sábado, 25 de julho de 2020

Elizabeth Mengelberg (Poemas Diversos)


DESATAR DE CORAÇÕES

Aproxima-se a hora da despedida,
uma hora inexata, uma atroz ferida…
E de todos os sonhos, seus e meus,
resta a recordação do nosso adeus.

Num breve e triste aceno nossas almas
irão se separar calmas... mui calmas.
E como dois amigos, dois irmãos,
selamos o amor num aperto de mãos.

E partiremos então, sem rancor,
com doces lembranças de nosso amor.
Cada qual fugirá para seu canto,
levando consigo dolente pranto.

E por um curto e pertinaz momento
talvez haja um cruel esquecimento
de detalhes pequenos que sobraram
e em nossos corações se abandonaram!
****************************************

ILUSÃO


Dia chuvoso é um dia sempre triste,
onde a felicidade nem sequer existe;
Éden de sublimes mas solitárias flores,
onde se perdem todos os eternos amores.
Ignorada saudade da feliz infância
perdida entre caminhos de grandes distâncias.
Soneto breve, só, como a chuva do céu,
lembrando um amor meu, que em sonhos se perdeu.
Instante feliz que preencheu o coração,
com uma leve felicidade: Ilusão!
****************************************

MERAS RECORDAÇÕES


Uma rosa já sem vida
e por todos esquecida,
lembra-me do nosso amor,
que murchou como esta flor.

Sua imagem está presente,
mesmo você estando ausente.
Um riso nos fez unir,
um ciúme o fez partir.

Você foi como um navio
que parte de um triste cais,
deixando um clima sombrio;

solidão tirando a paz.
Mas o navio luzidio
volta e você não mais!
****************************************

O HERÓI DA NOITE


O mar tão calmo e tão triste
espalha-se sobre a areia,
parece querer brincar,
Em sua frente existe
uma alegria que vagueia,
som de vozes, a falar.

A vida torna-se um sonho,
talvez grande ilusão,
que vive a nos perseguir.
Às vezes, um vulto risonho
põe fim a uma solidão
que surgirá no porvir.

E, ao anoitecer, o mar
herói de todos se faz,
e fica feliz assim.
Pois também sabe chorar
quando um sonho se desfaz,
chega a ser humano, enfim!
****************************************

REFLEXÃO

Meus pensamentos
se esvaem rapidamente;
caminham mais rápido
do que eu caminho agora,
já velha e cansada.
Revivendo o passado
como se este fosse presente.
Construo castelos de areia,
para viver meu futuro.
Morro a cada instante
em que perco você.
Ressuscito quando o vejo,
mesmo tão longe,
tão distante.
****************************************

SÓ UM SONHO E NADA MAIS!

 

A bruma que habita dentro de mim
é igual àquela que, em um dia de frio,
esconde casas e prédios, tudo enfim.
E assim se esvai um pensamento sombrio.

A solidão em que vive meu ego
é como se dentro de um museu
só existisse um quadro preso a um prego,
e esse quadro solitário fosse eu.

Uma tristeza quase me consome,
é um enterro de belas lembranças;
um pobre gritando de raiva e fome,
o fim de todas as minhas esperanças.

Deixo-me levar pelos pensamentos...
Estou num navio, o qual deixa o cais,
tentando fugir de todos tormentos.
Mas é só um sonho e nada mais!

Fonte:
Aparício Fernandes (org.). Anuário de Poetas do Brasil – Volume 4. Rio de Janeiro: Folha Carioca, 1979.

Nenhum comentário: