segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025

Viriato Padilha (Manuel do Riachão)

É bastante conhecida em diversos estados brasileiros, principalmente no norte, a lenda da misteriosa personagem a quem o povo deu o nome de Manuel do Riachão e cujas aventuras satânicas são contadas em verso rústico do Piauí a Sergipe.

Em alguns lugares se acredita que Manuel do Riachão era o Diabo em pessoa. Em outros o apresentam simplesmente como um indivíduo malfazejo e nefasto, que vendera a alma ao príncipe das trevas, afim de se tornar o primeiro tocador de viola e improvisador dos batuques sertanejos.

Em toda parte, porém, Manuel do Riachão figura na tradição como bardo sem rival, se afirmando que sua parada em qualquer lugar era prenúncio de calamidade súbita e inexplicável. O povo guarda lembrança de que secavam os regatos, não obstante a regularidade das chuvas, se dispersavam os rebanhos, surgiam enfermidades no gado, perdiam-se as lavouras, e até as pessoas se sentiam atacadas de sofrimentos estranhos, quando Manuel do Riachão, de viola a tiracolo, atravessava qualquer paragem.

Assim, apesar da admiração que causava por seus altos dotes de improvisador inspirado e violeiro habilíssimo, Manuel do Riachão não podia demorar muito tempo em algum ponto. Desde logo a indignação popular se levantava contra seus costumes singulares, e nela procurava um derivativo por causa dos males que começavam a afligir a terra, sendo o pobre violeiro obrigado a encapar a viola e buscar outro lugar, até que, sendo ali também perseguido, recomeçasse a eterna peregrinação. Assim vivia Manuel do Riachão. Os lugares que de preferência frequentava eram as tabernas, as mesas de jogo e, principalmente, os batuques, pelo prazer de derrotar no verso os mais afamados cantores.

Descrevamos a forma pela qual o povo do norte conta como o sombrio Manuel do Riachão desapareceu dos sambas sertanejos.

Numa noite de São João se folgava ruidosamente em modesta casa do sertão cearense. No terreiro crepitava grande fogueira que iluminava toda a frente da habitação. A criançada pagodeava em redor do fogo, assando batata e macaxeira no borralho. Na sala roncava o sapateado, puxado vigorosamente por uns cabras desempenados, vaqueiros, comboieiros e roceiros, e por moças sadias, robustas e esbeltas. Todas aquelas pessoas, ali reunidas em alegre folguedo, se conheciam muito e eram parentes próximos, afastados ou vizinhos bastante íntimos.

Assim se notava em todas as fisionomias bem-estar completo, satisfação imensa, principalmente nos rapazes e moças, quase todos de namoro entabulado ou de casamento ajustado.

Foi no meio dessa festa simples e boa que se lembrou um dia aparecer o misterioso indivíduo cujo nome encabeça estas linhas: Manuel do Riachão, o mais afamado e fantástico violeiro dos sertões do norte.

Esse bardo errante, sempre precedido de antipatia popular, se vira obrigado a abandonar Icó, onde assombrara pela perícia em improvisar mas onde também incorrera gravemente no desagrado público por haver desrespeitado, com uma cantada obscena, uma procissão que se fazia no lugar, sacrilégio que coincidiu com o aparecimento de uma praga de lagarta que devastou completamente os roçados de milho.

A calamidade foi tomada como consequência do desacato religioso, e Manuel do Riachão, temendo violência contra a sua pessoa, bebeu o último gole de aguardente nas tabernas do Icó, pôs a preciosa viola em bandoleira e até lá foi, estrada fora, procurando novos auditórios pra exibição de seus dotes de improvisador.

Gastou dias em atravessar a serra do Pereiro, porém na noite de São João já estava na chapada do Apodi, sôfrego pra cantar, visto como no caminho não encontrara parceiro com o qual se divertir.

Manuel do Riachão passava na estrada, quando viu a fogueira e a festa à qual já nos referimos. Sem hesitação se encaminhou ao lugar da patuscada e, se aproveitando de um momento de suspensão do batuque, chamou a viola ao peito, e cantou, com voz forte, estas duas quadras:

Senhora dona da festa
me ouça, faça favô
Não trago fome nem sede
nem me atormenta o calô
Só quero, senhora minha
dizer aos convidados
que, quando meu peito se abre
se esconde o mais pintado.

Todas as pessoas que estavam na sala, e bem assim a criançada que se divertia em torno da fogueira, correram para perto de Manuel do Riachão que, em pé, no meio do terreiro, continuava tangendo o rasgado na viola, sem dizer palavra, como esperando que alguém aceitasse o atrevido desafio. Muito alto, magro e de longo cavanhaque cor de barba de milho, tinha a perna arqueada em postura mefistofélica, e um riso sardônico arregaçava o canto dos lábios magros e arroxeados.

Naquela festa não haveria alguém que aceitasse o desafio daquele sujeito? Era o que todos, com os olhos, se perguntavam mutuamente, ansiosos pra uma lição ao insolente, e ao mesmo tempo desejosos de novo divertimento.

Não esperaram muito tempo os foliões. Dentre a chusma saiu logo um crioulo de gaforinha (cabelo arrepiado) crescida, Xico Bordão, que, apanhando uma viola, respondeu no mesmo tom e música ao violeiro errante:

No tempo em que eu cantava
Meu peito retinia
Dava um grito no Icó
E no Cariri se ouvia
Senhora dona da casa
faça favô, mande entrá
Quem a tua porta bate
pedindo só pra cantá.

Uma salva estrondosa de palmas, acompanhada de gritaria dos meninos, acolheu a cantiga de Xico Bordão, que, indo ao encontro do Riachão, que continuava sempre de perna arqueada e viola ao peito, o cumprimentou e o tomando no braço, o introduziu na sala. Rapazes e moças se sentaram nos bancos dispostos ao correr das paredes, e tendo a dona da casa chegado dois tamboretes aos contendores, estes se abancaram cerimoniosamente, e depois de chupitar cada um seu copinho de aguardente, começou o torneio poético e musical, que não durou muito, pois Bordão se declarou logo vencido e se retirou da sala, envergonhado.

Estimulados os brios dos assistentes pela derrota do companheiro, empurraram ao meio do aposento outro cantador, Xico Casa-Velha, que também tinha sua fumaça de improvisador.

Este, porém, no fim de duas quadras esmoreceu.

Dizendo seu nome numa quadrinha, Riachão se aproveitou dele, e respondeu que toda a casa velha era tapera. Isso foi suficiente pra confundir o adversário.

Ainda um terceiro cantador se sentou no fatídico tamborete: Era Totonho, filho da dona da casa, e esse também foi levado à parede com a mesma facilidade.

Então ninguém mais quis cantar com o homem magro do cavanhaque vermelho. E Manuel do Riachão, vendo que nenhum cantador vinha ocupar o tamborete vazio, se levantou, fez uma grande mesura e, recuando até a porta, se preparava pra se despedir em verso, como é costume, quando surgiu na sala, com um machete a tiracolo, e sem que alguém soubesse de onde entrara, um rapaz muito pálido, de longo cabelo dourado e anelado, olhos profundamente azuis, envolvido num amplo ponche-pala de cor cinzenta clara.

Esse moço se adiantou na sala, e se sentando no tamborete onde foram vencidos Bordão, Casa-Velha e Totonho, cantou com voz dulcíssima a seguinte quadrinha, em desafio, se fazendo acompanhar no machete:

Seu Manué do Riachão
Não dê já a despedida
Torne a afinar a viola
Que o dia vem longe ainda.

Manuel do Riachão, se sentindo nomear em lugar em que julgava ser completamente desconhecido, teve um estremecimento e fixou os olhos fundos e vivos como brasas no desconhecido que continuava dedilhando no machete, até então conservando a vista abaixada, como que por timidez e recato. A ligeira emoção do violeiro não foi no entanto percebida pelos foliões. E ele, procurando disfarçar, respondeu ao moço com esta quadra arrogante:

Bem sei que o dia vem longe
Temos tempo pra trová
Mas vosmecê se arrepende
Antes do galo cantá.

