quinta-feira, 14 de novembro de 2024

Vereda da Poesia = 157 =


 Trova de
PAULO ROBERTO DA SILVA
Caicó/RN

Nem que a hora desta vida,
venha a nos inquietar...
pois ao seu lado querida
nem vejo a mesma passar!...
= = = = = =

Folclore Brasileiro em Versos de
JOSÉ FELDMAN
Campo Mourão/PR

A Cuca

Na noite enluarada um sussurro a soar,
a Cuca, a bruxa de olhos de fogo,
com seu manto escuro vem te atormentar,
dos sonhos das crianças é o eterno jogo.

Sonhos se desfazem sob seu olhar frio,
e o medo se espalha como sombra a dançar,
levando os inocentes ao mais profundo vazio,
na teia da noite, ela vem se enredar.

Mas sob a maldade há um lamento a ecoar,
histórias esquecidas de um amor a vagar,
que, mesmo em pesadelos busca a liberdade,

e assim, a Cuca tem sua dualidade,
guardando em seu ser um profundo pesar,
entre sonhos perdidos ela vai se ocultar.
= = = = = = 

Trova de
LUNA FERNANDES
Rio de Janeiro/RJ

As outras brincam de roda…
E a olhar a brincadeira
a menina se acomoda
sobre as rodas da cadeira…
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Soneto de
JOÃO BATISTA XAVIER OLIVEIRA
Bauru/SP

Sutil olhar

A nova era agora tão veloz
atinge os ares lassos de metais;
a quântica figura não é mais
o mito que atordoa a todos nós.

Os olhos deslumbrados por fanais
que buscam horizontes, antes sós,
percebem muito além de nossa voz
as vibrações sutis de mil sinais.

Desperta criatura limitada!
Aguça a tua aura dos sentidos;
o mundo ao teu redor é quase nada!

A nova era agora tem ouvidos;
o espírito retarda evolução
se olhar de uma segunda dimensão!!
= = = = = = 

Trova de
CÍCERO ACAYABA
Cambuquira/MG (1925 – 2009)

– “Eu volto um dia” – juraste.
– “Não te espero” – me zanguei…
– “Mentiste: nunca voltaste…
Menti: eu sempre esperei…”
= = = = = = 

Poema de
YVES NAMUR
Namur/Bélgica

Figuras do muito obscuro (I)

Evita pois
Olhar no seio do visível

 E
Antes vê as coisas que não vês
E tudo isso que não ouves.

 Pois é aí,
Ao centro de “Nenhures”,
Que sempre o coração vai ter

 E
O passo do inesperado.

Porquê obstinarmo-nos a chamar ainda
Aquele que o não pode ser

E
Nunca há de poder regressar?

 Se não fosse para aumentar o vazio
E a nossa necessidade de ser na imensidão?
(Tradução: Fernando Eduardo Carita)
= = = = = = 

Trova Popular

Vou tirar o teu retrato,
no tampo da minha viola,
o dia que não te ver,
teu retrato me consola.
= = = = = = 

Poema de
JOSÉ FANHA
(José Manuel Kruss Fanha Vicente)
Lisboa/Portugal

Grito

De ti que inventaste
a paz
a ternura
e a paixão
o beijo
o beijo fundo intenso e louco
e deixaste lá para trás
a côncava do medo
à hora entre cão e lobo
à hora entre lobo e cão.
De ti que em cada ano
cada dia cada mês
não paraste de acender
uma e outra vez
a flor elétrica
do mais desvairado
coração.
De ti que fugiste à estepe
e obrigaste
à ordem dos caminhos
o pastor
a cabra e o boi
e do fundo do tempo
me chamaste teu irmão.
De ti que ergueste a casa
sobre estacas
e pariste
deuses e linguagens
guerras
e paisagens sem alento.
De ti que domaste
o cavalo e os neutrões 
e conquistaste
o lírico tropel
das águas e do vento.
De ti que traçaste
a régua e esquadro
uma abóboda inquieta
semeada de nuvens e tritões
santidades e tormentos.
De ti que levaste
a volúpia da ambição
a trepar ereta
contra as leis do firmamento.
De ti que deixaste um dia
que o teu corpo se cansasse
desta terra de amargura e alegria
e se espalhasse aos quatro cantos
diluído lentamente
no mais plácido
silente
e negro breu.
De ti
meu irmão
ainda ouço
o grito que deixaste
encerrado
em cada pétala do céu
cada pedra
cada flor.
O grito de revolta
que largaste à solta
e que ficou para sempre
em cada grão de areia
a ressoar
como um pálido rumor.
O grito que não cansa
de implorar
por amor
e mais amor
e mais amor.
= = = = = = 

