domingo, 8 de julho de 2012

José de Alencar (Lucíola)


Análise

Lucíola é o quinto romance de Alencar e o primeiro da trilogia que ele denominou de "perfis de mulheres" (Lucíola, Diva e Senhora). Situa-se entre seus romances urbanos que representam um levantamento da nossa vida burguesa do século passado. A obra, publicada em 1862, é um romance de amor bem ao sabor do Romantismo, muito embora uma ou outra manifestação do estilo Realista aí se faça presente. Trata-se de um romance de "primeira pessoa", ou seja, o narrador da história é um personagem importante da mesma, Paulo Silva. E ele a narra em cartas dirigidas a uma senhora, G. M. (pseudônimo de Alencar), que as publica em livro com o título de Lucíola. Fixam o  Rio de Janeiro da época, com a sua fisionomia burguesa e tradicional, com uma sociedade endinheirada que freqüentava o Teatro Lírico, passeava à tarde na Rua do Ouvidor e à noite no Passeio Público, morava no Flamengo, em Botafogo ou Santa Teresa e era protagonista de dramas de amor que iam do simples namoro à paixão desvairada.

 Em todos os romance urbanos, Alencar aborda o amor como tema central. Ou, para ser mais exato, "aborda a situação social e familiar da mulher, em face do casamento e do amor". Mas o amor como o entendia a mentalidade romântica da época, um amor sublimado, idealizado, capaz de renúncias, de sacrifícios, de heroísmos e até de crimes, mas redimindo-se pela própria força acrisoladora de sua intensidade e de sua paixão.

 Subjetivismo - O mundo do romântico gira em torno de seu "eu": do que ele sente, do que ele pensa, do que ele quer. Por isso o poeta e o personagem na ficção romântica estão em contínua desarmonia com os valores e imposições da sociedade e/ou da família. 

 Em Lucíola encontram-se pelo menos duas grande manifestações desse subjetivismo romântico. 

A primeira grande manifestação de subjetivismo está na própria estrutura narrativa do romance. Trata-se de um romance de "primeira pessoa", em que a história é narrada do ponto de vista de uma só pessoa. No caso, Paulo. Tudo gira em torno do que ele viu, pensou, sentiu junto a Lúcia. Tudo, portanto, muito individual. Já no capítulo I, Paulo esclarece que escreveu essas páginas para se justificar perante uma senhora que estranhou "a minha (dele) excessiva indulgência pelas criaturas infelizes, que escandalizam a sociedade com a ostentação do seu luxo e extravagância." Para isso , "escrevi as páginas que lhe envio, as quais a senhora dará um título e o destino que merecerem. É um "perfil de mulher" apenas esboçado."

A segunda considerável manifestação de subjetivismo está na oposição indivíduo x sociedade. No romance, Paulo e Lúcia ora se insurgem contra as convenções sociais: "Que me importa o que pensam a meu respeito?", ora satisfazem essas mesmas convenções, embora sempre reafirmando o próprio "eu" e fazendo a sua personalidade. 
- "... Há certas vidas que não se pertencem, mas à sociedade onde existem. Tu  és um celebridade pela beleza. O público, em troca do favor e admiração e que cerca os sue ídolos, pede-lhes conta de todas as sua ações. Quer saber por que agora andas tão retirada." 
- "Ah! esquecia que uma mulher como eu não se pertence; é uma coisa pública, um carro de praça que não pode recusar quem chega..." 

 Exaltação do amor - Em Lucíola, a temática central está exatamente na exaltação do amor como força purificadora, capaz de transformar uma prostituta numa amante sincera e fiel.

 "- o amor purifica e dá sempre um novo encanto ao prazer. Há' mulheres que amam toda a vida; e o seu coração, em vez de gastar-se e envelhecer, remoça como natureza quando volta a primavera."
"Tive força para sacrificar-lhes outrora o meu corpo virgem; hoje depois de cinco anos de infâmia, sinto que não teria a coragem de profanar a castidade de minha alma. Não sei o que sou, sei que começo a viver, que ressuscitei agora., disse Lúcia após sentir a afeição de Paulo."  

 E o romance termina com esta patética exaltação do amor, balbuciada por uma prostituta regenerada por esse mesmo amor, momentos antes de sua morte: "Eu te amei desde o momento em que te vi! Eu te amei por séculos nestes poucos dias que passamos juntos na terra. Agora que a minha vida se conta por instantes, amo-te em cada momento por uma existência inteira. Amo-te ao mesmo tempo com todas as afeições que se pode ter neste mundo. Vou te amar enfim por toda a eternidade."

 Amor e morte - O romance é impregnado da idéia de morte pois Lúcia está continuamente a se queixar de uma doença misteriosa que Paulo não compreende nem aceita, supondo-se tratar-se de refinada desculpa para não se entregar a ele sexualmente. Lúcia não acredita nem admite que uma mulher como ela possa usufruir das alegrias e gozos do amor conjugal, dando ao esposo "o mesmo corpo que tantos outros tiveram". Seria uma profanação do verdadeiro amor. "O amor!... o amor para uma mulher como eu seria a mais terrível punição que Deus poderia infligir-lhe! Mas o verdadeiro amor d'alma." 

 Diante, portanto, da impossibilidade de realização de um amor puro, só resta a Lúcia, como personagem de um romance genuinamente romântico, uma saída: a morte. Nem mesmo um filho ela merece, pois seria o fruto de um amor vilipendiado. "Um filho, se Deus mo desse, seria o perdão da minha culpa! Mas sinto que ele não poderia viver no meu seio!" E, numa atitude típica de heroína romântica, Lúcia anseia morrer nos braços do homem amado: "Ainda quando soubesse que morreria nos seus braços... Que morte mais doce podia eu desejar!"  "... desejava que fosse possível morrermos assim um no outro... uma só vida extinguindo-se num só corpo!". E assim se fez. Morreu ao lado do ser amado, dizendo-lhe: "vou te amar enfim por toda a eternidade. (...) Recebe-me... Paulo!"

 Sentimentalismo melancólico - Em Lucíola um mínimo contratempo é o suficiente para lançar Lúcia ou Paulo na mais profunda tristeza. Numerosas passagens do romance colocam o leitor diante de quadros profundamente melancólicos. Como esta: 

"Foi terrível. Meu pai, minha mãe, meus manos, todos caíram doentes: só havia em pé minha tia e eu. Uma vizinha que viera acudir-nos, adoecera à noite e não amanheceu. Ninguém mais se animou a fazer-nos companhia. Estávamos na penúria; algum dinheiro que nos tinham emprestado mal chegara para a botica. O médico, que nos fazia a esmola de tratar, dera uma queda de cavalo e estava mal. Para cúmulo de desespero, minha tia uma manhã não se pôde erguer da cama; estava também com a febre. Fiquei só! Uma menina de 14 anos para tratar de seis doentes graves, e achar recursos onde os não havia. Não sei como não enlouqueci."

 E esta outra, onde Lúcia se fez passar por uma amiga morta para aliviar o sofrimento dos pais: "Lúcia morreu tísica; quando veio o médico passar o atestado, troquei os nosso nomes., Meu pai leu no jornal o óbito de sua filha; e muitas vezes o encontrei junto dessa sepultura onde ele ia rezar por mim, e eu pela única amiga que tive neste mundo. Morri pois para o mundo e para minha família. Meus pais choravam sua filha morta; mas já não se envergonhavam de sua filha prostituída."

 Muitas das atitudes tomadas por Paulo ou Lúcia são próprias de pessoas que se deixam guiar pelo sentimento. Esta, por exemplo, esquisita e inexplicável de Lúcia "- Iremos juntos!... murmurou descaindo inerte sobre as almofadas do leito. Sua mãe lhe servirá de túmulo." 

 Enfim, o romance todo, do início ao fim, está impregnado de uma atmosfera melancólico-sentimental.

Ilogismo - Os paradoxos, o comportamento ora excêntrico ora dúbio de Lúcia, ora virtuoso, ora pecaminoso que vai lançando Paulo numa dúvida angustiante: a própria duplicidade comportamental de Paulo, generoso e mesquinho, compreensivo e intransigente, correto e pilantra; tudo isso dá à intriga do romance um atrativo todo especial que, por sua vez, ora atrai ora aborrece o leitor. 

 Há ainda outras manifestações de Romantismo no romance, tais como, imaginação e fantasia, culto da natureza, senso do mistério, exagero. Mas são de  importância secundária.

Lirismo - Há um lirismo bem bucólico nesta passagem de Lucíola: "Sentamo-nos sobre a relva coberta d flores e à borda de um pequeno tanque natural, cujas águas límpidas espelhavam a doce serenidade do céu azul. Lúcia tirou do bolso seu crochê e o novelo de torçal, e continuou uma gravata que estava fazendo para mim. Enquanto ela trabalhava, eu arrancava as flores silvestres para enfeitar-lhe os cabelos; ou arrastava-me pela relva para beijar-lhe a ponta da botina que aparecia sob a orla do vestido."

 E nesta outra há graça, ternura, sentimento: "Toquei com os lábios a raiz daqueles cabelos sedosos que ondulavam com o sopro de minha respiração. Ana teve um estremecimento íntimo; e banhou-se na onda de púrpura que descendo-lhe da fronte, derramou-se pelas espáduas roseando a branca escumilha."

 Gosto pela descrição - Em Lucíola, de quando em quando aparece a natureza como a aliviar o leitor das tensões dos dramas humanos. 

 Quanto à descrição dos personagens, Alencar parece se preocupar antes com o aspecto externo para depois chegar ao temperamento.  Antes mesmo de o leitor saber quem era ela, já Alencar lhe mostrou o retrato de Lúcia no capítulo II: "Admirei-lhe do primeiro olhar um talhe esbelto e de suprema elegância. O vestido que o moldava era cinzento com orlas de veludo castanho e dava esquisito realce a um desses rostos suaves, puros e diáfanos, que parecem vão desfazer-se ao menor sopro, como os tênues vapores da alvorada. Ressumbrava na sua muda contemplação doce melancolia e não sei que laivos de tão ingênua castidade, que o meu olhar repousou calmo e sereno na mimosa aparição." Na passagem seguinte Alencar como que nos conduz do exterior ao interior de Lúcia: "O rosto suave e harmonioso, o colo e as espáduas nuas, nadavam como cisnes naquele mar de leite, que ondeava sobre formas divinas. A expressão angélica de sua fisionomia naquele instante, a atitude modesta e quase íntima, e a singeleza das vestes níveas e transparentes, davam-lhe frescor e viço de infância, que devia influir pensamentos calmos, senão puros." 

 No que concerne ao vestuário feminino é inegável a influência que Balzac exerceu em Alencar: "Lúcia fitou-se por muito tempo, e chegou-se ao espelho para dar os últimos toques ao seu traje, que se compunha de um vestido escarlate com largos folhos de renda preta, bastante decotado para deixar ver suas belas espáduas, de um filó alvo e transparente que flutuava-lhe pelo seio cingindo o colo, e de uma profusão de brilhantes magníficos capaz de tentar Eva, se ela tivesse resistido ao fruto proibido. Uma grinalda de espigas de trigo, cingia-lhe a fronte e caía sobre os ombros com a vasta madeixa de cabelos, misturando os louros cachos aos negros anéis que brincavam."

 Comparações - As comparações de Alencar, geralmente, referem-se aos personagens, ora em seus detalhes físicos, ora em seus estados de alma, ora em seus atributos morais. O segundo termo da comparação é colhido, na esmagadora maioria das vezes, de elementos da natureza: reino vegetal, animal ou mineral. Uma confirmação do que se disse está neste pequeno trecho: "Como as aves de arribação, que tornando ao ninho abandonado, trazem ainda nas asas o aroma das árvores exóticas em que pousaram nas remotas regiões, Lúcia conservava do mundo a elegância e a distinção que se tinham por assim dizer impresso e gravado na sua pessoa."

 Desarmonias - Em Lucíola, a luxúria do velho Couto, e mais tarde a prática do vício, torcem a personalidade de Lúcia. A forma refinada desse sentimento da discordância é certa preocupação com o desvio do equilíbrio fisiológico ou psíquico. Relembre-se a depravação com que Lúcia se estimula e castiga ao mesmo tempo, e cujo momento culminante é a orgia promovida por Sá - orgia espetacular, com tapetes de pelúcia escarlate, quadros vivos obscenos, flores e meia luz, ultrapassando o realismo qualquer outra cena em nossa literatura séria.

 Dentre muitos exemplos que se poderiam dar de "desarmonia" de situações, está o contraste entre Maria da Glória e Lúcia: aquela, pobre, simples, escondida; esta, rica, caprichosa, pública. Mas isso já é um conflito entre o passado e o presente.. Porém, os contrastes mais importantes na técnica narrativa do livro são aqueles relacionados com pessoas e sentimentos. De Paulo e Lúcia, naturalmente. 

 A mesma Lúcia que compôs recatadamente o roupão ante os olhos ávidos e voluptosos de Paulo que vislumbravam o simples contorno de um seio foi capaz de desfilar nua na ceia em casa do Sá. Ela é assim: contraditória. Ama e odeia. Atira-se ao vício e tende para a virtude, segundo suas próprias palavras: "Eis a minha vida... deixara-me arrastar ao mais profundo abismo da depravação; contudo, quando entrava em mim, na solidão de minha vida íntima, sentia que eu não era uma cortesã como aquelas que me cercavam. Ficaram gravados no meu coração certos germes de virtudes..."

 Também Paulo apresenta um comportamento paradoxal. Ora ele deseja violentamente Lúcia ora promete respeitá-la. Ofende-a e pede-lhe perdão; dá-lhe liberdade e a quer só para si; despreza-a e sente dela pungente ciúme; vê nela uma prostituta refinada e uma menina de quinze anos, pura e cândida. Também Paulo é contraditório: vil e magnânimo, como todo bípede implume e social chamado homem.

 Técnica narrativa - Lucíola é um romance de primeira pessoa, ou seja, quem narra a história não é Alencar diretamente. Ele o faz por meio de um personagem que viveu os episódios. No caso, esse personagem narrador é Paulo, que em cartas dirigidas a uma senhora (por quem o autor se faz passar) conta uma história de amor acontecida há seis anos entre ele e Lúcia. A senhora reuniu as cartas e delas fez o livro. "Eis o destino que lhes dou; quanto ao título, não me foi difícil achar. O nome da moça, cujo perfil o senhor me desenhou com tanto esmero, lembrou-me o nome de um inseto. "Lucíola" é o lampiro noturno que brilha de uma luz tão viva no seio da treva e à beira dos charcos. Não será a imagem verdadeira da mulher que no abismo da perdição conserva a pureza d'alma?" 

 No capítulo I, o narrador explica a razão das cartas: "A senhora estranhou, na última vez que estivemos juntos, a minha excessiva indulgência pelas criaturas infelizes, que escandalizam a sociedade com a ostentação do seu luxo e extravagâncias".

 Na estrutura narrativa de Lucíola, portanto, pode-se observar o seguinte: 

 1. há um autor real, José de Alencar; 

 2. um autor fictício, a senhora G. M., destinatária das cartas de Paulo. 

 3. Um narrador, Paulo, com a incumbência e o privilégio de ordenar os fatos, comentá-los e tirar-lhes conclusões. 

 À medida que transmite os fatos, vai fornecendo ao leitor elementos para a análise de Lúcia e dele mesmo.No romance os fatos são apresentados sob dois pontos de vista, dois ângulos diferentes: o de Paulo/personagem que transmite ao leitor as sensações vividas com Lúcia e o de Paulo/narrador que, por vezes, interrompe a narrativa fazendo reflexões ou dirigindo-se à destinatária de suas cartas.
O enredo abrange um período de aproximadamente seis meses. Foi o que durou o namoro do par romântico. Às vezes, o autor avança a narrativa com soluções bem simples: "Essa vida calma e tranqüila, remanso de uma existência tão agitada, durava cerca de um mês." Em outras, retarda-a: dedicou três capítulos para a ceia em casa de Sá (capítulos VI, VII e VIII).

Ação -  Gira em torno de uma história entre Paulo e Lúcia, com todos os ingredientes de um romance romântico: heróis e vilões, heroínas incompreendidas, virgens pálidas e meigas e cortesãs depravadas, a morte como única saída para um amor verdadeiro porém impossível, etc. 

 Em Lucíola, o núcleo central da narrativa se concentra em Paulo e Lúcia, ora como duas individualidades com passado e presente próprios, ora como o "par romântico". E se concentra com tal intensidade, (afinal o narrador é exatamente Paulo - o herói, o mocinho - que ama a Lúcia - a heroína) que os episódios envolvendo os demais personagens ficam totalmente ofuscados. 

Tempo -1855 - "A primeira vez que vim ao Rio de Janeiro foi em 1855". Numa leitura atenta, o leitor percebe no livro o Rio de Janeiro da época de D. Pedro II, com seus salões, sua burguesia, suas vitrinas chiques na Rua do Ouvidor com mercadorias elegantes vindas de Paris ou Londres, seus tílburis, seu vestuário, etc. 

 Como tempo narrativo, ele é eminentemente "cronológico". Ou seja, em Lucíola os acontecimentos se sucedem numa ordem quase normal, com  uma seqüência natural de horas, dias, meses, anos. Só há um momento em que o fluxo narrativo retroage: quando Lúcia narra a Paulo seu passado. (Cap. XVIII e XIX). E em dois momentos ele avança: o capítulo I e o finalzinho do último revelam o estado de alma de Paulo seis anos após a morte de sua querida Lúcia: "Terminei ontem este manuscrito, que lhe envio ainda úmido de minhas lágrimas. (...) Hás seis anos que ela me deixou; mas eu recebi a sua alma, que me acompanhará eternamente." 

