sábado, 15 de outubro de 2011

Valdeck Almeida de Jesus (Lançamentos no Congresso da União Brasileira de Escritores)

O jornalista baiano lança "30 anos de poesias e mais um pouco..." na Martins Fontes da Avenida Paulista, dia 11 de novembro, às 18 horas e "Memórias do Inferno Brasileiro" em Ribeirão Preto, durante o congresso da União Brasileira de Escritores. O encontro acontece de 12 a 15 de novembro, com debates, mesas redondas, seminários, oficinas literárias, lançamentos de livros etc. O livro de memórias será lançado dia 13, às 17 horas. Dentre outras atividades, Valdeck fará a leitura de um poema em homenagem a Damário da Cruz, poeta da Bahia, falecido em 21 de maio de 2010.

30 ANOS DE POESIA
O livro reúne obras literárias escritas dos 12 aos 42 anos do poeta jequieense, além de textos de outras épocas. De acordo com Andreia Donadon Leal, Bacharel em Estudos Literários e Pós-graduanda em Artes Visuais, "o que representa trinta anos de poesia na vida de um autor? O início ou o meio do caminho... Como versou Carlos Drummond de Andrade, "...no meio do caminho tinha uma pedra..." No meio do caminho tinha um obstáculo que alguns encontram ao longo do percurso, como há de ser em qualquer etapa ou estágio da vida. A pedra dantesca a que Drummond se referia, ainda incógnita, hoje tem inúmeros sentidos, análises e leituras semióticas. Afinal, a pedra drumondiana refere-se ao início ou ao meio do percurso ?"

MEMÓRIAS DO INFERNO BRASILEIRO
A obra retrata a vida da família Almeida, natural de Jequié-BA, que enfrentou desafios quase intransponíveis para sobreviver. O crítico literário Silas Correia Leite, em depoimento após leitura do livro, disse "Triste Bahia, diria (cantaria) o Veloso Caetano. Depois de vencer a miséria, a dor, a fome, o vencedor dilata o tempo de viver ao escrever sua história? Uma viagem para dentro do que deveria ser um éden que, dizem, em se plantado tudo dá (carta de Pero Vaz Caminha/1500), mas, na verdade há uma elite desaforada, um descompromisso do estado com os seus carentes, um neoliberalismo câncer com tufos de espertos na sociedade podre."

Valdeck Almeida de Jesus é jornalista, funcionário público, editor, escritor e poeta. Embaixador Universal da Paz, Membro da Academia de Letras de Jequié, Academia de Cultura da Bahia, Academia de Letras de Teófilo Otoni, Poetas del Mundo, Fala Escritor, Confraria dos Artistas e Poetas pela Paz e da União Brasileira de Escritores. Publicou "Memorial do Inferno: a saga da família Almeida no Jardim do Éden", "Feitiço contra o feiticeiro", "Valdeck é Pros a e Vanise é Poesia", "30 Anos de Poesia", "Heartache Poems", "Yes, I am gay. So, what? - Alice in Wonderland", dentre outros, e participa de mais de 60 antologias. Organiza e patrocina o Prêmio Literário Valdeck Almeida de Jesus de Poesia, desde 2005, o qual já lançou mais de 900 poetas. Colabora com os sites Favas Contadas, PressReleases, Artigonal, Web Artigos, Recanto das Letras, Portal Literal, Portal Villas, Pravda, Zona Mix, Gay.Com, Observatório da Imprensa, PodCultura, Overmundo, Comunique-se, Dzaí, Difundir, Jornal do Brasil, Só Artigos e À queima roupa. Tem textos divulgados nas rádios online Sol (Diadema-SP), Raiz Online (Portugal) e CBN Bahia (Globo).

SERVIÇO
O que: lançamento do livro "30 anos de poesia"

Quando: 11 de novembro de 2011, a partir das 18 horas

Quanto: R$ 30,00

Onde: Livraria Martins Fontes Paulista - Avenida Paulista, 509
01311-910 - São Paulo-SP - (11) 2167-9900

Site: www.martinsfontespaulista.com.br

O que: lançamento do livro "Memórias do Inferno Brasileiro"

Quando: 12 a 15 de novembro de 2011, vários horários

Quanto: R$ 30,00

Onde: Congresso da União Brasileira de Escritores - UBE - UniSEB - Centro Universitário - Unidade I - Rua Abrahão Issa Halack, 980 - Ribeirânia - 14096-160 - Ribeirão Preto-SP

Site da UBE: www.ube.org.br
Site da Livraria Cultura: www.livrariacultura.com.br

Fonte:
Digestivo Cultural, por e-mail.

Leonilda Yvonneti Spina (Criança)


Há nesse teu sorriso um brilho
de felicidade. Nos olhos
todo o encanto da inocência;
na voz a fala dos anjos.

Doce criança - gota de orvalho,
pingo de chuva, raio de sol.
Aceno de paz, manhã surgindo,
vida renascendo, flor se abrindo
leve gorjeio de rouxinol.

Na ternura de teu carinho:
pena de ave, calor de ninho.

Criança, meiga criança...
Alegra-me o coração
ver o teu desabrochar
linda flor, inda em botão!

Com a fértil imaginação
habitas nesse universo
de fantasia e realidade.

Não percas a ingenuidade!
Não deixes esse ar de surpresa
e encanto, de quem acaba
de alçar vôo diante da vida.

Jamais percas esse olhar
confiante, criança querida!

Guarda sempre essa meiguice.
A ilusão de que o mundo
é belo, divertido
e bom, como se fosse
colorido algodão-doce.

Não tropeces nos caminhos.
Conserva esse frescor,
protege-te dos espinhos!

Teu sorriso me faz bem,
teu carinho me conforta,
o terno olhar me emociona.
Tuas mãozinhas me conduzem
para dentro de mim mesma.

Encanta-me teu palavreado.
Surpreendem-me tuas estórias,
as perguntas inteligentes,
a incrível criatividade.

Tua pureza e ingenuidade
trazem-me a certeza, criança,
de que a vida vale a pena
e ainda resta esperança
para a sofrida humanidade!

O anjo da guarda seja sempre
teu santo protetor e guia.
E nunca te faltem as delícias
que te fazem vibrar de alegria.
……

Gosto tanto de te ver
saborear o sagu de vinho,
a sobremesa bem colorida,
ou, com os olhos fixos na tigela,
devorar os bolinhos de chuva,
feliz, a lamber os dedos
repletos de açúcar e canela.

Tua espontaneidade é tão bela!
Deixa-me que te beije e te abrace
(e que o tempo lentamente passe...).

Deixa-me contar-te estórias,
ensinar-te a recitar versos
que tão facilmente decoras.

Aproveita bem tuas horas...
Preserva a alma de criança!
Mantém a candura, a alegria,
esse sorriso de confiança!

Deus esteja sempre ao teu lado
nesse doce reino encantado!

Fonte:
Heloísa Crespo (Organização e Programação Visual). Ciranda “Criança em Versos”. Campos dos Goytacazes/RJ, 2011. E-book cedido pela autora.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Wagner Marques Lopes (Trova Ecológica 30)

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 364)


Uma Trova Nacional

Não atires ao desterro
o teu irmão que pecou...
É bom combater o erro,
mas não aquele que errou!
–SELMA PATTI SPINELLI/SP–

Uma Trova Potiguar

A alameda... um vulto amado...
o banco tosco... o jardim...
- e esse orvalho do passado
caindo dentro de mim...
–LUIZ RABELO/RN–

Uma Trova Premiada

1987 - São Paulo/SP
Tema: Prece - M/H

Bem outro seria o clima
se em tantos gritos cruzados,
fosse ouvida, lá de cima,
a prece dos desgraçados!
–DOROTHY JANSSON MORETTI/SP–

Uma Trova de Ademar

Nos momentos mais tristonhos
chega a musa da poesia,
torna reais os meus sonhos
num mundo de fantasia.
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Somente o grande Arquiteto,
escritor sábio e fecundo,
consegue escrever correto
nas linhas tortas do mundo!
–ALOÍSIO ALVES DA COSTA/CE–

Simplesmente Poesia

O Dito e o Não Dito
–OLGA AGULHON/PR–

As palavras são cruéis e desobedientes;
não são humildes servas.
Fazem-nos cócegas
e depois que saem da boca,
não tornam a ela,
por mais que imploremos;
mas também não vão embora;
ficam ressoando no ar
e nos perseguem para sempre.
Por isso, busco o silêncio;
só ele nos deixa em paz.
As palavras...
prefiro prendê-las no papel.
Se viro a página
ou fecho o livro,
as silencio.
Vingo-me.
Venço.
Torno-me rei.

Estrofe do Dia

Quando Deus me levar pra eternidade
ficará nesta terra a minha cruz,
juntamente com todos meus pecados
pois pecados pra lá não se conduz;
e agradeço ao bom Deus por esta vida
e não quero que chorem na partida,
porque vou para o céu pra ver Jesus!
–ADEMAR MACEDO/RN–

Soneto do Dia

Delírio Lunar
–RACHEL RABELO/PE–

Esta noite me abraça com candura,
sinto o vento faceiro do cortejo,
revelando meu corpo de ternura
entre nuvens do doce relampejo.

Pirilampos beijando com doçura
as estrelas do meu sutil desejo.
São carinhos serenos da ventura
numa troca lunar que me protejo.

Sob a cama do verso que me deito,
entregando meu sonho mais perfeito,
me desnudo no orvalho da paixão.

Entre toques noturnos do querer,
sinto a lua luminosa renascer,
os delírios jorrados pelo chão.

Fonte:
Textos enviados pelo Autor

Laé de Souza (Grupo Projetos de Leitura Lança Terceira Coletânea de Textos Criados por Estudantes de Escolas Públicas)


Um livro recheado de histórias surpreendentes, lirismo, muita emoção e grande incentivo pedagógico. Esses são apenas alguns predicados que classificam “As melhores crônicas dos projetos de leitura”. O livro traz crônicas escritas por alunos da Rede Pública de Ensino, selecionadas, por meio de um concurso literário em escolas de todo o Brasil e, ainda, crônicas do escritor Laé de Souza.

