Poema de
CAROLINA RAMOS
Santos/SP
Conselhos de mãe
Meu filho, a vida é dura e fere... e nos magoa...
mas, trata-a com respeito e guarda a dignidade.
Ainda que a alma inteira sem clemência doa,
não permitas que o mal altere o que é verdade!
Sonha bem alto e segue o voo do teu sonho
sem pressa de alcança-lo e tendo-o sempre à vista!
Cada dia que passa é um dia mais risonho,
quando o amanhã promete as glórias da conquista!
“Segura a mão de Deus!” Segue o rumo sem medo.
Os caminhos, verás, se abrirão à medida
que teu passo provar firmeza e, sem segredo,
revelar o sentido e o Ideal da tua vida!
Não temas opressões nem quedas. Persevera!
Se achares que ao final o saldo não convence,
reage, continua... a vida tens à espera!
Confia em teu valor! Trabalha! Luta! E vence!
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Poema de
CLÁUDIO DE CÁPUA
São Paulo/SP, 1945 – 2021, Santos/SP
Amo
(para Carolina Ramos)
Eu amo a lua, que me encanta, bela,
a ressaltar, da noite seus valores;
amo a cascata que borbulha espumas,
amo das brumas hibernais alvores,
Eu amo a brisa que suspira, calma,
deixando na alma o murmurar de amores;
amo dos astros o fulgente lume,
amo o perfume essencial das flores.
Eu amo tudo a que minha alma assiste,
tudo de belo que no mundo existe,
tudo que vibra em mim e amor requer.
Mas... se a tudo consagro um grande amor,
o que amo na terra com maior fervor,
é a inteligência, numa só mulher!
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Trova de
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR
A ciência hoje é um colosso,
com tudo fora de centro:
faz laranja sem caroço,
gravidez sem filho dentro...
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Soneto de
PAULO ROBERTO OLIVEIRA CARUSO
Niterói/RJ
Cuidando de tuas pétalas
Devo ter cuidado ao tocar
tuas pétalas adocicadas,
porquanto são-me elas dadas
em assaz incauto confiar!
Ademais, são frágeis elas!
Mas são ávidas por afagos.
Os meus toques são bem pagos
com teus ósculos, sorrisos e trelas!
Devo tê-las em cuidado,
possuí-las com todo carinho
que uma flor a mim suplique.
Tu não tens, porém, suplicado,
porque trato-te com jeitinho.
Que em teu peito este fique!
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Poema de
CECÍLIA MEIRELES
Rio de Janeiro/RJ 1901 – 1964
Sugestão
Sede assim qualquer coisa
serena, isenta, fiel.
Flor que se cumpre,
sem pergunta.
Onda que se esforça,
Por exercício desinteressado.
Lua que envolve igualmente
os noivos abraçados
e os soldados já frios.
Também como este ar da noite:
sussurrante de silêncios
cheio de nascimentos e pétalas.
Igual à pedra detida,
sustentando seu demorado destino
E à nuvem, leve e bela,
vivendo de nunca chegar a ser.
À cigarra, queimando-se em música
ao camelo que mastiga sua longa solidão,
ao pássaro que procura o fim do mundo,
ao boi que vai com inocência para a morte.
Sede assim qualquer coisa
Serena, isenta, fiel.
Não como o resto dos homens.
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Trova de
ADEMAR MACEDO
Santana do Matos/RN, 1951 – 2013, Natal/RN
Adotei o isolamento,
feito um ermitão qualquer.
Pra fugir do casamento
e das manhas de mulher!...
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Soneto de
MANUEL BANDEIRA
Recife/PE (1886 – 1968) Rio de Janeiro/RJ
Soneto inglês nº 1
Quando a morte cerrar meus olhos duros
— Duros de tantos vãos padecimentos,
Que pensarão teus peitos imaturos
Da minha dor de todos os momentos?
Vejo-te agora alheia, e tão distante:
Mais que distante — isenta. E bem prevejo,
Desde já bem prevejo o exato instante
Em que de outro será não teu desejo,
Que o não terás, porém teu abandono,
Tua nudez! Um dia hei de ir embora
Adormecer no derradeiro sono
Um dia chorarás... Que importa? Chora.
Então eu sentirei muito mais perto
De mim feliz, teu coração incerto.
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Trova de
PROFESSOR GARCIA
Caicó/RN
Dai-nos ó, Pai, a razão,
desta santa imagem tua…
e que eu reparta o meu pão,
com quem não tem pão na rua!!!
