sexta-feira, 9 de agosto de 2024

Dissecando a magia dos textos ("Redenção”, de Carolina Ramos)

Conto publicado em 29 de março  de 2024 neste blog, no link https://singrandohorizontes.blogspot.com/2024/03/carolina-ramos-redencao.html

A história de Carolina Ramos, inspirada na águia, é um miniconto sobre transformação e renovação.

TEMAS PRINCIPAIS

Transformação Pessoal: A comparação entre a águia e a protagonista simboliza a luta interna por liberdade e autoconhecimento.


Coragem e Decisão: A escolha da águia de enfrentar seus desafios representa a coragem necessária para romper com situações limitantes.

Autoaceitação: O processo de desprender-se do passado e das limitações é uma jornada de aceitação e valorização do eu.

ESTRUTURA NARRATIVA

Introdução: A descoberta do artigo na sala de espera serve como um catalisador para a mudança da protagonista. A palavra "Curiosidade" instiga a reflexão.

Desenvolvimento: A descrição da águia e seu processo de renovação é uma metáfora poderosa para as dificuldades que todos enfrentamos. A dor e o sacrifício são essenciais para o crescimento.

Clímax: O momento de decisão, onde a protagonista decide se libertar, é o ponto alto da narrativa. A conexão entre a águia e sua jornada pessoal se torna mais intensa.

Conclusão: O voo da águia simboliza a libertação e a nova vida que a protagonista abraça, deixando para trás as limitações que a prenderam.

PROFUNDIDADE DOS PERSONAGENS

Protagonista (Carolina)
História Pessoal: Poderíamos incluir flashbacks que revelem momentos específicos que a levaram a se sentir "engaiolada", como experiências passadas de decepção ou pressão social.

Sentimentos e Dúvidas: Ao longo da narrativa, suas inseguranças podem ser enfatizadas, mostrando sua luta interna antes de decidir se libertar.

A Águia
Simbolismo: A águia não é apenas um símbolo de força; sua jornada também representa a resistência e a necessidade de transformação que todos enfrentamos em algum momento da vida.

Conexão Emocional: A relação entre a águia e Carolina poderia ser aprofundada, talvez com Carolina se identificando com a ave em momentos de fraqueza.

TEMAS ADICIONAIS

Renovação e Ciclos: A ideia de que, assim como a águia, todos nós passamos por ciclos de renovação. .

Força Coletiva: A jornada de Carolina pode ser ligada a outras personagens femininas que também enfrentam desafios, mostrando como a solidariedade e a troca de histórias podem fortalecer a luta individual.

Liberdade vs. Segurança: A tensão entre buscar liberdade e o medo do desconhecido. O texto mostra que muitas pessoas sentem ao considerar mudanças significativas em suas vidas.

Reflexão Final
A história de "Redenção" é uma jornada de autodescoberta e superação. Ao abordar temas universais de luta e renascimento, ela ressoa com muitos leitores, oferecendo esperança e inspiração.

Fonte: José Feldman. Dissecando a magia dos textos: Contos e Crônicas. Maringá/PR. IA Open.
 Biblioteca Voo da Gralha Azul. 2024.Fonte: Análise por José Feldman. Open IA .

Jaqueline Machado (Isadora de Pampa e Bahia) Capítulo Final: Novo ciclo de amor

Isadora volta para o Sul, decidida a separar-se de Fábio e juntar-se a Genuíno.

– Nenhum obstáculo pode ser maior que o nosso amor- pensou ela. Se despediu de dona Branca, das meninas, que com suas histórias de vida a fizeram entender um pouco mais sobre as hipocrisias e desigualdades sociais, e partiu ao lado de João, em seu caminhão. E ele fez questão de devolvê-la sã e salva ao Pampa Riograndense.                    

- Obrigada, amigo. 

- Um homem de caráter jamais desampara uma mulher, seja ela sua mãe, esposa, irmã ou amiga – disse João. 

As moças da casa de dona Branca estavam emocionadas, pois Isadora estava indo ao encontro do sonho da vida de muitas delas:  encontrar o amor. O amor verdadeiro que a má sorte lhes negou. Depois de uma longa e cansativa viagem, chegaram em Cachoeira do Sul. E seguiram até a fazenda onde Genuíno trabalhava e morava. 

Ao avistá-lo em meio ao arrozal, a prenda correu para os braços do peão. João manteve certa distância, respeitando aquele momento importante e decisivo na vida de sua amiga.

 - O que fazes aqui? - pensei que tivesses partido para nunca mais voltar – disse Genuíno, surpreso.- Estive longe, mas voltei. Voltei por ti e para ti.  E então se abraçaram e trocaram um longo beijo.                 

- E eu, fico aqui, segurando vela. Pensou João com um sorriso de satisfação.      

O casal de amantes estavam, sim, decididos a enfrentar o senhor Antônio, Fábio e quem mais fosse preciso. Isadora apresentou seu amigo a Genuíno. E seguiram rumo à fazenda “Prenda Bonita”.   Estavam ansiosos. E tentavam conversar e se distraírem com as lindas paisagens naturais do lugar.              

 - Apesar de conhecer só uns pedaços do Rio Grande, aqui também me parece ser um belo lugar para se viver – falou João com entusiasmo.  Isadora retornou a sua casa, protegida pelo seu amor e seu amigo. Era hora de almoço e o senhor Antônio devorava um pescoço de frango quando eles chegaram de surpresa.                       

 - Fia. Onde tu andava esse tempo todo? O que esse peão tá fazendo aqui e quem esse outro que não conheço?            

