terça-feira, 15 de setembro de 2015

Trovador Homenageado: Cláudio Derli Silveira

Bebia tanto o Liminha,
que causava dó na gente,
pois a sede que ele tinha
era só por aguardente!…
Bebo uísque, vinho, rum,
bebo até cachaça pura.
Não bebo por ser bebum,
mas por gostar da tontura!
Calma, meu amigo, calma,
nem tudo é assolação;
às vezes, faz bem à alma,
um pouco de solidão...
Da Tribuna, manda o aviso:
- Não roubo por ser ladrão,
tampouco porque preciso,
mas por coceira na mão!
Discursava um orador...
e o gaiato da cidade...
- A propósito, doutor,
dá chute o “pé de igualdade”!
Do bom caminho, “seu” padre,
só me desvio um pouquinho,
pois as curvas da comadre
são "trechos" de mau caminho!
 
Eis a vida, eis os caminhos...
na missão de precursores:
– o sábio evita os espinhos,
e o tolo... pisa nas flores!
Ela diz do namorado,
ao conversar com alguém,
que o rapaz é “bem armado”
mas não dá “tiro” em ninguém!
Eu deixo este amor desfeito
e busco novos caminhos,
levando sonhos no peito
e a esperança dos sozinhos!...
Foi de muitos...namorada
e o “xirú”: - Mas o que tem?
Mate com erva lavada,
sacia a sede também!…
Foi uma infeliz jogada
do goleiro Zé Maria:
– a bola que foi chutada
foi a que ele não queria!
Imitando o meu lamento
por quem não me preza mais,
ouço a voz triste do vento
na plataforma do cais!…
 
Lua de mel...E o Menote
com idade a lhe pesar,
foi com tanta sede ao pote
que acabou por infartar!…
Meu sonho de piá desperto,
nas cinzas tardes de outono,
era laçar, campo aberto,
os ventos xucros, sem dono!...
Na feira do troca-troca,
o Juca ficou nervoso,
quando ouviu sua “Dondoca”
propondo troca de esposo!...
Na "madruga" o patrãozinho
vai ao quarto da empregada,
bate à porta e diz baixinho:
- "É o fantasma camarada..."
Os romances me comovem...
E, embora com pé na cova,
“gato” velho vira jovem
nos braços de “gata” nova!…
 
Porto Alegre me sorri,
vestida de multicores...
Não sou natural daqui,
mas tenho aqui meus amores...
Sopra, ó vento, as nuvens rasas,
pelo verde pampa em flor,
transportando em tuas asas
meus sonhos de trovador.
Sou irmão dos vendavais,
dos mares que naveguei,
deixando de cais em cais
amores... que conquistei!
Tomo a cruz do meu destino
que me cabe, por missão,
sem deixar o desatino
sobrepujar-me a razão!...
Tua altivez te desbota
e a própria alma esvazia:
– fazer, da minha derrota
tua maior euforia...
Viúva quando assanhada,
apela pro desafogo.
É como lenha molhada 
que chora... mas prende fogo!

domingo, 13 de setembro de 2015

Alcione Sortica (1935)


  Alcione Sortica é natural de Cachoeira do Sul (RS), em 17 de dezembro de 1935, Formação colegial como contabilista. Depois de mudar-se para a capital Porto Alegre (RS), já como funcionário público da secretaria da Receita Federal - Auditor Fiscal do Tesouro Nacional - ingressou e concluiu curso de Bacharel em Ciências Contábeis. Após a carreira pública, passou exclusivamente a dedicar-se às artes, basicamente à literatura, mas com outros trabalhos na pintura e na música.
       Em 2000 a literatura começou a tomar forma com a publicação do poema Raio de Luz. Das inúmeras viagens nacionais e internacionais, aparecem as narrativas de histórias de viagem, publicados no Jornal Zero Hora e outros periódicos.

.       Em 2012 o artista recebeu quatro honrarias: o Troféu Carlos Drummond de Andrade, Destaques do Ano, na categoria literatura; o Troféu Pedro Aleixo- Personalidade Notável - pela sua contribuição artística-literária; a Comenda Caldre e Fião da Sociedade Pártenon Literário, por sua contribuição às Letras e à Cultura do Rio Grande do Sul; e eleito Membro de Honra da Divine Académie Française des Arts, Lettres et Culture.
       Pelo seu trabalho de divulgação e incentivo da literatura como arte, em setembro de 2012 foi convidado e empossado como Governador da Associação Internacional de Poetas para o Rio Grande do Sul. No sistema de rodízio, atua como Vice-Governador da Associação Internacional Poetas Del Mundo para o Rio Grande do Sul, juntamente com a poetisa Hilda Maria Brasil (atual Governadora). A Revista CAOSótica Nr 31 (abril de 2013) traz na capa e uma reportagem sobre a obra do escritor, com críticas literárias, ensaios, contos, crônicas e uma apresentação do lançamento do livro Beira de Açude. O escritor abre a publicação do "Livro II das Aldravias" (edição bilíngue em português e em espanhol) [16] e soma-se a outros 50 artistas na compilação desse trabalho.
       Em março de 2014 foi empossado como Embaixador da Divine Académie Française des Arts, Lettres et Culture, cerimônia ocorrida na sede da instituição no Champs Élysées em Paris (França) [10] . Em junho de 2015 foi empossado como Presidente do Conselho Fiscal da Academia de Artes, Ciências e Letras Castro Alves.
       Atualmente é um dos escritores mais premiados por seus contos, crônicas, ensaios e poesias, publicados em diversas obras e coletâneas literárias no Brasil e na América Latina.
       Entidades a que pertence:
q  Acadêmico e Presidente do Conselho Fiscal da Academia de Artes, Ciências e Letras Castro Alves, RS;
q  Acadêmico da Academia Brasileira de Estudos e Pesquisas Literárias, RJ;
q  Membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni, MG;
q  Membro correspondente da Sociedade Brasileira de Poetas Aldravianistas, MG;
q  Membro Fundador e Diretor do Departamento Histórico e de Intercâmbio Cultural do Instituto Brasileiro de Culturas Internacionais, RJ;
q  Coordenador da Área de Cultura do Proyecto Cultural Sur Brasil;
q  Membro da Sociedade Pártenon Literário, RS;
q  Diretor de Divulgação e Imprensa do Instituto Cultural Nelson Fachinelli, RS;
q  Membro da Casa do Poeta Rio-Grandense - CAPORI, RS;
q  Associado da Estância da Poesia Crioula, RS.
      Obras Publicadas:
"Um ponto no Tempo", 2015; "De pai para filho", 2014 (edição em coautoria com o filho Eduardo); "Brasil em Cena", 2014 (edição bilíngue português e francês); "Livro II das Aldravias", 2013 (edição bilíngue português e espanhol); Beira de Açude, 2013; Peneirando Estrelas, 2012; Cacos do Tempo, 2005.

sábado, 12 de setembro de 2015

Aparício Fernandes (Classificação da Trova) A Mensagem




Vamos agora analisar a classificação da Trova no tocante à sua mensagem, ou conteúdo. A grande maioria das trovas, numa percentagem de 90 a 95%, podem ser incluídas em três grandes categorias:
líricas (também chamadas românticas ou sentimentais), humorísticas e filosóficas. As restantes, que fogem a estas características, são as trovas que poderíamos denominar de sociais, religiosas, descritivas, políticas, regionais, pictóricas, patrióticas, condoreiras, etc. Ainda assim, com um pouco de boa vontade, muitas dessas trovas poderiam ser englobadas em uma das três grandes categorias principais. Independente de pertencerem a uma das categorias acima citadas, as trovas podem ainda ser afirmativas ou interrogativas, otimistas ou pessimistas, conselheirais, conceituosas, acusativas, didáticas, pacifistas, épicas, místicas, queixosas, de revolta, etc.
         Em se tratando das trovas humorísticas, principalmente, as subdivisões são mais importantes e mais acentuadas, de vez que o humorismo apresenta nuances que podem ser delineadas mais nitidamente. Assim, uma trova humorística pode ser simplesmente engraçada, ou ainda brejeira, maliciosa, irônica, sarcástica, epigramática, satírica, anedota!, etc. Julgamos desnecessárias maiores explicações sobre o que seja uma trova lírica, humorística ou filosófica, de vez que estas próprias designações são bastante claras e expressivas. Contudo, a título de ilustração, apresentamos a seguir três trovas: a primeira, lírica; a segunda, humorística; e a terceira, filosófica. Os autores são, respectivamente, Maria Thereza Cavalheiro, Antônio Tortato e Luiz Otávio;

Naquele dia, tristonho,
pousaste os olhos nos meus:
— vivi na tarde do sonho,
morri na noite do adeus.