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Dobradinha Poética (trova e soneto) de
LUCÍLIA A. T. DECARLI
Bandeirantes/PR
Eterna Partitura
Sonatas intercaladas
antes, durante e depois…
E em nossa pele, trocadas,
as digitais de nós dois!
Antes que eu chegue ao último suspiro
retirarei de mim toda amargura,
indo aos teus braços e em completo giro,
vivenciarei a eterna partitura…
Ali quero aninhar… Nesse retiro,
longe estarei da dor, da desventura,
do desamor, desdém, porque prefiro
o sonho à realidade sem ternura.
Concordes na regência e no compasso,
acordes vibrarão naquele espaço;
nosso desejo exprimirá bem mais…
Harmonizando o amor com melodia,
o maior feito ao fim da sinfonia:
– ter em meu corpo as tuas digitais!…
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Trova de
WANDA DE PAULA MOURTHÉ
Belo Horizonte/MG
Lembranças de amor desfeito...
silêncio em horas tardias,
pois tua ausência em meu leito
dorme onde outrora dormias.
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Soneto de
AMILTON MACIEL MONTEIRO
São José dos Campos/SP
Exemplo de mãe
Não me admiro de sentir saudade
De meus longínquos tempos de criança,
Vividos na escassez, é bem verdade,
Mas com imenso amor e esperança.
A gente era pobre e a cidade
Nem possuía luz ou segurança
De algum Doutor. Mas nessa qualidade
Aquilo é um sonho em minha lembrança…
Pois o importante é que então vivendo
De modo simples, “remendando o pano”,
só de carinho a gente ia crescendo…
A grande fé em Deus nos consolava,
Mudava em alegria o desengano…
Tal o exemplo que mamãe nos dava!
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Trova de
ZAÉ JÚNIOR
Botucatu/SP, 1929 – 2020, São Paulo/SP
Quando a solidão me invade,
distante do teu carinho,
eu me agarro na saudade
para não chorar sozinho!
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Hino de
FLORÂNIA/RN
Florânia terra querida
Linda filha do sertão
Cantaremos em nossa lira
O que plantaste em nosso coração.
Oh! coração do Seridó
Onde se irradia mais fulgor
Os seresteiros vão cantando
Tua beleza e esplendor.
Rincão cercado de serras
Perfumado de Bugi
Cheio de flores tão belas
Que sempre vão nos seguir.
Tua fé e esperança em festa
Numa eterna melodia
Teus espinhos e pedras se transformam
Em canção e poesia.
Solo puro e bravio
O trabalho nos faz crescer
Sempre humilde e hospitaleiro
Cada dia nos faz vencer.
Ao longo de teus caminhos
Vaqueiros tangem o gado.
E o vento leva as cantigas
Ao santo Monte amado.
Cosme de Abreu é teu exemplo
De coragem e bravura.
Na luta, paz e bondade.
Cheio de amor e candura.
Colhemos tua paz
No branco do algodão
Que é nosso orgulho de colheita
Um pouco de nosso pão.
Oh! Florânia terra querida
De riquezas sem igual
Do Brasil tão querido
Tão bela, sem rival.
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Trova Premiada de
RITA MARCIANO MOURÃO
Ribeirão Preto/SP
Com ousadia me olhaste,
ousada eu correspondi.
Com loucura me abraçaste
e o resto eu juro, nem vi!
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Recordando Velhas Canções
POEMA DO OLHAR
(samba-canção, 1962)
Evaldo Gouveia e Jair Amorim
Em teu olhar busquei perdão
Busquei sorriso e luz
Achei meu sol
Vivi meu céu
Meu céu em teu olhar
Olhando a ti
Eu me perdi pelos caminhos
Quem me chamar
Vai me encontrar nos teus olhinhos
Em teu olhar, estranho olhar
Meu sonho um dia se acabou
Nos olhos teus
Existe amor, existe adeus
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Soneto do
LUIZ POETA
(Luiz Gilberto de Barros)
Rio de Janeiro/RJ
Apenas um menino
Queria me tornar uma criança
Diante da tristeza que há no mundo,
Sem precisar usar minha esperança
E nem me entristecer em um segundo.
Queria ter nos olhos a inocência...
No coração, a chama da bondade
E não saber o que é intransigência,
Nem arrogância, medo...ou maldade.
Queria a pureza de um menino
Sorrindo para o gesto pequenino
De um outro menininho... nada mais.