- João é meu amigo. E este peão, é o meu amor. Fugi para a Bahia. Fugi de suas tiranias e das garras de Fábio. Mas voltei. Voltei para lutar pelo meu amor. Nem o senhor, e nem mais ninguém vai impedir minha felicidade.              

- Fia. Tu não deve tá no teu juízo perfeito. Ele não combina contigo. – diz o velho, certamente se referindo à cor de pele de Genuíno.                              

- Por que não combino com sua filha? Porque sou preto? Pois fique o senhor sabendo que sou mais limpo e mais honesto do que muito brancos por aí...                

 - Voceis são amantes?    - Sim, pai. Somos. Mas só por enquanto. Vou pedir o divórcio a Fábio. E logo estaremos livres para nos casarmos.    O senhor Antônio empurrou o prato, ergueu -se, abriu a boca e levantou o dedo na tentativa de dizer alguma coisa, mas sofreu um infarto fulminante. 

O real motivo da causa da morte do velho logo se espalhou. E Fábio, temendo as zombarias por ter sido passado para trás pela mulher, desapareceu. 

Dias se passaram. Isadora tomou a frente das terras que eram do seu pai, reabriu a escola da região, e passou a dar aulas em dois turnos: à tarde, para as crianças, e à noite, para os adultos, que por falta de oportunidade ainda eram semi ou totalmente analfabetos. 

Padre Orestes deu o casamento de Isadora e Fábio por anulado, devido ao seu desaparecimento. Assim, ela se casou com Genuíno. E em grande festa junto de amigos, alunos e os peões de sua fazenda, celebrou a vitória do amor.  

A família de Enila permaneceu unida. E mais felizes do que nunca com a notícia de sua gravidez.

Amélia e Pedro estavam com a relação estremecida por razões de desconfianças e ciúmes, mas apesar dos boatos de traição da mulher com seu amigo Simão continuarem a todo vapor entre colegas, eles fizeram as pazes. E voltaram a se amar ardentemente. 

Os demais trabalhadores estavam muito contentes com a fazenda sob a direção de Isadora e Genuíno, que tinham agora a difícil missão de impedir a total falência das produções geradas naquelas terras.

João retornou a Salvador, deixando a promessa de revisitar a terra do arroz em breve. E vó Gorda... Ah... Vó Gorda permanecia à espreita, observando tudo e rezando por todos... 

FIM!

Fonte: Texto enviado pela autora.

Recordando Velhas Canções (Atiraste uma pedra)


Compositor: David Nasser e Herivelto Martins

Atiraste uma pedra no peito de quem só te fez tanto bem
E quebraste um telhado, perdeste um abrigo
Feriste um amigo
Conseguiste magoar quem das mágoas te livrou

Atiraste uma pedra com as mãos que essa boca
Tantas vezes beijou
Quebraste um telhado
Que nas noites de frio te servia de abrigo
Perdeste um amigo que os teus erros não viu
E o teu pranto enxugou

Mas acima de tudo atiraste uma pedra
Turvando esta água
Esta água que um dia, por estranha ironia
Tua sede matou
Atiraste uma pedra no peito de quem
Só te fez tanto bem
* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * 
A Dor da Traição em 'Atiraste Uma Pedra' de Herivelto Martins
A música 'Atiraste Uma Pedra', composta por Herivelto Martins, é uma profunda reflexão sobre a dor da traição e a ingratidão. A letra descreve a sensação de ser traído por alguém que se amava e em quem se confiava. A metáfora da pedra atirada simboliza um ato de agressão e deslealdade, que causa uma ferida profunda no coração de quem sempre fez o bem para o outro. A imagem do telhado quebrado e do abrigo perdido reforça a ideia de que a traição destrói a segurança e a confiança que existiam na relação.

Herivelto Martins utiliza uma linguagem poética para expressar a mágoa e a decepção de quem foi traído. A repetição da ideia de que a pessoa traída sempre esteve ao lado do traidor, enxugando suas lágrimas e perdoando seus erros, intensifica o sentimento de injustiça. A letra também menciona a ironia de que a mesma pessoa que agora traiu, um dia foi salva e acolhida por quem agora sofre. Essa dualidade entre o bem que foi feito e o mal que foi recebido é um dos pontos centrais da canção.

A música também aborda a ideia de que a traição não apenas fere o traído, mas também turva a pureza de algo que era vital e essencial, como a água que matou a sede. Essa metáfora finaliza a canção com uma nota de amargura, mostrando que a traição tem consequências profundas e duradouras. 'Atiraste Uma Pedra' é, portanto, uma canção que fala sobre a dor da ingratidão e a devastação emocional causada pela traição, temas universais que ressoam com muitos ouvintes.  

quinta-feira, 8 de agosto de 2024

José Feldman (Versejando) 145

 

Coelho Neto (O lenhador)

Quando chegamos à cabana do velho Amâncio, à boca da mata, um cãozinho que dormia encolhido sobre um monte de bagaços de cana já secos, perto de uma moenda, saltou ladrando: mas o velho aquietou-o, e abrindo a cancelinha que dava ingresso ao terreiro, recebeu-nos amavelmente.

A casa de taipa, coberta de sapê, era um ninho entre as árvores. As laranjeiras carregadas vergavam os ramos ao peso dos frutos.

Num lado o canavial e os milhos, em outro lado a horta, onde cantava um fino córrego; e sob a rama frondosa de robusta mangueira agasalhava-se o paiol modesto; mais adiante, o cercado onde berrava a cabra leiteira, o galinheiro e a ceva.

Amâncio era homem de cinquenta anos, moreno e robusto, de olhos vivos, barbas e cabelos grisalhos. Falava sorrindo com expressão afável, e a boa Lívia, sua esposa, que o acompanhava desde a mocidade, já com a pele enrugada e a cabeça toda branca, parecia mais velha do que ele.