O moço de olhos cor do céu continuava de fronte baixa, e em sua fisionomia, que parecia anuviada por funda tristeza, nem sinal de emoção denunciou ao ouvir a resposta atrevida de Riachão.

Ao mesmo tempo que em todos os circunstantes crescia o interesse pelo desafio um pressentimento vago lhes dizia que Manuel do Riachão, segundo a frase popular, se estreparia naquela topada. Assim, foi com satisfação que viram o moço do machete ferir de novo o instrumento com as mãos, que eram de uma brancura de cera de carnaúba, e soltar estes versos:

Um ano tão bom de inverno
Que pecados são os teu!
Seu Manué do Riachão
Teu riacho não correu.

Manuel do Riachão tornou a fitar os olhos de brasa no moço do ponche-pala cinzento. O famoso violeiro como procurava saber quem parecia querer revelar ao auditório matuto sua misteriosa e sombria natureza. No entanto não deixou de fazer entrada em tempo e responder com visível mau-humor nos seguintes versos:

Se o riacho não correu
não foi por falta de inverno
É que as águas afundaram
Foram ferver no inferno.

Os caipiras começaram a se admirar da feição estranha que tomava o desafio poético. Quem seriam os dois singulares violeiros, tão estranhos e diferentes nos modos e nas figuras?, perguntavam, chegando as bocas aos ouvidos uns dos outros. Quando as últimas notas que acompanhavam os versos do Riachão se extinguiram, o moço triste do machete descerrou outra vez os lábios, ainda sem levantar a fronte, e cantou:

Seu Manué do Riachão
que triste sina é a tua
Na noite que vosmecê canta
no céu não se vê a Lua.

Riachão se torceu no tamborete, incomodado por essa segunda investida a sua reputação, e apenas o moço cor de cera acabava de desferir a última sílaba do verso, bramiu com voz forte, na qual se percebia claramente a raiva e o despeito:

Se a Lua não aparece
Na noite de meu descante
É, moço do machetinho
Que eu canto só no minguante.

Na verdade Manuel do Riachão era um repentista admirável, e essa resposta tão adequada causou a admiração dos sertanejos. O moço louro, porém, continuava impassível e de olhos fixos no chão. De seu amplo ponche-pala cinzento se flutuava como uma neblina levemente dourada que o envolvia todo, e assim que lhe coube a vez de cantar, gemeu no machetinho, com voz que mais parecia um rosário de suspiros docemente abemolados:

Padre, Filho, Espírito Santo
É o santo sinal da cruz
Bendito seja teu nome
Senhora mãe de Jesus.

E ao mesmo tempo que cantava esta copla o moço do machetinho levantava lentamente os olhos do chão, até os fitar em cheio em Manuel do Riachão, que, sem se saber por quê, se perturbou com a luz serena, profundamente azul que deles jorrava e, em sua confusão, deu uma nota falsa no acompanhamento e não pôde encontrar logo a réplica.

O moço do machetinho tornou a baixar os grandes olhos e, antes que o outro se restabelecesse completamente, lhe despediu mais esta quadra:

Seu Manué do Riachão
um caburé suspirô
Tempere, amigo, a viola
que o bordão desafinô.

Então Manuel do Riachão já se acalmara, e assim respondeu de pronto:

Minha viola, seu moço, tropica, 
mas não focinha. 
Tem ganho em tecla função 
coroa e grau de rainha.

No entanto, apesar dessa bravata de cantador laureado, Manuel do Riachão denunciava no semblante esquálido crescente perturbação. E embora só o encarara de frente uma vez, o moço pálido bem percebia, e assim saiu com esta:

Seu Manué do Riachão,
Uma coisa está se vendo
Tua viola enrouquece
tua voz esmorecendo.

Era verdade o que dizia o moço triste, porém Manuel do Riachão tentava ainda resistir, e assim respondeu, incontinenti:

Não te glorie com isso
Cantante do ponche-pala
Bebi demais no caminho
Sinto um pigarro na fala.

Esses versos eram prenúncio da derrota do terrível trovador. O auditório compreendeu e ficou suspenso dos lábios do cantador cor de cera que, sempre de olhos baixos, tangia no machetinho com tanta doçura que parecia que os dedos vaporosos nem feriam as cordas.

Logo que Riachão se calou, o moço levantou na segunda vez os olhos serenos, tornou a fitar em cheio no violeiro, e cantou com voz mais alta e vibrante:

Seu Manué do Riachão
Meu amigo e camarada
Vosmecê se avexa tanto
Eu me avexo de nada.

Manuel do Riachão, ao sentir de novo a luz clara e profundamente azul dos olhos do fantástico moço pálido, tornou a se confundir: Os dedos rasparam na viola, nervosamente, sem tirar harmonia, o corpo todo tremeu e, na segunda vez nesse desafio, não entrou logo com a réplica, ao que o moço do machete, aproveitando a descaída, tornou de novo a abrir os lábios, e cantou, a voz ficando aguda e firme:

Seu Manué do Riachão
Depois da flô vem a espiga
Quero que vosmecê reze
o padre-nosso em cantiga.

Sentindo essa provocação direta a seu sentimento religioso, Manuel do Riachão se ergueu com um salto. Todo o corpo foi tomado por um tremor convulsivo. E torcendo os braços e as pernas, como se fossem serpentes raivosas, vibrou as cordas da viola com tanta raiva, que as, fazia arrebentar, ao mesmo tempo que berrava com voz sombria:

Seu moço do ponche-pala
Não sou padre pra rezá
Renego os santos da igreja
Renego a pedra do artá.

Ao dizer isto, todas as luzes da sala se apagaram e também a fogueira que crepitava no terreiro. Todos foram tomados de assombro.

No luar que entrava na janela viram que o moço pálido se levantava e se erguia do chão, alguns palmos, ao mesmo tempo que cantava, com voz tão aguda que chegava a doer nos ouvidos, estes versos que foram os últimos do famoso desafio:

Senhora dona da festa
Abra a porta, acenda a luz
Estamos com o Diabo em casa
Rezemos o credo em cruz.

Assim que acabou de cantar se ouviu na sala um estrondo medonho. Se abrindo logo o assoalho, de meio a meio, nele se enterrou e sumiu o nefasto Manuel do Riachão, ao passo que o moço triste e de mãos cor de cera mais se elevava do chão. Seu amplo ponche-pala cinzento se transformara em par de asas brancas como a neblina da manhã. E seu machete tomara a forma duma palma, que comprimiu ao seio e, sempre subindo, voou na janela aberta e desapareceu no espaço, sem que olhos humanos o pudessem seguir.

É assim que o povo do norte conta como Manuel do Riachão desapareceu dos sambas sertanejos.
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ANNÍBAL DE ANDRADA MASCARENHAS (Minas Gerais, 11 de Junho de 1866 – Fortaleza, Ceará, 17 de Setembro de 1924) foi contista, jornalista, dono de jornal, poeta, autor de literatura infantil, historiador, professor, republicano e tradutor brasileiro. Apresentava-se com seu nome próprio e com alguns pseudônimos, entre eles o mais famoso é Viriato Padilha. Também utilizou outros pseudônimos em seus artigos, contos e crônicas, tais como: Aníbal Demóstenes, Tycho Brahe de Araújo Machado, Sancho Pança. Porém é notavelmente conhecido como o primeiro. Foi dono do Jornal Jacobinista chamado A Bomba, mais tarde conhecido como O Nacional.
Algumas Obras: Curso de História do Brasil, 1898; O Fabricante Moderno de Perfumes, Essencias, Sabões e Sabonetes, 1919; O orador do povo, 1935; Histórias do arco da velha, 1897; Os roceiros, 1899; Livro dos phantasmas, 1925; Histórias brasileiras - contos para crianças; Sábios ilustres, etc.