Assim, num novo mundo eu viveria,
Criando sempre nova fantasia
Diante da magia que há na paz
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Aldravia da
MARILZA DE CASTRO
Rio de Janeiro/RJ
Solicitude
só
lícita
se
verdadeira
atitude
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Soneto de
FRANCISCA JÚLIA
(Francisca Júlia da Silva Munster)
Eldorado/SP (antiga Xiririca) 1874 – 1920, São Paulo/SP
Rainha das águas
(a Alberto de Oliveira)
Mar fora, a rir, da boca o fúlgido tesouro
Mostrando, e sacudindo a farta cabeleira,
Corta a planura ao mar, que se desdobra inteira,
Na esguia concha azul orladurada de ouro.
Rema, à popa, um tritão de escâmeo dorso louro;
Vão à frente os delfins; e, marchando em fileira,
Das ondas a seguir a luminosa esteira,
Vão cantando, a compasso, as piérides em coro.
Crespas, cantando em torno, as vagas, à porfia,
Lambem de popa à proa o casco à concha esguia,
Que prossegue, mar fora, a infinda rota, ufana;
E, no alto, o louro sol, que assoma, entre desmaios,
Saúda esse outro sol de coruscantes raios
Que orna a cabeça real da bela soberana.
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Trova Premiada de
ERCY MARIA MARQUES DE FARIA
Bauru/SP
Relendo o livro da vida
quando a solidão me invade,
em cada página lida,
sempre encontro uma saudade…
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Poema de
SOLANGE COLOMBARA
São Paulo/SP
Talvez a velha saudade
seja apenas um embalo
do vento olhando a lua.
O rascunhar de um poema
nas estrelas, o sorriso
desenhado, o pranto solto,
quem sabe o doce bailar
das águas idolatrando
o amor, cálido, sereno,
na sua poesia nua.
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Quadra Popular de
DEODATO PIRES
Olhão/Portugal
Quer tenha ou não tenha sorte
na vida que Deus lhe deu,
não pode fugir à morte
todo aquele que nasceu.
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Soneto de
CARMO VASCONCELLOS
Lisboa/Portugal
Sem lutos
De vós, amados, quero ao vos deixar:
sentidos poemas, flores, melodias,
riso e lembranças de felizes dias,
e sem lutos a minh’alma há de voar.
E já volátil, há de então acenar-vos
a fina poeira, da ida e vã matéria,
depois... montada numa gota etérea,
hei de baixar na chuva a visitar-vos.
Porém, se alguns de vós eu vir chorosos,
pérola d’água, os olhos lavarei
aos que em saudade mostram olhar fosco.
E pra secar os olhos lacrimosos,
flamas ao sol brilhante roubarei...
Que amar-vos não será chorar convosco!
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Trova de
NEMÉSIO PRATA
Fortaleza/CE
Descendo esta escadaria
Onde ela vai me levar?
Se eu soubesse eu desceria;
Como não sei, vou ficar!
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Poema de
SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESSEN
Lisboa, 1919 – 2004, Porto
Quero
Quero
Nos teus quartos forrados de luar
Onde nenhum dos meus gestos faz barulho
Voltar.
E sentar-me um instante
Na beira da janela contra os astros
E olhando para dentro contemplar-te,
Tu dormindo antes de jamais teres acordado,
Tu como um rio adormecido e doce
Seguindo a voz do vento e a voz do mar
Subindo as escadas que sobem pelo ar.
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Haicai de
HUMBERTO DEL MAESTRO
Serra/ES
Três dias de chuva:
No terreno alagadiço
Concerto de rãs.
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Poetrix de
RONALDO RIBEIRO JACOBINA
Santo Antonio de Jesus/BA
problemas, eis a questão
Não me envolvo em novelos:
Se posso resolve-los, resolvo, sem alaridos.
Se não, já estão resolvidos.
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Poema de
ANTERO JERÓNIMO
Lisboa/Portugal
Figura sem estilo
Ia eu pela rua, figura de estilo na lua
Sem siso, piso o piso molhado, mas que aliteração
Escorrego numa inadvertida metáfora
Por pouco não me estatelava no chão.
Podem pensar que é uma hipérbole
Mas acreditem que não é exagero não
É que até os pombos se riram
Na sua mais astuta personificação.
O meu joelho é que gemeu coitado
Desesperado com tanta falta de jeito
Pobre de mim, figura sem estilo.
Num mundo sem tino, valha o eufemismo
Um mundo que tropeça à beira do abismo.
Muito eu poderia discorrer sobre o assunto
Mas já chega desta conversa fiada
As palavras são como as cerejas, valha-nos a comparação
Ainda bem que tive o bom senso, de não usar paralelismos nesta descrição.
Sacudo das vestes toda a ironia
E siga, pronto para mais um dia!
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