terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Estante de Livros (Jorge Amado: Tieta do Agreste)

Tieta do Agreste, publicado em 1977, é uma das mais populares obras de Jorge Amado, autor baiano, que criou personagens sensuais engajando criticas politico-sociais sobre o cenário nacional e especial baiano, seja na capital baiana, Salvador, ou no interior do estados nos campos cacaueiros, exportando a cultura nacional, a partir daí considerado ”embaixador simbólico do Brasil”. Tieta tem um enredo divertido e envolvente.

escritor retoma a leitura crítica do regime de exceção governamental, em moda na América Latina, e, particularmente, no solo brasileiro. A história contada em Tieta do Agreste é vivida entre os anos de 1965 e 1966, como claramente expressam trechos textuais, reafirmando ser Amado um contador continuado de histórias datadas.

Antonieta Esteves Cantarelli, apelidada de Tieta, era pastora de cabras quando foi expulsa pelo seu pai e volta ao lar anos depois, em busca de redenção e justiça, para fazer as pazes com a família, incluindo Perpétua, sua irmã gananciosa e beata solteirona.

A chegada de Tieta na pequena cidade de Santana do Agreste vai gerar grande rebuliço, Tieta tem grandes pretensões: levar luz elétrica para a cidade, já que esta era considerável ”viúva” rica vinda de Sampa. No inicio da história Tieta não aparece, na verdade nem se sabe se ela está viva, a curiosidade dos parentes da família Esteves na pequena cidade é grande, como Tieta está? O que aconteceu? E como já não bastasse, uma indústria pretende se fixar na cidade.

Um dos temas fortes no livro é o meio-ambiente e desenvolvimento, em um certo momento da história a Brastânio, uma empresa de dióxido de titânio, ameaça se instalar nos arredores de Mangue Seco (praia próxima à cidade) e destruir os manguezais, a população se divide e discussões politicas começam, retratando as peculiaridades da politica nacional como um todo e em plena ditadura Jorge dá alfinetadas ao regimento militar. 

Existem na pequena comunidade duas facções: a dos que desejam o progresso na localidade, com a atração de turistas, pouco importando com as mudanças de crenças e comportamentos (sob o comando de Ascânio Trindade, responsável pela Prefeitura local), e a dos que preferem manter o lugar protegido, evitando a invasão de turistas com a seguida alteração de crenças e comportamentos (sob o comando do Comandante Dário). Inicialmente, dá-se a oposição de interesses, focada nas alterações na paisagem – a flora e a fauna – de Mangue Seco. A “luta” acontece sob a tutela da multinacional Brastânio, do lado da instalação da fábrica e do progresso turístico, com o apoio direto da Prefeitura; em oposição, os contrários a destruição ambiental, tendo, além do Comandante, dona Carmosina e seu “Areópago”. Do lado da Brastânio, estão em cena viagens, mulheres, farras, dinheiro, interesses políticos e a boa fé de Ascânio Trindade; do outro lado aparecem artigos de jornais, as leituras de dona Carmosina, o conservadorismo do Comandante Dário etc. De um lado, a falta de escrúpulo, a ganância, a usura; de outro lado, a defesa do interesse coletivo, a preservação da ecologia, o princípio igualitário da justiça.

O cotidiano da cidade é nostálgico para quem já morou em cidades interioranas: beatas, meninos travessos, prostitutas, políticos ferrenhos e uma pitada de interesse-na-vida-alheia, ou seja, fofocas, Tieta adicionada à vinda da indústria de titânio é um prato cheio para as línguas afiadas, com um adicional de meia-xícara de romance, romances proibidos, romances líbidos: sexo. As palavras nos livros de Jorge são escolhidas, amaciadas, dançantes, um dialeto que às vezes só se pode entender ao buscar no dicionário, ou para quem vive ou viveu no interior.

Antonieta criou um próprio personagem para a sua vida, viúva rica, enquanto na verdade é dona de um bordel, moral vs realidade, ela precisa desse disfarce para se aproximar de sua família, se adequando às commodities sociais para se encaixar ou sofrerá a irá de seu pai novamente, uma das criticas de Jorge quanto a auto-aceitação.

O ciclo narrativo das peripécias aventureiras da personagem central encerra-se com a volta às propostas do exórdio, inscrito no final do primeiro capítulo, quando o narrador supostamente dialoga com seu provável leitor, dando mostra da longa e constante produção que lhe aguarda, ambiguamente carnavalizada: “Agradecerei a quem me elucidar quando juntos chegarmos ao fim, à moral da história. Se moral houver, do que duvido”

Fontes:
http://www.torredevigilancia.com/resenha-tieta-do-agreste/
excertos de Benedito Veiga em http://www.filologia.org.br/ixcnlf/7/09.htm

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