o que existe e pode ser melhorado? Se há um estudante, há um professor.

Um professor que se desvela em mil cuidados pelo ingressante na Educação Infantil, continuação de pai e de mãe, antigamente chamada (sim, eram e ainda são quase todas mulheres) de "tia". Hoje, muitas vezes, apenas "prô". Mas o que importa é que, muitas vezes, é a "prô" quem dá o carinho que a criança não tem em casa e acaba assumindo no coração infantil um papel ainda maior que o esperado. É a mãe, a tia e até a prô numa só professora!

Um professor que ensina as primeiras letras, o alfabeto todo e se distancia, para que o aluno aprenda a escrever seu destino com as próprias mãos. Mãos que, amanhã, serão de médicos, engenheiros, administradores, comerciantes e de muitos outros profissionais, até de professores. Mãos que, com certeza, se emocionarão quando pensarem no rosto de quem às vezes ficava bravo e pegava no pé do menino e da menina que não queria aprender com ele.

Um professor que domina uma sala de adolescentes, todos conectados, em mil redes sociais, com a atenção difusa, dispersa, tendo que chamar a atenção para uma matéria que, para os jovens, nem sempre tem graça, nem sempre faz sentido. Alguém que acaba caricaturado, com sua característica própria em lente de aumento, por algum aluno, mestre em sátira. Um professor que, apesar da desvalorização geral, consegue passar o que é preciso.

Um professor que lida com alunos universitários, adultos, mas que, ao se sentarem na cadeira de uma sala de aula, voltam a ter oito, nove, ou treze anos, porque aluno é sempre aluno, não importa a idade. Mesmo com toda a tecnologia e com o "poder" de formação de texto em nossas mãos, quando se vê sob as mãos de um professor, um aluno espera dele a mão da professora do início, que tantas vezes lhe guiou a mão pelo papel, hábil na conduta.

Um professor que também educa jovens e adultos que não puderam aprender na "idade certa" (entre aspas, porque, na verdade, toda idade é a mais certa para aprender). Professor que tenta suprir a falta de tantos outros professores, lacunas de tantos outros ensinamentos que ficaram pelo caminho. O aluno da E.J.A. requer o carinho, o apoio de quem é professor, um professor de verdade, e ensine os seus olhos a lerem o mundo com olhos letrados, ágeis.

Um professor que ensina o que ele sabe e domina. Um professor que muda sua comunidade e respira modernidade. Um professor que é pura poesia para o aluno que só teve conversa fiada. Um professor que se torna com o tempo o próprio tempo, veloz em saber a resposta, mas ainda mais rápido em saber que ninguém sabe tudo. Um professor que se chama de amigo, de eterno, de mestre. Um professor que demonstra respeito e o recebe também.

"Coração de estudante / Há que se cuidar da vida / Há que se cuidar do mundo / Tomar conta da amizade"... Amizade. Amizade de um professor que seja estudante a vida inteira. Um professor que não se veja parte de pesquisa sobre o crescimento da violência também em sala de aula. Um professor que seja a coruja e (por que não?) a águia que inspirará seu aluno a novos céus de alegria. Um professor que eu poderia ter sido. Um professor que posso ser?...

* Texto originalmente publicado na edição de sábado, dia 14/10/2017, no jornal impresso Gazeta Guaçuana, de Mogi Guaçu, São Paulo, para o Dia do Professor (15 de Outubro).

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Texto enviado pelo autor 

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