Fontes:
Viriato Padilha. Livro dos phantasmas. Publicado originalmente em 1925. Disponível em Domínio Público.  
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing  

domingo, 16 de fevereiro de 2025

Jerson Brito (Asas da poesia) 11

 

José Feldman (A Síndrome da Folha em Branco Madrugada Adentro)

A madrugada se estende como um tapete sujo e sem graça, daqueles que você encontra em liquidações de garagem. E eu, no meio desse tapete, revirando-me na cama como um frango assado esquecido no forno. A insônia e a falta de inspiração formam uma dupla imbatível, tipo Batman e Robin da desgraça criativa. Só que, no caso, o Coringa sou eu, rindo histericamente do meu próprio fracasso literário.

Deveria estar sonhando com mundos fantásticos, personagens cativantes e reviravoltas mirabolantes. Em vez disso, a minha mente é um deserto árido, onde o único oásis é a contagem regressiva para o amanhecer. E cada segundo parece uma eternidade, martelando nos meus ouvidos como o baterista de uma banda de heavy metal bêbado.

A inspiração, essa vadia ingrata, me abandonou faz tempo. Acho que ela fugiu para uma ilha deserta com um grupo de escritores adolescentes que escrevem fanfics eróticas sobre duendes. E eu, aqui, com um bloqueio criativo do tamanho do Monte Everest.

Já tentei de tudo para driblar a insônia. Chá de camomila? Me deixa mais irritado. Contar carneirinhos? Acabo imaginando um churrasco e fico com fome. Meditação guiada? Adormeço no meio e acordo com a voz da instrutora dizendo: "Visualize sua paz interior… Zzzzzz… Ei, acorda!".

O problema é que a minha cabeça não desliga. Fica repassando os mesmos pensamentos obsessivamente: Por que a geladeira faz esse barulho estranho? Será que eu deixei o ferro ligado? Por que a Adele ainda não me convidou para ser o tema de uma música?

E, claro, a questão central: Por que diabos eu não consigo escrever NADA?!

Já tentei escrever sobre a minha insônia. Virou um tratado filosófico existencial tão chato que nem eu aguentei reler. Tentei escrever sobre a falta de inspiração. Virou uma metalinguagem pretensiosa que faria Jean-Paul Sartre ter um ataque de soluços.

Chego a invejar os meus vizinhos. Aposto que eles estão lá, roncando como ursos em hibernação, enquanto eu luto contra a sanidade em meio à escuridão. Será que eles têm o segredo para uma vida plena e bem dormida? Ou será que eles só usam tampões de ouvido e tomam soníferos escondido?

De repente, uma luz! Tive uma ideia! Vou escrever sobre… não, espera, já escrevi sobre isso antes. Era sobre um astronauta que se apaixona por uma alienígena que trabalha em um food truck de tacos espaciais. Foi um fracasso retumbante.

Acho que preciso mudar de ambiente. Talvez o problema seja o meu quarto. Essa cama, com esse colchão macio e esses lençóis de algodão que me abraçam como uma mãe judia superprotetora. Espera aí… talvez o problema seja o edredom! Ele é tão quentinho e aconchegante que me induz ao sono, mas não ao sono profundo e revigorante, e sim a um estado de semi-coma que me deixa mais cansado do que antes.

É isso! Vou me livrar do edredom! Vou dormir no chão, enrolado em um cobertor de lã áspero e desconfortável. Assim, vou ficar acordado e alerta, pronto para capturar as ideias que ousarem cruzar o meu caminho.

(Cinco minutos depois)

Ok, o chão é duro. O cobertor pinica. E estou com frio. Mas pelo menos estou acordado! E… e… e…

(Ronco alto e prolongado)

Pelo visto, a maldição do edredom é mais forte do que eu imaginava. E a insônia, a inspiração zero e o sono incontrolável formam um triângulo amoroso perverso que me condena a uma vida de crônicas inconclusivas e madrugadas desperdiçadas.

Mas, ei, pelo menos tenho material para escrever. De novo. Se eu conseguir acordar, é claro. E se a inspiração resolver dar as caras. E se a parar de assistir vídeos de gatinhos no YouTube… Bem, talvez eu devesse me contentar em dormir e sonhar com a Adele me convidando para um show. Pelo menos no sonho, eu sou um escritor famoso e bem-sucedido. E a pizza de calabreza com borda recheada nunca acaba.
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JOSÉ FELDMAN nasceu na capital de São Paulo. Formado em técnico de patologia clínica trabalhou por mais de uma década no Hospital das Clínicas. Foi enxadrista, professor, diretor, juiz e organizador de torneios de xadrez a nível nacional durante 24 anos; como diretor cultural organizou apresentações musicais; membro da Casa do Poeta “Lampião de Gás”. Foi amigo pessoal de literatos de renome (falecidos), como Artur da Távola, André Carneiro, Eunice Arruda, Izo Goldman, Ademar Macedo, e outros. Casado com a escritora, poetisa, tradutora e atualmente professora pós-doutorada da UEM, mudou-se em 1999 para o Paraná, morou em Curitiba e Ubiratã, morando atualmente em Maringá/PR em 2011. Consultor educacional junto a alunos e professores do Paraná e São Paulo. Pertence a diversas academias de letras, como Academia Rotary de Letras, Academia Internacional da União Cultural, Academia de Letras de Teófilo Otoni, Confraria Luso-Brasileira de Trovadores, Academia Virtual Brasileira de Trovadores, etc, possui o blog Singrando Horizontes desde 2007, e Pérgola de Textos, um blog com textos de sua autoria. Assina seus escritos por Floresta/PR. Publicou mais de 500 e-books. Premiações em poesias no Brasil e exterior.

Fontes:
José Feldman. Labirintos da vida. Maringá/PR: Plat. Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing

Coelho Neto (Palpites)

– Ó mulher, onde meteste tu o dinheiro? 

— Que dinheiro, homem de Deus?

— Não te queiras fazer fina! Responde e deixa-te de histórias. Que fizeste do dinheiro que estava no pé de meia?

— No pé de meia não havia vintém. O que havia no pé de meia ficou na barrela.

— No pé de meia havia duzentos e tantos mil réis em muito boas notas, que eu lá guardei. Vamos, deixemo-nos de brincadeiras: onde meteste o dinheiro?

— Se eu te digo que não havia vintém...

— Vintém não havia, havia notas, já te disse. Onde estão?

— Foram por água abaixo, na lavagem.

— Mau! Mau! Olha que eu não estou disposto a rir. Quem sabe se a senhora quer imitar o ministro? Imitar, digo mal, porque ele queima. Vamos, diga onde pôs o dinheiro se não quer que eu faça aqui uma das minhas... Depois... Aqui d’El-Rei...!

— Homem, queres que eu seja franca?

— Sem dúvida.

— Pois o dinheiro... o dinheiro... levou-o o burro.

— Que burro, senhora? Para que quer um burro duzentos e tantos mil réis?

— Foi o burro. Ele não levou os duzentos mil réis de pancada, foi levando aos poucos.

— Como? Então o burro entrava no quarto, abria a meia, tirava o dinheiro que queria...? Homem, mulher, tu pensas que eu sou idiota?

— Quem tirava não era o burro, Manoel...

— Então quem era?

— Era eu.

— Tu! Então que história é essa do burro?

— É que era o burro que o levava. Tu nunca jogaste no bicho?

— Eu? A senhora bem sabe que eu não tenho vícios.

— Pois foi o burro do jogo que levou o dinheiro. O caso foi assim: tu conheces a mulher do Cunegundes, uma ruiva, que tem dois filhos pequenos?

— Conheço. Mas que vem cá fazer a mulher do Cunegundes?

