CRONICÕES E LIVROS DE LINHAGEM
Além da poesia e das novelas de cavalaria no trovadorismo, ainda foram cultivados outras manifestações literárias: os cronicões, as hagiografias e os nobiliários ou livros de linhagem.
Os cronicões, de pouco valor literário, deram origem à historiografia portuguesa e serviram de material de suporte para Herculano compor sua Portugaliae Monumenta Historica. Crônicas Breves do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, Crónica Geral de Espanha (1344), provavelmente elaborada por D. Pedro, Conde de Barcelos, filho bastardo de D. Dinis.
As hagiografias (= vidas de santos), escritas em Latim, possuem ainda menos significado literário.
Os livros de linhagens eram relações de nomes especialmente de nobres, com o objetivo de estabelecer graus de parentesco que serviam para dirimir dúvidas em caso de herança, filiação ou de casamento em pecado (= casamento entre parentes até o sétimo).
Ao lado de informações tipicamente genealógicas revelam veleidades literárias: nas referências às ligações genealógicas se intercalam, com realismo colorido e naturalidade, narrativas breves, mas de especial interesse, como a da Batalha do Salado.
HUMANISMO (1418-1527)
Em Portugal, o Humanismo inicia-se quando Fernão Lopes, guarda-mor da torre do Tombo desde 1418, é encarregado por D. Duarte (filho de D. João I) de “por em crônica as histórias de seus antepassados. e ou da sua promoção a Cronista-Mor do Reino, em 1434, e encerra-se em 1527, quando Sá de Miranda regressa da Itália trazendo a medida nova (ou o decassílabo).
Pela primeira vez, é demonstrada uma preocupação com a História documentada, envolvendo a descrição dos fatos sociais fora dos parâmetros da Corte.
OS CRONISTAS:
FERNÃO LOPES
Autodidata, de origem humilde, foi um dos legítimos representantes do saber popular, embora já no seu tempo um novo tipo de saber começava a surgir: de cunho erudito-acadêmico e humanista.
Das várias crônicas que teria escrito sobre os reis portugueses da primeira dinastia (Dinastia de Avis) e do começo da segunda, várias se perderam, só restando três de autoria indiscutível: Crônica d'El Rei D. Pedro, Crônica d'El-Rei D. Fernando e Crônica d'El-Rei D. João I. Outras, ainda lhe são atribuídas, como a Crônica do Condestável (publicada em 1526).
Decididamente vocacionado para a historiografia, Fernão Lopes tem sido considerado o "pai da História" em Portugal. Sua visão abrangente e lúcida de Fernão Lopes torna possível o “nascimento” da História documentada de Portugal compilando fatos como a Dinastia de Avis, a expansão marítima portuguesa.
Seu valor como historiador reside acima de tudo no fato de procurar ser "moderno", desprezando o relato oral em favor dos acontecimentos documentados.
Do ponto de vista da forma, o seu estilo representa uma literatura de expressão oral e de raiz popular. Ele próprio diz que nas suas páginas não se encontra a formosura das palavras, mas a nudez da verdade. “(...) nosso desejo foi em esta obra escrever verdade, sem outra mistura, deixando nos bons aquecimentos todo fingido louvor, e nuamente mostrar ao povo, quaisquer contrárias coisas, da guisa que avieram."
Fernão Lopes enquadra-se nitidamente nas estruturas culturais da Idade Média. Todavia, alguns pormenores fazem dele um homem avançado para o seu tempo. Dotado dum estilo maleável, coloquial, primitivo, saborosamente palpitante e vivo, não escondia o seu gosto acentuado pelo arcaísmo, talvez em decorrência de sua origem plebeia e seu amor ao povo, à "arraia-miúda".
Fernão Lopes possui incomum sentido plástico da realidade, procurando oferecer ao leitor um instantâneo "vivo", "atual", dos acontecimentos. Incorporou em sua obra alguns recursos da novela, como por exemplo, nos retratos psicológicos das personagens, a cerrada cronologia, o emprego dos diálogos, constituem soluções estruturais que trouxe da novela e construiu com seu próprio pendor literário.
Sua carreira como historiador é provavelmente a mais longa, sendo sucedido por Gomes Eanes de Zurara após a aposentadoria.
continua…
Fontes:
Além da poesia e das novelas de cavalaria no trovadorismo, ainda foram cultivados outras manifestações literárias: os cronicões, as hagiografias e os nobiliários ou livros de linhagem.