Trova de
APARÍCIO FERNANDES
Acari/RN, 1934 – 1996, Rio de Janeiro/RJ

Ah! Se eu morresse, querida,
sentindo os carinhos teus,
teria, na morte, a vida
que em vida pedi a Deus!
= = = = = = 

Poema de
CZESLAW MILOSZ 
Seteniai/Lituânia, 1911 – 2004, Cracóvia/Polônia

Tão Pouco

Disse tão pouco
Dias curtos.

Dias Curtos,
Noites curtas.
Anos curtos.

Disse tão pouco,
Não tive tempo.

O meu coração cansou-se
Do êxtase,
Do desespero,
Do zelo,
Da esperança.
A boca do Leviatã
Engolia-me.

Deitava-me nu junto ao mar
Nas ilhas desertas.

Arrastava-me para o pélago
A baleia branca do mundo.

E agora não sei
O que foi verdade.      
(tradução: Elzbieta Milewska e Sérgio das Neves)
= = = = = = = = = 

Trova de
PROFESSOR GARCIA
Caicó/RN

A musa chega e me inspira,
num delírio encantador...
Afina as cordas da lira
e enche o meu mundo de amor!
= = = = = = 

Soneto de 
ANTÔNIO OLIVEIRA PENA
Volta Redonda/RJ

O caminho

Dize a palavra que te encerre o sonho,
aquela que resuma o teu desejo;
evita aquela de pesar medonho,
aquela de lamento malfazejo.

Dize a palavra que te encerre o sonho
com a mesma intensidade do teu beijo!
Evita o murmurar insano, e põe o
teu pensamento a trabalhar, que vejo

que aquilo que dizemos é que é ouvido,
ainda que o façamos em segredo...
— Não há palavra sem repercussão!...

Na estrada em que o homem vai, tão comovido,
seja de sua pátria, ou do degredo,
antes, por ela, andou seu coração!
= = = = = = 

Trova de
CONCHITA MOUTINHO DE ALMEIDA
Poços de Caldas/MG

A terra finge que dorme,
o sereno por seu turno,
com uma ternura enorme
se faz amante noturno.
= = = = = = 

Spina de 
SOLANGE COLOMBARA
São Paulo / SP

O Tempo 

Aprendi que sou
dilúvio ou talvez 
brisa, a calmaria

quente, em uma noite fria.
Entendi que a vida usufrui
tudo que o instinto irradia.
Sou um ângulo forte, uma
luz que grita, na fotografia.
= = = = = = 

Trova de 
MARILDA MENDONÇA PINHEIRO
São Gonçalo/RJ

Das veredas da fazenda
a primavera agradece
às flores caindo em renda,
bordando o chão que amanhece!
= = = = = = 

Soneto de 
AMILTON MACIEL MONTEIRO
São José dos Campos/SP

Ter razão

“Ninguém por ter razão já foi ao céu”!
Eu não duvido disso, pois de fato
Nada vale fazer louco escarcéu,
Se barulho não é prova do que é exato!

Quem teima pode ir é ao beleléu...
É um Infeliz com orgulho caricato,
Que o faz tão só ser dono de um troféu
De convencido, tolo e até insensato!

Impor nossa razão só por vaidade
E a qualquer preço, hora e até lugar
Talvez seja a maior boçalidade!