O lançamento do livro será realizado no dia 20 de outubro/11, às 14h, na Tenda O Saci, na Expo Literária de Sorocaba, evento que se realiza na Biblioteca Municipal Jorge Guilherme Senger, Rua Min. Coqueijo Costa, 180, Alto da Boa Vista, em Sorocaba, de 19 a 22. A obra estará disponível pelo valor simbólico de R$2,00, e o publico contará com a presença de alunos autores e do coordenador do projeto, o escritor Laé de Souza, que irá autografar a obra juntamente com os estudantes.

A obra, é uma das etapas dos projetos “Ler é Bom, Experimente!”, patrocinado pela Companhia de Seguros Aliança do Brasil e "Minha Escola Lê", patrocinado pela ZF do Brasil. Os projetos são desenvolvidos em todo o país pelo Grupo Projetos de Leitura, com o apoio do Ministério da Cultura. Para o coordenador do projeto, a leitura e a escrita devem ser encaradas como práticas essenciais à construção de cidadãos mais conscientes. “Nosso trabalho tem como objetivo formar uma nova geração de leitores. Eu como educador sei que isso não é uma tarefa fácil, mas possível, quando oferecemos condições e reunimos pessoas com o mesmo ideal”, destaca Laé de Souza.

Laé de Souza acredita, ainda, que a leitura e a escrita precisam ser fomentadas como uma forma de prazer e não de maneira obrigatória, tendo o professor um papel fundamental nesse contexto. “Muitas vezes é na sala de aula que se descobre o mundo mágico da literatura. Os educadores precisam mostrar aos estudantes que a leitura é uma das grandes ‘chaves’ para abrir um incrível mundo de possibilidades”, opina.

No mesmo horário acontecerá o lançamento do livro infantil "Quinho e o seu cãozinho - Férias na fazenda", de Laé de Souza.

Informações: (11) 2743-9491 e 2743-8400 - site http://www.projetosdeleitura.com.br/

Fonte:
Laé de Souza, por e-mail.

Antonio Pereira (Saudade)


Antonio Pereira é de Pajeú/PE

Quem quiser plantar saudade,
primeiro escalde a semente,
plante num lugar bem seco
onde o sol bata mais quente,
que se plantar no molhado
quando nascer mata gente.

Saudade é um parafuso
que quando na rosca cai,
só entra se for batendo,
porque torcendo não vai,
depois que enferruja dentro
nem destorcendo não sai.

Fonte:
Trovadores Unidos, por e-mail.

Rodrigo Humberto Flauzino (Construção de uma Biblioteca Com e Para Crianças Menores de 3 Anos)


Introdução

Tão importante quanto garantir que as crianças tenham acesso a bons livros desde bem pequenas, é organizar ambientes convidativos, aconchegantes e singulares para que elas possam usufruir das histórias em situações prazerosas de interação com os colegas, professores e famílias. A iniciativa de construir uma biblioteca na sala para e com as crianças, constitui-se uma excelente oportunidade para fomentar o contato das crianças com os livros, criar lugares mágicos, cheios de identidade, e realizar rodas de leituras.

Anos

2 e 3 anos

Duração

Um semestre ou ao longo do ano todo

Objetivos

- Construir, coletivamente, uma biblioteca como lugar capaz de abrigar não somente livros, mas de suscitar rituais agradáveis de leitura;
- Apresentar o acervo de livros, promovendo o gosto pelas histórias e ampliando repertórios;
- Estreitar a relação creche-família por meio do empréstimo de livros.

Desenvolvimento

1ª etapa
O primeiro passo é o professor discutir com seus parceiros - outros professores e equipe gestora - sobre os livros que pretende escolher para compor o acervo de sua futura biblioteca de sala. Essa escolha implica que o educador seja, acima de tudo, um leitor, que tenha interesse em se aventurar no mundo das histórias para conhecê-las, antes de lê-las para seu grupo de crianças. Selecionar temas como: animais, objetos sonoros, família, transportes, personagens de diferentes etnias, histórias cumulativas com várias figuras do universo do faz de conta (bruxas, piratas, lobos).

Outra dica é escolher livros coloridos, com ilustrações bem definidas, textos curtos e alguns com fotografias reais das coisas. É importante garantir um equilíbrio entre a quantidade de livros de capa dura com livros de material convencional, pois é comum que algumas páginas se danifiquem, rasguem ou que sejam levadas à boca, em razão do grande interesse e da necessidade da meninada em manipular as publicações.

Não se esqueça de incluir no acervo livros que contenham apenas imagens, pois eles favorecem a criação de histórias próprias das crianças.

2ª etapa
Deve-se organizar um lugar onde os livros ficarão expostos e acessíveis às crianças. De preferência, escolha um canto em que haja o encontro das paredes ou então aproveite a parte traseira de móveis e armários. Depois, é possível confeccionar suportes de tecido com vários bolsos, trilhos de cortina virados ao contrário para serem fixados à parede, baús de madeira pintados pelas crianças ou até mesmo aqueles caixotes de feira, que se ganharem rodinhas e cor ficam melhores ainda, uma vez que poderão ser transportados de um lugar para o outro.

3ª etapa
Uma prática que dá bastante resultado é construir um tapete com as crianças. O objetivo principal aqui é fazer com que o tapete tenha "a identidade" delas, uma vez que servirá como um indicador dos momentos de leitura, iniciando assim um ritual próprio da turma.

Separe um tecido de algodão cru de mais ou menos 2 por 2 metros. Veja a possibilidade de alguma família ou profissional da creche costurar as bordas do tecido para que o tapete não desfie conforme o uso. Convidar alguém da comunidade interna ou externa faz com que o trabalho comece a ser partilhado entre todos, dando noções para as crianças de que é importante realizar as ações de maneira coletiva. Acredite, sempre terá alguém disponível para ajudar!

De posse do tapete, organize com as crianças situações de pintura. Nessa hora vale experimentar muitas técnicas: carimbar o tecido usando esponjas e guache; desenhar as silhuetas das crianças pedindo que elas se deitem sobre o tapete, fazer a sobreposição dos contornos e, em seguida, pedir que elas pintem por cima usando tintas. Fazer intervenções com fitas crepes ou outros moldes de desenhos de interesse da turma - bichos, símbolos - para que elas passem rolinhos de pintura e deixem suas marcas sobre o tecido. Feito isso, é só esperar secar para depois começar a usá-lo como um indicador do ritual das rodas de leitura na biblioteca.

4ª etapa
Outra estratégia para delimitar o ambiente é solicitar às famílias que enviem para a instituição camisetas, vestidos ou outras roupas reconhecidas pelas crianças para que esse material seja preenchido com espuma, costurado nas aberturas e depois pintado pelas próprias crianças, transformando-se em "almofadas personalizadas". É curioso ver a criançada de posse de sua própria roupa reaproveitada como estofados para sentar-se e deitar-se enquanto os livros são apreciados.

5ª etapa
Apresente os livros da biblioteca aos poucos às crianças. Uma ideia é reunir a turma no "cantinho" do tapete diariamente em um horário específico, como, por exemplo, logo após o lanche, e apresentar alguns. Você pode ler o título e até o comecinho da história, mostrar as ilustrações e fazer perguntas sobre o que eles acham que acontecerá. Um pouco de suspense ajuda a aumentar a curiosidade da turma pelos livros. Deixe que as crianças também se envolvam com a organização dos volumes na estante. A divisão pode ser bem simples, como os gibis e revistas de um lado e os livros de outro. Outra classificação pode ser: ‘os que gostamos mais’ e os que ‘ainda não conhecemos’. Ou os livros que trazem histórias e os informativos, que explicam coisas. Os pequenos devem ter noção de que tipo de livros encontrarão em determinado lugar da estante. É importante que as crianças tenham acesso livre à biblioteca (ou ao menos a parte dela) e possam manusear os livros à vontade sob o olhar do professor - além do momento específico da leitura conduzido pelo educador com um enfoque direcionado a uma determinada prática.

6ª etapa
E qual deve ser a relação do professor com a leitura? Na biblioteca, o foco é pensar na sua prática enquanto leitor. Você é, afinal, o responsável por apresentar o mundo da leitura e é o mediador entre o objeto livro, as crianças e as relações que ali se estabelecem. Nessas situações, certas estratégias e posturas são importantes, tais como: antes de iniciar a roda de leitura, o professor deve mostrar o livro para as crianças, chamar a atenção para sua capa, ler e apontar para o título, dizer quem escreveu a história, quem a ilustrou e qual o nome da editora. As crianças se interessam por essas informações, por vezes perguntam sobre quem fez o livro e se manifestam com sorrisos, gargalhadas e palmas quando o nome é engraçado!

Indagá-las sobre o que acham que a história vai contar, incentivando-as a levantarem hipóteses e anteciparem a narrativa, constitui-se um estímulo à imaginação e ao desenvolvimento da oralidade. Também é necessário ler o texto na íntegra, sem suprimir trechos, pois isso ajuda a criança a perceber que as palavras representam a fala, que há muitos jeitos de se contar e diferentes estilos e estruturas de textos (rimas, poesias, contos, lendas...). Aliás, diversificar os tipos de livros, apresentando-os diária ou semanalmente possibilita que as crianças se apropriem deles com mais liberdade e competência ao manuseá-los sozinhos.

Durante a leitura, procure caprichar nas entonações de voz que transmitam emoção, suspense, surpresa e alegria. Outra dica é ler mostrando as ilustrações. Essa estratégia os deixa mais envolvidos com a narrativa. Mas deixe para fazer os comentários sobre as ilustrações após a leitura do texto.

Uma maneira de comentá-las é imaginar que somos interlocutores de uma "obra de arte", fazendo perguntas que podem ser mais simples ou complexas, respeitando a idade da criançada. Geralmente, mostramos a ilustração e incentivamos que digam: O que vêem na imagem? O que será que o personagem fez/está fazendo/fará? O que chama a atenção? O que aparece na cena? Quais objetos aparecem? Quais as cores? Como está o personagem? Triste? Alegre? Qual será seu nome? Se repentinamente surge algo inusitado como, por exemplo, uma girafa, quem já viu esse animal? Entre tantas outras possibilidades de intervenção.

