Numa certa manhã, meados dos anos 1960, um dos pioneiros da cidade desceu do carro em frente ao local onde estava sendo construída a nova catedral de Maringá, ao lado da antiga igrejinha de madeira. Lá estava, em visita às obras, nosso primeiro bispo, Dom Jaime Luiz Coelho. O grandioso templo, projetado para chegar a 124 metros (mais 10 contando a cruz a ser colocada no topo), já estava com cerca de 30 metros. O homem aproximou-se, cumprimentou o bispo, fez uns rodeios, pediu licença e disse:
– Olhe aqui, Dom Jaime, se eu fosse o senhor, mandava parar a construção no ponto em que está, que está muito bom assim, botava um telhado por cima e pregava uma placa dizendo: “Aqui criamos juízo”.
Graças a Deus Dom Jaime não criou “juízo”. Abraçou o amigo, agradeceu o conselho, porém disse que continuaria a obra até o final. No meio da conversa ainda conseguiu que o homem prometesse continuar ajudando, como de fato continuou: no dia seguinte mandou entregar lá um monte de sacas de cimento.
O querido pastor estava acostumado a ouvir espantos relacionados com a imponência do novo templo. Com frequência alguém lhe dizia: “O senhor é um homem peitudo mesmo. Pra tocar uma obra dessas tem que ter muito tutano”. Ele respondia: “Peitudo, na verdade, não sou eu; é o povo de Maringá. Sou apenas um homem de fé. Desde que aqui cheguei senti a fibra desta gente. Tenho certeza absoluta de que vamos juntos concluir logo a construção”.
Ele via a cidade crescer rapidamente em todos os sentidos. Achava então que a Casa de Deus teria de ser grande também, para mostrar que a espiritualidade estava em primeiro lugar no coração das famílias pioneiras. Imaginou um grande cone apontando para o céu, procurou em São Paulo o célebre arquiteto José Augusto Bellucci e em abril de 1958 expôs aos fiéis a maquete da futura catedral.
Quatro meses depois, no dia 15 de agosto, festa da padroeira Nossa Senhora da Glória, fez-se o lançamento da pedra fundamental – um pedaço de mármore retirado das escavações da basílica de São Pedro, no Vaticano, bento pelo papa Pio XII.
Em julho de 1959 iniciaram-se as obras. No dia 10 de maio de 1972, aniversário da cidade (25 anos), festejou-se o término da estrutura. No dia 31 de dezembro do mesmo ano, Dom Jaime celebrou a primeira missa na catedral nova. A Casa de Deus, que o povo de Maringá construiu em união com o primeiro bispo da diocese, está lá até hoje e lá estará por todo o sempre, como realização máxima da geração desbravadora. Quantos ajudaram a erguer tão belo símbolo de fé? Quanto suor de quantos operários? Quantas sacas de café doadas por pequenos e grandes agricultores? Quantas moedinhas oferecidas por humildes fiéis?
Um bispo peitudo e um povo generoso e forte. A fé faz maravilhas.
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(Crônica publicada no Jornal do Povo – Maringá – 25-6-2020)
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texto enviado pelo autor.
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