O inquérito começou
e o inspetor é interrogado:
— O cadáver, como o achou?
— Morto! senhor delegado...

Duas vidas todos temos,
muitas vezes sem saber:
– a vida que nós vivemos
e a que sonhamos viver.

         Para concluir o nosso estudo da classificação de trovas quanto à mensagem, vamos apresentar exemplos de trova social, religiosa, descritiva, política, regional, ferina, pictórica, patriótica e condoreira. Ei-los:

Trova social, de Luiz Antônio Pimentel:

Olhando, alheio á folia,
no carnaval me comovo,
ao ver tamanha alegria
sob a miséria do povo.

Trova religiosa, de João Martins de Almeida:

Aliviai as penas duras,
meu Jesus, de todos nós.
Lembrai-vos das criaturas
que se esqueceram de Vós!

Trova descritiva, de Eliézer Benevides:

Pelas planuras desertas,
nas frondes verdes, as comas
mostram corolas abertas,
num desperdício de aromas.

Trova política, de M. Augusto Costa:

Todo mundo é "boa praça"
quando é chegada a eleição.
Mas, depois que o pleito passa,
o povo fica na mão!
Trova regional, de Clodoaldo de Alencar:

Se a região do Nordeste
quiser ter um pavilhão,
ei-lo aqui: — um cardo agreste
em forma de coração!

Trova pictórica, de Félix Aires;

A flor do sol, no horizonte,
fecha as pétalas vermelhas...
Pelo pescoço do monte
se deita um colar de ovelhas!
 
Trova patriótica, de Leonardo Henke:

Deus, num símbolo que encerra
promessas de redenção,
deu ao Brasil — minha terra —
a forma de um coração.

Trova condoreira, de Lilinha Fernandes;

Amanhece... Vibra a terra!
O sol, que em ouro reluz,
sai da garganta da serra
como uma trova de luz!

         Este último tipo de trova, isto é, a condoreira, é também apelidada pelos trovadores de foguete de lágrimas, pelas suas imagens inusitadas, rutilantes e — muitas vezes — exageradas,

continua… Classificação de trovas: a origem

Fonte: Aparício Fernandes. A Trova no Brasil: história & antologia. Rio de Janeiro/GB: Artenova, 1972

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

A. A. de Assis e Elisabeth Souza Cruz (Vaivém do Riso)

1. (AAA)

Quando moço, acesa a chama
despia-se ante a gatona,
agora veste  o pijama
deita de lado... e ronrona.

2. (ESC)

O meu vizinho se poupa
já que o cansaço é normal...
Quando fala: "Tira a roupa!",
tira a roupa do varal!

3 . (AAA)

Em que aperto o bom velhinho,
de assanhado, se enfiou:
chamou pra cama o brotinho,
e ela, malvada, aceitou...

4. (ESC)

Brotinho assanhado inventa
mil jogadas para o amor
e o velhinho até que tenta,
mas sai sempre perdedor!!!

5. (AAA)

Deu desespero no Adão
por ser um “ele” sem “ela”...
Ganhando a dita, o chorão
perdeu a paz... e a costela!

6. (ESC)

Pode quem quiser falar
pois ninguém sabe o que diz,
tendo a mulher para amar
o homem ficou foi... feliz!

7. (AAA)

Jamais se viu nesta vida
marido preso em gaiola...
A mulher é mais sabida:
põe-lhe no dedo uma argola!

8. (ESC)

O homem de argola, também,
ao machismo não se furta:
– faz da mulher seu refém
e a mantém na rédea curta!

9. (AAA)

De um homem para a mulher
que pede ajuda na pista:
– Desculpe... Se ajuda eu der,
vão me chamar de machista...

10. (ESC)

A coisa é séria, querido,
tem mulher que é mulher macho...
quando manda no marido
faz dele gato e capacho!

11. (AAA)

Porém chiar é bobeira...
Quem manda mesmo é a mulher;
tanto é que desde a primeira
faz do marido o que quer...

12. (ESC)

Bobeira?!... Maior bobeira
é o salário do operário
que trabalha a vida inteira
e não fica milionário!

 13. (AAA)

Também na fauna a justiça
é às vezes discricionária:
dá mole ao bicho-preguiça,
explora a abelha operária...

14. (ESC)

Falando em exploração,
nunca vi maior babado...
a mulher do capitão,
como explora o rebolado!!!