Quando entramos na sala da pobre gente, fora na mata, as cigarras cantavam, e as pombas punham uma nota de melancolia no crepúsculo. Vendo-nos com a espingarda, e sabendo que pretendíamos passar a noite na montanha para que pudéssemos surpreender a caça na hora em que ela sai pelas trilhas sossegadas, Amâncio ofereceu-nos do que tinha no armário, enquanto a boa Lívia estendia na mesa tosca uma toalha alvíssima, que exalava o suave perfume da erva de São João.

Aceitando o repasto que nos oferecia o honesto lenhador, pusemo-nos à mesa.

À luz de uma candeia, a sala tinha um triste aspecto, mas a pobreza era largamente compensada pelo escrupuloso asseio.

Mariposas voavam em torno da candeia, e lá fora, no silêncio, à luz das estrelas, os sapos coaxavam. Em uma das paredes, entre vários quadros de santos, havia uma litografia representando o general Osório.

— Vosmecês estão olhando? — disse o lenhador sorrindo. — Aquele é o homem que nos defendeu nos campos de guerra, por isso está perto de Nosso Senhor. A gente acostuma-se a querer bem a esses patrícios, e acaba fazendo o que eu fiz. Lívia anda sempre insistindo comigo para tirar o retrato dali, porque não é santo. Mas fez tanto como se o fosse, porque salvou a honra do povo! Pois não é assim? Deus Nosso Senhor do céu há de aprovar meu pensamento. Eu sou assim: tudo por minha terra e pelos homens que lhe fazem bem.

— Desde quando vives neste monte, Amâncio?

— Eu sei lá! Posso dizer que foi neste cantinho que nasci. Quando dei por mim, meu pai, que era um caboclo forte, morava em uma casinha um pouco mais lá embaixo. Tudo era mato nesse tempo, hoje é quase tudo cidade. Ainda as onças vagavam pelos caminhos, e não se andava neste monte com o sossego com que se anda agora...

— Havia perigo?

— Se havia perigo! Tudo isto estava ainda como Deus criou. Bem me lembro! À noite era um cuidado! Muita vez meu pai saía com a espingarda para espantar as suçuaranas que rondavam a casa. E isto não era como é hoje. Os bichos foram para longe, não há mais aqui em cima, nem mesmo na Mantiqueira onde está o Itatiaia, que é o pico mais alto do Brasil, vosmecês sabem. Só as árvores ficaram, ainda assim já desceram muitas.

O velho lenhador baixou a cabeça grisalha, mas levantando-a, pouco depois, continuou:

— Américo (vosmecês não conhecem meu filho Américo, que é marinheiro?) disse-me, certa vez, uma coisa que me fez pensar: “Ah! Meu pai, a gente na cidade é que compreende o valor das árvores que foram as suas companheiras. O tronco que meu pai derruba vem para as oficinas — de uma sai feito navio, de outra sai transformado em leito: é mobília do rico, é o catre do pobre, é o esteio da casa, é o altar. Quase tudo quanto a gente vê em construções saiu da floresta. O navio no qual eu estou, foi um canto de bosque — teve folhas e flores — hoje, depois que os troncos foram trabalhados, anda sobre as águas: é a floresta que vai pelo mundo levando a nossa bandeira nos mastros como uma flor no galho. Eu vejo a floresta em toda parte, meu pai.” É bem verdade! Américo disse bem! E não é só a madeira que vai do monte — é a água, que mata a sede, é a caça, que alimenta, são as penas dos passarinhos, é a flor, é a resina, é a erva que cura, é tudo quanto há de bom nesse mundo. No tempo da guerra — tempo triste! — vieram aqui buscar madeira para os navios, para os carros, para os esteios, e a mata foi descendo, a seguir com o exército. A terra também entra em combate quando os seus filhos pelejam por sua honra.

— E você vive de lenhar, Amâncio?

— Então? Cada um faz o que pode, contanto que trabalhe. O cavoeiro vem, abre a cava, queima a lenha e desce com o carvão que vai dar fogo às casas. Não é um homem honrado? É, faz a sua tarefa. Eu derrubo árvores, vosmecês estudam. Eu trabalho para vosmecês, vosmecês trabalham para mim. É duro o meu serviço, estou com as mãos cheias de calos, mas a minha consciência é leve, porque nunca procedi mal.

 Assim dizendo levantou-se, abriu uma janela ao luar e ao perfume do monte:

— Se vosmecês querem apanhar alguma coisa, vão indo — agora as pacas estão bebendo. Eu vou também para mostrar os caminhos. Dá cá a espingarda, minha velha. Fecha a casa e dorme. Vamos! Está uma noite como poucas, e a gente, aqui em cima, parece que está mais perto do céu. Vamos com Deus e a Virgem!

E saímos os três pelo monte adormecido.

Fonte: Olavo Bilac & Coelho Neto. Contos Pátrios. RJ: Francisco Alves, 1931. Disponível em Domínio Público. 

quarta-feira, 7 de agosto de 2024

Carolina Ramos (Trovando) “21”

 

Geraldo Pereira (A Normalista Linda)

Sou do tempo do gasômetro e do bonde elétrico, do telefone cônico no ouvido e do largo bocal voltado às palavras de um interlocutor qualquer, que aos gritos deixava a sua mensagem, sem as sofisticações do hoje. Das ligações para Boa Viagem intermediadas pela telefonista, atenciosa sempre, do Serviço de Informações Gerais - o SIG -, cujo número gravei na memória (3011) e para o qual ligávamos todos, à cata dos melhores filmes e das localizações urbanas das ruas e das avenidas, dos becos e das vielas ou à procura de uma conversa fiada com a moça da empresa. E a resposta vinha antecedida por um comercial, chamado de reclame ao tempo: "Num presente exclusivo das Pílulas de Vida do Doutor Rossi, o cinema São Luiz exibe nesta tarde o desenho animado de Walter Disney: Peter Pan!". Mas, alertava a minha mãe, se alguém ligasse e fizesse uma pergunta - "Rins doentes?" -, não esquecesse de responder: "Tome Urudonal e viva contente!". Havia prêmios, dizia ela, para quem acertasse! Nunca ouvi a indagação e muito menos conheci as benesses resultantes!