 Lugar - O cenário onde se desenrola a ação é o Rio de Janeiro. Há referências de seus bairros (Santa Teresa), ruas (das Mangueiras), população, festas (a da Glória), teatros, lojas elegantes, etc. 

 É curiosa a relação entre os locais e o comportamento amoroso-sexual de Paulo e Lúcia, agindo aqueles no sentido de aproximação ou afastamento, de maior ou menor realização do casal. O quarto de Lúcia é um local de luxúria: "... e fazendo correr com um movimento brusco a cortina de seda, desvendou de repente uma alcova elegante e primorosamente ornada." Das várias vezes que eles se uniram sexualmente neste luxuoso aposento, nenhuma, parece, satisfez de fato o casal. A primeira delas terminou assim: "Ao delírio sucedera prostração absoluta, orgasmo da constituição violentamente abalada. Vendo então este corpo inerte e pasmo, com os olhos vítreos e as mãos crispadas, tive dó."

 O segundo encontro já foi totalmente diferente, em local e desfecho. Foi nos jardins da casa do Dr. Sá, onde Lúcia desfilara nua perante os convidados. O cenário é bem ao gosto do romantismo: a natureza. O leito é bucólico: "Fomos através das árvores até um berço de relva coberto por espesso dossel de jasmineiros em flor. Lúcia está vibrando: "- Sim! Esqueça tudo, e nem se lembre que já me visse! Seja agora a primeira vez!... Os beijos que lhe guardei, ninguém os teve nunca! Esse , acredite, são puros!" E o clímax foi aquele que só um par enamorado consegue haurir do sexo: "Não fui eu que possuí essa mulher; e sim ela que me possuiu todo, e tanto, que não me resta daquela noite mais do que uma longa sensação de imenso deleite, na qual me sentia afogar num mar de volúpia."

 Quando Lúcia passou a morar numa casa pequena e pobre, em Santa Teresa, em companhia de sua irmã Ana, menina inocente, não mais houve união carnal entre eles. É que os dois já estavam unidos por um amor espiritual. Uma afeição muito pura unia aquelas duas almas. E tanto a simplicidade do local que "lembra o espaço feliz de sua infância em São Domingos" quanto a inocência da menina não comportava mais a depravação do sexo. O seu beijo quase de irmã apenas de longe em longe bafejava-me a fronte."

Personagens - Em Lucíola uma personagem apresenta grande complexidade psicológica, a par do idealismo romântico com que foi concebida:

Lúcia - Sua principal característica é a contradição. Como cortesã era a mais depravada. Basta que se lembre da orgia romana em casa de Sá. No entanto, a prostituição era-lhe um tormento constante, já que não se entregava totalmente a ela. E os atos libidinosos constituíam para ela verdadeira autopunição aliada à angustiante sentimento de culpa. Coexistem nela duas pessoas: Maria da Glória, a menina inocente e simples, e Lúcia, a cortesã sedutora e caprichosa. No livro, sobressai a Lúcia, Lúcifer, onde aparece 348 vezes contra 10 vezes como Maria da Glória, anjo. Tal disparidade realça o motivo do romance: à proporção que Lúcia vai amando e sendo amada por Paulo, ela vai assumindo a Maria da Glória, sua verdadeira personalidade. E reencontra assim, através dele, a dignidade e inocência perdidas. Pode-se expressar essa duplicidade da seguinte maneira:
Lúcia, mulher, depravação, luxúria, sentimento de culpa, prostituição, caprichosa, excêntrica, rejeita o amor, demônio. 

Maria da Graça, menina, pureza, ingenuidade, dignidade, inocência, simples,  meiga, tende para o amor, anjo. Perdida a virgindade física, Lúcia, por meio da compreensão e amor de Paulo, tende para a virgindade do espírito. "Elas não sabem, como tu, que eu tenho outra virgindade, a virgindade do coração!" Para isso renuncia a qualquer amor sensual. Mesmo ao de Paulo, de quem fora amante e a quem passou a negar um simples beijo. Depois que ela o conheceu, não se entregou a nenhum outro homem. É por isso que não cria no amor de Margarida, de A Dama das Camélias, porque ela não negou ao seu amado Armando o corpo que tantos já haviam comprado. 

 E Lúcia recupera aos 19 anos a Maria da Glória que perdera aos 14. "Nada perturbava a serenidade de Lúcia. Parecia realmente que sua alma cândida, muito tempo adormecida na crisálida, acordara por fim, e continuara a mocidade interrompida por um longo e profundo letargo. (...) Ninguém diria que essa moça vivera algum tempo numa sociedade livre." 

 Mas essa transformação completa custou-lhe penosos sacrifícios e sobretudo muita incompreensão inicial por parte de Paulo. "Incompreensível mulher! (...) Compreendo hoje as rápidas transições que se operavam nessa mulher; mas naquela ocasião, como podia adivinhar a causa ignota que transfigurava de repente a cortesã depravada na menina ingênua, ou na amante apaixonada!"

 Seus traços físicos: cabelos e olhos pretos, a pele pálida. Sua expressão, contudo, lembra ao leitor sua dualidade de caráter: o olhar ora é "eloqüente, raio voluptuoso", ora é límpido, raio de luz de sua alma". É bem o ideal de beleza romântica, "com sua virgindade de alma tão pura e tão absoluta, que a não tisnaram os pecados do corpo. Por isso, mesmo nas horas em que mais lhe esplende a glória de cortesã, o romancista a veste simbolicamente de branco." 

 Se algum leitor não entender bem a complexidade da personagem Lúcia, como o fez Paulo no início do romance, não é de se estranhar, pois afinal ela mesma se auto-definiu: "É difícil conhecer-me; mais difícil do que pensa. Eu mesma, sei o que às vezes se passa em mim? Não repare nestas esquisitices!"

 Paulo - É um provinciano de Pernambuco, 25 anos, que veio tentar se estabelecer no Rio de Janeiro. O romance não esclarece se ele é ou não formado. Sugere apenas. É o narrador da história e como tal faz desviar a atenção do leitor para Lúcia e outros aspectos, não revelando certas informações suas. Os detalhes físico, por exemplo. Coisa, aliás, rara em José de Alencar, tratando-se de personagem central. 

 Traçando o perfil de Lúcia, ele acaba por revelar também os eu: espírito observador e sensível, foi o único a compreender o estranho caráter de Lúcia. Seu temperamento é reservado sem ser tímido:  "... é hábito meu, desde que entrei no mundo, não admitir os estranhos à intimidade de minha vida, ainda mesmo quando se trata de objetos sem conseqüência. Só dispo a minha alma entre amigos". E como ele não possui reais amigos no Rio, nuances de sua personalidade conhecem-se por deduções . 

 Suas reações psicológicas são expressas em suas reflexões: "Que miserável animalidade havia em mim naquela noite! Quando essa pobre mulher atingia o sublime do heroísmo e da abnegação, eu descia até a estupidez e à brutalidade!" Ou nessa: "Não conheço mais estúpido animal do que seja o bípede implume e social, que chamam homem civilizado." 

 A sua caminhada em direção ao amor pela heroína foi lenta. No início, o que o impelia para ela era atração sexual. Paulo, então, não a entende e transmite ao leitor suas incertezas e desconfianças. "Se eu amasse essa mulher... mas tinha apenas sede de prazer; fazia dessa moça uma idéia talvez falsa... " Tais desconfianças, por vezes, eram-lhe inoculadas pela sociedade através de alguns representantes - Dr. Sá, Sr. Couto, Cunha. "Cunha tinha razão, pensei eu; a cupidez e a avareza são as molas ocultas que movem este belo autômato de carne." E chega mesmo a ser violento e sádico com ela. Isto se deduz de várias passagens, como: "Esta noite a senhora não se pertence: é um objeto, um bem do homem que a vestiu, que a enfeitou e cobriu de jóias, para mostrar ao público a sua riqueza e generosidade." Outras vezes, sentiu foi dó: "Sentia profunda compaixão por essa mulher. O seu pranto me enterneceu; chorei com ela." Houve um período em que a afeição de ambos se arrefeceu. Paulo já a admira e dedica-lhe grande respeito e amizade: "Entramos então numa nova fase de nossa mútua existência, fase original e curiosa que me faria rir quinze dias antes. Com efeito, quem poderia julgar possível uma amizade fraternal e pura entre duas criaturas que meses antes trocavam as mais ardentes expansões da sensualidade?" Para no final devotar-lhe sincero amor a ponto de vibrar com um possível filho de ambos: " -Um filho! Mas é um novo laço e mais forte que nos prende um ao outro. Serás mãe, minha querida Maria?"

 É um ingênuo personagem romântico. Apesar de se declarar pobre e até se vexar por isso, vive byronicamente, de sonhos, de amor. 