Em suma, o professor leitor é aquele que, por meio da leitura, leva a criança a conhecer novos universos, despertando de alguma maneira afetos e sentimentos, que podem ser sensações de alegria, prazer, mas também lembranças, saudades...

7ª etapa
Para o empréstimo dos livros, faça na sala um painel que servirá como fichário. Vale construir um mural, cujo fundo seja colorido pelas próprias crianças. Uma boa ideia é usar papel panamá e aquarela; outra é pintar com pincéis largos sobre cartolinas ou, ainda, espalhar tinta guache com as mãos em suportes que podem ser plastificados com contact para durar mais. Em seguida, é possível fazer alguns bolsinhos e colocar as fotos de cada criança na frente deles. Dentro de cada bolso vai uma ficha que pode ser tanto relacionada ao nome da criança e às anotações do livro que ela levará para casa, quanto o contrário: a ficha pode ser retirada do próprio livro para ser colocada no bolsinho respectivo à criança. Elas se apropriam dos combinados aos poucos. No começo, a brincadeira fica por conta de tirar e por as fichas nos bolsos, trocando-os entre os colegas. Permitir essa experimentação inicial é saudável, para em seguida comunicar o uso correto.

8ª etapa
Com relação ao início do empréstimo, combine com os pais ou responsáveis que a ideia é estreitar os vínculos entre a creche e a família por meio da leitura, assim como estabelecer um elo em que o livro seja o intermediador de histórias e outras conversas entre todos. O contrato aqui é definir um dia da semana (geralmente sexta-feira) e convidar as famílias para escolherem um livro junto com a criança, escutando suas preferências e estratégias de escolha, tais como: a história já conhecida, a capa que chama atenção, a editora, o autor, as ilustrações.

Feita a seleção, criança e família levam o livro para casa dentro de uma sacolinha de pano ou pasta, ao melhor estilo "vai-e-vem". No dia combinado para a devolução do livro, é importante que o professor garanta uma roda de conversa para saber das crianças como era a história, do que elas gostaram, quem leu para ela, em que lugar o livro foi lido etc. Nessas situações, as crianças costumam falar aspectos ligados à afetividade vivida com a leitura: "Minha mãe leu pra mim", "Foi minha irmã que contou a história do lobo", "O macaco encontrou a mamãe dele...".

Avaliação

Diante do processo, o mais significativo é desenvolver permanentemente as ações e atentar-se ao movimento do grupo. Com o tempo, é possível notar que, ao estender o tapete, as crianças já se acomodam e pedem para ouvir as histórias. Também é comum que elas peguem as próprias almofadas, usando-as enquanto entram no universo mágico dos livros. Um papel importante do educador é observar como as crianças manuseiam os livros, se contam as histórias para si mesmas e para os outros, se tentam interagir com as imagens, apontando-as ou tentando pegá-las, se repetem aquilo que ouviram. Ouvir a devolutiva das famílias é outro ponto forte.

Por fim, não descuide da renovação do acervo da biblioteca. A chegada de novos livros potencializa o interesse das crianças e amplia o repertório delas.

Fontes:
Revista Nova Escola. n. 246. Outubro de 2011. Abril Cultural.
Imagem = http://bibliopioxii.blogspot.com

Fernando Cruz (Um Menino)


De altura tem um metro, ou pouco mais,
A roupa suja, a face lambuzada,
Chapéu de palha, de aba desabada,
dois olhos frios como dois punhais.
Um seu sorriso não se viu jamais,
A boca um traço, sempre tão fechada,
pinta a figura que se faz notada,
mais por grunhidos do que por sinais,
Não sabe ler e nunca foi à escola,
o abandono recebeu de herança,
e pouco mais receberá de esmola.
E na medida que em idade avança,
na triste vida que a miséria imola,
homem será, sem nunca ser criança!

Fonte:
Heloísa Crespo (Organização e Programação Visual). Ciranda “Criança em Versos”. Campos dos Goytacazes/RJ, 2011. E-book cedido pela autora.

Darly Barros (Melancolia)


O sol boceja! A Noite Santa avança
e, em meio ao lusco-fusco do poente,
volto a sentir saudades da criança
que a vida fez crescer e, de repente...

Nada, contudo, guarda semelhança
com os Natais do meu antigamente:
o mundo é outro  a bem-aventurança
da data, um breve hiato, num presente

de tanta violência entre os mortais,
que é fácil compreender não volte mais
essa criança que se foi tão cedo;

prefiro vê-la agora recolhida,
neste meu peito que, de volta à vida
mas, infeliz e trêmula de medo!

Fonte:
Heloísa Crespo (Organização e Programação Visual). Ciranda “Criança em Versos”. Campos dos Goytacazes/RJ, 2011. E-book cedido pela autora.

Pedro Mello (Posso Rimar “Céu” com “Corcel”?)


Apenas mudando as palavras, eu escutei essa pergunta duas vezes, em momentos diferentes nestes anos em que pertenço à UBT (União Brasileira de Trovadores). Da primeira vez, foi no ano em que entrei. Uma trovadora então novata disse a outra que havia feito uma trova em que rimava “céu” com “batel”. A outra respondeu que “não podia, que esse tipo de rima não é perfeita e não é aceita”. Assim, dessa maneira, a questão ficou encerrada.

Em meu espaço no site “falando de trova” (http://www.falandodetrova.com.br) já abordei a questão, que novamente veio à tona. No ano passado, durante os festejos dos Jogos Florais de Nova Friburgo, uma pessoa me perguntou se podia rimar “céu” com “corcel”. Confesso que fiquei encantado com a pergunta e me lembrei de um poema de Mário Quintana chamado “O encontro”, do livro “Baú de espantos”:

“Subitamente
na esquina do poema, duas rimas
olham-se, atônitas, comovidas,
como duas irmãs desconhecidas...”

Naquela pergunta, aparentemente prosaica, estava a configuração de uma possibilidade que geralmente não é tradicionalmente prevista, o encontro de “duas irmãs desconhecidas”. Respondi a ela que podia, sim, mas... que não era uma construção aceita em concursos de trova. Que ela até fizesse trovas com essa rima linda (e não é linda? céu/corcel... já imaginou quantas possibilidades semânticas?), mas para publicar na internet ou em livro, não para os Concursos de trova e Jogos Florais promovidos pela UBT.

Alguns decerto argumentariam que há regiões em que o “l” final é pronunciado como consoante alveolar e não como “u”. É verdade, mas isso de modo algum invalida a prosódia da maioria dos brasileiros. Se fosse o caso de comissões organizadoras estudarem a possibilidade de aceitar esse tipo de rima, não custaria lembrar que a língua portuguesa possui variantes e que aceitar as variantes é abrir seus horizontes para outras possibilidades. E quando falo em variantes, reporto-me apenas ao Português falado no Brasil, naturalmente distinto do uso lusitano, fato reconhecido por autores de prestígio e que já se tornou um truísmo. No prefácio de sua Nova Gramática do Português Contemporâneo, assim se expressam Celso Cunha e Lindley Cintra sobre o objetivo da obra:

“Como esta gramática pretende mostrar a superior unidade da língua portuguesa dentro da sua natural diversidade, particularmente do ponto de vista diatópico, uma acurada atenção se deu às diferenças no uso entre as modalidades nacionais e regionais do idioma, sobretudo às que se observam entre a variedade nacional europeia e a americana.”

Assim, mesmo que o “l” pós-vocálico em final de palavras seja realmente articulado com a língua tocando o céu da boca, não é essa a pronúncia majoritária no Português Brasileiro. Nem falo em Portugal, porque a variante portuguesa não se impõe como norma para nós, falantes brasileiros, que temos a nossa própria norma. Embora em partes do sul do Brasil o “l” final seja pronunciado como “l”, a pronúncia corrente do restante do país é distinta. Assim, coexistem no Brasil duas pronúncias para o “l” final: como consoante alveolar, pronunciada com a ponta da língua tocando o céu da boca, como se faz em espanhol, por exemplo, e com som de “u”, articulado como semivogal de ditongo oral decrescente.

Alguns associados da União Brasileira de Trovadores, a entidade que congrega a maior parte dos cultores da trova no Brasil e promotora dos Jogos Florais e Concursos de Trovas mais importantes, poderiam argumentar, com justeza, que o “decálogo” de metrificação da entidade, elaborado por seu fundador, Luiz Otávio, não contempla essa possibilidade de rima e que uma trova em que houvesse rima céu/batel ou Brasil/viu, por exemplo, jamais seria premiada em um concurso promovido pela entidade. De fato, mas havemos de cogitar dois fatores dignos de nota: o decálogo é apenas uma orientação para regulamentar os concursos da entidade e não para “regulamentar” a “inspiração” de ninguém. Assim, se alguém desejar empregar uma rima “não canônica”, tem todo direito de fazê-lo, até porque a trova é sua, não pertence a ninguém além de seu próprio autor, dono intelectual de seu trabalho artístico. Outro pormenor: Luiz Otávio elaborou o “Decálogo de Metrificação” baseado em obras disponíveis em seu tempo, na maioria tributárias de textos do século XIX e, portanto, frutos de análises que não contemplavam os fatos mais recentes da língua portuguesa falada no Brasil.

Lembremo-nos de que, para Hênio Tavares, “rima é a identidade ou semelhança de sons no final ou no interior dos versos, nos ictos das palavras” (Teoria Literária. Belo Horizonte, Editora Itatiaia, 1978, página 212). Celso Cunha, na gramática supracitada, apresenta definição semelhante, ao afirmar que rima é a “identidade ou semelhança de sons em lugares determinados dos versos.” (p. 711) O professor Evanildo Bechara (Moderna Gramática Portuguesa. Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira, 2009, p. 640) assim se expressa: “Chama-se rima a igualdade ou semelhança de sons pertencentes ao fim das palavras, a partir da sua última vogal tônica”.

Assim sendo, é perfeitamente legítimo o uso que José Ouverney faz na seguinte trova, em que o poeta rima mal com pau. Certíssimo:

Certo cupim se deu mal
pois um dia aconteceu:
era tão "cara-de-pau",
que outro cupim o comeu!