Importa é ter amor! Não, ter razão!
Vale a pena esta regra ponderar:
O amar faz muito bem ao coração!
= = = = = = 

Trova de
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR

Como foi, como não foi, 
conte dois que eu conto um... 
Num belo inglês, diz o boi, 
olhando a Lua: moon... moooon...
= = = = = = 

Poema de
ULLA HAHN
Brachthausen/Alemanha

Pré- Escrita

 Esta Saudade
de te chamar pelo nome
Este receio
de te chamar pelo nome

 Esta saudade
de manter a palavra
Este receio
de apenas manter a palavra

 Esta saudade de uma vida
que não dê em poema
Este receio de um poema
que antecipe a vida.
= = = = = = 

Trova de
MILTON SEBASTIÃO SOUZA
Porto Alegre/RS, 1945 – 2018, Cachoeirinha/RS

Se um pai se entrega à bebida,
ao filho desencaminha.
O mau exemplo é na vida
pior do que erva daninha.
= = = = = = 

Soneto de 
HEGEL PONTES
Juiz de Fora/MG (1932 – 2012)

Devaneio

É noite de natal, estou sozinho
E escuto ela chegando passo a passo;
Entra no quarto e agora, de mansinho,
Afaga minha fonte e meu cansaço.

Ela fala das flores do caminho,
E ainda sem notar meu embaraço,
Fala de velhos sonhos, de carinho,
De um beijo antigo, de um antigo abraço.

E por falar comigo desse jeito,
Vai removendo amargas cicatrizes
E arrancando lembranças do meu peito.

Eu ouço e peço: “Cala-te saudade,
Não se deve dizer aos infelizes
Que algum dia existiu felicidade”.
= = = = = = 

Trova Humorística de
ZAÉ JÚNIOR
Botucatu/SP, 1929 – 2020, São Paulo/SP

Foi de horas mortas, furtivas,
este amor que agora cortas...
mas, em mim, como estão vivas
essas nossas horas mortas!
= = = = = = 

Hino de 
SÃO JOÃO DE MERITI/RJ

Desejando a lei conceber o progresso
De ver o Sol renascendo maior,
Fez ir ao berço da mãe gentil
São João transformado em cidade.
Do passado é memória na história presente
Para tecer um futuro melhor.
Continuamente, nosso dever
É guiá-lo crescendo e avante.

São João de Meriti é o nome da terra que louvamos!
O povo meritiense com áureos lauréis honramos!
Se tiver que partir eu irei onde a vida decidir!
Mas em meu coração levarei a bandeira de Meriti!

Sobre o chão dos "Tamoios" virou "Freguesias",
Nas sesmarias de "Iguaçu",
A produzir finas iguarias
Levadas nas águas do rio.
Tal labor construiu sobre tua presença
Templos à pura e exata razão
Enaltecendo a doce emoção
De quem ama, trabalha e pensa.

Que teu céu guarde o voo da sã liberdade
E que teu solo a permita correr.
Fartas virtudes possam chover
Sobre nossa querida cidade,
Pois ao imaginar não haver mais saída,
Quando a luz do final se apagar,
Quero chorar do amor que te sinto
Ao ver teu brasão acendendo.
= = = = = = 

Quadra Humorística de
IDEL BECKER
Porto Casares/ Argentina, 1910 – 1994, São Paulo/SP

Tenho tosse no cabelo,
dor de dentes no cachaço,
sinto canseira nas unhas,
não vejo nada de um braço.
= = = = = = 

Soneto de
VICENTE DE CARVALHO
Santos/SP, 1866 – 1924

Corrida de amor

Quando partiste, em pranto, descorada
A face, o lábio trêmulo... confesso:
Arrebatou-me um verdadeiro acesso
De raivosa paixão desatinada.

Ia-se nos teus olhos, minha amada,
A luz dos meus; e então, como um possesso,
Quis arrojar-me atrás do trem expresso
E seguir-te correndo pela estrada...

"Nem há dificuldade que não vença
Tão forte amor!" pensei. Ah! como pensa
Errado o vão querer das almas ternas!