 Os demais personagens são secundários face aos dois protagonistas.

Dr. Sá e Cunha - Amigos de Paulo, sendo aquele desde a infância. Encarnam a moral burguesa e suas máscaras: austera com os outros, benigna consigo. Não possuem personalidade bem delineada no livro. Ambos vêem em Lúcia apenas a prostituta.

Couto e Rochina - O primeiro é um velho dado a jovem galante. Encarna a obsessão sexual e a velhice. Representa a sociedade que explora e corrompe. Foi quem aproveitou a necessidade e inocência de Lúcia. O segundo é um jovem de 17 anos, tez amarrotada, profundas olheiras, velho prematuro. Libertino precoce. Eles aparecem assim no romance: "O contraste do vício que apresentavam aqueles dois indivíduos: o velho galanteador, fazendo-se criança com receio de que o supusessem caduco; e o moço devasso, esforçando-se por parecer decrépito, para que não o tratassem de menino; essa antítese vivia devia oferece ao espectador cenas grotescas."

Laura e Nina - São meretrizes, como Lúcia, mas sem sua duplicidade de caráter. Não são capazes de "descer tão baixo" porém, não possuem a "nobreza e altivez" da protagonista.

Jesuína e Jacinto - Aquela, é mulher de 50 anos, seca e já encarquilhada. Foi quem recolheu Lúcia quando seu pai a expulsou de casa e a iniciou na prostituição. Este, é um homem de 45 anos, e "vive da prostituição das mulheres pobres e da devassidão dos homens ricos". Por seu intermédio Lúcia vendia as jóias ricas que ganhava e enviava o dinheiro à família pobre. É quem mantém a ligação misteriosa no livro, entre Lúcia e Ana. Enfim, é quem cuida dos negócios dela.

Ana - É a irmã de Lúcia, que a fez educar num colégio até os doze anos como se fosse sua filha. "Era o retrato de Lúcia, com a única diferença de ter uns longos e de louro cinzento nos cabelos anelados. Ana já conhecia a irmã e a amava ignorando os laços de sangue que existiam entre ambas." Lúcia tenta casá-la com Paulo para ser uma espécie de perpetuação e concretização de seu amor por ele: "Ana te darias os castos prazeres que não posso dar-te; e recebendo-os dela, ainda os receberias de mim. Que podia eu mais desejar neste mundo?"

 Problemática apresentada - Paulo quer Lúcia, mas ele possui impedimento de aproximação; Lúcia quer Paulo, mas também possui impedimentos. É fácil, agora, entender como se arma o conflito do romance:
 Paulo x Lúcia - Há motivos de aproximação e de afastamento entre ambos. E do jogo aproximação-afastamento. Chegamos a uma composição final. A composição é desejada por ambos, mas é preciso que antes muitas arestas sejam aparadas. Não é graciosamente que o ser humano se completa a se acha, mas através de muita luta e muito erro (penitência para superação dos defeitos).

 Esta colocação do foco narrativo do romance vem confirmar idéias anteriores, onde se mostrou que a história de Paulo e Lúcia está vazada de situações desarmônicas. Tais situações podem ser melhor entendidas quando sintetizadas em algumas oposições que parecem predominar na obra como idéias centrais. Tais como:

O desnível da situação social - Em Lucíola os conflitos das personagens e entre personagens são determinados pelo confronto do indivíduo com essa sociedade.Há um desnível enorme entre a situação social de Paulo e Lúcia. Esta é prostituta e como tal é vista e rejeitada por todos, inclusive por Paulo, no início. Trata-se de um impedimento sério na aproximação de ambos. Tão sério que acaba por impedir a concretização social (casamento, geração de filhos) do amor do casal. Lúcia errou e deve pagar por isso perante a sociedade. As convenções da moralidade burguesa e da Escola Romântica assim o exigem. O casamento com final feliz do romance romântico não se realiza. Lúcia deve morrer. 

 Uma das problemáticas centrais  levantadas no livro, parece, portanto, esta: a imposição das convenções sociais, criando obstáculos ao par amoroso, sacrificando-lhe a realização de um amor que não se adequava aos seus padrões rigorosos, se bem que por vezes hipocritamente condescendentes.

O conflito entre o bem e o mal - Das muitas oposições enfocadas no livro, esta é a mais importante, agindo como base do enredo e do foco narrativo. Trata-se de um tendência própria do Romantismo que se traduz na "desarmonia" de situações e sentimentos. 

 Há uma dualidade no caráter de Lúcia: de um lado a mulher, meretriz, depravada, desprezada pela sociedade, encarnacão do MAL; de outro, a menina inocente que ainda teima em substituir nela por mais terríveis que tenham sido os imperativos do vício naquela alma. É a permanência do BEM. "Havia no meu coração certos germes de virtude que eu não podia arrancar, e que ainda nos excessos do vício não me deixavam cometer uma ação vil." E durante todo o tempo, pretende o autor convencer o leitor da "criatura angélica" que habita o corpo da pecadora, da "mulher que no abismo da perdição conserva a pureza d'alma". E é essa Lúcia de "coração virgem", purificada, que renasce nos últimos capítulos graças ao amor de Paulo. 

 A vitória do amor - E chega-se, afinal, à temática básica de Lucíola. A intriga é calcada em assunto romântico: A situação social da mulher em face do amor. Do "amor" como o concebe o Romantismo: sublimado, capaz de renúncias, de sacrifícios, de heroísmos, que está acima dos fatores sócio-econômicos, que triunfa apesar das convenções sociais. 

 Em Lucíola, o triunfo do amor não foi na linha do final feliz. Lúcia passará por um processo de transformação, ou renascimento, que fará desabrochar a adolescente pura e ingênua que fora um dia, ao mesmo tempo que irá eliminando a cortesã impudica. E a protagonista alcança, portanto, a purificação através do amor espiritual, que não pode ser contaminado e profanado pela mais leve sombra de desejo físico. É a vitória do amor, numa outra perspectiva. É a temática central do romance: o amor como força regeneradora. 

 O romance, na sua intriga e temática, bem como no posicionamento das personagens, pode ser visualizado graficamente assim: na busca mútua de Lúcia e Paulo, há personagens que se posicionam como obstáculos, no sentido de impedir o surgimento do amor dos dois: Couto, Sá, Cunha, Rochinha. Outros são basicamente neutros: Jesuína, Jacinto, Laura e Nina. E há uma, Ana, que se coloca no sentido de aproximar o par romântico, a tal ponto de, conforme o desejo de Lúcia, ser um símbolo de perpetuação, na terra, do amor do casal.

Enredo

 Paulo Silva, o personagem-narrador, é um rapaz de 25 anos, pernambucano, recém-chegado ao Rio de Janeiro, em 1855, com a intenção de aí se estabelecer. 

 No dia mesmo de sua chegada à corte (Rio de Janeiro), após o jantar, sai em companhia de um amigo para conhecer a cidade. Na rua das Mangueiras vê passar em um carro uma jovem muito bela. Um imprevisto faz parar o carro, dando a Paulo a oportunidade de repará-la melhor. Dia após, em companhia de outro amigo, o Dr. Sá, Paulo participa da festa de N. Senhora da Glória, quando lhe aparece a linda moça. Informando-se do amigo, fica sabendo tratar-se de Lúcia, a prostituta mais bela, requintada e disputada da cidade. Mas ele se impressiona com a "expressão cândida do rosto e a graciosa modéstia do gesto, ainda mesmo quando os lábios dessa mulher revelam a cortesã franca e impudente." 

 Mais ou menos um mês após sua chegada, Paulo vai à procura de Lúcia, levado, é claro pelo desejo de possuir aquela linda mulher. Após longa e agradável conversa, acaba se surpreendendo com o "casto e ingênuo perfume que respirava de toda a sua pessoa". A um mínimo lance de seus seios, "ela se enrubesceu como uma menina e fechou o roupão" discretamente. E ele, que fora quente de desejos, agora, na rua, se acha ridículo por não haver ousado mais. Além do que, o Dr. Sá lhe confirmara que "Lúcia é a mais alegre companheira que pode haver para uma noite, ou mesmo alguns dias de extravagância." 

 No dia seguinte Paulo está de volta à casa da heroína. Ao seu primeiro ataque, Lúcia se opõe com duas lágrima nos olhos. Supondo ser fingimento, mostra-se aborrecido e ela reage  atirando-se completamente nua em seus braços, já que era isso que Paulo queria. Mas no auge do prazer do sexo, Paulo percebe algo diferente nas carícias de Lúcia: mesmo no clímax do gozo, parece que ela sofria. Sente, na hora, um imenso dó, ao que ela corresponde cinicamente: "- Que importa? Contanto que tenha gozado de minha mocidade! De que serve a velhice às mulheres como eu?" Ele quer pagar-lhe, ela rejeita com um meigo aperto de mão. E ele retira-se realmente confuso com "a singularidade daquela cortesã, que ora levava a impudência até o cinismo, ora esquecia-se do seu papel no simples e modesto recato de uma senhora". 

