UM BANDO DE OITO ENFERMEIRAS, na folga do hospital em que trabalhavam resolveram pregar um trote no novo estagiário de medicina, aliás, um pedaço de apetência* em forma de homem capaz de virar a cabeça de qualquer mulher em estado de avidez desesperadora e pronta para transgredir todos os outros tipos de pecados existentes.
Até as consideradas sérias e castas não ficariam de fora. Diante da sua insana luminosidade, se derreteriam como plástico jogado ao fogo. Depois que cada uma deu vida e forma a sua “aprontação”, se reuniram num restaurante no centro da cidade e passaram a contar as peraltices que fizeram, enquanto almoçavam e bebiam cerveja:
- Eu coloquei algodão no seu estetoscópio - disse a primeira, caindo na caquinação*.
A segunda não deixou por menos:
- Escondi as roupas dele no armário do diretor, e ele teve que ir embora pra casa de jaleco e Uber. E gargalhou a mais não poder.
- Fiz pior, amigas - esclareceu a terceira enfermeira, uma morena de fechar o comércio e tirar o planeta do eixo: - Passei a mão num dedo que cortei de um defunto e coloquei no prato dele lá no refeitório, quando ele se levantou para pegar um copo de refrigerante. Como as demais, se escangalhou de tanto que rinchavelhou* do pobre infeliz.
Foi a vez da quarta:
- Meninas, substituí as fichas de seus pacientes e, no lugar delas coloquei fotos de mulheres peladas. Vocês precisavam ter visto a reação dele. Da mesma forma que as demais, galhofou tanto que chegou aos píncaros dos soluços.
A quinta antes de contar a sua façanha, entornou o copo sobre a própria roupa. Chasqueava* por antecipação da impostura levada à cabo:
- Amigas, despejei óleo de rícino na sopa que serviram na hora do jantar. Não demorou e ele correu espavorido, para o banheiro.
A sexta enfermeira escreveu várias cartas de amor como se fosse o pobre do estagiário se declarando, e colocou os envelopes, um de cada vez, em dias alternados, na bolsa da doutora Eva, uma ginecologista chata de galocha que tratava todo mundo como se fossem suas empregadas.
- E aí, o que aconteceu? – quis saber as demais.
- Amigas, na última eu assinei o nome dele. A doutora Eva, que andava cabreira, ao saber de quem se tratava, pegou o coitadinho na garagem do hospital, rasgou as cartas, jogou os pedacinhos na cara dele, e, não contente, aplicou um belo de um tapa na sua fuça. Meu Deus! Cheguei a ficar com pena. A força da mão da doutora se fez tão forte e vigoroso que até agora pareço estar sofrendo junto com a bofetada desferida.
Chegou a vez da sétima enfermeira trazer à baila a sua sacanagem realizada com o desventurado do estagiário:
- Amigas, eu fui mais sádica na minha perversão. Encontrei um monte de preservativos no bolso do seu jaleco. Sabem o que veio à cabeça? Imaginem! A moça troçava a cada palavra pronunciada, como se aquilo fosse a coisa mais natural do mundo. Vocês não vão acreditar. Furei todas, todas, sem deixar uma sequer, com uma agulha que passei os cinco dedos assim que cheguei no plantão, pra trabalhar.
A oitava enfermeira, a mais nova do grupo, e diga-se de passagem, a mais bonita e atraente da turma, até então oculta entre mil palavras, invisível aquele instante das demais colegas, teve entrementes, um difícil e contínuo fim inesperado: Desmaiou.
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* Vocabulário:
Apetência – característica do que é apetitoso.
Caquinação – gargalhada.
Chasquear – Troçar, gozar.
Rinchavelhar – rir destemperadamente, estridentemente.
Caquinação – gargalhada.
Chasquear – Troçar, gozar.
Rinchavelhar – rir destemperadamente, estridentemente.
Fonte:
Texto enviado pelo autor.
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