EDWALDO CAMARGO RODRIGUES
Cadeira n. 28
Morar no litoral
A casa tão sonhada à beira-mar. Da rede
estendida no alpendre ensombrado por densas
samambaias, diviso as gradações extensas
das serras a distância esvaírem-se. Cede
aos poucos o calor da tarde. Vindo a sede
saciar, os colibris das campânulas pensas
dos lises ao redor voam. Tornam-se intensas
as sombras vesperais. E a calma que precede
a noite enfim se instala, ao cessar repentina
a arenga da cigarra. Acendo a lamparina,
e logo a multidão de frementes falenas
espalha em torno a mim misteriosa alternância
de sombras e clarões. E é como desde a infância
eu tenho desejado: esta ventura apenas.
Elizabeth Cury Bechir Watanabe
Cadeira n. 34
Rio Itanhaém
Vislumbrando a beleza
da boca da barra,
o rio, que realeza!
Barcos retornando,
fim de pescaria
temporal anunciando...
Admirada paisagem
refletida no espelho
das águas do rio.
Momento prazeroso,
profunda paz...
Sapucaitava mais verdejante
cercado de seus habitantes
nesta tarde pacata,
esbanjando tranquilidade...
ESTHER FELICIDADE R. ROMANO
Cadeira n. 13
Perfume de âmbar
Teu suave perfume de âmbar
Inebria meus sentidos
Teu corpo vibra
Ao toque de tua mão
Me perco no universo
Desse amor tão lindo
Envolvida em teus braços
Nessa mágica paixão
Adormeço serena
Nesta noite inebriante
Sentindo em teu peito meu abrigo
Ouvindo o pulsar do teu coração
Essa doce lembrança
Guardarei comigo
Desses momentos sublimes
Que passei contigo.
JOÃO LÍBERO ROSA MARQUES
Cadeira n. 31
O Retorno
Lentamente o homem abriu o portão.
Parou, resistiu à imensa vontade de voltar,
E angustiado pensou como seria a reação dela,
Ao vê-lo voltar depois de tanto tempo.
O cachorro latiu, alerta, quando abriu o portão.
Ao reconhecê-lo, o amigo fel parou de latir
E começou a pular freneticamente, contente.
O homem ajoelhou, abraçou o cachorro,
E, emocionado, começou a soluçar.
Após se recompor, levantou-se, olhou,
E lentamente foi em direção a casa.
Passou pela porta devagar e estacou.
A sala estava silenciosa e fresca,
Com um leve cheiro de cera e lavanda,
Exatamente como ele sempre lembrava.
Olhou feliz e com os olhos marejados
Para os quadros e fotos na parede,
De tantas lembranças e tão familiares.
A mulher parada na porta do corredor
Olhava ansiosamente para ele, que,
Absorto, olhando as fotos e os quadros,
Não a ouviu entrar, quando de repente,
Um soluço baixo o fez olhar em sua direção.
Soluçando, a mulher abriu os braços amorosa,
Dizendo que o amava e que era bem vindo!
Ele rompeu num choro convulsivo e libertador,
E toda sua angustia e medo se foram.
Quando ela o abraçou com grande amor,
Disse que estava arrependido e pediu perdão.
E chorando falou: - Eu te amo, Mãe e voltei pra ficar!
JOSÉ ROMEU DUTRA
Cadeira n. 22
Minha Jovem
Deitei em teu colo,
Em tuas areias,
Adormeci.
Na brisa que o vento traz,
A mistura de aromas,
Da mata,
Do mar.
Aos olhos,
O imponente,
O majestoso,
Sempre inspirador,
Itatins.
Verdejante sentinela,
Guardando às costas,
A terra procurada,
Riqueza de teu seio,
Peruíbe,
Minha jovem amada.
MARTHA ZELIA ZACHAR FUJITA
Cadeira n. 18
Muito além
Sonhei que andava na praia,
e nas águas via passar
cenas da minha vida...
Nas ondas que quebravam,
via os momentos difíceis,
onde me sentia morrer...
Mas, a vida continua
e somos eternos aprendizes...
Amar a si mesmo,
para saber amar ao próximo...
Não viver sem ver a vida.
Não sofrer pelo passado.
O presente é passageiro...
A existência perde
o sentido do existir.
Forte diante da vida,
aceito o tempo que sobra
para ainda ser feliz.
A vida não é em vão…
TEREZINHA F. DO NASCIMENTO DANTAS
A Rosa do Abismo
Por que chora rosa do abismo
Perdida em um recanto só;
Entre as árvores da mata
Neste abismo que dá do?
Choro a solidão
De ter perdido o meu paraíso;
Perdida neste abismo
Não diviso um sorriso.
Trago uma recordação
Do mundo em que vivi;
Era a mais bela das rosas
Beleza igual, nunca vi.
Um dia eu fui banida
Pelo Senhor do jardim;
Porque era muito orgulhosa
Da beleza que havia em mim.
O Senhor então me disse:
Vai para o abismo aprender;
A humildade é uma virtude
Pra nunca mais esquecer.
Me achava melhor que as outras
Humilhava sem compaixão;
Hoje neste abismo me sinto
Sou livre, nesta prisão!
Fonte:
Academia Peruibense de Letras. ROSA DO ABISMO. 9ª Coletânea da Academia Peruibense de Letras. São Paulo/SP: All Print Editora, 2018.