domingo, 12 de julho de 2020

Paulo R. O. Caruso (Crônica) 1


Sábado, 5h20min da manhã. A aurora esticava tenuemente os braços rumo ao despertar para o novo dia. Os olhos de Rubinelson Furtado brilharam quando ele, após algumas horas perambulando por um bairro da Zona Norte da cidade, enxergou Margareth. A estonteante morena saíra do seu trabalho como corretora de imóveis direto para a balada, em celebração ao seu aniversário de 26 anos, com colegas da academia de educação física.

A localidade não era das mais seguras, o que fez a moça, ao descer do ônibus exausta, esticar a largura dos passos rumo ao beco que dava para a sua residência. Mais uns cem metros e enfim estaria em segurança para dormir até a tarde após uma sexta-feira tão exaustiva, conquanto divertida. Nem parecia preocupada com a, segundo ela, "tal virosezinha que, após devastar vários países, recém adentrara o território brasileiro.

O rapaz, por seu turno, mantinha-se muito bem informado acerca do Coronavírus e trajava luvas brancas e máscara, temendo um possível contágio nas ruas. Todavia, igualmente acelerou suas passadas com o intuito de alcançar a beldade.

- É o seguinte, dona. Perdeu, perdeu! Passa o celular e a bolsa já já!

- Oi? Como assim? Assaltante se protegendo dessa frescura de virose????

- Frescura não, madame. Mais respeito! Co-ro-na-ví-rus! COVID-19, viu? Já matou milhares na China, na Itália, na Espanha, nos Estados Unidos, na França, na Inglaterra e só Deus sabe onde mais! E chegou aqui ao Brasil, tá?

- Sério isso?

- Olha só, sem conversa! Passa tudo! Já me enchi de ficar correndo risco por sua causa! - esbravejou com olhos esbugalhados o vagabundo, de tão apavorado ante a possibilidade de se contaminar num "acidente de trabalho"...

A morena, segundo ordens do neurótico interlocutor, já ia se preparando para passar álcool em gel na parte externa da bolsa pirateada e no celular para entregá-los ao larápio quando, de repente, veio a fatalidade. Ele, que mantinha a mão direita no bolso como quem aponta uma pistola contra a vítima, se desesperou ao receber perdigotos no rosto, na máscara e na roupa. Afinal, Margareth soltara um forte espirro proveniente de uma rinite alérgica devida a uma lufada de vento empoeirada.

O rapaz, apavorado, imediatamente desfaleceu na frente da jovem. Acordou na delegacia e, depois do resultado negativo do teste, deu graças a Deus pelo confinamento involuntário...

Fonte:
texto enviado pelo autor

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