— Ouve. Como sabes o Cunegundes está de cama há uns pares de meses. Enquanto teve saúde foi um homem de trabalho, atirava-se a tudo para ganhar a vida — trazia a casa farta, a mulher limpa, os pequenos sempre bem vestidos, a moléstia, porém, acabou com tudo isso. O pobre homem, para não morrer à míngua, aprendeu a fazer charutos, mas os charutos dão muito pouco... Que eram cem charutos por dia para uma família como aquela? A Adelaide andava varada, pálida; os pequenos, rotos, descalços, pediam pão de casa em casa, até fazia pena. Quanta vez eu aqui lhes dei comida... Ah! Meu amigo, quando um pai de família cai numa cama...

— Pois sim, mas vamos ao burro...

—Vamos. As coisas estavam nesse pé quando, um belo dia, a Adelaide, que não tinha um casaco decente para chegar à janela e andava sempre a chorar, a lamentar-se, pedindo a morte para ela e para os filhos, apareceu risonha e mais contente do que dantes e, todos os dias, eu, por entre as frechas da janela, via chegar gente com embrulhos para a Adelaide: eram queijos, caixas de vinho, fazendas e a Adelaide a deitar luxo até que um dia saiu de carro como a senhora do doutor.

— E o pobre do marido a fazer charutos...

— A fazer? A fumá-los, e dos bons, deitado em lençóis de linho, com fronhas de renda nos travesseiros: um luxo de príncipe. Eu fiquei a banzar e, como não sou maliciosa, disse comigo: “a Adelaide tirou a sorte...” E um dia, apanhando-a a jeito, disse-lhe em ar de pagode: “então, sua felizarda, sempre apanhou um bilhetinho premiado, hein?!” Ela ficou muito espantada e respondeu: “não senhora: eu não jogo na loteria. Ah! Já sei porque a senhora fala — é porque me vê andar assim, apesar da moléstia do Cunegundes, coitado! Que quer, minha amiga? Quem não tem cão, caça como gato.

— Que gato?

— Espera, ouve homem: “enquanto o Cunegundes tinha saúde e força eu não me preocupava, mas veio a doença e, a senhora sabe, as crianças têm fome e o homem da venda não fia principalmente quando sabe que o dono da casa está entrevado no fundo de uma cama. Procurei trabalho... Só me apareciam charutos; desanimei. Foi então que uma comadre minha, cujo marido anda longe, apanhando borracha nos sertões do Amazonas, disse-me que eu aventurasse alguma coisa no touro. Aventurei. A primeira marrada custou, isso custou, mas hoje...” e desatou a rir, só para que eu lhe visse os dentes obturados a ouro, como lá diz o outro. Eu fiquei a olhar para ela e, com franqueza, estranhei aquela alegria porque a Adelaide era alegre mas agora dá umas gargalhadas... “Então a senhora vive agora à custa do touro?”

— É verdade, respondeu ela.

— E seu marido?

— Ah! Meu marido não sabe. Para uma mulher ser feliz no jogo do bicho deve guardar segredo, principalmente para o marido. A senhora por que não tenta?

– Tu sabes que eu não gosto de bois, não gosto de touradas, boi só vaca, essa mesma cozida.

—Não, D. Adelaide, eu não gosto de bois.

— Não gosta! A senhora diz isso porque ainda não experimentou. Eu também não gostava e hoje não posso passar sem ele. Experimente, experimente — e dobrou-se toda em outra gargalhada. Eu fiquei pensando e depois que ela saiu resolvi experimentar. — Tu!? — Então? No primeiro dia mandei pedir porco; deu o burro; no segundo dia mandei buscar elefante, deu outra vez o burro. Fiquei desconfiada com tanto burro: diabo! isso não é um jogo, é uma estrebaria! Quem sabe se não é Deus que me está mostrando o caminho da felicidade! pensei. À noite sonhei que estava agarrando um burro pelo rabo. Foi naquela noite em que te agarrei, não te lembras?

— Sim, mas eu não sou burro...

—Nem eu te agarrei pelo rabo. De manhã, muito cedo, fui ao pé de meia e mandei comprar no burro... coice! E ... de coice em coice, meu velho, fiquei a tinir. A Adelaide vive regaladamente à custa do touro, eu com o burro só consegui amofinações e misérias.

— Então os duzentos e tantos mil réis foram todos no burro?

— Todos.

—Muito bem.

— Antes eu tivesse jogado no touro — ainda ontem deu.

— Se a senhora tivesse jogado no touro ia agora mesmo, como um fuso, para o olho da rua, entende? O touro dá todos os dias mas, se me constar que a senhora joga em semelhante bicho eu faço um banzé dos diabos nesta casa. Touro não é bicho que entre em casa de família, está ouvindo?

—E a Adelaide?

— Que tenho eu com a Adelaide?

—Ela não joga em outro.

—Porque o marido está entrevado mas eu não estou, com a graça de Deus. Enfim — no burro pode jogar uma ou outra vez, pouco, com touros é que eu não quero negócios. Se eu souber que me entrou touro aqui em casa a senhora vai para o olho da rua em dois tempos. É o que lhe digo. (E foi; todos os jornais noticiarem o caso comentando-o). O homenzinho, que apertara os cordões à bolsa, levando para a Caixa Econômica o que dantes deixava nas meias, começou a desconfiar dos lautos jantares que a mulher lhe apresentava — eram verdadeiros festins — e, farejando os pratos, perguntava desconfiado:

—Mulher, isto é burro?

— Tudo é burro, pelo moderno.

—Então agora não dá coices?

—Qual! está manso como cordeiro.

—Pois sim, mas não te fies. Depois apareceram sedas, chapéus, costumes de pano francês, joias, camarotes do lírico...

—É burro?!

—Então! que há de ser?

—Olha lá, mulher — acho muita carga para um burro só.

—A culpa não é minha... se ele dá. 

Um dia, porém, o homem entrou em casa justamente na ocasião em que a mulher fazia jogo e viu... Que viu ele? Sei apenas o que os jornais disseram: que ele travou de um pau e desancou a mulher. Sem razão disse a coitada ao delegado, explicando o caso: na ocasião em que o marido entrou no quarto ela abria a porta de espelho do guarda casaca e o homem tomou por uma desobediência o que era a sua própria imagem.

— Eu permiti que ela jogasse no burro, senhor doutor, mas o que eu lá vi de burro não tinha nada.

—Então que era?

—Ora! que havia de ser? Palpites da Adelaide.
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HENRIQUE MAXIMIANO COELHO NETTO nasceu em Caxias/MA, em 1864 e faleceu no Rio de Janeiro, em 1934. Ingressou na Faculdade de Direito do Recife. No Rio de Janeiro, conheceu José do Patrocínio, que o introduziu na redação do jornal Gazeta da Tarde e no periódico A Cidade do Rio, época em que começou a publicar os seus contos. No início da República, além de jornalista e professor de literatura e teatro, foi deputado federal, pelo Maranhão, em três legislaturas. Em 1890, casou-se e teve catorze filhos. Nesse mesmo ano ocupou a Secretaria do Governo do Estado do Rio de Janeiro. Sua residência no Rio, na rua do Rocio, tornou-se famosa como ponto de encontro de celebridades e artistas. Nas reuniões animadas por declamadores e músicos, era comum a presença de Olavo Bilac, Alberto de Oliveira e Humberto de Campos. Além de jornalista, Coelho Neto estreou na literatura, em 1891, com o livro de contos "Rapsódias". Em 1892, lecionou História da Arte na Escola Nacional de Belas Artes e Literatura no Colégio Pedro II. Coelho Neto realizou uma obra extensa, que chega a mais de cem volumes, entre romances, contos, crônicas, memórias, conferências, teatro, crítica e poesia. Em 1896, Coelho Neto participou das primeiras reuniões com objetivo de criar a Academia Brasileira de Letras. Em seguida, tornou-se sócio fundador da cadeira de nº 2 e foi presidente em 1926. Em 1910, Coelho Neto foi nomeado para a cátedra de História do Teatro e Literatura Dramática na Escola de Arte Dramática. Em 1928, foi consagrado como “Príncipe dos Prosadores Brasileiros”, em uma votação realizada pela revista O Malho. Coelho Neto era um dos mais lidos e prestigiados escritores de seu tempo, porém, no final da década de 1920, os modernistas passaram a criticar a forma pomposa e rebuscada, cheias de artifícios retóricos em muitos de seus textos e que não seriam capazes de enfrentar os grandes dilemas da nacionalidade. Algumas obras: os romances Capital Federal (1893), Inverno em Flor (1897), Turbilhão (1906), O Rei Negro (1914), contos: Jardim das Oliveiras (1908), Vida Mundana (1909), Banzo (1913), Contos da Vida e da Morte (1927) e outros.