 E as informações que lhe chegam a seu respeito são as piores. O Cunha diz que ela é "a mais bonita mulher do Rio e também a mais caprichosa e excêntrica. Ninguém a compreende. "Nunca fica muito tempo com o mesmo amante, "pois não admite que ninguém adquira direitos sobre ela." Além do mais, é avarenta. Vende tudo o que ganha. Até roupas. Para Paulo, no entanto, ela parece ser ao contrário de tudo isso. Afinal, ela finge para ele ou já o ama? Paulo fica em dúvida atroz. 

 Por aqueles dias, numa ceia em casa do Sá, com pessoas (Lúcia, Paulo, Sr. Couto, Laura, Nina, Rochinha, etc...) maldosamente convidadas para transformar a ceia em bacanal, Lúcia desfila toda nua, imitando as poses lascivas dos quadros que estavam nas paredes, ante os olhares voluptuosos dos presentes. Depois, em lágrimas, nos jardins da casa, ela se explica a Paulo. Fez aquilo por desespero, pois ele havia zombado dela momentos antes: "se o Senhor não zombasse de mim, não o teria feito por coisa alguma deste mundo..."E depois porque teria sido uma decepção total, afinal o que Sá pretendia era mostrar a seu amigo Paulo quem era Lúcia. "Não foi para isso que se deu essa ceia?! - explicou Lúcia. E os dois se amaram profundamente, lá mesmo no jardim, á luz da lua, até de madrugada. 

 Decorridos alguns dias, Paulo de certo modo passa a morar com Lúcia, e, apesar das prevenções e restrições, mais e mais se liga a ela por afeto. Lúcia, por sua vez, já ama Paulo e se entrega e ele como a um dono e senhor. Há momentos de atritos entre ambos. Passageiros, e todos causados pelo egoísmo e incompreensão de Paulo que não entende as profundas transformações que o seu afeto operou nela. E a tal ponto , que ela não suportaria mais a idéia de se lhe entregar na cama, pois sente por ele um amor muito puro e profundo. E ele, levado mais por desejo que por afeto, não consegue aceitar esse comportamento sublime. 

 As más línguas já comentam que Paulo, além de viver à custa de Lúcia, ainda a proíbe de freqüentar a sociedade. Lúcia que já então procurava viver mais retraída dispõe-se a voltar à vida mundana apenas  para salvar-lhe a reputação. Mas Paulo - complicado, sádico, estúpido e chato - não compreende. 

 Lúcia já não vibra como outrora. Mesmo quando excitada por Paulo. É a doença que já se faz sentir. Paulo não entende essa frieza e por vezes se exaspera. Ela sofre calada pois reconhece que "o amor para uma mulher como eu seria a mais terrível punição que Deus poderia infligir-lhe!". O grande sentimento que os unia, arrefece, dando lugar a uma amizade simplesmente. 

 O comportamento de Lúcia é cada vez mais sublime e heróico. Já não existe mais nada da antiga cortesã. E Paulo, por fim, entende essa nobreza de caráter e compreende o porquê das suas recusas. Ela lhe recusava o corpo porque o amava em espírito. E também porque já está doente. Paulo promete respeitá-la de ora em diante. 

 Lúcia um dia lhe revela todo o seu passado. Chamava-se Maria da Glória. Era uma menina feliz de 14 anos e morava com os pais, quando, em 1850, sobreveio a terrível febre amarela. Seus pais, os três irmãos, uma tia caíram de cama, Ela ficou só. No auge do desespero, resolveu pedir ajuda a um vizinho rico, Sr. Couto, que em troca de algumas moedas de ouro tirou-lhe a inocência. "o dinheiro ganho com a minha vergonha salvou a vida de meu pai e trouxe-nos um raio de esperança." Seu pai, porém, sabendo da origem do dinheiro, e supondo ter a filha um amante, a expulsou de casa. Sozinha, sem ter aonde ir, foi acolhida por uma mulher, Jesuína, que, quinze dias depois, à conduziu à prostituição, estipulando pela beleza de seu corpo um alto preço. O dinheiro, ela o usava para cuidar do que restava da família: "e eu tive o supremo alívio de comprar com a minha desgraça a vida de meus pais e de minha irmã". 

 Uma colega de infortúnio foi morar com ela. Chamava-se Lúcia. Tornaram-se amigas. Lúcia morreu pouco depois. No atestado de óbito, a heroína fez constar que a falecida se chamava Maria da Glória, adotando para si o nome da amiga morta. "Morri pois para o mundo e para minha família. Meus pais choravam sua filha morta; mas já não se envergonhavam de sua filha prostituída." E todo dinheiro que ganhava, destinava-o à preparação de um dote para sua irmã, Ana, a qual passou a manter num colégio interno depois da morte dos pais. 

 Agora Paulo compreende ainda melhor as atitudes misteriosas e contraditórias que Lúcia tomava como cortesã. É que esse gênero de vida lhe parecia sórdido e abjeto. Ela suportava como a um martírio, uma autopunição, uma maneira de reparar o seu pecado. Conhecido se passado heróico, ele passa a sentir por Lúcia uma grande ternura e um amor sincero. 

 Seguem-se dias tranqüilos. Lúcia muda-se para uma casinha modesta e Ana mora com ela. "isto não pode durar muito! É impossível!" É o pressentimento da morte. Lúcia tenta convencer Paulo a se casar com Ana, que já o ama também. Seria uma maneira de perpetuar o amor de ambos, já que ela se julga indigna do puro amor conjugal. Paulo rejeita com  veemência em nome do amor que não sente por Ana. 

 Lúcia aborta o filho que esperava de Paulo. Ela se recusa a tomar remédio para expelir o feto morto, dizendo "Sua mãe lhe servirá de túmulo". E já no leito de morte, recebe o juramento de Paulo prometendo-lhe cuidar de Ana como sua filha. E morre docemente nos braços de seu amado, indo amá-lo por toda a eternidade.

Fonte:
http://www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/livros/analises_completas/l/luciola

T. Grenwood (Um Mundo Brilhante)


Por Ana Lucia Santana para o Infoescola

Este livro nos revela o quanto a nossa vida pode, de repente, se transformar em uma falsa jornada, da qual deixamos de ser o protagonista. Facilmente nos convertemos em fragmentos levados ao sabor do vento e sem vontade própria, completamente distantes da felicidade almejada.

É o que ocorre com Ben Bailey, que leciona história em uma faculdade durante a manhã e atua como garçom em um bar no período noturno. Apesar de ganhar pouco por este trabalho, encontra nele um meio de alcançar a necessária catarse, como em uma terapia. Assim ele pode esquecer os problemas domésticos, a transformação de Sara, sua noiva, de uma jovem segura e positiva em uma mulher impertinente e dominadora.  Esse contexto o leva a uma profunda solidão e a um relembrar constante dos traumas de sua meninice.

Um dia ele sai de sua residência, pronto para enfrentar a neve que inicia seu despertar em Flagstaff, apanha o jornal matutino e se depara com uma cena trágica e inesquecível, um rapaz agoniza repleto de lesões, aparentemente vítima de uma violenta agressão. Sua vida não será mais a mesma.

Incapaz de tirar da sua mente o evento perturbador, Ben se dirige ao hospital e aí encontra Shadi, a irmã do jovem. Através da garota ele descobre a procedência dos dois; eles são descendentes de navajos e alimentam costumes diferentes. Ao que tudo indica o nativo foi alvo de um atentado racial, e não de um incidente comum, versão das autoridades policiais.

Indignado, o protagonista se dispõe a assessorar Shadi na busca dos criminosos, e esse gesto o inicia em uma caminhada de conhecimento interior, por meio do qual ele tenta compreender o sentido de sua vida e se realmente existe um futuro pré-determinado, fatalista.

Desta forma o jovem encontra a si mesmo, constrói sua identidade e tem a mais clara visão de seus sonhos e aspirações. Esta jornada o leva a perceber que até este momento vivia uma farsa, tanto no campo afetivo quanto no profissional, e por esta razão era definitivamente infeliz.

Esta busca inevitável cria um dilema em sua vida; ele deve priorizar o bem-estar e a satisfação pessoal ou as obrigações e encargos do dia-a-dia? O destino arquitetado há um longo tempo ou renovadas opções que lhe proporcionariam a libertação de um universo de enganos e falsidades?

T. Greenwood publicou seis livros, entre eles Two Rivers e The Hungry Season. Com sua obra conquistou diversas premiações e recursos para se devotar integralmente a sua jornada literária, abrangendo a Verba Nacional para a Literatura e as Artes e uma doação do Conselho Artístico de Maryland. A escritora reside em San Diego, na Califórnia, ao lado do marido das duas filhas; aí a autora leciona redação criativa, dedica-se a um curso de fotografia e à literatura.