Com denodo, atirei-me sobre a linha...
Mas, ao fim de uns três passos, vi que tinha
Para tão grande amor, bem curtas pernas...
= = = = = =

Trova Premiada de
RITA MARCIANO MOURÃO 
Ribeirão Preto/SP

Se o homem abaixasse a fronte
com fé, respeito, humildade,
seria a Terra uma ponte
entre Deus e a humanidade.
= = = = = = 

Recordando Velhas Canções
ACALANTO 

Elomar Figueira Melo 
(Vitória da Conquista/BA)

Certa vez ouvi contar
 Que muito longe daqui
 Bem pra lá do São Francisco, ainda pra lá...
 Em um castelo encantado,
 Morava um triste rei
 E uma linda princesinha,
 Sempre a sonhar...

Ela sempre demorava
 Na janela do castelo
 Todo dia à tardezinha, a sonhar...
 Bem pra lá do seu castelo,
 Muito além, ainda mais belo,
 Havia outro reinado,
 De um outro rei.

Certo dia a princesinha,
 Que vivia a sonhar
 Saiu andando sozinha,
 Ao luar...

E o castelo encantado
 Foi ficando inda pra lá
 Caminhando e caminhando,
 Sem encontrar.

Contam que essa princesinha
 Não parou de caminhar,
 E o rei endoideceu,
 E na janela do castelo morreu,
 Vendo coisas ao luar.
= = = = = = = = = = = = = 

José Feldman (Pafúncio e a Terapia Desastrosa)


Era um dia nebuloso quando Pafúncio, o jornalista da revista “Fuxico & Fofocas”, recebeu um telefonema inesperado de seu editor. 

“Pafúncio, preciso te dizer uma coisa. Você tem se metido em muitas confusões e, talvez, uma terapia possa ajudar.”

Pafúncio, que estava em sua mesa tentando descobrir como fazer uma reportagem sobre o novo café da moda, apenas respondeu: 

“Terapia? Mas eu só preciso de um bom café e um pouco de chocolate!” 

O editor insistiu e, relutante, Pafúncio concordou em se encontrar com a terapeuta.

Ao chegar ao consultório da Dra. Rita Lina, Pafúncio estava nervoso.

“Acho que isso vai dar um toque alegre!” ele pensou sobre sua roupa com desenhos de coelhos, sem imaginar que a psiquiatra tinha um estilo mais sério.

Assim que entrou no consultório, Pafúncio se deparou com o ambiente calmo e organizado, com livros nas prateleiras e poltronas confortáveis. 

A Dra. Rita Lina o recebeu com um sorriso cordial, mas Pafúncio, em seu estilo trapalhão, se sentou em uma poltrona meio desajeitadamente e logo começou a falar sem parar.

“Oi, sou o Pafúncio! Estou aqui porque meu editor acha que eu preciso de terapia. Ele diz que eu sou muito… como posso dizer… desastrado, sabe? Mas acho que ele está exagerando!” Ele riu, mas Dra. Rita apenas levantou uma sobrancelha.

“Vamos nos concentrar, Pafúncio. O que você gostaria de discutir hoje?” perguntou ela, tentando manter a calma.

“Ah, eu tenho tantas histórias! Uma vez, eu entrevistei um gato que pensava que era um cachorro! Foi hilário!” Pafúncio começou, sem esperar pela resposta da psiquiatra. “E outra vez, derrubei um bolo de casamento na cara do noivo! Você deveria ver a expressão dele!”

A Dra. Rita, com um olhar exasperado, tentou redirecionar a conversa. 

“Pafúncio, vamos nos concentrar em você. Como você se sente em relação ao que aconteceu nessas situações?”

“Sinto-me ótimo! Quer dizer, exceto quando as pessoas ficam bravas comigo. Uma vez, um artista me chamou de ‘cabeça de abóbora’ porque eu perguntei se ele pintava com tinta cor de batata! Mas eu só queria saber, sabe? O que tem de tão errado nisso?” Pafúncio continuava, sem perceber que estava desviando do assunto.

