Euclydes da Cunha, nascido em 20 de janeiro de 1866, na fazenda de Santa Rita do Rio Negro, município de Cantagalo, RJ, morreu assassinado por motivos passionais no dia 15 de agosto de 1909.
Considerado o maior escritor brasileiro de todos os tempos, ora não analisaremos sua obra e, sim, alguns fatos e aspectos curiosos da sua personalidade.
Se Euclydes estivesse, por exemplo, interessado em anotar algum fato do seu interesse e não dispusesse de papel suficiente, continua a tarefa normalmente, escrevendo nos punhos brancos e engomados de sua camisa.
Seu sentimento cívico, de fidelidade à República, era indiscutível levando-o mesmo a atos de ousadia como quando quebrou o sabre e o lançou aos pés do Ministro Thomaz Coelho, negando-se desfilar diante dele para não ferir seus íntimos ideais republicanos. Isto lhe custou a expulsão da Escola Militar na qual, mais tarde, com o advento da República, foi readmitido.
Euclydes detestava ser colocado em evidência. Gostava de trabalhar sem alarde. Assim, insurgiu-se contra o horário do lançamento da pedra fundamental do primeiro Grupo Escolar de São Carlos, obra que deveria executar na qualidade de engenheiro. O evento deveria acontecer às 13h de um determinado dia, com a presença do maior número possível de pessoas. Euclydes exigia que a pedra fosse colocada de madrugada, sem foguetório. Conciliados os interesses, o Presidente da Câmara concordou que a cerimônia fosse efetuada às 8h da manhã.
Inimigo de exibicionismos, Euclydes recusava-se a vestir casaca e, certa vez, quando as circunstâncias não lhe deram alternativa, desabafou, resignado: "Com isto, eu até pareço um gafanhoto!".
Como não podia deixar de ser, Euclydes da Cunha era apaixonado pelos livros. Dizem que, vendo alguém a ler, não resistia à tentação de arriscar um olho para descobrir o nome do livro e o seu autor e, se tivesse oportunidade, sem a menor cerimônia, pedia permissão para folheá-lo.
Viajava, certa vez, para Descalvado, rumo à fazenda de seu pai; notando que alguém à sua frente lia um livro, com muito interesse, a curiosidade de Euclydes entrou em ebulição. Conteve--se. Em Santa Rita do Passa Quatro, o referido leitor desembarcou apressadamente, esquecendo o livro sobre o banco. Euclydes não perdeu tempo. Apossou-se do livro. Ao folheá-lo, percebeu, porém, que se tratava de obra obscena. Indignou-se ao ver inúmeras anotações deprimentes, assinalando certos trechos. E comentou com o cunhado, que o acompanhava, ter vontade de reencontrar o tal viajante, para ter o prazer de atirar-lhe no rosto o livro imoral,
E, por último, esta lição que nos deixa o autor de "Os Sertões", bastante útil para os dias atuais. Regressava Euclydes do seu trabalho no território do Acre, onde recebia um ordenado de 4 contos de réis. E o Barão do Rio Branco o comissionou a seguir, em confiança, no Ministério do Exterior, no departamento de engenharia, com o mesmo salário que recebia no Acre. Euclydes recusou-se a aceitar, contentando-se com a metade dessa quantia justificando que, no Acre, o trabalho era árduo e exposto a vários perigos. Na Capital Federal, no conforto das dependências do Ministério do Exterior, achava abusivo tal salário - um rombo para os cofres públicos! Sem comentários.
(Publicado na Revista Santos Arte e Cultura - Setembro 2008)
Fonte:
Cláudio de Cápua. Retalhos de Imprensa. São Paulo: EditorAção, 2020.
Livro gentilmente enviado pelo escritor.
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