Fonte Principal:
http://www.infoescola.com/livros/um-mundo-brilhante/
Fontes Consultadas:
http://www.meninadabahia.com.br/2012/06/um-mundo-brilhante-t-greenwood.html
http://www.booklanding.com.br/2012/05/resenha-um-mundo-brilhante-t-greenwood.html
http://www.editoranovoconceito.com.br/autores/detalhe/321,T.-Greenwood

Jogos Florais Cambuci/RJ - 2012 (Resultado Final)


ÂMBITO NACIONAL E INTERNACIONAL

TEMA: TURISMO (líricas, filosóficas ou humorísticas)
  
VENCEDORES (em ordem alfabética)
  
 ANTONIO AUGUSTO DE ASSIS – Maringá/PR
 CAROLINA RAMOS - Santos/SP
 CIRLÉA NEVES – Nova Friburgo/RJ
 CLENIR NEVES RIBEIRO – Nova Friburgo/RJ
 DODORA  GALINARI – Belo Horizonte/MG
 EDMAR JAPIASSÚ MAIA – Nova Friburgo/RJ
 FLÁVIO FERREIRA DA SILVA – Nova Friburgo/RJ
 GILVAN CARNEIRO DA SILVA – São Gonçalo/RJ
 HEGEL PONTES – Juiz de Fora/MG
 IVONE TAGLIALEGNA PRADO – Belo Horizonte/MG
 IZO GOLDMAN – São Paulo/SP
 JESSÉ F. DO NASCIMENTO – Angra dos Reis/RJ
 JOSÉ OUVERNEY – Pindamonhangaba/SP
 JOÃO  COSTA – Saquarema/RJ
 MARA MELINNI DE ARAÚJO GARCIA – Caicó/RN
 NEIVA  FERNANDES - Campos dos Goytacazes/RJ
 RODOLPHO ABBUD – Nova Friburgo/RJ
 RUTH FARAH N. LUTTERBACK – Cantagalo/RJ
 SEBAS  SUNDFELD – Tambaú/SP
 ZENI DE BARROS LANA - Belo Horizonte/MG
  
ÂMBITO REGIONAL = TEMA: SIMPLICIDADE

VENCEDORES (em ordem alfabética)
  
 ANA HELENA MONTEIRO VIEIRA - Cambuci
 CARLOS HENRIQUE QUEIROZ CONCEIÇÃO - São Sebastião do Alto
 CELMA LEAL DE AZEVEDO - Cambuci
 CELSO LUIZ FERNANDES CHAVES - Cambuci
 DINÁ TERRA PEIXOTO - Cambuci
 ÉSTIA BAPTISTA LIMA - Cambuci
 FERNANDO TERRA PEIXOTO - Cambuci
 FRANCISCA ISABEL BASTOS ALMEIDA - Cambuci
 IRACI PIETRANI - São Sebastião do Alto
 JOMAR DIAS DOMINGUES - Santa Maria Madalena
 JOSÉ CARLOS QUEIROZ DA CONCEIÇÃO - São Sebastião do Alto
 LUCIANA  FERREIRA BORGES - Cambuci
 MARIA JOSÉ GOMES DE CARVALHO  - Cambuci
 MARIA LÚCIA FERNANDES ROCHA – São Fidélis
 MARIA LUIZA PERES CAMPOS - Cambuci
 MARIA STELLA GOMES MOREIRA - Cambuci
 ODETE ALVES MACIEIRA - Cambuci
 OSCAR BATISTA GUERRA - Cambuci
 VIRGILINA ANDRADE S. DOMINGUES - Santa Maria Madalena
 WALDEMAR BASTOS PINHEIRO - Cambuci

Fonte:
Eliana Jimenez

Revista Encontro Literário (Obras Selecionadas (por categoria))


Categoria Juvenil:

 A caçada, de Julia Cedro de Oliveira
 Balinha de maçã, de Clarissa Damasceno Melo
 O rei das ruas, de Igor Gonçalves de Oliveira

Categoria Adulta:

 Abandono, de Gilson Morais
 Conto tirado de um poema de Bandeira, de Waldyr Imbroisi
 Mundinho branco de talco de vó, de Luci Ponte

 Pedimos, mais uma vez, desculpas pelo atraso na divulgação do resultado do edital, mas o volume de trabalhos recebidos foi bastante alto, superando nossas expectativas. No total foram 134 textos, vindos de várias partes do Brasil: MG, DF, SP, BA, RJ, PR, SC, MS, RS, CE, ES, PE, PB, SE, PI, GO, PA, RO, RN e AC. Tivemos também participações internacionais, enviadas por brasileiros que vivem na Alemanha, no Japão e na Suíça, além de textos enviados de Portugal.

 Agradecemos a todos os participantes e aos leitores da Revista. Esperamos que vocês possam continuar participando dos nossos editais, além de acompanhar as postagens que são feitas mensalmente por nossos editores. Aproveitamos para lembrar que o próximo edital, 04/2012, será dedicado à poesia e estará aberto a partir do próximo mês de agosto.

 Informamos aos autores dos textos selecionados que o envio dos certificados de Menção Honrosa e dos livros indicados no edital como premiação de cada categoria será feito até o dia 30/09/2012.

Fontes:
http://revistaencontroliterario.blogspot.com.br/2012/06/resultado-do-concurso-literario-do.html

http://concursos-literarios.blogspot.com 

sábado, 7 de julho de 2012

Olga Agulhon (Sou o Que Sou)

clique sobre a imagem para melhor visualização
Fonte:
AGULHON, Olga. O Tempo. Maringá: Midiograf, 2003.

O Que é Acróstico


Acróstico é um gênero de composição geralmente poética, que consiste em formar uma palavra vertical com as letras iniciais ou finais de cada verso gerando um nome próprio ou uma sequência significativa.

Os acrósticos já existiam na antiguidade com escritores gregos e latinos e na Idade Média com os monges. Foi um gênero muito utilizado no período barroco, durante os séculos XVI e XVII, e ainda hoje é muito utilizado por pessoas de várias faixas etárias, classes sociais e culturas diferentes.

A palavra ACRÓSTICO originou-se da palavra grega Ákros (extremo) e stikhon (linha ou verso), onde o prefixo indica extremidade, apontando a principal característica desse tipo de composição poética: as letras de uma das extremidades de cada verso vão formando uma palavra vertical. Mas as letras podem também aparecer no meio do verso.

Vejamos o acróstico utilizado pela poetisa paranaense Santher:

Minha Razão de Viver

 Felicidade maior que se 
 Instalou em minha vida… 
 Luz que ilumina e me mostra o 
 Horizonte a seguir… Abrigo 
 Onde repouso meus 
 Sonhos, sem nunca pensar em desistir 

Segundo a Enciclopédia Britânica, o acróstico é utilizado desde a antiguidade, inclusive nos livros bíblicos dos Provérbios e dos Salmos. 

Em português o acróstico apareceu no Cancioneiro geral (século XVI) e chegou a ser feito por Camões, no soneto CCIX, cujo primeiro verso é “Vencido está de amor meu pensamento”. 

Há muitas variantes: o acróstico alfabético, em que se vai enfileirando o alfabeto verticalmente; o mesóstico, em que as letras da palavra-chave aparecem no meio da composição, no final de cada primeiro hemistíquio ou início do segundo; e outras modalidades ainda mais complicadas. 

Fizeram-se acrósticos em prosa, com as letras do começo de cada parágrafo, e se chegou a verdadeira mania de acrósticos nos tempos do barroco.

Um trabalho de autor nacional sobre acrósticos, é o de Dorival Pedro Lavirod. De sua autoria é a fábula intitulada “O Sapo e a Borboleta”, cujos versos são os seguintes:

Sabia que sou mais bonita?
A borboleta disse ainda ao sapo:
Pobre batráquio asqueroso,
O que você é me causa nojo!

E o sapo, com toda calma do mundo,

Assim respondeu à borboleta:

Bonita é minha natureza anfíbia,
O que, também, me protege mais,
Rios e solo me dão guarida,
Brejos e até mesmo matagais!
O que você faz para se defender?
Livre, viajo sobre todos os animais!
E, num segundo, o sapo projetou
Tamanha língua no espaço,
Acabando, assim, com o embaraço!

Os acrósticos podem ser simples, com frases, nomes ou palavras que não tenha ligação entre si, ou ainda poemas completos. Podem ser encarados como atividade lúdica, tornando-se um jogo muito interessante. Assim, uma das funções pode ser ressaltar as qualidades ou defeitos de alguém.

Pode-se dar evidência às letras em cada verso para evidenciar a quem são dedicados, ou ainda deixá-las sem evidência alguma, para torná-las secretas. Depende da intenção com que se fez o acróstico. Os acrósticos são ainda encontrados na Bília, principalmente nos Salmos, e em alguns poemas com o objetivo de revelar sua autoria.

Podemos dizer que o acróstico parece englobar três funções: 1) uma procura de virtuosidade própria dos poetas palacianos; 2) um caráter lúdico que designa todo um jogo de espírito sutil; 3) um certo gosto pelo secreto.

