quarta-feira, 8 de julho de 2020

Antonio Lycério Pompeo de Barros (Devaneios Poéticos)


MANHÃ SEM SOL

Manhã sem sol! Manhã cinzenta e fria!
A brisa olente! O pássaro que trina!
Sinos que tangem! Tudo, enfim, combina,
Contrista o meu viver e me angustia...

Estranha sensação meu ser invade...
Vou sepultando indiferente, os sonhos
E, os dias meus passados, tão risonhos,
Vou divisando, além, numa saudade!

Manhã sem sol! Manhã cinzenta e fria!
Matando, embora, em mim minha alegria,
Eu te bendigo e te abençoo, ainda...

És para mim, manhã fria e sem sol,
A flor desabrochando no arrebol
Duma saudade muito terna e linda!…
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MEU ENTARDECER


Vai descambando o sol lá no poente!
O céu toldado está e chove agora.
Parece até que a natureza chora
A tarde que agoniza lentamente...

Caí no telhado a chuva e na vidraça,
Ou sobre o asfalto quente se estraçalha
E enquanto a noite tétrica gargalha,
A tarde, triste e agonizante, passa...

Enquanto a chuva cai e a tarde morre
E a noite avança e a solidão percorre
A vastidão do céu, sereno e escuro,

Penso no entardecer de minha vida!
O sol se pondo e a noite, enfim, caída,
Pesada e fria sobre o meu futuro...
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NÃO SEI POR QUÊ?!

Não sei dizer, nem lhe explicar, agora,
Por quê me atraí o céu e me fascina.
Por quê minh’alma triste e peregrina,
Subindo vai pelo infinito, afora...

Não sei dizer, nem lhe explicar deveras,
Por quê a solidão do mar a arrasta
E os horizontes e a planície vasta
Povoam-na de sonhos e quimeras!...

Apenas sei que fico só, vazio...
Perdido em meus pensares, me extasio
A solidão me invade e automatiza...

A tudo que me cerca fico alheio!
Sonhar! Subir! Voar! É meu anseio,
Fugindo a um mundo que me brutaliza…
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SE TE AMO!

Ainda me perguntas se te amo...
Se aceso tenho aquele sentimento,
Que me fez crer em teu amor profano,
Fonte de todo o meu padecimento...

Por mim responda minha mocidade,
Aos braços teus lançada, loucamente...
Buscando, aflito e a rir, felicidade,
Onde morava a ingratidão, somente.

Falem por mim o meu viver errante...
A ânsia que sinto em buscar distante,
O fim desta agonia prolongada...

Falem por mim os vícios que consomem,
Que martirizam este pobre homem,
Hoje sem fé, sem pão, sem Deus, sem nada…
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SOLIDÃO INTERIOR

Imensa é a solidão que vem das matas
E aquela que se estende nas planuras!
A que provém do céu, lá nas alturas,
Ou que murmura, além, entre cascatas!

Aquela que contorna e envolve os rios
E vai pousar, tranquila sobre os lagos!
Que a brisa traz às praias, entre afagos,
A nos tornar mais tristes, mais vazios...

Grande, demais, é a solidão do mar!
Da tarde que desmaia a soluçar,
Buscando no horizonte seu jazigo!

Mas, a maior, a solidão mais triste!
A mais profunda solidão que existe,
Não vaga por aí... Mora comigo!
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Antonio Lycério Pompeo de Barros nasceu em Cuiabá/MT, em 1922. No Liceu Cuiabano, nos idos de 1936, começou a desenvolver seus pendores para a literatura, ao descrever passeios, piqueniques e pequenas caçadas, dentre estas “Minha primeira caçada”, revista e ampliada posteriormente. Publicou em Ponta-Porã, em 1946, seu primeiro soneto, intitulado “Ainda perguntas se te amo?”. Viveu como funcionário do Banco do Brasil, em cidades do Mato Grosso, São Paulo, se aposentando em Brasília, como gerente da Agência do Congresso Nacional.

Em 2003 publicou pela Editora da Universidade Federal de Mato Grosso “Devaneio (Poesia & Prosa)”. Possui participação com sonetos de sua autoria, na Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos 54º volume; Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos 55º volume ; Livro de Ouro da Poesia Brasileira; e e-book “Devaneios”, com 12 sonetos, editado por Antonio Fernandes Dantas.

Fonte:
Celeiro de Escritores. Sonetos eternos. Santos/SP: Ed. Sucesso, 2009.

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