Os cronicões, de pouco valor literário, deram origem à historiografia portuguesa e serviram de material de suporte para Herculano compor sua Portugaliae Monumenta Historica. Crônicas Breves do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, Crónica Geral de Espanha (1344), provavelmente elaborada por D. Pedro, Conde de Barcelos, filho bastardo de D. Dinis.
As hagiografias (= vidas de santos), escritas em Latim, possuem ainda menos significado literário.
Os livros de linhagens eram relações de nomes especialmente de nobres, com o objetivo de estabelecer graus de parentesco que serviam para dirimir dúvidas em caso de herança, filiação ou de casamento em pecado (= casamento entre parentes até o sétimo).
Ao lado de informações tipicamente genealógicas revelam veleidades literárias: nas referências às ligações genealógicas se intercalam, com realismo colorido e naturalidade, narrativas breves, mas de especial interesse, como a da Batalha do Salado.
HUMANISMO (1418-1527)
Em Portugal, o Humanismo inicia-se quando Fernão Lopes, guarda-mor da torre do Tombo desde 1418, é encarregado por D. Duarte (filho de D. João I) de “por em crônica as histórias de seus antepassados. e ou da sua promoção a Cronista-Mor do Reino, em 1434, e encerra-se em 1527, quando Sá de Miranda regressa da Itália trazendo a medida nova (ou o decassílabo).
Pela primeira vez, é demonstrada uma preocupação com a História documentada, envolvendo a descrição dos fatos sociais fora dos parâmetros da Corte.
OS CRONISTAS:
FERNÃO LOPES
Autodidata, de origem humilde, foi um dos legítimos representantes do saber popular, embora já no seu tempo um novo tipo de saber começava a surgir: de cunho erudito-acadêmico e humanista.
Das várias crônicas que teria escrito sobre os reis portugueses da primeira dinastia (Dinastia de Avis) e do começo da segunda, várias se perderam, só restando três de autoria indiscutível: Crônica d'El Rei D. Pedro, Crônica d'El-Rei D. Fernando e Crônica d'El-Rei D. João I. Outras, ainda lhe são atribuídas, como a Crônica do Condestável (publicada em 1526).
Decididamente vocacionado para a historiografia, Fernão Lopes tem sido considerado o "pai da História" em Portugal. Sua visão abrangente e lúcida de Fernão Lopes torna possível o “nascimento” da História documentada de Portugal compilando fatos como a Dinastia de Avis, a expansão marítima portuguesa.
Seu valor como historiador reside acima de tudo no fato de procurar ser "moderno", desprezando o relato oral em favor dos acontecimentos documentados.
Do ponto de vista da forma, o seu estilo representa uma literatura de expressão oral e de raiz popular. Ele próprio diz que nas suas páginas não se encontra a formosura das palavras, mas a nudez da verdade. “(...) nosso desejo foi em esta obra escrever verdade, sem outra mistura, deixando nos bons aquecimentos todo fingido louvor, e nuamente mostrar ao povo, quaisquer contrárias coisas, da guisa que avieram."
Fernão Lopes enquadra-se nitidamente nas estruturas culturais da Idade Média. Todavia, alguns pormenores fazem dele um homem avançado para o seu tempo. Dotado dum estilo maleável, coloquial, primitivo, saborosamente palpitante e vivo, não escondia o seu gosto acentuado pelo arcaísmo, talvez em decorrência de sua origem plebeia e seu amor ao povo, à "arraia-miúda".
Fernão Lopes possui incomum sentido plástico da realidade, procurando oferecer ao leitor um instantâneo "vivo", "atual", dos acontecimentos. Incorporou em sua obra alguns recursos da novela, como por exemplo, nos retratos psicológicos das personagens, a cerrada cronologia, o emprego dos diálogos, constituem soluções estruturais que trouxe da novela e construiu com seu próprio pendor literário.
Sua carreira como historiador é provavelmente a mais longa, sendo sucedido por Gomes Eanes de Zurara após a aposentadoria.
continua…
Fontes:
Textos obtidos em
Célio Antonio Sardagna. Literatura Portuguesa. UNIASSELVI, 2010.
Massaud Moisés. A LITERATURA PORTUGUESA. São Paulo: Cultrix, 2008.
Teófilo Braga. História da literatura portuguesa – Renascença. Lisboa: INCM, 2005. v. 2.
Célio Antonio Sardagna. Literatura Portuguesa. UNIASSELVI, 2010.
Massaud Moisés. A LITERATURA PORTUGUESA. São Paulo: Cultrix, 2008.
Teófilo Braga. História da literatura portuguesa – Renascença. Lisboa: INCM, 2005. v. 2.
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