Exemplo:

Portugal, séc. XV, “meu pensamento”:

Vencido está de amor meu pensamento,
O mais que pode ser vencida a vida,
Sujeita a vos servire instituída,
Oferecendo tudo a vosso intento.
Contente deste bem, louva o momento
Ou hora em que se viu tão bem perdida;
Mil vezes desejando a tal ferida,
Otra vez renovar seu perdimento.
Com esta pretensão está segura
A causa que me guia nesta empresa.
Tão sobrenatural, honrosa e alta,
Jurando não seguir outra ventura,
Votando só para vós rara firmeza,
Ou ser no vosso amor achado em falta.

Neste caso a frase é Vosso como cativo, mui alta senhora, e constitui um duplo acróstico, composição difícil, na qual a leitura de duas séries de letras separadas forma uma frase significativa. Mas se relermos o repertório das curiosidades poéticas deparamos com o pentacróstico que repete cinco vezes a mesma palavra, em cinco partes verticais dos versos (v. Tratatus de Executoribus de Silvestre de Morais, Tome II, Lisboa, 1730, p. 11).

O acróstico dissimula a palavra, que ele dá, escondendo-a; e requer do leitor uma certa esperteza para descobrir a sua subtileza. Relaciona-se com a adivinha e liga-se logicamente com ela pois existem enigmas em verso cujo nome figura em acróstico. Um autor pode assinar com um tipo de assinatura  cifrada o seu próprio nome em acróstico.

Definição Dicionarizada:
acróstico
(grego akrostikhís, -ídos)
s. m.
1. Versif. Composição poética em que cada verso principia por uma das letras da palavra que lhe serve de tema.

2. Tipo de texto em que as primeiras letras de cada linha ou parágrafo formam verticalmente uma ou mais palavras.

adj.
3. Relativo a essa composição ou a esse tipo de texto (ex.: poesia acróstica). = acrostiqueno

Fonte Principal: 
http://www.infoescola.com/literatura/acrostico/
Fontes Secundárias:
 http://www.fernandodannemann.recantodasletras.com.br
 http://muraldosescritores.ning.com
 http://www.fcsh.unl.pt/invest/edtl/verbetes/A/acrostico.htm

Doze em Ritmo de Sextilhas (Parte 8)


169 – Assis
Nota dez pra afinidade,
mas anda lento o debate.
O bom é se a bola chega
e de pronto se rebate;
do contrário o jogo emperra
e inviabiliza o arremate.

170 – Delcy
Em verdade, há um empate
entre cada sextilheiro;
a demora, às vezes, surge
por culpa do companheiro:
o nosso computador,
que faz greve o tempo inteiro!

171 - Elisabeth
 Por falar em companheiro,
está chegando a Eleição...
minha gente tome tento,
porque é preciso atenção
de não se apegar nos erros
no dia da votação!

 172 - Prof. Garcia
Vivo o meu sonho e ilusão
amando e querendo bem,
porque sonho de poeta
da terra, vai muito além,
escreve tudo que pensa
sem dever nada a ninguém!

173 - Gislaine
Sonhar, eu sonho também...
Eu vivo a grande ilusão
que só têm  os sonhadores!
Eu sinto, em meu coração,
a chama do amor nascido
sempre cheio de emoção!

 174 - Hélio Pedro
  Bate forte um coração
 quando um sonho é bem sonhado,
 o caminho é mais florido
fica o céu mais estrelado,
 e a lua aumenta o seu brilho
 se o sonho é realizado.

175 - Milton
Os sonhos colecionados
deixaram rastros risonhos,
colho os mais iluminados,
tento esquecer os tristonhos,
mas sou o rei dos viciados:
vivo perseguindo sonhos!!!

176 - Ouverney
Não há dias enfadonhos
quando se curte esse "vício";
saltamos vales, montanhas,
escalamos precipício;
de sonho, cada fatia,
da eternidade é um indício!

177 - Tadeu
 Se a poesia for um vício
ou um tipo de neurose,
hei de viver minha vida,
me servindo, dose a dose,
até que eu possa algum dia,
morrer, feliz, de overdose! 

178 – Thalma 
Por Deus, não fale em OSE!...
Palavra que finda assim,
me lembra o que dói demais
por dentro e fora de mim...
A escoliose que me ataca
estraga mais que cupim.

179 - Vanda 
A dor parece sem fim,
nesta senda dos mortais;
espinhos cercam a flor,
cresce a praga nos rosais;
mas "overdose" de amor...
que esta não falte, jamais! 

 180 - Zé Lucas
As dores já são demais
pelos caminhos da vida...
O amor, em pequenas doses,
na humanidade aguerrida;
mas o ódio, em muitas pessoas,
extrapolou a medida!

181 - Assis
 Oi, minha gente querida,
que bom voltar ao debate,
lembrando Gonçalves Dias,
que diz que "a vida é combate",
mas sonhando ver o amor
triunfar no grande arremate.

182 - Delcy
 É  bom voltar ao debate
pra ver cada  sextilheiro
falar  do  amor e da vida
e  do  solo  brasileiro...
e de tantas coisas belas,
das quais se torna empreiteiro!

183 - Elisabeth
É no solo brasileiro
que a nossa trova se esmera
e vai alegrando o mundo,
pois tudo o que a gente espera,
do fundo do coração, 
é uma eterna Primavera!

184 - Prof. Garcia 
Que doce a vida não era 
neste mundo de esplendor: 
se em cada estação da vida 
eclodisse um trovador, 
em todo canto nascia 
um verso em forma de flor! 
   
185 – Gislaine
A amizade traz calor,
e o amor traz alegria,
mesmo quando está distante.
Até mesmo a nostalgia
nos traz lembranças queridas
do mundo da fantasia!

186 - Hélio Pedro
 Quando o mundo Deus fazia,
 para cumprir sua meta,
 viu que faltava a poesia
 e que a obra  estava incompleta;
  depois da luz fez a terra
  e nela pôs o poeta.

187 - Milton
A magia predileta
de quem semeia poesia
é ser um pouco profeta
em cada verso que cria
e sentir que Deus completa
a força desta magia.

188 - Ouverney
Seja noite, seja dia,
sol intenso ou lua cheia,
quem é plantador de sonhos
traz a magia na veia,
e nunca escolhe a estação
nem o campo onde semeia.

189 - Tadeu
 Sextilheiros, me chateia
uma espécie de mania
que domina este debate:
nosso tema não varia.
Parece que só fazemos
poesia sobre poesia!

190 – Thalma
Senti dor e, na empatia,
eu também me pus a orar
pelos mineiros chilenos
que a morte quis soterrar. 
Mas o amor de Deus e o nosso
Fez a morte recuar. 

191 – Vanda 
Ao Senhor vamos louvar
pelo Chile, abençoado!
E peçamos, com fervor:
 - Seja também resgatado
 o irmão, do abismo das drogas,
 males, crimes e pecado!

192 - Zé Lucas
Fiquei impressionado
com as técnicas aplicadas
pra o resgate dos mineiros,
em horas tão delicadas,
salvando trinta e três vidas
que já estavam "sepultadas"! 

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continua…
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Parte 1 = http://singrandohorizontes.blogspot.com/2012/06/doze-em-ritmo-de-sextilhas-parte-1.html 
Parte 2 = http://singrandohorizontes.blogspot.com/2012/07/doze-em-ritmo-de-sextilhas-parte-2.html 
Parte 3 = http://singrandohorizontes.blogspot.com/2012/07/doze-em-ritmo-de-sextilhas-parte-3.html
Parte 4 = http://singrandohorizontes.blogspot.com/2012/07/doze-em-ritmo-de-sextilhas-parte-4.html
Parte 5 = http://singrandohorizontes.blogspot.com/2012/07/doze-em-ritmo-de-sextilha-parte-5.html
Parte 6 = http://singrandohorizontes.blogspot.com/2012/07/doze-em-ritmo-de-sextilhas-parte-6.html
Parte 7 = http://singrandohorizontes.blogspot.com/2012/07/doze-em-ritmo-de-sextilhas-parte-7.html

Fonte: 
Doze em Ritmo de Sextilhas: Debate pela Internet. 20.02.2010 a 22.12.2010., 2012.

Mariana Portela (A Casa da Poesia)


“É triste explicar um poema. É inútil também. Um poema não se explica. É como um soco. E, se for perfeito, te alimenta para toda a vida. Um soco certamente te acorda e, se for em cheio, faz cair tua máscara, essa frívola, repugnante, empolada máscara que tentamos manter para atrair ou assustar. Se pelo menos um amante da poesia foi atingido e levantou de cara limpa depois de ler minhas esbraseadas evidências líricas, escreva, apenas isso: fui atingido. E aí sim vou beber, porque há de ser festa aquilo que na Terra me pareceu exílio: o ofício de Poeta.”
Hilda Hilst em Cascos & Carícias & Outras Crônicas

 Mais um gole de vinho, só mais um, e irei. Um único retoque na palavra difícil de pronunciar. Mais um cigarro, são apenas cinco minutos, no máximo, se eu estivesse calma. Por que me dilaceras assim, poesia maldita, no átomo iminente que divide o papel à minha própria voz?