Da mesma forma, Nélio Bessant:

O conhaque, é bem verdade,
levanta mesmo a moral
daqueles que estão na idade
da bandeira a meio pau…

Mais recentemente eu também resolvi fazer algumas experimentações:

Há almas cheias de fel,
cujo rancor as emperra...
- Almejam vida no Céu
sem merecer nem a terra...!

Tento esconder como estou,
mas Saudade não tem jeito:
- Tua Ausência faz um gol...
e rasga a rede em meu peito!

Assim, respondo à pergunta que é o título deste ensaio: “SIM! PODE! Aliás, DEVE!” Céu com corcel, alma com trauma, mau com fatal, febril com partiu... As possibilidades são infinitas. Note que em “alma” o “l” também é pronunciado como “u”, caso em que não aparece no final da palavra, mas em final de sílaba e sem vogal posterior.

A poesia se constrói com inovações. A língua é viva porque é falada por uma comunidade que faz seu uso de acordo com as preferências. Se esse tipo de construção não é aceita em concursos, paciência! Quem perde não é o poeta que deixa de participar de concursos com trovas criativas. Quem perde é o concurso porque deixa de recebê-las...

Fonte:
Texto enviado pelo autor
Imagem = http://riodejaneiro.inetgiant.com.br

Amaury Nicolini (Sons)


Ouço ao longe um riso de criança.
Um som tão puro
como a voz da verdade e da esperança
a nos fazer acreditar que ainda há futuro
e reduzindo toda angústia e medo
ao receio infantil que há na lembrança:
o de dormir no escuro.

Ouço perto um riso de criança.
Um som que enfim
voa pelo espaço e logo alcança
o que ainda resta de criança em mim,
lembrando que na vida, desde cedo,
e à medida que o tempo avança,
o melhor é poder sorrir assim.

Ouço um riso inocente de criança
e a escutar esse riso me demoro,
pois a paz que ele tem, serena e mansa,
parece perguntar por que eu choro.

Fonte:
Heloísa Crespo (Organização e Programação Visual). Ciranda “Criança em Versos”. Campos dos Goytacazes/RJ, 2011. E-book cedido pela autora.

Julia Lopes de Almeida (O Vestuário Feminino)


É uma esquisitice muito comum entre senhoras intelectuais, envergarem paletó, colete e colarinho de homem, ao apresentarem-se em público, procurando confundir-se, no aspecto físico, com os homens, como se lhes não bastassem as aproximações igualitárias do espírito.

Esse desdém da mulher pela mulher faz pensar que: ou as doutoras julgam, como os homens, que a mentalidade da mulher é inferior, e que, sendo elas exceção da grande regra, pertencem mais ao sexo forte, do que do nosso, fragílimo; ou que isso revela apenas pretensão de despretensão.

Seja o que for, nem a moral nem a estética ganham nada com isso. Ao contrário; se uma mulher triunfa da má vontade dos homens e das leis, dos preconceitos do meio e da raça, todas as vezes que for chamada ao seu posto de trabalho, com tanta dor, tanta esperança, e tanto susto adquirido, deve ufanar-se em apresentar-se como mulher. Seria isso um desafio?

Não; naturalíssimo pareceria a toda a gente que uma mulher se apresentasse em público como todas as outras.

Basta ver um jornal feminista para toparmos logo com muitos retratos de mulheres célebres, cujos paletós, coletes e colarinhos de homem, parece quererem mostrar ao mundo que esta ali dentro um caráter viril e um espírito de atrevidos impulsos. Cabelos sacrificados à tesoura, lapelas (sem flor!) de casacos escuros, saias esguias e murchas, afeiam corpos que a natureza talhou para os altos destinos da graça e da beleza.

Os colarinhos engomados, as camisas de peito chato, dão às mulheres uma linha pouco sinuosa, e contrafeita, porque é disfarçada.

Médicas, engenheiras, advogadas, farmacêuticas, escritoras, pintoras, etc. por amarem e se devotarem às ciências e às artes, porque hão de desdenhar em absoluto a elegância feminina e procurar nos figurinos dos homens a expressão da sua individualidade?

Há certas mulheres, precisamos convir, que têm desculpa na adoção dos murchos trajes masculinos, porque para elas isso não representa uma questão de estética, mas de incontestável necessidade — as exploradoras, por exemplo.

A essas, as saias impediriam as passadas e os saltos, no labirinto enredado dos cipoais, entre todos os obstáculos das florestas eriçadas de espinhos e cortadas de valos a transpor.

As calças grossas e as altas polainas são para elas, portanto, não objeto de fantasia, mas de comodidade e salvamento. O pano flutuante do vestido prendê-las-ia de instante a instante aos troncos e às arestas do caminho, e, quando molhado, pesar-lhes-ia no corpo como chumbo.

Por exigências de comodidade no trabalho, também escultoras e pintoras se sujeitam muitas vezes a vestirem-se assim e só quando executam obras de grandes dimensões. As calças facilitam então as subidas e as descidas de andaimes e de escadas.

Rosa Bonheur, conta-nos um seu biógrafo, surpreendida no atelier pela notícia de que a imperatriz Eugênia entrava em sua casa para oferecer-lhe a Legião de Honra, — viu-se atrapalhada para enfiar às pressas os trajes do seu sexo e poder receber respeitosamente a soberana.

Só de portas a dentro ela abusava dessas entradas por seara alheia, para usar com liberdade de todos os seus movimentos; mas desde que a artista era procurada por estranhos, ela aparecia como mulher.

Nas cidades, sobre o asfalto das ruas ou o saibro das alamedas, não sabe a gente verdadeiramente para que razão apelar, quando vê, cingidas a corpos femininos, essas toilettes híbridas, compostas de saias de mulher, coletes e paletós de homem... Nem tampouco é fácil de perceber o motivo por que, em vez da fita macia, preferem essas senhoras especar o pescoço num colarinho lustrado a ferro, e duro como um papelão!

Fontes:
Júlia Lopes de Almeida. Livro das Donas e Donzelas. Belém/PA: Núcleo de Educação a Distancia da Universidade da Amazonia (UNAMA).
Imagem = http://uniquedresscode.blogspot.com/

Ademar Macedo (O Meu Eu Criança...)


Um sonho que me extasia
e me traz muita esperança,
é ver livros de poesia
nas mãos de toda criança.

Confesso: tenho esperanças
antes de ficar senil,
de ver, nas mãos das crianças,
o Futuro do Brasil!

Paz, inocência e bonança,
vamos ainda encontrar
no sorriso da criança
antes que aprenda a pecar.

O meu EU sofreu mudança,
uma mudança sem fim.
Só não mudou a criança
que eu fui e que vive em mim!

Fonte:
Heloísa Crespo (Organização e Programação Visual). Ciranda “Criança em Versos”. Campos dos Goytacazes/RJ, 2011. E-book cedido pela autora.

Carmen Lucia Tindó Ribeiro Secco (Entre Fábulas e Alegorias: Diálogos Transoceânicos de Monica Fares de Menezes)


Entre Fábulas e Alegorias: Ensaios sobre literaturas infanto-juvenis. Diálogos Transoceânicos Mônica Fares de Menezes

Na nota de abertura a autora defende que: «Uma verdade manifesta-se em uma narrativa. Uma narrativa desemboca em uma sabedoria. O narrador é alguém que sabe dar um conselho. E antigamente foi uma coisa muito importante saber aconselhar. E mais ainda talvez, deixar-se aconselhar era algo de bom e saudável. (Walter Benjamin)

1 Introdução: Confim, Confins

A estudante da pós-graduação em literatura, Mônica Menezes, começa da seguinte forma a sua introdução: «Venho de um lugar onde o imaginário é tão forte que chega a explicar, além de outros fenómenos, a origem da própria região: Amazônia é palavra que, (...), se origina de amazonas (etimologicamente, a = sem, mazon = seio). As mulheres guerreiras, segundo a lenda, extraem o seio direito para mais habilmente manipularem o arco e a flecha. Belém do Pará, primeiro ponto de fortificação portuguesa na Amazônia brasileira, (...). Bruno de Menezes, poeta introdutor do modernismo na Amazônia, em 1924, reconta o facto, em "Belém e o seu poema":

«Já se sabe da empreitada do luso Castelo Branco/ Fazendo a indiada e a soldadesca levantarem o Forte do Presépio/ Com licença da Boiúna/ Devido à força da enchente e à correnteza das marés… / (MENEZES, 1993, P. 520)».

Com este rodeio, Mônica Menezes pretende dizer que «provavelmente, há muito em comum entre o universo das narrativas orais populares Amazônicas e o das estórias relatadas em Sunguilando: contos tradicionais angolanos. A senhora Peixarrão dos Confins do Espadarte, por exemplo, tem algo que assemelha à Iara amazónia, aquela que enfeitiça os homens e os leva para o fundo dos rios. É bem provável que, ao pesquisar o imenso caudal de narrativas orais amazónicas, encontremos várias que se aproximem às recolhidas por Óscar Ribas, no livro supracitado».

A autora considera que «as narrativas de tradição oral tratam de importantes registos da memória de uma sociedade. Passam de boca em boca, perpetuando-se de geração em geração. Conservam-se pela memória. Asseguram a sobrevivência do passado e garantem a certeza do presente e do futuro».

Segundo Mônica Menezes, «de acordo com Lourenço Rosário, as narrativas “são o reservatório dos valores culturais de uma comunidade com raízes e personalidades regionais, muitas vezes perdidas na amálgama da modernidade” (ROSÁRIO, 1989, p. 47). Advêm da vivência do contador, numa tentativa de que a experiência seja incorporada pela colectividade como valor e conhecimento capazes de influenciar e modificar a comunidade».

Mônica M. teoriza que: «Ainda segundo Rosário (1989), as narrativas de tradição oral africanas veiculam “regras e as interdições que determinam o bom funcionamento da comunidade e previnem as transgressões” (p. 47). As narrativas orais que integram o imaginário amazónico também apontam para uma preocupação com o “bom funcionamento da comunidade”, quando não prevenindo transgressões, justificando-as através dos elementos da narração».

