segunda-feira, 6 de julho de 2020

Adênis Bergamaschi (Poemas Avulsos)


ASPIRAÇÃO

Quero sorver a doçura do teu beijo
no cálice da minha angústia.
Quero beijar teu fugidio olhar
com os lábios sedentos de minha alma,
uma só vez,
de tal modo
que eu fique satisfeito para sempre.
Quero tragar tua alegria e tua tristeza,
no mesmo instante,
com o mesmo prazer
e com o mesmo dissabor.
Quero abraçar-te com os braços gigantescos
do meu amor imenso
e permanecer unido a ti
no deserto da vida
e na solidão da morte.
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O RELÓGIO

Soa a meia-hora.
Perdido no tempo,
quero certificar-me da hora exata.
Mas, quando ouço outras pancadas,
não consigo contá-las.
Apenas distingo a meia-hora.
Meu cérebro está confuso...
Quero apenas saber que existo,
independente do tempo.
O relógio bate desordenadamente.
Sei que o tempo não parou.
Basta-me distinguir a meia-hora,
o momento marcado
para a realização do meu sonho.
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PRIMEIRA NAMORADA

Após tantos anos,
vejo-te surgir no horizonte
da minha adolescência distante.
Vejo-te qual estrela perdida
na noite comprida
da minha lembrança.

Vejo-te bela, sorrindo,
singela, pedindo
o meu coração.
Imagem querida,
por que me persegues?

É de todo impossível
ver-te a meu lado
e reviver, satisfeito,
as horas saudosas
de um sonho desfeito..,
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ROSA ABERTA

A rosa abriu-se
para saudar tua passagem,
Teu pensamento perdido na distância
não percebeu a imensidão do gesto da rosa.
Mas a rosa aberta ficou,
e suas pétalas sorridentes
aclamaram tua passagem.
Seguias por um caminho imaginário,
num momento de luz,
sorrindo às estrelas
no azul do sonho.
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SAUDAÇÃO A PROFESSORA PRIMÁRIA

Salve, Mestra primária, doce amiga
do nosso filho, da gentil criança,
primavera de sonhos, esperança
que todo lar alegremente abriga.

Salve, missão que a tanto amor obriga,
traduzindo em renúncia e confiança
o que será talvez vaga lembrança,
quando não fores mais que a Mestra antiga.

Salve, Mestra — caminho do porvir!
Aclamada serás aonde fores,
porque o bem tu sabes transmitir.

E, percorrendo os ásperos caminhos,
levas nas mãos o bálsamo das flores,
com que aplacas a ira dos espinhos.
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SONETO DE ESPERANÇA

(À memória de minha querida sogra D. Maria Starling do Pinho)

Trilhando a longa senda da Esperança,
vergada à cruz pela existência afora,
com fé e tão sublime confiança,
buscaste sempre a nova e eterna aurora.

Teu doce e puro riso de criança,
iluminando o teu viver, agora
unido à Luz da bem-aventurança,
resplandece na eterna e doce aurora.

Morreste para a vida transitória,
porém na eternidade ressurgiste,
participando da suprema Glória.

E descansas na Paz do amor divino,
onde a ventura verdadeira existe,
rendendo graças num eterno hino.
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TROVA

Ao lado da namorada,
pescava com alegria,
embora sem pegar nada,
que peixão ele trazia!
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Adênis Bergamaschi nasceu em Ribeirão de Cima/ES, em 17 de janeiro de 1935. Filho de Emilio Bergamaschi e de D. Idália Gasir Bergamaschi, falecidos. Casado com Léa Angelo Bergamaschi, bacharel e Licenciado em Letras Neolatinas pela Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais. Lecionou em alguns colégios de Belo Horizonte, sendo professor de redação comercial no Centro de Teleducação do SENAC e professor de Língua Portuguesa e de Literatura Brasileira no Colégio Técnico do Sindicato dos Hidrelétricos de Belo Horizonte.

Ex-colaborador de A Gazeta de Vitória/ES. Co-autor do livro "Filigranas" (trovas), publicado pela União Brasileira de Trovadores, seção de Belo Horizonte, à qual pertence. Autor do livro "Janela Vazia" (poemas), publicado em 1974, em Belo Horizonte. Participou do livro "Poetas do Brasil", com o conjunto de poemas intitulado "Silêncio das Horas", publicado sob a direção de Aparício Fernandes, em 1975.


Fonte:
Aparício Fernandes (org.). Anuário de Poetas do Brasil – Volume 4. Rio de Janeiro: Folha Carioca, 1979.

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