 Este silêncio, inoportuno, que transita em meus lábios, glaciais. Ah, como o olhar dos outros parece destoar de nossa cândida comunhão! Serei capaz de dizer algo depois de presenciar este estrondoso espetáculo de erros?

 Palavras fazem, pois, cócegas dentro de mim. Invadem a corrente sanguínea até as maçãs da face. Irrompem os medos, taciturnos, exaustos da batalha. A língua percorre os versos, inauditos até então, como se eu fosse uma mera escrava, um instrumento juvenil pelo qual o lirismo pudesse habitar, sem fazer cerimônias.

 As mãos deduram o enervamento dos poros. Trêmulas. Infantes. Não se dão conta de que por detrás dos palcos existem palmas silenciosas, cobertas de coragem ontológica.

 São apenas dois, três, cinco minutos. É tempo bastante para se alcançar a nueza absoluta, não o mero subterfúgio da carne.

 Toda fragilidade é um modo de tocar o mundo, evitando dissolver-se pelos ares ― isso eu aprendi tarde demais. A entrega ao Cosmos nos faz saber quais são nossos verdadeiros contornos. Estamos todos vivenciando nossa intimidade em risco.

 Ainda bem.

 Seria a poética a nudez primeira das linguagens humanas?

 E o planeta um grande manicômio, à espera de médicos que transladem maneiras de apaziguar os incômodos existenciais, intraduzíveis?

 Saraus foram preparados para salvar-nos da lucidez.

Ah, se eu fosse capaz de remontá-los todos, em varais suspensos da memória. Quanta alegria me remetem essas centelhas galácticas de plenitude.

 Reencontrar o devaneio morto.

 Reacender as estranhezas.

 Doar-se ao inusitado.

 Compartilhar o amadorismo, tão mais próximo ao viver.

 Sem ensaios.

 Tudo alimenta e nada faz muito sentido. Uma reunião de pessoas absurdas, obtusas, vaidosas ou plácidas.

 Margens de encostas, avenidas possíveis, andares dispersos. Atalhos inviáveis. E tudo brilhando, vívido, sem realeza alguma. Todos reis, em plena subserviência àquilo que é nítido.

 E a noite se aquieta para ouvir, estupefata, os versos hibernados de um sonhador incompreendido. E a noite se aquieta para projetar os lamentos da menina que sorri, ao confessar o amor que perdeu. E a noite se aquieta para dominar a timidez hesitante do arrogante de plateias.

 As madrugadas apagam os clichês que temes em te pautar, amada poesia.

 Nestes serões, concebidos para ti, nada resta senão a doçura dos gestos, desanuviar das âncoras.

 Plana por estas tardes, germinando o cerne das paixões.

 Enclausura os pavores que sombreiam a reciprocidade.

 Deixa o seio farto de canções inéditas.

 Abençoa minha íris para atender ao insólito.

 Dê a todos os expatriados de quimeras céus excessivamente azuis, como em Lisboa.

 A arte é uma casa que resiste às tempestades da vida ordinária.

 E por isso, imploro a ti: põe raízes nos meus sonhos, para que eu possa vê-los florescer.

Fonte:

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 600)


Uma Trova do Ademar



Uma Trova Nacional  

Conhaque no aperitivo,
conhaque na sobremesa...
- É assim que o velhinho, ativo,
mantém a velinha acesa!
–A. A. de Assis/PR– 

Uma Trova Potiguar  

Certas coisas eu renego, 
como esta, aqui, de que trato: 
dizer-se que o amor é cego. 
Pode ser. Mas tem um tato! 
–J. Revoredo Neto/RN– 

Uma Trova Premiada  

À pergunta: - Qual andar?
Responde o pinguço, a esmo:
- Onde quiser me levar;
já errei de prédio mesmo! 
–Therezinha Brisolla/SP– 

...E Suas Trovas Ficaram  

Vende-se loira estupenda... 
bonita, nova, um amor! 
Quanto ao motivo da venda... 
explica-se ao comprador. 
–Nelson da Luz/PR– 

U m a    P o e s i a  

Já vi bebum vomitando, 
tira-gosto “véi” azedo, 
já vi vomitar, sem medo, 
a mulher prenha enjoando. 
Já vi cachorro “lançando” 
um gabiru que comeu. 
Vi diabético amigo meu, 
vomitando rapadura... 
Mas nunca vi sepultura 
vomitando quem morreu! 
–Francisco Macedo/RN– 

Soneto do Dia  

FOI DELE A SORTE. 
–Dorothy Jansson Moretti/SP– 

Genoveva, uma negra solteirona, 
quase banguela e bem desengonçada, 
apesar de feiosa e cinquentona... 
de repente a notícia: Está casada! 

E o noivo?! Um ruivascão bem apanhado, 
uns vinte anos mais moço, com certeza... 
Fato esquisito e tão disparatado 
causa na vila uma enorme estranheza. 

Diz à negra um compadre malicioso: 
“Poxa, Nha Véva, que eu já tô curioso; 
mecê achou um rapagão tão alinhado...” 

E ela, vaidosa, arreganhando um dente: 
“Pois é... tinha um montão de pretendente, 
mas a sorte foi dele... tá premiado!”

2° Concurso de Microcontos de Humor de Piracicaba (Classificação Final)


1º Lugar 
Maria Clarice Sampaio Villac
Off-line 

Vaidoso, vivia nas redes sociais. 
Um dia, ao se buscar no Google, teve uma crise de identidade... Sem backups, acabou se deletando. 

2º Lugar 
Rita de Cássia Rocha Teixeira 
Fome 

Chegou cansado e faminto. Tinha olhos apenas para a geladeira, que reservava idolatrada torta. Surpresa! Gritaram farelos debochados. 

3º Lugar 
Rui Trancoso de Abreu 
Máquina do Tempo

Queria voltar ao passado. Construiu a máquina; ligou e vapt. Viu-se no escuro epegajoso. Ouviu bem próximo: Cesariana? 
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Promovido pela Semac (Secretaria Municipal da Ação Cultural) por meio do CEDHU Piracicaba (Centro Nacional de Humor Gráfico de Piracicaba) e da Biblioteca Pública Municipal Ricardo Ferraz de Arruda Pinto, o concurso recebeu 240 inscrições de diversos estados brasileiros e três de Portugal.

 Do Brasil, microcontos foram enviados de Santa Catarina, Distrito Federal, Paraná, Minas Gerais, Espírito Santo, Ceará, Bahia, Mato Grosso, Rio Grande do Sul, Pernambuco, Rondônia, Sergipe, Acre, Amapá e Pará. 

 Criatividade e humor foram os critérios usados pela Comissão de Seleção e Premiação formada por Carla Ceres, Josiane Maria de Souza, Jaime Leitão, Willian Hussar e Ivana Negri para escolher os 100 melhores microcontos a serem publicados em uma coletânea e, dessa centena, os três premiados.

Além da premiação, os vencedores terão seus trabalhos divulgados no site do Salão Internacional Humor (salaodehumor.piracicaba.sp.gov.br), nos blogs do programa de rádio Educativa nas Letras (educativanasletras.blogspot.com.br) e da Biblioteca Municipal (biblioteca.piracicaba.sp.gov.br) e no twitter (twitter.com/microcontospira).

 A cerimônia de premiação acontecerá no anfiteatro da Biblioteca Municipal no dia 25 de agosto, às 16h, horas antes da abertura oficial do 39º Salão Internacional de Humor de Piracicaba, no Engenho Central.

SERVIÇO 
Cerimônia de premiação do 2° Concurso Literário de Microcontos de Humor, 
sábado, 25 de agosto, às 16h, 
na Biblioteca Municipal (rua Saldanha Marinho, 333, Centro, Piracicaba). Entrada gratuita. 
Informações: (19) 3403-2615 
contato@salaodehumor.piracicaba.sp.gov.br 
ou www.salaodehumor.piracicaba.sp.gov.br. 

Fonte:
http://concursos-literarios.blogspot.com 

1º Edital de Literatura Joaquim Amoras Castro, Castanhal/PA (Obras premiadas)


“Diários de Bordo em Terras Paraoaras” (Contos, Flávio de Brito); 

"O Peixinho Dourado”(Literatura Infantil, Antonio Adalberto Torres);

"Salomão pela Janela" (Literatura Infanto-juvenil, Anselmo Gomes);

“Nu Olho da RUa” (Poesia, de Josiclei de Souza);

"O Guindaste Amarelo” (Romance, Roberto Monteiro de Carvalho)

Fonte:
http://concursos-literarios.blogspot.com