A ensaísta, na vertente comprovativa, traz à luz o «caso da famosa lenda do boto, “uma lenda amazónica que conta a história de um pequeno delfim encantado, capaz de se transformar em um belo rapaz e que, sob a forma humana, seduz de maneira irresistível as mulheres (…)” (SIMÕES, 1999, P. 125). O boto é uma espécie de “Dom Juan das águas”, sedutor das jovens virgens e mulheres casadas. A narrativa, desta forma, aplaca a ira dos maridos, dos pais e namorados traídos. Assim, justificam-se as traições de mulheres (…). A narrativa, portanto, denota a preocupação do narrador com a manutenção da ordem social do grupo. “Entendemos que na Amazónia paraerense a sobrenaturalidade é naturalizada, isto é, a cultura busca a segurança na natureza, ou, pelo menos, em explicações que nos suscitam acontecimentos que não podem ser explicados pelas leis do mundo familiar” (SIMÕES, 1999, p. 114).

A autora explica que «na concepção de Tzvetan Todorov (1975), “a função do sobrenatural é subtrair o texto à acção da lei e com isso mesmo transgredi-la” (p.168). Tal posicionamento reafirma que as narrativas orais em que o sobrenatural aparece revelam o permitido e não permitido de determinada sociedade, como se observa no contexto de Lourenço Rosário.

Para Mônica, «provavelmente há muita coisa em comum entre o universo das narrativas orais populares amazónicas e os contos tradicionais angolanos. (…), onde ainda persiste o modo de vida ribeirinho, que abre espaço para a ocorrência do imaginário oral. (…), nas localidades afastadas dos centros urbanos. Ali o respeito aos mais velhos, detentores de sabedoria e por isso narradores privilegiados, proporciona um interesse culto ao aprendizado oral, em volta das fogueiras, ritual que propicia às gerações mais novas apreenderem valores com as mais experientes.

A ensaísta informa que escolheu como objecto de ensaio, «o conto “O Peixarrão”, recolhido por Óscar Ribas, e a amazónica narrativa da “Iara”», e pretende desse modo, «comparar, através da literatura oral, os “sotaques” africano e amazónico.

Sobre o conto intitulado «Peixarrão», a autora explica que «O enredo trata de uma família de pescadores, que vive privações, até o momento em que a sereia Peixarrão propõe a João Pobreza uma estranha troca. Seu filho casaria com a filha dela, e a família “Pobreza” passaria a viver na abastança. Tudo seria resolvido se a mulher do pescador Maria, não se opusesse à estranha e mágica solução para o problema por eles vivido. Percebendo então a situação, a sereia arruma um estratagema para livrar-se de D. Maria, que, grávida, deseja comer um bagre falante. Após ingerir o estranho peixe Maria falece. É como se aí se encerrasse a primeira parte da narrativa. Prossegue Mônica Menezes: «a continuação faz confrontar a força do maravilhoso – a sereia – com o político – o todo-poderoso rei de Portugal. A partir de então a narrativa ficcional passa a aludir à situação colonial de Angola, dominada por Portugal. A sereia e o soberano português disputam o João Pobreza, filho de João e Maria, que se caracteriza como destemido herói. João filho deve casar-se com uma das princesas, a do mar ou da terra. A tensão entre os poderes humanos e maravilhoso se desenrola, como se estivessem num mesmo patamar.

A autora considera que: «O conto insere-se certamente na melhor tradição oral de Angola. Entretanto, ao ser “traduzido” para a língua escrita, pareceu-me formal demais e com isso comprometeu a performance oral do texto. (…) o que compromete, penso eu, a fluência – e por que não dizer? – a espontaneidade do enunciado» e mais adianta: «Examinemos uma passagem do texto narrado por Rita Manuel, uma “sexagenária de Luanda”. O exemplo ilustra o tom artificial da escrita de Óscar Ribas, que recolheu e reescreveu a referida narrativa (falo em reescrita, porque tenho certeza de que “quem conta um conto aumenta um ponto”):

«…E não o como por quê? Agora, como-o em pirão; logo:/ Como-o assado; amanhã, como-o em funji. Sozinha, / há uns dias! / Encheu o prato. Ao mastigá-lo, o peixe cantou:/ Não me mastigues, canoeiro! / (RIBAS, 1989, P. 32)». M. M. observa que o reiterado uso da ênclise comprova o que já foi dito anteriormente: «É como se a escrita traísse a espontaneidade da fala.»

“O Peixarrão” é identificado como uma fábula, pois se caracteriza como: «Narrativa curta, não raro identificada com o apólogo e a parábola, em razão da moral, implícita ou explícita, que deve encerrar, e de sua estrutura dramática. No geral é protagonizada por animais irracionais, cujo comportamento, preservando as características próprias, deixa transparecer uma alusão, via de regra, satírica ou pedagógica, aos seres humanos (MOISÉS, p. 226)».

A ensaísta Mônica M. considera que «a classificação de Moisés, se aplica ao conto em questão, reitera a marca de efabulação do “texto oral” angolano».

Mônica M. faz um breve esclarecimento a respeito da lenda de Iara, «a lenda da Iara (ou Uiara) faz parte do rico imaginário ribeirinho da Amazônia – onde os rios são fonte de vida e morte, daí Ruy Barata, poeta ligado à música popular, escrever “esse rio é minha rua/minha e tua mururé/piso no peito da lua, deito no chão da maré” (BARATA, s/d)», «Mas voltemos agora à Iara, a “deusa das águas”, que vive às margens dos rios e igarapés, seduzindo os caboclos para arrastá-los ao fundo das águas».

A autora afirma que «segundo João de Jesus Paes Loureiro, a Iara – mãe-d’água – vive no fundo dos rios. Ela atrai os moços e os fascina, (…). Para seduzi-los faz promessa de todos os géneros. Para aumentar o estado de encantamento canta belas melodias com voz maviosa. Convida-os para irem com ela ao fundo das águas do rio – onde se localiza a encantaria – sob a promessa de uma eterna bem-aventurança em seu palácio, onde a vida é uma felicidade sem fim. Quem tiver visto seu rosto uma única vez nunca poderá esquecê-lo. (…), acabará por se atrair no rio em sua busca, levado pelo desejo ardoroso de juntar seu corpo ao dela (LOUREIRO, 2007). E mais adiante que «pode-se, de imediato, fazerem dialogar as narrativas, que têm suas origens ligadas ao imaginário popular. Assim verifiquemos algumas aproximações entre a senhora Peixarrão dos Confins do Espadarte e a Iara amazónica».

A ensaísta Mônica considera ainda que «em ambas narrativas, as sereias, amazónica e angolana, oferecem riquezas e promessas de bem-aventurança que acabam seduzindo. Porém, nos dois casos, os homens são atraídos por suas ambições. João Pobrezinho da Pobreza perde a mulher, morta de forma estranha (de suas costas sai um bagre de tamanho natural). Maria morre, devido a um estratagema do Peixarrão para eliminá-la, impedindo que atrapalhasse seus planos e o pacto feito com João. Depois perde o filho, levado pela sereia angolana, cumprindo o trato com ela acertado. Tal qual a Iara que leva os homens para o fundo das águas, Peixarrão submerge com João Filho: O senhor João ficou apreensivo. O seu filho não morreria mesmo debaixo d’água? Mas acabou sossegado. Quem vai com a sereia, vivo continua. Na manhã seguinte o senhor João fez-se acompanhar do filho. Cada qual num extremo da canoa. O pai arremessou a sua tarrafa. O filho imita-o. Rápido a senhora Peixarrão submerge-o. Nem um grito (ROSÁRIO, 1989, P. 34)».

Mônica Menezes conclui: «está selada a desgraça dos homens, tanto africanos como amazónicos, que se deixam enfeitiçar pelas sereias e promessas de luxúria e riquezas por elas oferecidas. O elemento mágico que interfere no futuro das personagens, nos dois contos, condiciona uma espécie de modo de vida em sociedades, nas quais ainda persistem as formas singulares de viver e “ler” o mundo».

Fonte:
Críticas e ensaios
http://www.uea-angola.org/artigo.cfm?ID=969

Efigênia Coutinho (Ser Criança)


Criança é ser
estrelas do firmamento,
pássaro ao azul do céu....
É ser sol, mar e luar.
Criança é poder
viver, saltar.
É andar todo o universo
numa roda gigante
levando alegrias,
e sonhos debaixo dos braços.

É ter sonhos de esperança,
que terminem com mutilações,
e as violações,
da dor,da fome, da guerra .
Ser criança é o sorriso,
alvo de paz,
da fala de amor.
Ser criança é ser
pequeno grande!
É ser maior sendo menor.

Fonte:
Heloísa Crespo (Organização e Programação Visual). Ciranda “Criança em Versos”. Campos dos Goytacazes/RJ, 2011. E-book cedido pela autora.

As Mil e Uma Noites (O Corcunda, o Alfaiate, o Corretor, o Cristão, o Intendente e o Médico Judeu)


Conta-se, ó rei afortunado, que vivia na antiguidade, no fundo das idades e dos séculos, numa cidade da China, um alfaiate próspero e de gênio alegre que gostava de divertimentos e passeava de vez cm quando com a mulher nos jardins e nas ruas. Certo dia, quando estavam voltando para casa após um desses passeios, cruzaram com um corcunda de aparência tão engraçada que nem a tristeza nem a melancolia podiam viver um instante na sua presença, e o homem sisudo ria gostosamente à sua vista.

Para distrair-se com sujeito tão jocoso, o alfaiate e sua mulher convidaram-no para sua casa. O corcunda aceitou. Enquanto estavam jantando, a mulher do alfaiate, querendo brincar, pegou uma posta de peixe inteira e enfiou-a na boca do corcunda; e, pondo a mão nos lábios do infeliz, obrigou-o a engoli-la. Por inclemência do destino, havia dentro da posta uma espinha enorme que atravessou a garganta do corcunda, e ele morreu na hora. Quando o alfaiate viu o corcunda morto, exclamou:

“Não há poder e força senão em Alá! Que azar que este homem tenha morrido cm nossa casa!”