Fontes: 
Coelho Neto. A bico de pena. Publicado originalmente em 1903.
Biografia = https://www.ebiografia.com/coelho_neto/
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sábado, 15 de fevereiro de 2025

José Feldman (Guirlanda de Versos) * 19 *

 

S. Weir Mitchell (Um dilema)

Eu tinha apenas trinta e sete anos quando meu tio Philip morreu. Uma semana antes desse evento ele mandou me chamar; e aqui deixe-me dizer que nunca lhe tinha posto os olhos. Odiava a minha mãe, mas não sei porquê. Ela me contou muito antes de sua última doença que não preciso esperar nada do irmão do meu pai. Ele era um inventor, um engenheiro mecânico capaz e engenhoso e ganhou muito dinheiro com sua melhoria nas rodas das turbinas. Ele era solteiro; morava sozinho, preparava suas próprias refeições e pedras preciosas coletadas, especialmente rubis e pérolas. Desde quando ganhou seu primeiro dinheiro, ele teve essa mania. Como ele enriqueceu-se, possuiu o desejo de possuir joias raras e caras mais e mais. Quando comprou uma pedra nova, carregou-a em seu bolso por um mês e de vez em quando tirava e olhava para ele. Em seguida, foi adicionado à coleção em seu cofre na empresa fiduciária.

Na época em que ele me mandou chamar, eu era escriturário e era pobre o suficiente. Relembrando as palavras da minha mãe, a mensagem dele me deu, sendo ele único parente, sem novas esperanças, mas achei melhor ir.

Quando me sentei ao lado de sua cama, ele começou, com um sorriso malicioso:

“Suponho que você me ache estranho. Eu vou explicar.” O que ele disse que certamente era estranho o suficiente. “Eu tenho vivido com uma renda anual na qual coloquei minha fortuna. Ou seja, eu tenho sido, quanto ao dinheiro, metade concêntrica da minha vida para me capacitar ser tão excêntrico quanto quis o resto. Agora eu arrependo-me de minha maldade para com todos vocês e desejo viver na memória de pelo menos um da minha família. Você acha que eu sou pobre e tenho apenas minha renda anual. Você ficará lucrativamente surpreso. Nunca me separei das minhas pedras preciosas; eles serão suas. És o meu único herdeiro. Levarei comigo para o outro mundo a satisfação de fazer um homem feliz.

“Sem dúvida você sempre teve expectativas, e eu desejo que você deva continuar a esperar. Minhas joias são o meu seguro. Não sobrou mais nada.”

Quando agradeci, ele sorriu em todo o seu rosto magro, e disse:

“Você terá que pagar pelo meu funeral.”

Devo dizer que nunca ansiava por qualquer despesa com mais prazer do que com o que me custaria colocar ele na terra. Quando me levantei para ir, ele disse:

“Os rubis são valiosos. Eles estão no meu cofre na empresa fiduciária. Antes de desbloquear a caixa, tenha muito cuidado ao ler uma carta que esteja em cima dela, e certifique-se de não fazê-lo agitando a caixa.” Eu pensei que isso fosse estranho. “Não force. Não vai apressar as coisas.”

Ele morreu naquela semana e foi lindamente enterrado. Um dia depois, seu testamento foi encontrado, deixando-me seu herdeiro. Eu abri seu cofre, não encontrei nele nada além de uma caixa de ferro, evidentemente de sua própria autoria, pois ele era um trabalhador habilidoso e muito engenhoso. A caixa era pesada e forte, cerca de dez polegadas de comprimento, 20 centímetros de largura e 20 centímetros de altura. Nele estava um carta para mim. Estava escrito assim:

“Querido Tom: Esta caixa contém um grande número de rubis finos de sangue de pombo e muitos diamantes; um é azul — a beleza. Existem centenas de pérolas únicas, as famosas pérolas verdes e um colar de pérolas azuis, para os quais qualquer mulher venderia sua alma —ou seus afetos.” Pensei em Susana. “Desejo que você continue tendo expectativas e continuamente para lembrar seu querido tio. Eu teria deixado essas pedras para alguma caridade, mas odeio tanto os pobres como odeio muito mais o filho da sua mãe — sim.

“A caixa contém um mecanismo interessante, que irá com certeza ao desbloqueá-lo e explodir dez onças do meu dinamite — melhorado e supersensível, para ser preciso, são apenas nove onças e meia. Duvida de mim, e abre isso, e você será transformado em átomos. Acredite em mim, e em você continuará a nutrir expectativas que nunca serão cumpridas. Como homem atencioso, aconselho extremo cuidado manuseando a caixa. Não se esqueça do seu carinhoso 
Tio.”

Fiquei chocado, com a chave na mão. Era verdade? Era mentira? Eu tinha gasto todas as minhas economias no funeral, e estava mais pobre do que nunca.

Lembrando a estranheza do velho, sua malícia, sua esperteza nas artes mecânicas, e o explosivo patenteado que tinha ajudado a torná-lo rico, comecei a sentir como isso era muito provável que ele havia dito a verdade nesta carta cruel.

Levei a caixa de ferro para meu alojamento e a coloquei no chão com cuidado em um armário, coloquei uma chave nele e tranquei o armário.

Então sentei-me, ainda esperançoso, e comecei a engendrar a minha engenhosidade nas formas de abrir a caixa sem ser morto. Devia haver uma maneira.

Depois de uma semana de pensamentos vãos, um dia pensei em mim, que seria fácil explodir a caixa desbloqueando-a à distância segura, e arranjei um plano com fios, que parecia como se respondesse. Mas quando refleti sobre o que faria acontecer quando a dinamite espalhasse os rubis, eu sabia que eu não deveria ser mais rico. Durante horas seguidas sentei-me olhando para aquela caixa e manuseando a chave.

Finalmente pendurei a chave no meu guarda-relógio, mas então ocorreu-me que poderia ser perdido ou roubado. Temendo isso, eu escondi, com medo de que alguém pudesse usá-lo para abrir a caixa. Esse estado de dúvida e medo durou semanas, até que me tornei nervoso e comecei a temer que algum acidente pudesse acontecer com aquela caixa. Um ladrão pode vir e carregá-lo corajosamente e forçá-lo a abrir e descubra que foi uma fraude perversa do meu tio. Até mesmo o estrondo e a vibração causados pelos carros pesados na rua se tornou um terror.

Pior de tudo, meu salário foi reduzido, e eu vi que aquele casamento estava fora de questão.

No meu desespero consultei o Professor Clinch sobre o meu dilema e quanto a alguma maneira segura de chegar aos rubis. Ele disse que, se meu tio não tivesse mentido, não havia ninguém que não estragaria as pedras, especialmente as pérolas, mas sim foi uma história boba e totalmente incrível. Ofereci-lhe o maior rubi, se quisesse testar sua opinião. Ele não desejou fazê-lo.