E sou do tempo em que o sabonete Phebo oferecia uma casa a quem fizesse uso do produto, trazendo escondida, nessas intimidades saponáceas, uma chave. Todos cuidavam em passar no corpo, mais e mais, aquele escorregadio pretume, para encontrar a salvação da família inteira.

Nunca soube, também, de penitente aquinhoado, brindado com essa riqueza, a da casa própria. Vez ou outra, todavia, a marca Lever vinha à tona, o sabonete das estrelas, para que se pudesse cumprir o desiderato do devaneio, fantasiando-se no imaginário pueril Brigitte Bardot tomando um delicioso banho na Riviera francesa. Quem colecionasse tampinhas de Coca-Cola podia ganhar um carro da marca Skoda ou geladeiras em quantidade. Uma dessas, entretanto, tornou-se de tal forma difícil, que virou apelido de quem se julgava importante: G15. Até as marcas de sorvete agradavam ao consumidor, expondo nos palitos o direito de mais
um picolé, O Daqui, por exemplo, com o gostoso Tatá ou com o Saía-eBlusa.

Na soverteria Xaxá nos começos da rua Bispo Cardoso Ayres, a rapaziada do Nóbrega fazia ponto, para assistir o desfile das moças do Colégio Eucarístico, de branco e encarnado, escuro e carregado ou para saborear o maracujá e o cajá virados em gelo de bom paladar. Lá pras bandas da rua do Príncipe, esquina com a Afonso Pena, partiam as meninas do Colégio Arquidiocesano de volta ao lar paterno, primeiro e derradeiro abrigo, na voz do poeta! “Vestida de azul e branco/Trazendo um sorriso franco...”, como está no cancioneiro. Mas a normalista linda/Não pode casar ainda/Só depois que se formar/...”. 

Gente bonita e  faceira, de pele estirada, no viço da idade, de formas protundentes em geral, tagarelando conversa! Saias rodadas, mesmo que plissadas ao rigor do ferro quente, dando graça ao requebrado das ancas, engrandecendo movimentos de lateralidade explícita! Muitos amores nasceram assim, de um flerte qualquer no meio da rua ou no passeio ou no andar plácido e tranquilo do tempo, no nada das coisas ou no nada da vida.

O conquistador desvairado, entretanto, acomodado em seu Mustang cor do sangue, tirou de tantos o gosto da sedução, rodando a chave do carro no indicador da direita, nas alamedas do parque ou nas festas das igrejas. Aniquilou desejos que se encorparam pras bandas do novo edifício, do Vitória Régia, então, tomando de assalto a musa daquele prédio, Cida por cognome! Encantou a gregos e a troianos, mas nunca desencantou vontades!

Fonte> Geraldo Pereira. Fragmentos do meu tempo. Recife/PE. Disponível no Portal de Domínio Público

Dissecando a magia dos textos (“O Racum e a Colmeia”, conto da Nação Sioux)

 O conto foi publicado neste blog em 05 de julho de 2020, no link https://singrandohorizontes.blogspot.com/2020/07/contos-e-lendas-do-mundo-nacao-sioux-o.html

A história de Racum explora temas como a curiosidade, a busca por alimento e as consequências das ações impulsivas. Racum, um pequeno animal, representa a inocência e a busca por prazer, mas também enfrenta as complicações que surgem dessa busca.


Personagens
Racum: Um personagem curioso que, em sua busca por mel, acaba se metendo em confusões. Sua jornada reflete a inocência e a vulnerabilidade da natureza.

Skunks e Esquilos: Representam a sabedoria da floresta, alertando Racum sobre os perigos e a necessidade de cautela. A interação com a família de skunks destaca a importância da convivência social e das regras da natureza. O pai skunk representa a proteção e a defesa do lar, mostrando que cada animal tem seu espaço e merece respeito. A reação defensiva dos esquilos sugere que Racum é visto com desconfiança, reforçando a ideia de que suas intenções podem ser mal interpretadas.

Urso e Raposa: Personagens que simbolizam a reação instintiva dos animais diante do desconhecido, reforçando o tema do medo e da proteção.

O Lago e a Floresta
A floresta e o lago são cenários que ilustram a dualidade entre beleza e perigo. O lago, que inicialmente parece um lugar de alimento, se transforma em um espaço onde Racum se sente ameaçado e perdido.

A Busca por Mel
A busca de Racum por mel é uma metáfora para as tentações da vida. O mel, simbolizando prazer e recompensas, acaba trazendo mais complicações do que satisfação. Isso reflete a ideia de que o que é desejado nem sempre é seguro ou benéfico.

Consequências e Aprendizado
Após suas desventuras, Racum aprende uma lição importante sobre cautela e a necessidade de cuidar de si mesmo. A cena em que ele pula no lago para se limpar simboliza a busca por renovação e a aceitação dos próprios erros.

Curiosidade e Impulsividade
Racum é impulsivo e curioso, características que o levam a se meter em encrencas. Desde o início, sua busca por alimento reflete um desejo de explorar e experimentar, mas essa curiosidade também traz riscos.