A psiquiatra respirou fundo e tentou mais uma vez. 

“Certo, mas como você lida com as críticas que recebe?”

“Ah, eu não lido muito bem! Uma vez, uma crítica me disse que meu estilo era ‘como um furacão em um desfile de moda’! Eu achei isso engraçado!” 

Ele riu, e a Dra. Rita estava começando a perder a paciência.

“Pafúncio, precisamos falar sobre suas reações. Você se sente confortável em expressar seus sentimentos?” perguntou ela, tentando ser paciente.

“Claro! Eu me sinto confortável como um peixe em um aquário! Ou talvez como um pinguim na neve! O que você prefere?” Pafúncio exclamou, fazendo gestos exagerados.

A Dra. Rita decidiu mudar de tática. 

“Vamos tentar uma técnica diferente. Você pode me contar sobre uma situação em que se sentiu realmente triste?”

“Ah, isso é fácil! Uma vez, eu perdi meu cachorro de pelúcia! Foi horrível! Eu procurei por toda parte, mas ele estava escondido atrás do sofá! Uma verdadeira tragédia!” Pafúncio disse, colocando a mão no coração em um gesto dramático.

“Pafúncio, eu me refiro a situações mais sérias. Vamos falar sobre suas emoções em relação ao trabalho e sua vida pessoal,” insistiu Dra. Rita.

“Ah, meu trabalho é uma loucura! Uma vez, escrevi uma matéria sobre ‘Como Ser o Melhor Fuxiqueiro’ e, sem querer, enviei para a revista errada! Eles publicaram com uma foto de um gato vestido de príncipe!” 

Ele explodiu em risadas, enquanto Dra. Rita se perguntava como tinha chegado a este ponto.

“Certo, mas e suas emoções? Como você se sente sobre isso?” a psiquiatra tentou mais uma vez, já sem paciência.

“Me sinto ótimo! Como um superstar! Ou como um astronauta no espaço! Você sabe, flutuando!” 

Pafúncio começou a gesticular novamente, e Dra. Rita sentiu que estava perdendo o controle da sessão.

“Pafúncio, precisamos ser mais sérios! Você não pode simplesmente transformar tudo em uma piada!” gritou ela, exasperada.

“Mas é isso que sou!” 

Pafúncio respondeu, sem perceber que estava ultrapassando os limites.

Dra. Rita, agora completamente irritada, decidiu que já tinha tido o suficiente. 

“Você sabe o que? Eu realmente não posso ajudá-lo. Eu vou pedir que você saia do meu consultório!”

“Mas eu só estou tentando ser divertido!” Pafúncio protestou, enquanto ela se levantava.

“Divertido? Você está me deixando louca! Por favor, saia!” 

Ela apontou para a porta, e Pafúncio, sem entender, começou a gracejar.

“Você está me expulsando? Isso é uma vitória! Meu terapeuta me expulsou! Isso é ótimo para a coluna! Vou escrever sobre isso!” 

Ele estava tão empolgado que não percebeu que estava sendo levado à porta.

A Dra. Rita, já sem paciência, fez um gesto dramático e disse: “Se você não sair agora, eu vou ter que chamar o segurança!”

Pafúncio, percebendo que a situação estava realmente fora de controle, começou a se afastar lentamente. “Eu vou! Mas isso vai ser uma boa história! Vou dizer que a Dra. Rita Lina não consegue lidar com o humor”

E assim, ele saiu do consultório, enquanto a Dra. Rita se sentava, tentando recuperar a sanidade. Do lado de fora, Pafúncio estava radiante, pensando em como aquela sessão de terapia, que deveria ser séria, se transformou em uma aventura.

“Ah, mais uma aventura para a revista!” ele exclamou, enquanto se afastava, sem saber que a verdadeira loucura estava apenas começando. Afinal, no mundo de Pafúncio, a vida era uma comédia, e ele era o protagonista trapalhão de sua própria história.