- De que adianta lamentar-se! censurou a mulher. Levanta-te e ajuda-me a carregar o corpo para fora. Cubramo-lo com um pano de seda e levemo-lo agora mesmo na escuridão da noite. Andarei na frente. Tu, atrás, repetirás numa voz audível: “Este é meu filho. E esta é sua mãe. Estamos procurando um médico. Onde encontrar um médico de noite?”

Executaram imediatamente seu plano e repetiram tantas vezes: “Onde encontrar um médico? Queremos um médico” que os transeuntes indicaram-lhes a porta de um médico judeu.

Chamaram de fora e foram atendidos por uma enfermeira negra. Perguntaram: “Onde está o médico?”

Respondeu a enfermeira: “Está no segundo andar preparando um relatório.”

- Queremos que ele examine logo nosso filho. Dá-lhe este dinar adiantado e pede-lhe que desça. Assim que a enfermeira se afastou, deixando a porta aberta, o homem e a mulher entraram, largaram o corpo numa poltrona e fugiram.

Ao ver o dinar, o médico judeu ficou tão satisfeito que esqueceu de apanhar uma lâmpada e desceu a escada precipitadamente no escuro. Seu pé tropeçou, e ele caiu sobre o corcunda. Examinou-o e, achando-o sem vida, pensou que ele
próprio o tinha matado. Gritou: “Jeová! Jeová! Pelas dez palavras sagradas, como poderei livrar-me deste corpo?”

Consultou a mulher. A mulher invocou o nome de Harun, de Josué, filho de Nun, e de outros santos judeus, e gritou: “Devemos nos livrar dele já. Se for encontrado aqui ao levantar do Sol, estaremos perdidos. Vamos levá-lo até o terraço e atirá-lo para a casa de nosso vizinho muçulmano. Ele é intendente da cozinha imperial e sua casa está infestada de ratos, gatos e cachorros. Devorarão o corpo, e ninguém saberá de nada.”

Levaram o corpo até o terraço e baixaram-no mansamente até o pátio do muçulmano, deixando-o encostado na parede da cozinha. Aconteceu que, naquele mesmo momento, o intendente voltava para a casa e viu uma figura de homem apoiada na parede da cozinha. “Ah! exclamou. Não eram então os cachorros e os gatos que roubavam minhas carnes, mas este ladrão.” Pegou num porrete, aproximou-se do homem e bateu repetidamente nele. Mas a figura não se mexeu. Olhando bem, o intendente deu-se conta de que tinha batido num morto. Dirigiu-se a ele, dizendo: “Não te bastava, ó infeliz, ser corcunda? Tinhas que ser ladrão também?”

Vendo que a noite estava ainda escura, carregou o corpo até os confins do mercado e deixou-o à porta de uma loja. Ora, um corretor cristão bêbado que repetia: “Cristo está chegando! Cristo está chegando!” passou por lá e, imaginando que o corcunda queria atacá-lo, saltou sobre ele e cobriu-o de socos. Um guarda municipal acorreu e, vendo o corcunda morto, gritou: “Onde já se viu isto? Um cristão ousando matar um crente!” Amarrou o corretor e levou-o à casa do uáli. Diante da evidência, o uáli só podia condenar o cristão à forca. Os guardas levaram o condenado até a praça pública para ser enforcado. Mas enquanto preparavam a forca, o intendente da cozinha do sultão chegou, correndo e gritando: “Parai! Parai! Fui eu que matei o homem.”

Por que o mataste? perguntou-lhe o uáli.

- Encontrei-o encostado à parede de minha cozinha e pensei que fosse ele que
roubava todos os dias minhas provisões. Bati nele com um porrete, e ele morreu. Carreguei-o nas costas e deixei-o à porta da loja. Sou eu que devo ser enforcado.

Ouvindo esta confissão, o uáli ordenou aos guardas que libertassem o cristão e enforcassem o intendente. Mas enquanto preparavam a forca, apareceu de repente o médico judeu, forçou caminho no meio da multidão e gritou: “Parai! Parai! Fui eu que matei o homem. Veio à minha clínica para ser medicado. Tropecei no escuro, caí sobre ele e provoquei a sua morte.”

O uáli deu ordens para enforcar o médico judeu. Mas antes que a ordem fosse cumprida, o alfaiate chegou, gritando: “Parai! Parai! Só eu matei aquele homem. Não enforqueis um inocente. Enforcai-me.” E contou a história do jantar, da posta de peixe e da caminhada até a casa do médico.

Nesta altura, o uáli estava assombrado como nunca em toda a sua vida. Disse: “A história deste corcunda deveria ser registrada nos anais e contadas nos livros.” E mandou o carrasco libertar o judeu e enforcar o alfaiate. Ora, este corcunda era o bobo predileto do sultão. Quando sumira, o sultão perguntou por ele, e os informantes lhe contaram que ele tinha sido morto e que quatro pessoas se haviam declarado sucessivamente responsáveis por sua morte. Divertido e curioso, o sultão mandou que ninguém fosse enforcado e que todos comparecessem diante dele. O mensageiro do sultão chegou minutos antes que o
alfaiate fosse enforcado. Libertaram-no, e todos foram à presença do sultão.

O uáli beijou a terra entre as mãos do sultão e contou-lhe a história do corcunda, do início ao fim. O sultão ficou maravilhado, riu gostosamente e mandou o historiador do palácio registrar essa história em letras de ouro líquido. Depois, perguntou a todos os presentes: “Já ouvistes histórias iguais a esta?” O corretor cristão, o intendente, o médico judeu e o alfaiate aproximaram-se um por um, beijaram a terra entre as mãos do sultão e contaram histórias supostamente iguais à do corcunda. O sultão gostou de todas elas, mas não conseguiu superar a melancolia que se tinha apoderado pouco a pouco dele por causa da morte de seu bobo predileto.

Havia entre os presentes um barbeiro. Após ouvir as diversas histórias e ter sido informado da causa da morte do corcunda, abanou a cabeça gravemente e disse: “Por Alá! Esta é a coisa mais extraordinária que já ouvi. Levantai o pano que cobre o corpo do defunto e deixai-me vê-lo.” Assim que o corpo foi descoberto, o barbeiro aproximou-se dele, sentou-se a seu lado e colocou-lhe a cabeça sobre os joelhos. Após observar-lhe atentamente a face por muito tempo, soltou alegres gargalhadas e disse: “Ó afortunado rei, jura que há ainda vida neste corpo. Vou prová-lo.” Tirou de um frasco um ungüento que passou sobre o pescoço do corcunda. Depois, introduziu-lhe na garganta um par de pinças de ferro e retirou a posta de peixe com a espinha. Imediatamente, o corcunda tossiu fortemente, abriu os olhos e levantou-se, proclamando:

“Não há Deus senão Alá, e Maomé é o profeta de Alá.”

Os presentes ficaram pasmos e cheios de admiração pelo barbeiro. O rei elogiou-o, dizendo: “Nunca vi um homem ressuscitar outro homem. É o prodígio dos prodígios!”

Todos repetiram:
“É o prodígio dos prodígios!”

O rei da China mandou escrever a história do corcunda e do barbeiro em letras de ouro para ser guardada na biblioteca real. E distribuiu vestes de honra a todos os réus: ao alfaiate, ao médico, ao intendente, ao corretor, e deu-lhes lugares de honra em sua corte. Finalmente, cobriu o corcunda e o barbeiro de presentes valiosos, nomeou o corcunda seu companheiro oficial e o barbeiro, seu barbeiro pessoal. E todos saíram satisfeitos e pedindo as bênçãos de Alá sobre o sultão.
––––––––-
Nota:
Uáli: governante acima de prefeito e abaixo de governador.

continua…

Fonte:
Domínio Público

Antonia Rodrigues Ferreira (Toda Criança é Bela)


É magia no silêncio
Com paz e tranqüilidade
Ao entrar no novo mundo
Desperta serenidade
É um ser muito inocente
Seja em qualquer ambiente
Traz muita felicidade.

Junção de duas sementes
Dentro da flor perfumada
Nasce a linda florzinha
Que será bem cultivada
Dada por Nosso Senhor
Regada com muito amor
Bem na hora da chegada.

A criança é sinônimo
De virtude e de pureza
Se expressa livremente
No meio da natureza
É bastante inteligente
Geralmente está contente
Com sorriso e beleza.

Criança não tem maldade
É faceira e singela
Todavia é verdadeira
O tempo é quem revela
Só precisa de carinho
Não sair do bom caminho
Toda criança é bela.

Criança é favo de mel
A alegria do lar
É fonte de inspiração
Igual ao céu e o mar
Gosta de ganhar presente
Corre e pula sorridente
Seja em qualquer lugar.

Quando é estudiosa
Certamente irá vencer
Terá futuro brilhante
O mundo irá conhecer
Criança é liberdade
Sempre quer só a verdade
Precisa se defender.

Do Brasil, do mundo inteiro
Desejo a toda criança
Sucesso no seu estudo
Jamais perca a esperança
Portanto é sua riqueza
Digo com muita firmeza
Sua verdadeira herança.

Dia doze de outubro
Com festa e poesia
A criança é festejada
Tem fila de cortesia
Abraço de boa sorte
Orientando o seu norte
Claro com muita alegria.

Fonte:
Heloísa Crespo (Organização e Programação Visual). Ciranda “Criança em Versos”. Campos dos Goytacazes/RJ, 2011. E-book cedido pela autora.

Casimiro de Abreu (As Primaveras) Parte 4


A VALSA - A M***

Tu, ontem
Na dança
Que cansa,
Voavas
Co’as faces
Em rosas
Formosas
De vivo,
Lascivo
Carmim;
Na valsa,
Corrias,
Fugias,
Ardente,
Contente,
Tranqüila,
Serena,
Sem pena
De mim!
Quem dera
Que sintas
As dores
De amores
Que louco
Senti!
Quem dera
Que sintas!...
- Não negues
Não mintas...
- Eu vi!...

Valsavas:
- Teus belos
Cabelos,
Já soltos,
Revoltos,
Saltavam,
Voavam,
Brincavam
No colo
Que é meu;
E os olhos
Escuros
Tão puros,
Os olhos
Perjuros
Volvias,
Tremias,
Sorrias,
P’ra outro
Não eu!
Quem dera
Que sintas
As dores
De amores
Que louco
Senti!
Quem dera
Que sintas!...
- Não negues,
Não mintas...
- Eu vi!...
Meu Deus!
Eras bela
Donzela,
Valsando,
Sorrindo,
Fugindo,
Qual silfo
Risonho
Que em sonho
Nos vem!
Mas esse
Sorriso
Tão liso
Que tinhas
Nos lábios
De rosa,
Formosa,
Tu davas,
Mandavas
A quem?!
Quem dera
Que sintas
As dores
De amores

Que louco
Senti!
Quem dera
Que sintas!...
- Não negues,
Não mintas...
- Eu vi!...
Calado,
Sozinho,
Mesquinho,
Em zelos
Ardendo,
Eu vi-te
Correndo
Tão falsa
Na valsa
Veloz!
Eu triste
Vi tudo!
Mas mudo
Não tive
Nas galas
Das salas,
Nem falas,
Nem cantos,
Nem prantos,
Nem voz!
Quem dera
Que sintas
As dores
De amores
Que louco
Senti!
Quem dera
Que sintas!...
Não mintas!...
- Não negues,
- Eu vi!...
Na valsa
Cansaste;
Ficaste
Prostrada,
Turbada!
Pensavas,
Cismavas,
E estavas
Tão pálida
Rosa
Mimosa
No vale
Do vento
Cruento
Batida,
Caída

Sem vida
No chão!
Quem dera
Que sintas
As dores
De amores
Que louco
Senti!
Quem dera
Que sintas!...
- Não negues,
Não mintas...
- Eu vi!...
Rio - 1858

NO LAR


I

Longe da pátria, sob um céu diverso
Onde o sol como aqui tanto não arde,
Chorei de saudades do meu lar querido
- Ave sem ninho que suspira à tarde. -
No mar - de noite - solitário e triste
Fitando os lumes que no céu tremiam,
Ávido e louco nos meus sonhos d’alma
Folguei nos campos que meus olhos viam.
Era pátria e família e vida e tudo,
Glória, amores, mocidade e crença,
E, todo em choros, vim beijar as praias
Por que chorara nessa longa ausência.
Eis-me na pátria, no país das flores,
- O filho pródigo a seus lares volve,
E consertando as suas vestes rotas,
O seu passado com prazer revolve! -
Eis meu lar, minha casa, meus amores,
A terra onde nasci, meu teto amigo,
A gruta, a sombra, a solidão, o rio
Onde o amor me nasceu - cresceu comigo.
Os mesmos campos que eu deixei criança,
Árvores novas... tanta flor no prado!...
Oh! como és linda, minha terra d’alma,
- Noiva enfeitada para o seu noivado! -
Foi aqui, foi ali, além... mais longe,
Que eu sentei-me a chorar no fim do dia;
- Lá vejo o atalho que vai dar na várzea...
Lá o barranco por onde eu subia!...

Acho agora mais seca a cachoeira
Onde banhei-me o infantil cansaço...
- Como está velho o laranjal tamanho
Onde eu caçava o sanhaçu a laço!...
Como eu me lembro dos meus dias puros!
Nada me esquece!... e esquecer quem há de?...
- Cada pedra que eu palpo, ou tronco, ou folha
Fala-me ainda dessa doce idade !
Eu me remoço recordando a infância,
E tanto a vida me palpita agora
Que eu dera oh! Deus! a mocidade inteira
Por um só dia do viver d’outrora!
E a casa?... as salas, este móveis... tudo,
O crucifixo pendurado ao muro...
O quarto do oratório... a sala grande
Onde eu temia penetrar no escuro!...
E ali... naquele canto... o berço amado!
E minha mana, tão gentil, dormindo!
E mamãe a contar-me histórias lindas
Quando eu chorava e a beijava rindo!
Oh! primavera ! oh! minha mãe querida!
Oh! mana! - anjinho que eu amei com ânsia -
Vinde ver-me, em soluços - de joelhos -
Beijando em choros este pó da infância !

II

Meu Deus ! eu chorei tanto lá no exílio !
Tanta dor me cortou a voz sentida,
Que agora neste gozo de proscrito
Chora minh’alma e me sucumbe a vida !
Quero amor! quero vida! e longa e bela
Que eu, Senhor ! não vivi - dormi apenas !
Minh’alma que se expande e se entumece
Despe seu luto nas canções amenas.
Que sede que eu sentia nessas noites !
Quanto beijo roçou-me os lábios quentes!
E, pálido, acordava no meu leito
- Sozinho - e órfão das visões ardentes!
Quero amor! quero vida! aqui, na sombra,
No silêncio e na voz desta natura;
- Da primavera de minh’alma os cantos
Caso co’as flores da estação mais pura.
Quero amor! quero vida! os lábios ardem...
Preciso as dores dum sentir profundo !

- Sôfrego a taça esgotarei num trago
Embora a morte vá topar no fundo.
Quero amor ! quero vida ! Um rosto virgem,
- Alma de arcanjo que me fale de amores,
Que ria e chore, que suspire e gema
E doure a vida sobre um chão de flores.
Quero amor ! quero amor ! - Uns dedos brancos
Que passem a brincar nos meus cabelos;
Rosto lindo de fada vaporosa
Que dê-me vida e que me mate em zelos !
Oh! céu de minha terra - azul sem mancha -
Oh! sol de fogo que me queima a fronte,
Nuvens douradas que correis no ocaso,
Névoas da tarde que cobris o monte;
Perfumes da floresta, vozes doces,
Mansa lagoa que o luar prateia,
Claros riachos, cachoeiras altas,
Ondas tranqüilas que morreis na areia;
Aves dos bosques, brisas das montanhas,
Bentevis do campo, sabiás da praia,
- Cantai, correi, brilhai - minh’alma em ânsias
Treme de gozo e de prazer desmaia!
Flores, perfumes, solidões, gorjeios,
Amor, ternura - modulai-me a lira!
- Seja um poema este ferver de idéias
Que a mente cala e o coração suspira.
Oh! mocidade! Bem te sinto e vejo!
De amor e vida me transborda o peito...
- Basta-me um ano!... e depois... na sombra...
Onde tive o berço quero ter meu leito!
Eu canto, eu choro, eu rio, e grato e louco
Nos pobres hinos te bendigo, oh! Deus!
Deste-me os gozos do meu lar querido...
Bendito sejas! - vou viver c’os meus!
Indaiaçu - 1857

MORENINHA

Moreninha Moreninha,
Tu és do campo a rainha,
Tu és senhora de mim;
Tu matas todos d’amores,
Faceira, vendendo as flores
Que colhes no teu jardim.
Quando tu passas n’aldeia

Diz o povo à boca cheia:
- “Mulher mais linda não há!
“Ai! vejam como é bonita
“Co’as tranças presas na fita,
“Co’as flores no samburá!” -
Tu é meiga, és inocente
Como a rola que contente
Voa e folga no rosal;
Envolta nas simples galas,
Na voz, no riso, nas falas,
Morena - não tens rival!
Tu, ontem, vinhas do monte
E paraste ao pé da fonte
À fresca sombra do til;
Regando as flores sozinha,
Nem tu sabes, Moreninha,
O quanto achei-te gentil!
Depois segui-te calado
Como pássaro esfaimado
Vai seguindo a juriti;
Mas tão pura ias brincando,
Pelas pedrinhas saltando,
Que eu tive pena de ti!
E disse então: - Moreninha,
Se um dia tu fores minha,
Que amor, que amor não terás!
Eu dou-te noites de rosas
Cantando canções formosas
Ao som dos meus ternos ais.
Morena, minha sereia,
Tu és a rosa da aldeia,
Mulher mais linda não há;
Ninguém t’iguala ou t’imita
Co’as tranças presas na fita,
Co’as flores no samburá!
Tu és a deusa da praça,
E todo homem que passa
Apenas viu-te... parou!
Segue depois seu caminho
Mas vai calado e sozinho
Porque sua alma ficou!
Tu és bela, Moreninha,
Sentada em tua banquinha
Cercada de todos nós;
Rufando alegre o pandeiro,
Como a ave no espinheiro
Tu soltas também a voz:
- “Oh quem me compra estas flores?
“São lindas como os amores,

“Tão belas não há assim;
“Foram banhadas de orvalho,
“São flores do meu serralho,
“Colhi-as no meu jardim.”-
Morena, minha Morena,
És bela, mas não tens pena
De quem morre de paixão!
- Tu vendes flores singelas
E guarda as flores belas,
As rosas do coração?!...
Moreninha, Moreninha,
Tu és das belas rainha,
Mas nos amores és má;
- como tu ficas bonita
Co’as tranças presas de fita,
Co’as flores no samburá!
Eu disse então: - “Meus amores,
“Deixa mirar tuas flores,
“Deixa perfumes sentir!”
Mas naquele doce enleio,
Em vez das flores, no seio,
No seio te fui bulir!
Como nuvem desmaiada
Se tinge de madrugada
Ao doce albor da manhã;
Assim ficaste, querida,
A face em pejo acendida,
Vermelha como a romã!
Tu fugiste, feiticeira,
E de certo mais ligeira
Qualquer gazela não é;
Tu ias de saia curta...
Saltando a moita de murta
Mostraste, mostraste o pé!
Ai! Morena, ai! meus amores,
Eu quero comprar-te as flores,
Mas dá-me um beijo também;
Que importam rosas do prado
Sem o sorriso engraçado
Que a tua boquinha tem?...
Apenas vi-te, sereia,
Chamei-te - rosa da aldeia -
Como mais linda não há.
- Jesus! Como eras bonita
Co’as tranças presas na fita,
Co’as flores no samburá!
Indaiaçu - 1857