O Simbolismo do Mel
O mel é mais do que um simples alimento; ele simboliza os prazeres da vida que podem ser tanto doces quanto perigosos. A experiência de Racum com o mel ilustra como a busca por gratificação imediata pode levar a consequências inesperadas.

Conflito e Crescimento
Após sua queda e a confusão que se segue, Racum representa a luta interna que todos enfrentamos ao tentar lidar com os erros. Sua busca por um outro Racum para ajuda ilustra a necessidade de conexão e apoio em momentos de dificuldade.

A Natureza como Personagem
A floresta e o lago funcionam quase como personagens por si só. Eles refletem a beleza e a imprevisibilidade da natureza, mostrando que, embora o mundo possa ser mágico, também é repleto de desafios e perigos.

Mensagens Universais

Cautela em Novas Experiências: A história nos ensina a ser cautelosos ao buscar novas experiências, pois nem tudo que parece bom é seguro.

Importância da Comunidade: A interação com outros animais destaca a importância de ter apoio e a necessidade de respeitar o espaço dos outros.

Aprendizado Contínuo: Racum nos lembra que o crescimento vem de nossas experiências, mesmo aquelas que nos deixam envergonhados ou feridos.

Conclusão e Reflexão
A história de Racum termina com uma lição sobre a importância de aprender com as experiências. Ao se limpar no lago e retornar ao seu lar, ele não só se purifica fisicamente, mas também emocionalmente. Essa jornada de autodescoberta e aprendizado é um tema universal que ressoa com leitores de todas as idades, lembrando-nos de que a curiosidade deve ser acompanhada de prudência e de aprender com as consequências de nossas ações. A simplicidade da história contrasta com as lições sobre a vida e a natureza, tornando-a acessível e reflexiva.

Fonte: José Feldman. Dissecando a magia dos textos: Contos e Crônicas. Maringá/PR. Plat.Poe.
 Biblioteca Voo da Gralha Azul. 2024.Análise por José Feldman. Open IA.

Recordando Velhas Canções (Manhã de Carnaval)


Compositor: Luiz Bonfá e Antônio Maria

Manhã, tão bonita manhã
Na vida, uma nova canção
Cantando só teus olhos
Teu riso, tuas mãos
Pois há de haver um dia
Em que virás

Das cordas do meu violão
Que só teu amor procurou
Vem uma voz
Falar dos beijos perdidos
Nos lábios teus

Canta o meu coração
Alegria voltou
Tão feliz na manhã
Deste amor
* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * 
A Melodia do Reencontro no Carnaval
A música 'Manhã de Carnaval', interpretada por Nara Leão, é uma canção que evoca a beleza e a esperança de um novo dia, simbolizado pela manhã. A letra sugere um despertar não apenas físico, com o nascer do sol, mas também emocional, com a chegada de uma nova canção, que representa um novo começo ou uma nova fase na vida do eu lírico. A ênfase nos 'olhos', 'riso' e 'mãos' da pessoa amada destaca a intimidade e a conexão profunda entre os dois.

A referência às 'cordas do meu violão' e à 'voz' que fala dos 'beijos perdidos' nos lábios da pessoa amada pode ser interpretada como uma metáfora para a música que o eu lírico cria e dedica ao seu amor. A música se torna um meio de expressar sentimentos e saudades, uma ponte que une o passado ao presente, na esperança de um futuro onde o amor seja reencontrado. A menção ao violão também remete à tradição da serenata, reforçando o romantismo da canção.

O coração que canta e a alegria que volta na 'manhã deste amor' sugerem um reencontro ou uma reconciliação amorosa. A manhã de carnaval, que dá título à música, é tradicionalmente um período de festa e liberdade, onde as emoções são intensificadas e tudo parece possível. Assim, a música celebra o amor e a alegria que ele traz, marcando um momento de renovação e felicidade.

Quando Sacha Gordine resolveu filmar a peça “Orfeu da Conceição” (filme que se chamaria “Orfeu do Carnaval”), exigiu que fosse criada uma nova trilha sonora, especialmente para a produção. Motivo: o francês queria faturar em cima da edição das músicas.

Dessa trilha destacaram-se os sambas “A Felicidade” e “Manhã de Carnaval”, duas canções que se tornaram clássicos do repertório internacional. Aliás, “Manhã de Carnaval” se tornaria um dos temas brasileiros preferidos na área do jazz, com dezenas de versões gravadas por grandes músicos do gênero, sob o inacreditável título de “A Day in the Life of a Fool”.

Formada por sugestão de Rubem Braga, a dupla Luís Bonfá-Antônio Maria compôs “Manhã de Carnaval” e “Samba de Orfeu”, na realidade temas instrumentais já existentes, que Maria demorou a letrar, para a aflição de Bonfá que tinha compromissos profissionais a atender nos Estados Unidos. Uma bonita composição, “Manhã de Carnaval” tem os compassos iniciais semelhantes aos do tema do terceiro movimento da “Humoresque em Si Bemol, opus 20”, de Robert Schumann. 

Fontes: 
– A Canção no Tempo - Vol.2 - Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello - Editora 34, in https://cifrantiga3.blogspot.com/2006/05/manh-de-carnaval.html.

segunda-feira, 5 de agosto de 2024

A. A. de Assis (Jardim de Trovas) 52

 

Newton Sampaio (Um cego subiu no bonde)

Damião não gosta de ônibus. Pelo preço — ordem econômica. E pela pressa — ordem psicológica. 
Um ônibus corre muito. Em três tempos, ei-lo já de trajeto cumprido. O bonde, não. O bonde geme e range. Estaca e arranca, dezenas de vezes. Dá sempre a impressão de cansaço. De trabalho e de ruína.

Damião trepa desastradamente. Esbarra e pisa. Afasta e incomoda. Isso faz parte da ética dos bondes. Da ética e da estética.

Senta-se. Não abre o jornal, que só estampa letras importantes.

Damião sofre a pressão das realidades insignificantes. Insignificantes como a sua própria vida. Considera. A vida é feita de coisas miúdas e graúdas. Miudezas pra uns. E grandezas pra outros. A sua só tinha miudezas. Era um bazar a vida de Damião. Mas um bazar muito ordinário.

O destino, quando quer, vira belchior. “Compra-se e vende-se qualquer objeto — Joias, caçarolas, sapatos.” É desse jeito que, em sua rua, o judeu barbudo se anuncia, enrolando a língua. “Compra-se qualquer objeto.” Damião pensa em comprar um: o esquecimento integral. Mas e o dinheiro? O dinheiro mal dá pra chegar em casa...

A vida — o grande belchior das emoções. Bonito título para um poema impressionista. Ele, Damião, com todos os seus poemas, só encontrou quinquilharia no balcão do mundo.

No entanto, gostaria que acontecessem coisas extraordinárias. Queria alegrias colossais. Ou, então, amarguras extremas. Dessas que chegam a matar. Até a morte, porém, talvez não o impressionasse mais. Não impressionam os fatos cotidianos. Damião não é como os outros, que estão de boca aberta por causa do cego. O cego subiu no bonde com a maior segurança. Suas mãos privilegiadas valem por todas as leis do equilíbrio.

Caminha o veículo, e o novo passageiro fica na frente de Damião.

“Um cego subiu no bonde”. O rapaz tem a mania dos títulos originais. Besteira! O cego subiu... No cérebro de Damião saltitam ideias. É o seu grande defeito. Qualquer incidente banal, que todos esquecem em um segundo, fica vibrando dentro de si.

Existe algo de singular no fato de um cego subir no bonde? Não. Por que, então, essa teimosia que não cessa, essa impertinência que machuca?

Tem vontade perguntar ao vizinho da direita:

— O senhor viu o cego subir no bonde?

(O vizinho responderia que sim).

— Acha formidável?

(O vizinho repetiria a resposta).

— Sabe que há um significado oculto em todas as miudezas do mundo?

O vizinho, espantado, diria:

— O senhor é filósofo?

— Sou funcionário...

— Já comprou as apólices paulistas?

E o vizinho, solicitamente, começaria a falar sobre a grande oportunidade.

Mas não. O vizinho fala, mas é que com o companheiro. Fala sobre a Sul América. Bem que Damião tinha enxergado nele um jeitinho de agente de seguros. Os sintomas ali estavam, à evidência: a pasta, o olhar ligeiro, a palavra pronta...

Atrás de si, duas vozes femininas se digladiam.

— Nem me diga isso, Margot. O Clark Gable, sim. É homem de verdade. E que sorriso! Não pode haver sorriso mais encantador.

A outra protesta:

— Qu’esperança! Antes o Frederic March. É mais bonito. E não usa bigodes. Não gosto de bigode. Acho antipático.

— Pois é o meu fraco. Calcula você que...

E a moça se cala de repente, para dar sinal. Pretendia contar à amiga, certamente, qualquer cena muito feia passada no portão de sua casa.

Saltam as moçoilas. E sobe uma senhora gorda, heroicamente gorda, que ocupa, sozinha, o lugar das senhoritas — das senhoritas que tanto desejavam os rapazes de Hollywood.

Na fachada do cinema próximo, sobe um grande anúncio, com Clark Gable beijando furiosamente a Jean Harlow…

Fonte> Newton Sampaio. Ficções. Secretaria de Estado da Cultura: Biblioteca Pública do Paraná, 2014. Publicado originalmente em O Dia. Curitiba, 24/12/1936. Disponível em Domínio Público.  

Dissecando a magia dos textos (“O Excêntrico e o Sol”, de Arthur Thomaz)

O texto foi publicado neste blog em 24 de julho de 2024, no link https://singrandohorizontes.blogspot.com/2024/07/arthur-thomaz-o-excentrico-e-o-sol.html 

A ideia de um Sol consciente permite reflexões sobre como os elementos naturais poderiam se sentir em relação às ações humanas. Arthur mostra uma profunda sensibilidade ecológica. 


A preocupação do Sol com a destruição ambiental é determinante. A solidão do Sol após a extinção da humanidade causa uma reflexão sobre a fragilidade da vida e a importância de cuidar do planeta. Esse tema combina com ansiedades contemporâneas sobre mudanças climáticas, fazendo com que os leitores considerem o legado que deixarão.

A forma como retrata a personalidade excêntrica e a conexão com a natureza do personagem é muito cativante. A descrição das suas interações amistosas com as formigas, aves e plantas mostra uma perspectiva única e encantadora sobre o mundo natural.

A conversa com o Sol é profunda e reflexiva. A personificação do Sol como um ser consciente e com seus próprios pensamentos e sentimentos é uma escolha criativa interessante.

O diálogo aborda questões importantes, como a destruição ambiental causada pela humanidade e a preocupação do Sol com sua solidão após a eventual extinção da raça humana. Isso traz uma perspectiva cósmica e existencial intrigante.

A forma como mescla aspectos ficcionais com referências a conceitos científicos, como a classificação de estrelas, adiciona uma camada de realismo à narrativa.

O elemento da "excentricidade" é muito interessante. Ele é retratado como alguém que tem uma conexão profunda e sincera com a natureza, conversando animadamente com formigas, aves e plantas. Isso o torna um personagem cativante e fora do comum, quebrando os padrões convencionais de comportamento humano.