15. (AAA)

Lá vai o siri-patola,
todo prosa, a rebolar...
Num puçá se enreda e enrola:
vira petisco de bar!

16. (ESC)

Falando num bom petisco,
quem não se arrisca, não prova,
como é bom correr o risco
de preparar uma trova!!!

17. (AAA)

Cinquentão já sou na trova;
na idade, quase oitentão...
Evito, pois, pôr-me à prova:
em museu não entro não!...

18. (ESC)

Eu também tô quase nessa
e em loja de raridade,
se eu entro, saio depressa
pois pareço antiguidade!

19. (AAA)

Essa tal de antiguidade
a mim me causa estranheza:
quando perde a utilidade,
é aí que vira riqueza...

20. (ESC)

Estranheza, caro Assis,
é  o que a gente vê "na praça"....
tem gente que pede bis
se uma injeção for de graça!!!

21. (AAA)

“Ah, que surpresa gostosa!”,
diz a velhinha, feliz,
quando o velho, todo prosa,
dá no couro... e pede bis!...

22. (ESC)

Buzinando o caminhão,
surpresa boa é a do otário
que dá tempo ao Ricardão
para se esconder no armário!

23 (AAA)

Otário simples, legal;
nada faz que prejudique.
O duro é aguentar o tal
do otário metido a chique!...

24. (ESC)

Com a trova vinte e quatro
me ocorreu agora a ideia:
– ninguém vai mais ao teatro,
pois perde o "acento"  a plateia!

25. (AAA)

Problemas há no momento
em que muda a acentuação.
– De tudo tirem o acento,
porém do “cágado” não!...

26. (ESC)

O hífen de vice-prefeito,
por certo, não caiu, não,
pois logo depois do pleito
sempre dá separação!

27. (AAA)

Se acaso se visse o vice
futricando o titular,
um baita disse-me-disse
logo iria se espalhar...

28. (ESC)

Nunca vi maior tolice
futricar a vida alheia,
pois quem faz disse-me-disse
vai cair na própria teia!

29. (AAA)

Você sabe o que é que é “teia”?
Não sabe?... Deixo explicado:
– E’ a casca de barro e areia
com que se cobre o “teiado”...

30. (ESC)

Ra! Ra! Ra! Falando em barro
lembrei da antiga moringa...
água fresquinha! Eu me amarro
e  a minha saudade vinga!!!

31. (AAA)

Era uma era inocente,
e a vida era pitoresca:
– um tempo em que toda gente
mantinha a moringa fresca...

32. (ESC)

Sem juntar alho e bugalho,
quando se fala em moringa,
já me lembrei do baralho,
pois és Assis... meu curinga!

33. (AAA)

Curinga eu sei que não sou,
mas tenho uns truques sagazes...
– Em meu nome o pai botou
o “aaa”, isto é, três “ases”..

34. (ESC)

Três "ases"... assim eu digo:
– Um "A" dizendo Alquimia;
O  "A" seguinte que é de Amigo
e mais outro "A" de alegria!

35. (AAA)

Chega manso, pede abrigo,
pede grana... e eu vejo claro:
esse é o tal de caro amigo
que em verdade é amigo caro!...

36. (ESC)

O tipo acima descrito
custa caro e é um desacato...
Mas amigo "Assis", bendito
é simplesmente um barato!

37. (AAA)

Certos tipos importantes
parecem Marte – um deserto:
vistos de longe, brilhantes;
cascalho apenas, de perto!...

38. (ESC)

Brilhantes?!! - Pois sem  trabalho,
sem ramo profissional,
a moça arranjou um galho
no "distrito" e... é federal!!

39. (AAA)

Troca o sábio a esposa culta
pela moça apimentada...
– No instante em que a ardência avulta,
cultura não conta nada!

40. (ESC)

Numa troca de "mulé",
o "mané"  ficou na mão,
que a moça que dava "pé"
tinha um baita sapatão!

41. (AAA)

Nervoso e agressivo quando
alguém lhe pisa no pé,
diz ele: – Estarás pensando
que eu não sou burro, ó mané?...

42. (ESC)

Na trova há constatação:
- Assim como o português,
que traz muita inspiração,
o  "mané" sempre tem vez!

43. (AAA)

Súbito um rato matreiro
fungou no pé do  Mané.
– Supôs ser de queijo o cheiro...
Quis provar... era chulé!


continua…

A. A. de Assis (Maringá/PR)
Elisabeth Souza Cruz (Nova Friburgo/RJ)