Dr. Schaff, médico do meu tio, acreditou na carta do velho, e acrescentou uma cautela, que foi totalmente inútil, por isso tinha hora em que eu tinha medo de estar na sala com aquela caixa terrível.

Por fim, o médico gentilmente me avisou que eu estava em perigo de perder a cabeça pensando demais nos meus rubis. Na verdade, não fiz mais nada além de inventar planos selvagens para chegar a eles com segurança. Passei todas as minhas horas livres em uma das grandes bibliotecas lendo sobre dinamite. Na verdade, falei sobre isso até os atendentes da biblioteca, acreditando que sou um lunático ou um dinamitador, recusaram-se a me agradar e falaram com a polícia. Suspeito que por um tempo fui taxado como suspeito, e possivelmente criminoso. Desisti das bibliotecas e, ficando cada vez mais temeroso, coloquei minha preciosa caixa num embaixo de um travesseiro, por medo de ser sacudido; pensando nisso, até a possibilidade absurda de ser perturbado por um terremoto me perturbou. Tentei calcular o montante de tremor necessário para explodir minha caixa.

O velho médico, quando o vi novamente, implorou-me que parasse tudo, pensou no assunto e, como senti, quão completamente eu era escravo de uma ideia despótica, tentei aceitar o bom conselho assim me dado.

Infelizmente, encontrei, logo depois, entre as folhas da Bíblia do tio, uma lista numerada das pedras com o seu custo ao lado. Estava datado dois anos antes da morte dele. Muitas das pedras eram bem conhecidas e seu valor enorme me surpreendeu.

Vários dos rubis foram descritos com cuidado e histórias curiosas deles foram fornecidas em detalhes. Dizia-se que um era o famoso “Sunset ruby,” que pertenceu à Imperatriz-Rainha Maria Teresa. Um deles foi chamado de “Blood ruby,” não, como foi explicado, por causa da cor, mas por conta dos assassinatos que ocasionou. Agora, enquanto leio, isso parecia novamente ameaçar a morte.

As pérolas foram descritas com cuidado como uma coleção inigualável. Em relação a dois deles, meu tio escreveu o quê eu poderia chamar as biografias delas — pois, na verdade, elas pareciam ter feito muito mal e algum bem. Uma, uma pérola negra, foi mencionada em uma antiga nota fiscal como “She”— o que parecia estranho para mim.

Foi enlouquecedor. Aqui, guardado por uma visão repentina mortal, era riqueza “além dos sonhos de avareza.” Eu não sou um homem inteligente ou engenhoso; Eu sei pouco além de como manter um livro-razão, e então eu era, e sou, sem dúvida, absurdas muitas das minhas noções sobre como resolver esse enigma.

Certa vez pensei em encontrar um homem que aceitasse o risco de desbloquear a caixa, mas que direito eu tinha de sujeitar mais alguém ao julgamento que não ousei enfrentar? Eu poderia facilmente largar a caixa de uma altura em algum lugar, e se ela não explodisse poderia então desbloqueá-la com segurança; mas se explodisse quando caísse, adeus aos meus rubis. Meu, de fato! Eu era rico, e eu não estava. Fiquei magro e mórbido, e tão miserável que, sendo um bom católico, finalmente levei meus problemas para um padre confessor. Ele achou isso simplesmente uma brincadeira cruel da parte do meu tio, mas não estava tão ansioso por outro mundo a ponto de estar disposto a abrir a minha caixa. Ele também me aconselhou a parar de pensar sobre isso. Céus! Sonhei com isso. Não para pensar sobre isso era impossível. Nem meu próprio pensamento, nem ciência, nem a religião, foi capaz de me ajudar.

Dois anos se passaram e eu sou um dos homens mais ricos na cidade, e não tenho mais dinheiro que me manterá vivo.

Susan disse que eu estava meio maluco como o tio Philip e rompi o noivado com ela. Em meu desespero anunciei no “Journal of Science,” e tiveram esquemas absurdos me enviados às dúzias. Por fim, como falei muito sobre isso, a coisa ficou tão conhecida, que coloquei o horror em um cofre, no banco, Eu estava prontamente desejando retirá-lo. Tinha medo constante de ladrões e minha senhoria me deu aviso para sair, porque ninguém ficaria em casa com aquela caixa. Agora sou aconselhado a imprimir minha história e aguardar conselhos da engenhosidade da mente americana.

Mudei-me para os subúrbios e escondi a caixa e mudei meu nome e minha ocupação. Isto fiz para escapar da curiosidade dos repórteres. Eu deveria dizer isso quando o funcionários do governo souberam da minha herança, eles mesmos razoavelmente desejando cobrar o imposto sucessório sobre a propriedade do meu tio.

Fiquei encantado em ajudá-los. Contei a minha história a um colecionador, e mostrei-lhe a carta do tio Philip. Então ofereci-lhe a chave, e pediu tempo para chegar a meia milha de distância. Isso o homem disse que iria pensar bem e voltar mais tarde.

Isto é tudo o que tenho a dizer. Fiz um testamento e deixei os meu rubis e pérolas para a Sociedade para a Prevenção da Vivissecção Humana. Se algum homem pensa que este relato é uma piada ou uma invenção, deixe-o imaginar friamente a situação:

Dada uma caixa de ferro, conhecida por conter riqueza, que supostamente contém dinamite, disposta para explodir quando a chave puder desbloqueá-lo — o que qualquer homem são faria? O que ele aconselharia?
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SILAS WEIR MITCHELL (1829–1914) médico pioneiro em doenças nervosas e um autor de sucesso. Mitchell começou sua carreira médica pesquisando veneno de cascavel. Com a eclosão da Guerra Civil, ele mudou de foco, começando a trabalhar como cirurgião contratado no Turner's Lane Hospital da Filadélfia, especializado em doenças nervosas. Mitchell também desenvolveu um tratamento para os diagnósticos para neurastenia (exaustão física e mental) e histeria. Além de sua pesquisa médica e prática privada, Mitchell também fez carreira como autor. Publicou vários contos, 19 romances, uma biografia de George Washington e 7 livros de poesia.

Fonte:
Modern Short Stories: A Book for High Schools. New York: The century Co., 1921. (traduzido do inglês por GP Dell’Orso). Disponível em Domínio Público. 
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Lima Barreto (O desconto)

Como foi contado, o khanato de Al-Bandeirah, depois de arrotar muita farofa, que fazia e acontecia, acabou por comprar a não invasão das tropas de Abu-al-Dhudut por bom dinheiro.

Essa província de Al-Bandeirah, como se sabe já, é governada por vários magnatas e algumas famílias, entre aqueles conta-se o sidi Cinsin-ben-Nhato que é, a bem dizer, o general da oligarquia do khanato.

Ele, quando os tais cultivadores de tâmaras gastam à vontade e ficam encalacrados, corre ao sultão e diz cheio de choro e lábia:

— Majestade; os cultivadores de tâmaras estão morrendo à fome; o produto da venda não paga as despesas que dá o seu cultivo; os grandes empregam toda a sua fortuna para que ele baixe.

Aí ele faz uma pausa e continua alteando a voz:

]— É preciso que Vossa Majestade vá ao encontro das necessidades dessa pobre gente que tanto concorre para a grandeza do reino que é de Vossa Majestade.

— Mas como, sidi?

— Como? Dando-lhes dinheiro, Majestade.

— Não tenho. O meu tesouro está esgotado.

— Majestade: o poder de Vossa Majestade é grande e há um meio.

— Qual?

— Vossa Majestade decrete um imposto sobre os mendigos do reino, que haverá dinheiro para socorrer os miseráveis cultivadores de tâmaras.

Os sultões todos lhe fazem a vontade e os de Al-Bandeirah se blasonam de ricos e trabalhadores.

Há outros casos que hei de contar-lhes, mas agora quero lembrar um muito típico.