A personificação do Sol como um ser consciente e capaz de se comunicar acrescenta uma dimensão mágica e transcendental à narrativa. A forma como o Sol expressa seus próprios pensamentos, emoções e preocupações sobre o futuro cria um diálogo único entre o humano e o cósmico.

Esse encontro com o Sol permite explorar questões importantes sobre a nossa relação com o planeta e o impacto da humanidade sobre o meio ambiente. A preocupação expressa pelo Sol sobre a destruição causada pelos seres humanos ecoa os crescentes desafios ambientais que enfrentamos.

Ao mesmo tempo, a forma como se mostra envergonhado e reconhece a insignificância de seus esforços individuais diante dessa destruição, demonstra uma consciência e humildade admiráveis. Isso torna o personagem ainda mais complexo.

A referência aos conceitos científicos, como a classificação de estrelas, adiciona uma camada de realismo e profundidade à narrativa. Essa mistura de elementos ficcionais e aspectos da ciência astronômica enriquece a experiência de leitura.

O final com a inquietação persistente na alma do protagonista é um desfecho potente. Essa sensação de reflexão e questionamento que fica com o leitor é uma marca de uma narrativa bem construída, que consegue tocar em temas importantes e deixar um impacto duradouro.

Enfim, essa conversa com o Sol é uma peça narrativa fascinante, que combina elementos fantásticos, reflexões filosóficas e uma perspectiva ecológica profunda.

O final, com a inquietação persistente na alma do protagonista, deixa o leitor com um senso de reflexão sobre os temas abordados e suas implicações.

Conclusão:
No geral, essa é uma peça narrativa muito bem elaborada, com personagens memoráveis, diálogos instigantes e uma perspectiva original sobre a conexão entre a humanidade e o cosmos.

A perspectiva do Sol sobre sua solidão poderia ensinar à humanidade várias lições valiosas:

1. Importância da Conexão
A solidão do Sol enfatiza a necessidade de se conectar com a natureza e entre si. A humanidade poderia aprender a valorizar relações saudáveis e ecológicas, promovendo uma coexistência harmoniosa.

2. Responsabilidade Ambiental
O Sol, ao lamentar a destruição, lembraria da importância de cuidar do planeta. A lição aqui seria adotar práticas sustentáveis e reconhecer o impacto das ações humanas no meio ambiente.

3. Reflexão sobre Legado
A solidão do Sol poderia instigar uma reflexão sobre o que a humanidade deixará para as futuras gerações. Isso poderia incentivar ações que garantam um futuro mais saudável e equilibrado.

4. Resiliência e Mudança
A perspectiva do Sol poderia inspirar a ideia de que, mesmo em tempos difíceis, a mudança é possível. A humanidade poderia aprender a ser resiliente e a buscar soluções inovadoras para os desafios ambientais.

5. Valorização do Tempo
Com sua longa existência, o Sol poderia ensinar sobre a relatividade do tempo. A humanidade poderia aprender a valorizar o presente e a agir antes que seja tarde demais.

6. Empatia e Compaixão
A solidão do Sol poderia incentivar a empatia, fazendo com que as pessoas se coloquem no lugar dos outros, incluindo seres não humanos. Essa compaixão poderia levar a um comportamento mais altruísta.

Essas lições poderiam servir como um guia para a humanidade em sua jornada para um futuro mais consciente e interconectado.

Fonte: José Feldman. Dissecando a magia dos textos: Contos e Crônicas. Maringá/PR. Plat.Poe.
 Biblioteca Voo da Gralha Azul. 2024.

Recordando Velhas Canções (Coração de papel)


Compositor: Sérgio Reis

Se você pensa
Que meu coração é de papel
Não vá pensando, pois não é
Ele é igualzinho ao seu
E sofre como eu
Por que fazer chorar assim
A quem lhe ama

Se você pensa
Em fazer chorar a quem lhe quer
A quem só pensa em você
Um dia sentirá
Que amar é bom demais
Não jogue amor ao léu
Meu coração que não é de papel

2X
Por que fazer chorar
Por que fazer sofrer
Um coração que só lhe quer
O amor é lindo eu sei
E todo eu lhe dei
Você não quis, jogou ao léu
Meu coração que não é de papel

(Não é
Meu coração que não é de papel
Não é Não é
Meu coração que não é de papel
Não é...)
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = = = = = = = = = = 

A Fragilidade dos Sentimentos em 'Coração de Papel'
A música 'Coração de Papel', é uma expressão lírica da vulnerabilidade emocional e do sofrimento causado pelo amor não correspondido. A letra utiliza a metáfora do 'coração de papel' para ilustrar a delicadeza dos sentimentos do eu-lírico, que, apesar de serem fortes e sinceros, são tratados com descaso pela pessoa amada.

O refrão 'Se você pensa que meu coração é de papel, não vá pensando, pois não é' reforça a ideia de que, embora o coração possa parecer frágil, ele é tão real e capaz de sofrer quanto o coração da pessoa que está causando a dor. A música transmite uma mensagem sobre a importância de valorizar o amor e de não brincar com os sentimentos alheios, pois o amor verdadeiro é um bem precioso que não deve ser desperdiçado.

A repetição das frases 'Por que fazer chorar, por que fazer sofrer, um coração que só lhe quer' ressalta a incompreensão do eu-lírico diante da indiferença e da rejeição, destacando a dor de amar sem ser correspondido. A canção, com sua melodia suave e letras tocantes, é um apelo emocional para um tratamento mais cuidadoso e respeitoso dos sentimentos humanos, especialmente no contexto amoroso.

