quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Jean-Pierre Bayard (História das Lendas) Parte XIV



II. - Merlin

Personagem lendário, Merlin — em céltico Myrddhin, em armoricano Marzin — foi poeta, profeta e mágico. Companheiro do rei Artur, estabeleceu a Távola redonda e seu nome fica ligado à demanda do Santo Graal.

1. — Textos literários

a) A crônica latina — Na Crônica latina, atribuída a Mônio (fim do século X), vê-se o rei bretão Wortingem abandonado pelos seus devido à sua crueldade. Desejoso de uma fortaleza que não pudesse ser tomada, os mágicos aconselham-no a regar o solo com o sangue de uma criança nascida sem pai. Merlin — nomeado Ambrósio — confunde o rei com suas respostas proféticas e salva assim a sua vida.

b) Geoffroy de Monmouth — Em aproximadamente 1135 Geoffroy de Monmouth dá um caráter cavaleiresco, cortês e histórico à lenda de Mênio. A pedido de Alexandre, bispo de Lincoln, redige as Profecias (Atribuídas a Merlin) e depois a Vita Merlini.

c) Robert de Boron — Esse autor inclui o nome de Merlin à lenda do Graal. Sua trilogia comporta um poema sobre Merlin que institui a Ordem da Távola redonda (Brut de Wace mencionava a Távola redonda em 1155). Merlin é o herói de uma epopéia espiritual.

d) Os continuadores — O simbolismo desaparece e a profecia torna-se um meio literário. Merlin aparece em numerosos romances (Claris et Loris). O Ariosto, Cervantes (Don Quixote, II, 21), Rabelais, Shakespeare (O rei Lear, III, 11), observam esse personagem que inspirou Gluck (A ilha de Merlin, Viena, 1758). Para K. L. Immermann (Merlin, 1832) é um Fausto cristão; Heine por ele se interessa (1835) bem como Tennyson (Vivien, 1859, 0 Santo Graal, 1870), e Edgar Quinet (Merlin l’enchanteur, 1860). Apollinaire escreveu L’enchanteur pourrissant (1909), Cocteau, Les chevaliers de la Table ronde e Aragon Brocêliande (Cahiers du Rhône, 1942). Contudo, a lenda de Merlin parece estar a caminho da extinção.

e) As críticas — Depois dos estudos de Bâle (1559), Buchanan (1590), David Powel (1603), é preciso esperar a de Walter Scott (1638) para tocar realmente o assunto (The Ministrelsy). Francisque Michel e Thomas Wright (1837), tentaram uma síntese crítica. Depois de Saint-Aignan (1921), de Eschevannés (1935), Paul Zumthor apresentou, em 1943, uma tese à Universidade de Genebra com uma bibliografia muito completa.

2. — Símbolo da lenda

a) Origem de Merlin — O nascimento desse Proteu da Idade Média é muito obscuro. De acordo com Robert Boron, o diabo seduziu uma virgem; Merlin, com sua palavra eloqüente faz com que sua mãe, tornada responsável por esse estranho nascimento, seja absolvida. Eis a lenda de Ambrósio cujo tema é o de Robert de diable.

Para La Villemarqué a mãe de Merlin teria sido uma princesa que, penetrando num bosque atraída pelo canto de um pássaro, adormeceu e a criança que nascerá de modo tão sobrenatural e poético, falará imediatamente. Supõe-se também que seja um personagem real, um burdo galês ou da Cornualha do século VI; ou um deus gaulês, parente de Mercúrio, Merddyn cujo nome vem da raiz Mercs encontrada em Mercúrio.

b) A ação de Merlin — Mestre do Heptacórdio formulou as regras que regiam os cavaleiros da Távola redonda; dirige as batalhas e sua harpa encanta os poderes hostis; comanda os demônios, encanta as fadas.

O episódio mais dramático continua a ser o do seu amor por Viviana. Todo-poderoso, deseja que essa mulher o procure livremente; mas o temor de Viviana torna-se odioso. Merlin transformou-se no profeta vencido pelo amor e o encantamento feminino.

c) Evolução do personagem — Profeta, Merlin não é o mestre de uma alquimia misteriosa; torna-se a seguir o fascinador. O papel de Merlin ao lado dos cavaleiros arturianos permanece, entretanto, episódico. Seu simbolismo corresponde às nossas exigências pessoais e finalmente nada mais é do que uma significação poética.
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continua...
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Fonte:
BAYARD, Jean-Pierre. História das Lendas. (Tradução: Jeanne Marillier). Ed. Ridendo Castigat Mores

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