Os tais de Al-Bandeirah tinham, como já foi narrado, comprado um príncipe irmão de Abu-al-Dhudut, para que este não invadisse com as suas tropas o khanato.

O príncipe, que era seguro, foi em pessoa buscar o preço do negócio.

Trotou várias e muitas léguas em camelo e chegou à capital da província ex-semirrebelde.

Falou ao khan e este mandou ordem ao seu tesoureiro, para que lhe pagassem 350 mil piastras.

O irmão de Abu foi logo à presença do funcionário, que lhe disse:

— Príncipe: Vossa Alteza poderá ir para o palácio de Vossa Alteza que o dinheiro irá lá ter.

De fato, assim foi e um empregado do tesouro lá chegou com os sacos de ouro.

Esperou este que o príncipe contasse o dinheiro. Acabou e exclamou furioso: — Mas faltam trinta e cinco mil piastras.

— Príncipe: é a minha porcentagem. Dez por cento. 

O irmão de Abu calou-se.
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AFONSO HENRIQUES DE LIMA BARRETO nasceu em 1881, na cidade do Rio de Janeiro. Era negro e de família pobre. Sua mãe era professora primária e morreu de tuberculose quando Lima Barreto tinha 6 anos. Seu pai era tipógrafo, porém sofria de doença mental. Mas tinha um padrinho com posses – o Visconde de Ouro Preto (1836-1912) –, o que permitiu que o escritor estudasse no Colégio Pedro II. Depois, ingressou na Escola Politécnica, mas não concluiu o curso de Engenharia, pois precisava trabalhar. Em 1903, fez concurso e foi aprovado para atuar junto à Diretoria do Expediente da Secretaria da Guerra. Assim, concomitantemente ao trabalho como funcionário público, escrevia os seus textos literários.  Em 1905, trabalhou como jornalista no Correio da Manhã. Lançou, em 1907, a revista Floreal. Em 1909, o seu primeiro romance foi editado em Portugal: Recordações do escrivão Isaías Caminha. O romance Triste fim de Policarpo Quaresma foi publicado, pela primeira vez, em 1911, no Jornal do Comércio, em forma de folhetim. Em 1914, Lima Barreto foi internado em um hospital psiquiátrico pela primeira vez. Se candidatou três vezes a uma vaga na Academia Brasileira de Letras, recebeu dela, apenas uma menção honrosa em 1921. Morreu em 1922.

Fontes:
Lima Barreto. Histórias e sonhos: Contos argelinos. 2. ed. 1951. Disponível em Domínio Público.  
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sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025

Erigutemberg Meneses (Cascata de versos) 11


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JOSÉ ERIGUTEMBERG MENESES DE LIMA nasceu em Fortaleza/CE, radicou-se em Blumenau/SC. Advogado aposentado do Banco do Brasil, com graduação em Ciências Econômicas e Direito pela FURB - Fundação Universidade Regional de Blumenau, dedica-se às letras, escrevendo prosa na forma de crônicas, contos, ensaios, textos jurídicos e poesia, especialmente, sonetos. Publicou "Raptos Líricos" - Sonetos, 2005; Portas da Solidão pela Fundação Cultural de Blumenau, 1996. 

A. A. de Assis (O passado foi ontem)

Rua do Café, onde a moçada fazia o footing* nas noites de sábados e domingos

Deu-se há um tempão bem grande o anteontem do mundo – um monte de milhões de anos. Mas o ontem aconteceu há pouquinhas décadas, um século no máximo, quase assim “que nem que eu”, que nasci quando as coisas estavam apenas começando a mudar para o futuro.

Em 1940 eu menino estudava no Grupo Escolar Barão de Macaúbas, em São Fidélis-RJ. A humanidade vivia então o drama da Segunda Guerra Mundial. No Brasil vigorava a ditadura de Getúlio Vargas. Televisão era ainda um sonho. O rádio já falava e cantava, mas com chiados e um barulhinho chamado “estática”. A música era romântica: valsa, bolero, samba canção. Os pares dançavam com os rostos colados. Telefone, daqueles de manivela, era um luxo só de rico. Geladeira também. O trem era o maria-fumaça. O ônibus era daqueles de focinho com bagageiro no teto.

Havia em nossa cidadinha somente uma rua calçada, a Rua do Café, onde a moçada fazia o footing nas noites de sábados e domingos. Os rapazes ficavam em pé de um lado e do outro da rua, enquanto as garotas passavam pra lá e pra cá, de braços dados. No mês da festa do padroeiro o footing mudava para a praça em frente à igreja, em meio às barraquinhas e maxambombas.

O “veículo” mais comum era o cavalo. Umas poucas pessoas tinham charretes; outras, mais raras, tinham bicicletas. Automóveis, só dois, que funcionavam como “carros de aluguel” – o do Orbílio (um pé-de-bode daqueles com capota de lona) e o do Theodoro (um estiloso sedanzinho preto).

Aí um fato novo se deu quebrando a rotina. Um jovem e arrojado comerciante, Zito Simão, foi ao Rio de Janeiro e comprou um carrão V-8. Por falta de estradas rodáveis para o interior, ele despachou o veículo de trem. No dia da chegada, a estação lotou de gente atraída pela emoção de receber o primeiro automóvel de luxo da pacata urbe. Zito estava lá, de terno branco e gravata borboleta, pronto para pilotar o possante sob os aplausos dos conterrâneos.

Parece coisa de outroríssimas eras. Mas foi “ontem” sim. Faz só 80 anos.

 (Crônica publicada na edição de hoje do Jornal do Povo)
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* footing = local numa cidade onde se faz passeio, especialmente com objetivo de arranjar namorado(a).
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Antonio Augusto de Assis (A. A. DE ASSIS), poeta, trovador, haicaísta, cronista, premiadíssimo em centenas de concursos nasceu em São Fidélis/RJ, em 1933. Radicou-se em Maringá/PR desde 1955. Lecionou no Departamento de Letras da Universidade Estadual de Maringá, aposentado. Foi jornalista, diretor dos jornais “Tribuna de Maringá”, “Folha do Norte do Paraná” e das revistas “Novo Paraná” (NP) e “Aqui”. Algumas publicações: Robson (poemas); Itinerário (poemas); Coleção Cadernos de A. A. de Assis – 10 vol. (crônicas, ensaios e poemas); Poêmica (poemas); Caderno de trovas; Tábua de trovas; A. A. de Assis – vida, verso e prosa (autobiografia e textos diversos). Em e-books: Triversos travessos (poesia); Novos triversos (poesia); Microcrônicas (textos curtos); A província do Guairá (história), etc.

Fontes:
https://angelorigon.com.br/2024/12/05/o-passado-foi-ontem/
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Renato Frata (Em uma tarde de outono)

Na languidez de um olhar ao poente em uma tarde de outono, como se perdido na imensidão, fundem-se as cores da saudade e nessa introspecção silenciosa a noite, de manso, acolhe para si as inspirações para bordá-las com agulhas de tricô em movimentos constantes e medidos. 

Usa o esgarçado de nuvens que o vento raleou para juntá-las aqui e ali e vai cosendo como a um véu que a cobrirá em pétalas de bons pensamentos, de bons sentimentos que o olhar saudoso carrega em si; e não há maior sinceridade que nesse instante, eis que desprovido de outro sentimento que não o amor.

Produto da lembrança, a saudade revive apenas o aprazível na mais perfeita simbiose entre o querido, o lembrado e o vivido; e consegue nele colocar de volta na mesma intensidade o sabor que se sentiu, o olor que se absorveu, a sensação que se marcou indelével e que embora invisível, se perpetua no tempo haja quantos lembrares se possa ter.

Sentimento que enlaça a ausência em abraço apertado ao fazer dela a um só tempo escudo como arma de defesa, e corpo estranho a incomodar como a de ataque. Ele nos impele a querer de novo e de novo o momento saudoso movido por um suave desejo de reproduzir à distância o que se experimentou na presença. 

Por isso sonhamos de olhos abertos, parados, absortos, vagueantes e extasiados.

É desejo impossível, claro o de reviver momentos, por isso, apesar de gratificante, a saudade consegue machucar. É como tentar atrasar voltando o ponteiro do tempo, esse que uniu urdindo no seu emaranhado a teia de nossos sentimentos e, por si, nesse alinhavo, promoveu a passagem do momento produtor da saudade lembrada.

Nesse aspecto, o tempo é ingrato e não pensa, não possui memória e nem lembrança. Na sua constância – que os homens medem por segundos, minutos, horas, dias, semanas, meses, anos, séculos, eras - ele segue sem qualquer objeção nas dimensões do universo. Nós, com o nosso sentimento é que lhe damos a conotação de rapidez e de demora, o chamado ‘espaço-tempo’ na tentativa de demonstrar que são indissociáveis quando os ligamos a um acontecimento que nos faz feliz, ao tempo que coloca em nossa mente o desejo de quero mais.

Por que nessa receita há uma tarde de outono e não de qualquer outra estação do ano? Serão elas menos apropriadas ao bom sentimento saudade? Creio que não, mesmo porque a saudade não possui folhinha e nem parede onde possa ser pregada a se despetalar a cada dia. 

Outono porque é a estação mais colorida: ela possui o cinza do inverno, o brilho do verão, a vivacidade colorida da primavera e se faz, nesse contexto, a união do bom e perfeito que todas possuem.

Quem tentar, verá que tenho razão.
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RENATO BENVINDO FRATA, trovador e escritor, nasceu em Bauru/SP, em 1946, radicou-se em Paranavaí/PR. Formado em Ciências Contábeis e Direito. Além de atuar com contador até 1998, laborou como professor da rede pública na cadeira de História, de 1968 a 1970, atuou na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Paranavaí, (hoje Unespar), atualmente aposentado. Atua ainda, na área de Direito. Fundador da Academia de Letras e Artes de Paranavaí, em 2007, tendo sido seu primeiro presidente. Acadêmico da paranænse Confraria Brasileira de Letras. Seus trabalhos literários são editados pelo Diário do Noroeste, de Paranavaí e pelos blogs:  Taturana e Cafécomkibe, além de compartilhá-los pela rede social. Possui diversos livros publicados, a maioria direcionada ao público infantil.

Fontes:
Texto enviado pelo autor. 
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Estante de Livros ("O Gato que Veio para o Natal", de Cleveland Amory)

"O Gato que Veio para o Natal" é um livro escrito por Cleveland Amory, publicado originalmente em 1987. É uma obra encantadora que mistura humor, emoção e amor pelos animais, especialmente pelos gatos. 

RESUMO

O livro começa durante a época de Natal, quando Cleveland Amory, um conhecido autor e defensor dos direitos dos animais, resgata um gato branco das ruas de Nova York. Amory é inicialmente relutante em adotar o gato, mas rapidamente se apega ao felino, que ele chama de "Polar Bear" (Urso Polar) devido à sua aparência.

A narrativa segue a evolução do relacionamento entre Amory e Polar Bear, explorando as aventuras e desventuras da dupla. O gato, que inicialmente parece ser indiferente e independente, lentamente começa a mostrar seu carinho e lealdade a Amory. 

Ao longo do livro, Amory compartilha histórias cômicas e tocantes sobre a vida com Polar Bear, incluindo as peculiaridades do gato e as várias maneiras pelas quais ele enriquece a vida de seu dono.

O livro também aborda temas mais amplos, como a importância da adoção de animais, o amor incondicional que os animais de estimação podem oferecer e a conexão profunda que pode se formar entre humanos e seus companheiros animais. Amory usa sua experiência pessoal para promover a conscientização sobre o tratamento ético dos animais e a necessidade de respeito e cuidado pelos nossos amigos peludos.

1. TEMAS PRINCIPAIS

Amizade e Companheirismo: 
O livro destaca a profunda amizade que pode se desenvolver entre um ser humano e um animal de estimação. Amory e Polar Bear formam um vínculo que transcende as barreiras de espécie, mostrando como os animais podem ser companheiros leais e amorosos.

Adoção e Resgate de Animais: 
Amory aborda a importância de adotar animais abandonados e resgatá-los das ruas. Ele mostra como um ato de bondade pode transformar a vida de um animal e, ao mesmo tempo, trazer alegria e significado para a vida de quem adota.

Humor e Emoção: 
O autor mistura humor e emoção em sua narrativa, criando uma leitura envolvente e cativante. As histórias cômicas sobre as travessuras do gato são equilibradas por momentos tocantes que mostram o impacto positivo do gato na vida de Amory.

Defesa dos Direitos dos Animais: 
Como defensor dos direitos dos animais, Amory usa o livro para promover a conscientização sobre o tratamento ético dos animais. Ele defende a necessidade de respeito, cuidado e compaixão pelos animais, destacando a importância de protegê-los e tratá-los com dignidade.

2. ESTILO DE ESCRITA

Cleveland Amory escreve com um estilo leve e acessível, tornando o livro uma leitura agradável e envolvente. Ele usa uma linguagem simples, mas eficaz, para transmitir suas histórias e experiências. O humor é uma marca registrada de sua escrita, e ele consegue encontrar o equilíbrio perfeito entre momentos engraçados e emocionantes.

3. PERSONAGENS

Cleveland Amory: Como personagem principal e narrador, Amory é um autor e defensor dos direitos dos animais que compartilha suas experiências de vida com o gato Polar Bear. Sua personalidade é carismática e apaixonada, e ele se mostra um verdadeiro amante dos animais.

Polar Bear: O gato branco resgatado por Amory é o co-protagonista do livro. Sua personalidade é cativante e cheia de peculiaridades, e ele se torna uma figura central na vida de Amory. A relação entre os dois é o coração da narrativa.

4. IMPACTO E RELEVÂNCIA

"O Gato que Veio para o Natal" teve um impacto significativo tanto em amantes de gatos quanto em defensores dos direitos dos animais. O livro sensibilizou muitos leitores sobre a importância da adoção de animais e o tratamento ético dos mesmos. Além disso, a obra de Amory inspirou muitos a considerar a adoção de animais abandonados e a se engajar na defesa dos direitos dos animais.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

"O Gato que Veio para o Natal" é uma obra tocante e inspiradora que combina humor, emoção e uma mensagem importante sobre o cuidado com os animais. Cleveland Amory oferece uma visão sincera e apaixonada sobre a vida com um gato resgatado, destacando a importância do amor e da compaixão pelos nossos amigos animais. O livro continua a ressoar com leitores de todas as idades, tornando-se um clássico entre os amantes de gatos e defensores dos direitos dos animais.

Fontes:
José Feldman. Estante de livros. Maringá/PR: I. A. Plat. Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul.
Montagem da Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing com capa do livro

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

Jerson Brito (Asas da poesia) 10

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JERSON LIMA DE BRITO, nasceu em Porto Velho/RO, em 1973, onde reside. Graduado em Administração e Direito pela Fundação Universidade Federal de Rondônia. Sonetista, trovador e cordelista, é membro fundador da Academia Brasileira de Sonetistas (Abrasso), integrante do Fórum do Soneto e Delegado da União Brasileira de Trovadores (UBT) em Porto Velho. Exerce o cargo de Técnico Federal de Controle Externo na SECEX-RO, tendo participado de algumas Mostras de Talentos do TCU. Neto de nordestinos, na infância teve os primeiros contatos com os versos, lendo os folhetos de cordel que seu pai comprava. Já na fase adulta, depois dos 30 anos, deu os primeiros passos na literatura escrevendo sobretudo cordéis. Posteriormente, aderiu aos sonetos e outras modalidades poéticas. Premiado em diversos concursos de trovas, sonetos e cordéis.