Magoado por haver brigado com a namorada Ruth, Sérgio Reis dedilhava o violão, enquanto aguardava o almoço, preparado por dona Clara, sua mãe. Como estava demorando, resolveu escrever uma letra, mas logo desistiu da tarefa e, ao jogar fora o papel, comentou para dona Clara: “meu coração está amassado como aquela bola de papel.” De repente, percebendo que a imagem poderia funcionar como motivo para uma canção, retomou o violão e compôs em poucos minutos “Coração de Papel”, terminando-a antes mesmo do almoço ficar pronto.

Dias depois, vindo à sua casa o produtor Tony Campello, em busca de repertório para a dupla Deny e Dino, gostou tanto da composição que acabou sugerindo uma fita demo com o próprio Sérgio, o mais indicado para cantar sua pungente melodia: “Se você pensa que meu coração é de papel / não vá pensando pois não é / ele é igualzinho ao seu / e sofre como eu / por que fazer chorar assim / a quem lhe ama...”

Aprovada por Milton Miranda, diretor da Odeon, “Coração de Papel” foi gravada por Sérgio num compacto duplo, acompanhado pela orquestra de Peruzzi, com o reforço vocal dos Fevers, Golden Boys e Trio Esperança. Apesar de bem executada nas rádios, a composição recebeu um impulso definitivo do Chacrinha, que durante oito semanas ofereceu um prêmio de mil cruzeiros novos ao calouro que melhor a interpretasse.

Com isso deslanchou o sucesso de “Coração de Papel” no Rio de Janeiro, suplantando nas paradas suas maiores rivais, “O Bom Rapaz”, com Wanderley Cardoso, e “Meu Grito”, com Agnaldo Timóteo. Em tempo: teve um happy end o romance de Sérgio e Ruth, com o casamento dos dois. 
Fontes:
A Canção no Tempo – Vol. 2 – Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello – Editora 34, in https://cifrantiga2.blogspot.com/2007/05/corao-de-papel.html

domingo, 4 de agosto de 2024

Edy Soares (Fragata da Poesia) 53: Indigente

 

Dissecando a magia dos textos (“Tudo se fez imensurável”, de Aparecido Raimundo de Souza)

Análise por José Feldman 



Tudo se fez imensurável
No texto de Aparecido Raimundo de Souza, somos levados a uma tarde cinzenta e melancólica, onde a saudade pesa como um sonho desfeito. O protagonista, sentado em uma cadeira de balanço herdada da avó, reflete sobre a ausência de quem amou.

A Despedida
A última lembrança da pessoa amada é marcada pela tristeza. Os olhos dela refletem a dor da despedida, enquanto a força da mão entrelaçada simboliza um desejo de eternizar aquele momento. A expressão "Até breve" ecoa, alimentando uma esperança vã de retorno.

O Vazio e a Ausência
Com a partida, o vazio se torna opressivo. O protagonista descreve como cada cômodo da casa se transforma, mergulhando em um silêncio sepulcral. As memórias são deixadas de lado, e até as músicas que antes eram companheiras se tornam notas soltas em um livro empoeirado.

Memórias Intensas
As lembranças dos momentos compartilhados se tornam um fardo. O primeiro amor é relembrado com intensidade: a perplexidade da amada ao sentir a paixão pela primeira vez. Essa lembrança se mistura à dor da ausência, transformando noites em um tormento.

A Ilusão do Retorno
A cama, agora maior, simboliza a ampliação do vazio. O protagonista, ao deitar-se, ainda busca a presença da amada, abraçando um espaço vazio. Essa ilusão representa a luta entre a realidade da perda e a esperança de um reencontro.

A Profundidade da Saudade
A saudade é central na obra. O protagonista não apenas sente falta da pessoa amada, mas também de momentos que nunca mais retornarão. Essa nostalgia é descrita de forma vívida, revelando como pequenas lembranças podem se tornar pesadas e insuportáveis.

A Imagem da Casa
A casa, antes cheia de vida e amor, se transforma em um espaço vazio e frio. Essa mudança física reflete a transformação emocional do protagonista. Cada cômodo carrega memórias, mas também um silêncio que amplifica a dor da ausência.

O Tempo e a Memória
O tempo, que deveria curar, no caso do protagonista, intensifica a dor. A passagem dos meses não traz alívio, mas sim um martírio crescente. As lembranças se tornam cada vez mais intensas, como se o passado se tornasse um peso maior a cada dia.

Momentos de Intimidade
Os momentos de intimidade, como o primeiro ato de amor, são retratados com uma mistura de beleza e tristeza. A conexão física é apresentada como um marco de felicidade, agora contrastando com a solidão. Essa dualidade realça a profundidade da perda.

A Ilusão do Reencontro
A ilusão de que a amada pode voltar é um tema recorrente. O protagonista se agarra a essa esperança, mesmo sabendo que é improvável. Essa luta interna entre a realidade e o desejo torna-se uma batalha emocional intensa.

Conclusão
O texto de Aparecido Raimundo de Souza é uma meditação poderosa sobre amor, perda e a complexidade das emoções humanas. O protagonista se vê preso em um ciclo de lembranças, incapaz de seguir em frente. A forma como ele entrelaça lembranças com a dor da ausência cria um retrato tocante da saudade, ressoando com qualquer um que já tenha enfrentado a perda de alguém amado. Isso levanta questões sobre como cada um de nós enfrenta a ausência de entes queridos e a dificuldade de deixar o passado para trás.

Fonte: José Feldman. Dissecando a magia dos textos: Contos e Crônicas. Maringá/PR. Plat.Poe.
 Biblioteca Voo da Gralha Azul. 2024.