BORBOLETA

Borboleta dos amores,
Como a outra sobre as flores,
Porque és volúvel assim?
Porque deixas, caprichosa,
Porque deixas tu a rosa
E vais beijar o jasmim?
Pois essa alma é tão sedenta
Que um só amor não contenta
E louca quer variar?
Se já tens amores belos,
P’ra que vais dar teus desvelos
Aos goivos da beira-mar?
Não sabes que a flor traída
Na débil haste pendida
Em breve murcha será?
Que de ciúme fenece
E nunca mais estremece
Aos beijos que a brisa dá?...
Borboleta dos amores,
Como a outra sobre as flores,
Porque és volúvel assim?
Porque deixas, caprichosa,
Porque deixas tua a rosa
E vais beijar o jasmim?!
Tu vês a flor da campina,
E bela e terna e divina,
Tu dá-lhe o que essa alma tem;
Depois, passado o delírio,
Esqueces o pobre lírio
Em troca duma cecém!
Mas tu não sabes, louquinha
Que a flor que pobre definha
Merece mais compaixão?
Que a desgraça precisa,
Como sopro da brisa,
Os ais do teu coração?
Borboleta dos amores,
Como a outra sobre as flores,
Porque és volúvel assim?
Porque deixas, caprichosa,

Porque deixas tua a rosa
E vais beijar o jasmim?!
Se a borboleta dourada
Esquece a rosa encarnada
Em troca duma outra flor;
Ela - a triste, molemente
Pendida sobre a corrente,
Falece à míngua d’amor.
Tu também, minha inconstante,
Tens tido mais dum amante
E nunca amaste a um só!
Eles morrem de saudade
Mas tu na variedade
Vais vivendo e não tens dó!
Ai! és muito caprichosa!
Sem pena deixas a rosa
E vais beijar outras flores;
Esqueces os que te amam...
Por isso todos te chamam:
- Borboleta dos amores!
Rio - 1858

Fonte:
ABREU, Casimiro de. As Primaveras. São Paulo: Livraria Editora Martins S/A co-edição Instituto Nacional do Livro, 1972. Texto-base digitalizado por Raquel Sallaberry Brião.

Milton Souza (Sou Criança)


Sou criança... sou futuro...
meu passo não é seguro
pois é passo de aprendiz.
Preciso alguém ao meu lado
pois sei que fui programado,
por Deus, para ser feliz.

Preciso alguém que me ensine,
porém que não me domine
nem tente me bitolar.
Preciso alguém com carinho
para mostrar-me o caminho
que a vida tenta me dar.

Preciso alguém que me entenda,
que não queira pôr emenda
no sonho que vou sonhar.
Preciso alguém com paciência
que troque sua experiência
por meu direito de errar.

Preciso da mão amiga
que socorre na fadiga,
que procura estar por perto;
que corrige sem magoar,
sabendo valorizar
o pouquinho que for certo.

Preciso ter liberdade
para chorar a vontade
ou rir sem inibição;
para ter o meu segredo,
para poder sentir medo
sem sofrer humilhação.

Preciso de um lar amigo
para me servir de abrigo
no meu tempo de crescer.
Preciso ter segurança
para poder ser criança
e como criança viver.

Sou criança... sou carente...
ao construir o presente
eu peço tanto favor...
Mas se de mim depender
no futuro vai nascer
um mundo pleno de amor!!!

Fonte:
Heloísa Crespo (Organização e Programação Visual). Ciranda “Criança em Versos”. Campos dos Goytacazes/RJ, 2011. E-book cedido pela autora.

Ivan Carlo (Manual de Redação Jornalística) Parte 7


CAPÍTULO 6
O TÍTULO, O ENTRETÍTULO, O SUBTÍTULO, O CRÉDITO

Título

Segundo o Manual Geral de Redação da Folha de São Paulo, o título deve: “despertar a atenção do leitor para o tema de trata. Deve ser uma síntese precisa da informação mais importante do texto e destacar o particular em detrimento do geral.

Norma geral:
É proibido colocar dois pontos, ponto, ponto de interrogação, reticências, travessão ou parênteses,

Deve-se evitar a reprodução literal das palavras iniciadas no texto;

Deve conter necessariamente verbo, sempre que possível na voz ativa;

Deve estar no tempo presente, exceto quando o texto se referir a fatos distantes no futuro ou no passado”.

Entretítulo

Os entretítulos são títulos colocados no meio do texto para ajudar a separar e organizar as informações.

Subtítulo

O subtítulo é um texto curto, colocado logo abaixo do título, para esclarecer melhor qual é o assunto da matéria.

Crédito
O crédito é o nome de quem fez a matéria. Geralmente aparece no início da matéria, em destaque. Mas pode vir também no final da matéria, entre parênteses.

EXEMPLO

A seguir apresento um exemplo de uma matéria científica sobre o parentesco genético entre árabes e judeus. Tente perceber nela os vários elementos que já estudamos até agora:

1) Descubra qual dos parágrafos é o lide da matéria.

2) Quantas informações importantes da matéria estão reunidas no lide?

3) O texto responde as seis perguntas? O que? Quem? Quando? Onde? Como? Por quê? Como?

4) Como estão organizadas as citações? Quem fala? Como essa fala é apresentada ao leitor?

5) Há uma parte da matéria que pode ser facilmente cortada sem que isso prejudique a compreensão do leitor. Qual é essa parte?

6) Qual é o título? Qual é o subtítulo? Quais são os entretítulos? Qual é o crédito?

7) O texto dá alguma opinião sobre o assunto? Ele defende algum ponto de vista ou se limita a repassar as informações e as falas dos personagens?

8) Como estão organizadas as informações? Através de frases curtas, com períodos simples, parágrafos curtos, ou através de frase longas, com períodos compostos e grandes parágrafos?

Árabes e judeus têm origem genética comum, diz estudo Pesquisa divulgada ontem afirma que "irmãos" genéticos teriam um ancestral comum
MARCELO STAROBINAS E PAULO DANIEL FARAH

Mais que "primos", árabes e judeus podem ser considerados irmãos geneticamente e teriam um ancestral comum, segundo estudo divulgado ontem.Pesquisadores norte-americanos, europeus, israelenses e sul-africanos analisaram 1.371 homens de várias partes do mundo, incluindo o Oriente Médio, a Europa e a África, para observar eventuais similaridades genéticas e tentar traçar suas origens.

O estudo observou um grupo de genes do cromossomo Y (presente exclusivamente nos homens) e chegou à conclusão de que judeus e árabes compartilham genes semelhantes.

"Os judeus são os irmãos genéticos de palestinos, sírios e libaneses, e todos eles compartilham uma linha genética comum que se estende até milhares de anos", afirmam os pesquisadores na revista "Proceedings of the National Academy of Sciences", publicação da Academia Nacional de Ciências dos EUA.

Sérgio Dani, médico e geneticista molecular ligado à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo em Ribeirão Preto, analisou a pesquisa, a pedido da Folha, e disse que o estudo leva a crer realmente que árabes e judeus são "irmãos".

O trabalho reforça a antiga tese de parentesco. Os dois povos – que eventualmente costumam se chamar de "primos"- são de origem semita e da mesma região. O árabe e o hebraico pertencem à mesma família linguística. E as crenças religiosas do judaísmo, do cristianismo e do islamismo apontam para um "pai" comum: Abraão (leia texto abaixo).

No final do século 19, surgiu o movimento sionista. Sua idéia central era levar os judeus espalhados pelo mundo à Palestina para formar um Estado judeu, o que gerou disputas pela terra com palestinos que ali viviam. Mais intensamente após a criação do Estado de Israel, em 1948, fraternidade é uma palavra de raras aparições na história das relações entre os "irmãos genéticos" do Oriente Médio.

Israelenses e palestinos negociam há quase uma década um acordo de paz definitivo. Israel anunciou uma retirada do sul do Líbano até 7 de julho, e o governo discute com a Síria um acordo para estabelecer relações diplomáticas.

Paz
Já houve tréguas nessa guerra entre irmãos. Na Península Ibérica, judeus e árabes (muçulmanos e cristãos) tiveram convivência muito mais pacífica -acompanhada de uma significativa produção científica e literária- , até a expulsão da Espanha de 1492. As negociações de paz em desenvolvimento no Oriente Médio, que obtiveram importantes avanços, apesar dos ataques de extremistas de ambas as partes, levam à esperança de um fim ao fratricídio deste século.

"A estreita afinidade (genética) entre judeus e não-judeus do Oriente Médio observada apóia a hipótese de uma origem comum", diz Michael Hammer, da Universidade de Tucson, no Arizona (EUA), principal responsável pelo estudo divulgado ontem.

Bomba étnica
Israel teria abortado o desenvolvimento de uma "bomba étnica" – armamento que seria capaz de matar apenas seus inimigos árabes- por causa das características genéticas semelhantes. O projeto poderia atingir judeus, segundo pesquisadores de um instituto biológico da cidade de Nes Tziona (próxima a Tel Aviv) ouvidos pelo jornal britânico "Sunday Times", em novembro de 1998. Israel teria aproveitado pesquisas iniciadas durante o apartheid na África do Sul. Na década de 80, o governo segregacionista da minoria branca tentou desenvolver uma arma biológica que atingisse apenas a população negra. O governo israelense nunca confirmou a existência desses estudos. A análise genética demonstra ainda que os judeus tiveram pouca miscigenação com outros povos.
––––-
continua…

Fonte:
Virtualbooks
www.terra.com.br/virtualbooks

José Walter Pires (Ser Criança)


A Eric, meu filho, ao me pedir um dia para inventar uma poesia para ele.

O que é mesmo ser criança?
O que é – vou responder:
É ter o afeto dos pais
Ser livre para crescer
Garantindo o seu direito
De sorrir, brincar, crescer

É ter muitos amiguinhos
Estudar com alegria
Aprendendo muitas coisas
Ensinadas todo dia
Pelas mestras carinhosas
Com muita sabedoria

Ser criança é ser um rei
Deputado ou Presidente
Pra criar um novo mundo
Sendo deste diferente
A esperança do futuro
Que se forja no presente

Ser criança é ser igual
Não existe diferença
Como a lei diz no seu texto
Ou também de qualquer crença
Quem maltrata uma criança
Não merece recompensa

A criança é, finalmente,
Um artista criativo
Alegria da família
E peralta muito ativo
Se criança não existisse
Viver não teria motivo.

Fonte:
Heloísa Crespo (Organização e Programação Visual). Ciranda “Criança em Versos”. Campos dos Goytacazes/RJ, 2011. E-book cedido pela autora.