O Racum* dormira o dia inteiro num confortável buraco de árvore. O crepúsculo chegava quando ele acordou, espreguiçou-se uma ou duas vezes e, saltando do topo do tronco onde fizera o seu lar, olhou ao redor para cuidar do seu jantar.
No meio da floresta havia um lago, e ao longo da costa soaram gritos do povo aquático alardeando que o Racum se aproximava cada vez mais. Primeiramente, foi o Cisne quem deu um grito de advertência. O Grou repetiu o brado e, desde o centro do lago, a Gavia*, nadando lentamente, fez o mesmo e seu grito ecoou sobre as águas silenciosas.
O Racum apressou-se, mas não encontrou nenhum pássaro descuidado que ele pudesse agarrar, por isso ele bicou umas poucas conchas de mexilhão e, com habilidade, quebrou-as para alimentar-se da guloseima.
Ao longo do caminho, como ele saltava para lá e para cá, a uma certa distância, enroscou-se; no capim e caiu com as quatro patas sobre uma família de Skunks*, pai, mãe e doze filhotes, que estavam aconchegados em profundo sono numa macia cama de capim seco.
"Ei!", exclamou papai Skunk, "o que você pretende com isso, hein?!"
E ficou olhando desafiante para ele.
"Oh, desculpe-me, desculpe-me", implorou Racum, "eu sinto muito. Eu não tive intenção! Eu estava correndo e não os vi ".
"Da próxima vez, é bom ter cuidado de ver onde pisa!", grunhiu o Skunk, e Racum mais que depressa deu no pé.
Correndo para o alto de uma árvore, ele deu de cara com dois esquilos vermelhos num ninho, mas antes que pudesse enfiar-lhes as patas, do alto do galho eles o repreenderam com raiva.
"Desçam daí, amigos!", pediu Racum., "o que estão fazendo aí em cima? Eu não quero lhes fazer nenhum mal!"
"Você não nos engana, Racum!", tagarelaram os esquilos, e Racum foi embora.
Embrenhando-se pela floresta, ele finalmente achou o oco de uma grande árvore que o atraiu, pois exalava um odor doce e peculiar. Cheirou e cheirou, deu algumas voltas e viu algo escorrendo de uma pequena brecha. Ele experimentou. Era deliciosamente doce.
Subiu e desceu da árvore, até que por fim achou uma abertura por onde podia introduzir a pata. Quando ele a puxou estava coberta de mel!
Agora Racum estava feliz. Ele comeu e cavou, e cavou e comeu o dourado e mágico mel com ambas as patas até que sua bonita e pontuda cara ficou toda lambuzada.
Subitamente, colocou a pata na orelha. Alguma coisa o tinha ferido terrivelmente ali e, em seguida, o seu nariz sensível foi terrivelmente ferroado. Ele esfregou a cara com ambas as patas. Os afiados ferrões se fizeram mais agudos, ele golpeou o ar. Por fim, esqueceu-se de segurar-se em um dos galhos e, assim, num grito, ele despencou direto para o solo,
Ele rolou e rolou por sobre as folhas secas, de modo que ficou coberto dos pés a cabeça, como se fosse um casaco de pele. Os olhos e a cara ficaram cobertos de folhas. Furioso, com medo e com dor, ele arremeteu pela floresta chamando por alguém de sua espécie para que viesse em seu auxílio.
A lua brilhava na floresta e muitos dos seus habitantes estavam fora de suas casas. Um outro Racum ouviu o chamado e veio ao seu encontro. Mas quando viu aquela coisa medonha e lambuzada de folhas secas vindo desvairadamente na sua direção, deu meia volta e correu para salvar sua vida, pois não sabia o que aquela coisa podia ser.
O Racum que havia roubado o mel correu atrás dele tão rápido quanto pôde na esperança de alcançá-lo e implorar que o outro o ajudasse a livrar-se daquelas folhas.
Então, ambos correram até que saíram dos limites da floresta e chegarem à branca e radiosa praia ao redor do lago. Ali, uma raposa os encontrou, mas após uma olhadela na coisa esquisita que perseguia o já aterrorizado Racum, ela deu meia volta e disparou, correndo o mais rápido que podia.
Naquele momento, um jovem urso que trotava para fora da floresta sentou-se de cócoras para observá-los. Quando olhou bem e viu o Racum lambuzado de folhas, tratou de subir numa árvore e sair do caminho.
Já o pobre Racum estava tão fora de si que mal sabia o que estava fazendo. Correu para a árvore no encalço do Urso e o segurou pelo rabo.
"Oh, oh!", rosnou o Urso e Racum o deixou ir embora.
No meio da floresta havia um lago, e ao longo da costa soaram gritos do povo aquático alardeando que o Racum se aproximava cada vez mais. Primeiramente, foi o Cisne quem deu um grito de advertência. O Grou repetiu o brado e, desde o centro do lago, a Gavia*, nadando lentamente, fez o mesmo e seu grito ecoou sobre as águas silenciosas.
O Racum apressou-se, mas não encontrou nenhum pássaro descuidado que ele pudesse agarrar, por isso ele bicou umas poucas conchas de mexilhão e, com habilidade, quebrou-as para alimentar-se da guloseima.
Ao longo do caminho, como ele saltava para lá e para cá, a uma certa distância, enroscou-se; no capim e caiu com as quatro patas sobre uma família de Skunks*, pai, mãe e doze filhotes, que estavam aconchegados em profundo sono numa macia cama de capim seco.
"Ei!", exclamou papai Skunk, "o que você pretende com isso, hein?!"
E ficou olhando desafiante para ele.
"Oh, desculpe-me, desculpe-me", implorou Racum, "eu sinto muito. Eu não tive intenção! Eu estava correndo e não os vi ".
"Da próxima vez, é bom ter cuidado de ver onde pisa!", grunhiu o Skunk, e Racum mais que depressa deu no pé.
Correndo para o alto de uma árvore, ele deu de cara com dois esquilos vermelhos num ninho, mas antes que pudesse enfiar-lhes as patas, do alto do galho eles o repreenderam com raiva.
"Desçam daí, amigos!", pediu Racum., "o que estão fazendo aí em cima? Eu não quero lhes fazer nenhum mal!"
"Você não nos engana, Racum!", tagarelaram os esquilos, e Racum foi embora.
Embrenhando-se pela floresta, ele finalmente achou o oco de uma grande árvore que o atraiu, pois exalava um odor doce e peculiar. Cheirou e cheirou, deu algumas voltas e viu algo escorrendo de uma pequena brecha. Ele experimentou. Era deliciosamente doce.
Subiu e desceu da árvore, até que por fim achou uma abertura por onde podia introduzir a pata. Quando ele a puxou estava coberta de mel!
Agora Racum estava feliz. Ele comeu e cavou, e cavou e comeu o dourado e mágico mel com ambas as patas até que sua bonita e pontuda cara ficou toda lambuzada.
Subitamente, colocou a pata na orelha. Alguma coisa o tinha ferido terrivelmente ali e, em seguida, o seu nariz sensível foi terrivelmente ferroado. Ele esfregou a cara com ambas as patas. Os afiados ferrões se fizeram mais agudos, ele golpeou o ar. Por fim, esqueceu-se de segurar-se em um dos galhos e, assim, num grito, ele despencou direto para o solo,
Ele rolou e rolou por sobre as folhas secas, de modo que ficou coberto dos pés a cabeça, como se fosse um casaco de pele. Os olhos e a cara ficaram cobertos de folhas. Furioso, com medo e com dor, ele arremeteu pela floresta chamando por alguém de sua espécie para que viesse em seu auxílio.
A lua brilhava na floresta e muitos dos seus habitantes estavam fora de suas casas. Um outro Racum ouviu o chamado e veio ao seu encontro. Mas quando viu aquela coisa medonha e lambuzada de folhas secas vindo desvairadamente na sua direção, deu meia volta e correu para salvar sua vida, pois não sabia o que aquela coisa podia ser.
O Racum que havia roubado o mel correu atrás dele tão rápido quanto pôde na esperança de alcançá-lo e implorar que o outro o ajudasse a livrar-se daquelas folhas.
Então, ambos correram até que saíram dos limites da floresta e chegarem à branca e radiosa praia ao redor do lago. Ali, uma raposa os encontrou, mas após uma olhadela na coisa esquisita que perseguia o já aterrorizado Racum, ela deu meia volta e disparou, correndo o mais rápido que podia.
Naquele momento, um jovem urso que trotava para fora da floresta sentou-se de cócoras para observá-los. Quando olhou bem e viu o Racum lambuzado de folhas, tratou de subir numa árvore e sair do caminho.
Já o pobre Racum estava tão fora de si que mal sabia o que estava fazendo. Correu para a árvore no encalço do Urso e o segurou pelo rabo.
"Oh, oh!", rosnou o Urso e Racum o deixou ir embora.
Sentia-se cansado e terrivelmente envergonhado. Foi quando descobriu o que devia ter feito desde o início - pulou para dentro do lago e livrou-se da maior parte das folhas. Depois voltou para o seu buraco de árvore, enrodilhou-se e lambeu a própria pelagem até que ficasse totalmente limpa. Então, adormeceu.
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Notas:
* Racum – Muito comum no Canadá, animal peludo que tem uma cauda tufosa e anelada e uma faixa de pelos pretos ao redor dos olhos. Esses pelos pretos parecem uma máscara. O racum pertence à família do quati, jupará e panda. É do mesmo gênero do guaxinim.
* Gavia – ave que possui 90 cm de comprimento e pode mergulhar até 81 m de profundidade nas águas de lagos e rios. Com as suas patas implantadas bem atrás no corpo, abre caminho quando mergulha, mas é-lhe difícil andar em terra seca. Por vezes, emite um som, um chamamento ruidoso e lamentoso ou geme e ri loucamente, estranhos ruídos esses que com frequência se ouvem de noite.
* Skunk – Pequeno animal mamífero norte-americano, da família das doninhas, tem pelo preto com uma listra branca e a forma de V no dorso. Expele um odor fétido quando alarmado ou atacado.
Fonte:
Elaine Goodale Eastman e Charles A. Eastman (tradução: Antonio Dorival). O talismã da boa sorte e outras lendas dos índios Sioux. SP: Landy, 2003.
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Notas:
* Racum – Muito comum no Canadá, animal peludo que tem uma cauda tufosa e anelada e uma faixa de pelos pretos ao redor dos olhos. Esses pelos pretos parecem uma máscara. O racum pertence à família do quati, jupará e panda. É do mesmo gênero do guaxinim.
* Gavia – ave que possui 90 cm de comprimento e pode mergulhar até 81 m de profundidade nas águas de lagos e rios. Com as suas patas implantadas bem atrás no corpo, abre caminho quando mergulha, mas é-lhe difícil andar em terra seca. Por vezes, emite um som, um chamamento ruidoso e lamentoso ou geme e ri loucamente, estranhos ruídos esses que com frequência se ouvem de noite.
* Skunk – Pequeno animal mamífero norte-americano, da família das doninhas, tem pelo preto com uma listra branca e a forma de V no dorso. Expele um odor fétido quando alarmado ou atacado.
Fonte:
Elaine Goodale Eastman e Charles A. Eastman (tradução: Antonio Dorival). O talismã da boa sorte e outras lendas dos índios Sioux. SP: Landy, 2003.
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