Fontes: José Feldman. Peripécias de um jornalista de fofocas & outros contos. Maringá/PR: IA Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul, 2024.
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Silmar Bohrer (Croniquinha) 123

Palavra, manifestação verbal ou escrita formada por fonemas ( sons) com um significado. Desempenha papel fundamental na comunicação, sendo essencial para a expressão e compreensão de ideias. 

Falamos tanto de tanta coisa, mas será que é fácil falar daquilo que a gente usa desde que começou a . . . falar? 

Tem gente que fala tanto sem parar, que você pensa numa frase, e virou uma súplica, e virou sentença, e virou parágrafo, e virou uma crônica, mas seguiu... acabou num verdadeiro conto de um fato ou notícia que tinha a mínima importância, quase zero, do bem falante interlocutor. 

E os falantes são tantos, hoje como dantes, enlevando e levando as pessoas. E tantos deles, e mais tantos, chegam, manipulam, invadem, persuadem e comprar muitas e muitas pessoas. 

Então a gente pensa como Carlos Nejar:  "A palavra é semente que não acaba".

Fonte: Texto enviado pelo autor  

quarta-feira, 13 de novembro de 2024

Erigutemberg Meneses (Cascata de versos) 01

 

José Feldman (O Desafio da Garagem)

Era um sábado de manhã, e o sol brilhava intensamente no céu. Pericárdio e Tipoia estavam determinados a tirar o carro da garagem, que estava preso entre caixas e objetos diversos. 

"Vamos lá, é hoje!", disse Pericárdio, animado. 

"Sim, mas como vamos fazer isso?", perguntou Tipoia, olhando para a montanha de coisas que havia se acumulado. 

"Eu tenho um plano", disse Pericárdio, com um sorriso. 

"Qual é?", perguntou Tipoia, curiosa. 

"Vou empurrar, e você vai guiar", disse Pericárdio. 

"É isso?", perguntou Tipoia, incrédula. 

"Sim, é simples", disse Pericárdio. 

Tipoia suspirou e se posicionou ao volante. 

"Pronto, vamos!", gritou Pericárdio. 

Pericárdio começou a empurrar o carro, mas ele não se moveu. 

"Não está funcionando!", gritou Tipoia

"É porque você não está ajudando!", respondeu Pericárdio. 

"Ajudando? Eu estou dirigindo!", disse Tipoia

"Dirigindo? Você está apenas sentada lá!", disse Pericárdio. 

Tipoia saiu do carro e foi até Pericárdio. 

"Você não entendeu o plano", disse ela. 

"Entendi, sim. Eu empurro, e você guia", disse Pericárdio. 

"Não, não é isso. O plano é nós dois empurrarmos", disse Tipoia

Pericárdio olhou para ela, surpreso. 

"Ah, entendi agora", disse ele. 

Eles começaram a empurrar o carro juntos, mas ele ainda não se moveu. 

"Isso é impossível!", disse Pericárdio. 

"Não é impossível. É apenas difícil", disse Tipoia. 

Eles continuaram a empurrar, suando e gritando. 

"Eu não aguento mais!", disse Pericárdio. 

"Eu também não!", disse Tipoia. 

Mas então, de repente, o carro se moveu. 

"Eu não acredito!", disse Pericárdio. 

"Eu acredito!", disse Tipoia. 

Eles conseguiram tirar o carro da garagem, mas estavam exaustos. 

"Bem, isso foi divertido", disse Pericárdio. 

"Divertido? Você está brincando?", disse Tipoia. 

"Sim, foi divertido. Agora vamos tomar um café merecido", disse Pericárdio. 

Tipoia sorriu. 

"Sim, vamos", disse ela. 

Eles foram para o café, rindo e conversando. 

"Essa foi uma aventura", disse Pericárdio. 

"Sim, foi", disse Tipoia. 

Eles se olharam e sorriram. 

Fontes: José Feldman. Peripécias de um jornalista de fofocas & outros contos. Maringá/PR: IA Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul, 2024.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing