sexta-feira, 28 de agosto de 2009

José Carlos Capinan (1941)



Nasceu em 19 de fevereiro de 1941, em Esplanada, Bahia, filho de Osmundo Capinan e Judite Bahiana Capinan com mais 12 irmãos.

Começou a escrever poesia aos 15 anos.

Em 1960, mudou-se para Salvador, iniciando o Curso de Direito na Universidade Federal da Bahia. Por essa época, estudando também teatro no Centro Popular de Cultura, ligado à UNE, conheceu Caetano Veloso e Gilberto Gil, ambos cursando as faculdades de Filosofia e Administração de Empresas, respectivamente. Atuou na peça "Os fuzís da Senhora Cará", de Brecht, dirigida por Álvaro Guimarães.

No ano de 1963, escreveu e estreou a peça "Bumba-meu-boi", musicada por Tom Zé.

Em 1964 formou-se Artes Cênicas e Direito. Com o golpe militar, foi forçado a deixar Salvador, transferindo-se para São Paulo, indo trabalhar como redator publicitário na agência Alcântara Machado. Por essa época, conheceu Geraldo Vandré (que fazia jingles para a agência), além de Gianfrancesco Guarnieri e Augusto Boal (do Teatro de Arena) que o levaram para o meio musical de São Paulo. Logo depois foi apresentado a Edu Lobo.

Participou ativamente dos movimentos culturais da década de 1960: Centro Popular de Cultura (CPC), Feira da Música (Teatro Jovem, ao lado de Paulinho da Viola, Caetano Veloso, Torquato Neto e Gilberto Gil) e Tropicalismo, com Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé, Os Mutantes, Nara Leão, Torquato Neto, Rogério Duarte, Rogério Duprat e Gal Costa.

Em 1965, foi co-autor, com Caetano Veloso e Torquato Neto, da peça "Pois É", interpretada por Gilberto Gil, Maria Bethânia e Vinicius de Moraes, no teatro Opinião, no Rio de Janeiro. Compôs com Caetano Veloso a trilha sonora do filme "Viramundo", de Geraldo Sarno, que contou também com a música-título "Viramundo", esta, composta em parceria com Gilberto Gil.

No ano de 1966, publicou o livro de poemas "Inquisitorial". Em seguida, voltou a Salvador, onde cursou Medicina, profissão que chegou a exercer por algum tempo.

Em 1967, com Torquato Neto, escreveu o programa de televisão "Vida, Paixão e Banana do Tropicalismo", interpretado por Caetano Veloso, Gilberto Gil e Gal Costa, sob a direção de José Celso Martinez Corrêa.

Na década de 1970, foi co-editor ao lado de Abel Silva da "Revista Anima".

Em 1973, dirigiu e produziu o show de Gal Costa e Jards Macalé, no teatro Oficina, em São Paulo, e o espetáculo "Luiz Gonzaga, o Rei do Baião", no teatro Teresa Raquel, no Rio de Janeiro.

Em 1976, publicou poemas na antologia "26 poetas hoje", organizada por Heloísa Buarque de Hollanda. No ano seguinte, lançou pela editora Macunaíma "Ciclo de navegação Bahia e gente".

Em 1982 formou-se em Medicina, pela UFBA. Dois anos depois, estruturou a TV Educativa da Bahia, criando diversos programas para seu lançamento e em 1985 atuou como diretor da emissora.

Em 1986 foi nomeado Secretário Municipal da Cultura, de Camaçari (BA), passando a integrar o Conselho Nacional de Direito Autoral, do Ministério da Cultura (MinC), participando também de comissões de Divulgação Autoral

De 1987 a 1989, atuou como Secretário da Cultura do Estado da Bahia, e como presidente dos Fóruns Nacional de Secretários da Cultura e Estadual de Cultura. Neste mesmo ano editou três livros: "Inquisitorial" (reedição, o original é de 1967) e "Confissões de Narciso", pela editora Civilização Brasileira, além de "Balança Mas Hai Kai", pela editora BDA.

Em 1990, fez o show "Poeta, mostra a tua cara", tendo como convidados especiais Gilberto Gil, Paulinho da Viola e Geraldo Azevedo, no Jazz Club, no Rio de Janeiro.

No ano de 1995, relançou do pela Editora Civilização Brasileira, "Inquisitorial", seu livro de poemas, contou com ensaio crítico de José Guilherme Merquior, escrito em 1968 e publicado no livro "A astúcia da mímese" em 1969. No ano seguinte, em 1996, publicou "Uma canção de amor às árvores desesperadas", livro de poemas. Neste mesmo ano apresentou-se no projeto "Fala, poeta", acompanhado pelo grupo Confraria da Bazófia, em Salvador, Bahia.

Publicou também "Signo de Navegação Bahia e Gente" e "Estrela do Norte, Adeus".

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Capinan (por Gilberto Gil)

Conheci Capinan estre 1962 e 1963 quando, estudantes em Salvador, todos em diferentes níveis e graus, ele, eu, Caetano, Tom Zé, Torquato Neto, Waly Salomão, Duda Machado, Álvaro Guimarães, Rogério Duarte, Fernando Batinga e tantos outros vivíamos o dia-a-dia da iniciação nas lides culturais, na política estudantil, nas experiências do sexo, do amor, da aventura de conduzir-nos, num incessante entra-em-beco-sai-de-beco corpoalma a dentro de uma cidade mítica, bela e sensual, de mil histórias antes por outras gentes e poetas vividas e mais outras tantas mil histórias então por outras tantas gentes e poetas por viver.

Éramos todos, ali, um uníssono unissonho de sermos — nos tornarmos gente e poetas a um só tempo. Gente no sentido de indivíduos/átomos do coletivo povo com sua massa material em labuta e luta. (...) Poetas no sentido religioso de mensageiros de Deus, no sentido psicoanalítico de intérpretes dos sonhos, alma psicossocial, qualidade da comida, musculatura distendida após o orgasmo, palco, beijo, idéia-flor, pensamento-ungüento, carnaval, celebração piedosa, a vida no seu vale-quanto-reza, fundamentalismo espiritual.

(...) Capinan, como todos nós outros, vivia aquela aventura com a sofreguidão das almas jovens. Vindo de um interior ainda mais agreste, ainda mais nordeste do que o de onde vínhamos eu e Caetano — porque ainda mais longe do mar de águas e de luzes da baía —, Capinan era portador e manifestante de uma alma ainda mais severina, no sentido joãocabralino da palavra. Mais caprino, mais cismado mais dependurado nas argolas das interrogações, como se elas fossem aquelas gangorras toscas pendendo dos galhos das mangueiras dos quintais das casas no seu sertão. De pensamento arisco, arredio, mais litera(l)riamente desconfiado do que os outros, Capinan viria depositar a palavra nas mãos do seu coração semiárido. A sua poesia estava, então, naquela região do sertão, naquele coração semiúmido e de lá ela se faria escrever e falar.

Aqui e ali essa poesia viria a ser, mais tarde, um pouco mais entumescida pelo mar da viagem ao desconhecido ou pelo orvalho das últimas madrugadas neoromânticas, quando dos estertores da revolução política e cultural dos sessenta e dos setenta e logo dos oitenta e tantos quantos foram os anos-luzes do seu percurso por sampas e riodejaneiros. Mas, no fundo, eu quase arriscaria afirmar que a poesia de Capinan repousa, ainda e eternamente, no caroço de umbu da sua caatinga. Umbu cuja carne é assim meio fibra, meio nervo e um tanto pouca, que ao morder se dá mais parca que farta, com seu doce ancorado em seu azedo, cujo gosto é bom mas exigente e dificultoso, e cujo caroço é duro e traiçoeiro para os dentes. Creio que assim será sempre a poesia de Capinan, embora seu verso tenha uma vez ameaçado que “já não somos como na chegada”.

Sabemos que em todos nós há sempre um que vai e um que fica, um que muda e um que permanece, e que há um outro que atento os observa a ambos, quase sempre a um deles distinguindo como se com um amor de pai.

(...) A poesia de Capinan distingue, elege e prestigia aquilo/aquele que nele permanece. Aquilo que não se perde nas névoas do delírio. Como a um fio de Ariadne atado. Aquilo que, como no sonho acordado do menino, leva-o à exploração das grutas obscuras da fantasia mas o traz sempre de volta ao ser do presente, ao claro recinto do seu quarto — ainda que sob tênue luz de lamparina iluminado. Quatro paredes, o teto, seu ambiente. Sempre de volta à obstinada recusa da solidão. De volta a algum/alguém sempre ao seu lado. Ele mesmo, o seu amigo ambíguo, um tanto quanto deslocado, quase que num quarto ao lado, contíguo a si mesmo, mas ainda no âmbito da sua con(si)guidade.

Convidado oficial da I Bienal Internacional de Poesia de Brasília, participa da antologia POEMÁRIO da I BIP.

Fontes:
- CAPINAN, José Carlos. Confissões de Narciso, Civilização Brasileira, 1995.
- http://www.dicionariompb.com.br/

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