domingo, 5 de fevereiro de 2017

Paleta de Versos n. 2

Isabel Furini
(Curitiba/PR)

A CANETA DO POETA

o poeta reflete sobre a vida
concentra-se nos movimentos da caneta

o poeta compreende a estratagema da caneta
:
a caneta faz piruetas
                        mímicas
                           acrobacia
dança
     ziguezagueia
                        espia
(qual astuta serpente)
e por fim escreve a poesia
que o poeta guardava no laboratório de alquimia
localizado no portal da mente subconsciente
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Clevane Pessoa
(Belo Horizonte/MG)

A BELEZA E A MUDEZ

O pássaro belo e próximo, 
grande, 
sugerência de trinado, 
quintessência da Criação, 
influência de contentamento, 
não foge á presença 
de quem ama as aves. 
Poso , sorridente, 
entre a luz da tarde 
e a luminescência da alma. 
Nas crenças egípcias, era a alma-pássaro, 
a que habitava o corpo de penas 
até ao destino final 
ser marcado. 
Não me bica, 
não tatala as asas 
em euforia ou temor. 
O pássaro e eu. 
Ele também foi fotografado 
e faz parte de uma exposição a céu aberto (*). 
Gostaria de ser maga o suficiente 
para inflar-lhe vida, 
vê-lo catar grãos na grama, 
dar pulinhos aqui e alí. 
Ah, se pudesse ouví-lo em seus cantares 
inflamando de notas ardentes os ares 
ou num galho, num canto qualquer 
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* 2009, Parque Municipal Américo renê Gianetti, na capital mineira, , galeria da Árvore, exposição do MUNAP (um olhar sobre o Parque), organizada pela poetisa e fotógrafa Regina Mello, autora dessa foto.
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Luiz Poeta
(Rio de Janeiro/RJ)

QUANDO MEU SORRISO FALA

Se eu te amo e minha boca silencia,
Meu olhar, contrariando o meu receio,
Grita anseios, produzindo a fantasia
Que repousa dentro do meu devaneio.

Tenho o tema, o coração e a vontade,
Mas o grito sufocado não permite
Que eu liberte esse desejo que me invade
E sussurre que te amo... ou que te grite.

No dilema entre a voz e o fitar-te,
Meu olhar transforma a emoção em arte
E uma lágrima sublime que resvala

Pinta a tela dos meus lábios onde o riso
Reproduz o sentimento mais preciso
Dos meus olhos, quando o meu sorriso fala.
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Vivaldo Terres
(Itajaí/SC)

QUE NOITE DORIDA

Não sei como consigo me enganar,
Pensando que vivo sem ao menos viver.
Depois que tudo aconteceu... 
Ela era o sol da minha vida,
A luz para meu caminho escurecido.
Como foi me deixar,
Deixando a alma e o coração desiludido.

Que noite dorida e fatal,
Quando ainda no seu leito disse a chorar:
– Eu vou e sei que vais ficar, mas onde eu estiver...
Jamais deixarei de te amar.

Ela partiu levando suas boas qualidades,
Sua alma e seu coração enquanto viveram...
Eram cheios de bondade.

Nunca deixou de ajudar os desvalidos,
Ou o doente sofredor.
Até porque em sua alma e em seu coração,
Nunca lhe faltou o amor. 
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Francisco José Pessoa
(Fortaleza/CE)

SENTIMENTO

Meu sentimento vaga na poesia,
meu cantar tomou forma do meu pranto
pois chorar, se por ti, fez-se acalanto
saber tudo do nada que eu sabia
é sentir que sentindo não sentia
o prazer, se é prazer tudo que sinto
e o amar, se é amor, amo e não minto
um sei lá!... posto quando a ti me achego
na impossibilidade de um chamego
sonho louco, num louco labirinto...

“sentindo que sentir eu não sentia
o prazer qual prazer não me aprazia”.
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Samuel da Costa
(Itajaí/SC)

EVOCAÇÃO
Para Bel Lopes 

Um breve 
E ebúrneo sorriso teu
Eu de olhos bem fechados
Enlevado 
A sonhar contigo
Negra ninfa do bosque

Eu 
Encerrado e lúgubre
No vergel em chamas

És negra flor 
Musselinosa e enclausurada 
Em uma noctívaga 
Digressão
No verve meu 

Caem as folhas mortas 
No meu coração
Pois é outono
Pois é anunciação 

E uma negra lágrima 
Brotou
No lívio rosto teu
Esvaeceu
Trespassou 
E se perdeu 
Para além do infinito

Não vá
Não me abandone
Não agora 
Nem nunca
Deusa imortal 
Minha negra Valquíria

Abriga-te 
Para todo o sempre
Na minha écloga
No estro meu
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Sílvia Regina Costa Lima
(Vinhedo/SP)

ANTES DA AURORA
(soneto n.121)

Indecisa, eu paro na encruzilhada
até o teu vulto (assustada) divisar,
meio impreciso à luz clara do luar,
caminhando lento na madrugada.

Escuto, embaraçada, a tua risada
que me lembra as ondas do mar
arrastando qualquer coisa lunar,
numa sensação por mim almejada.

Tremo intranquila no sentir primário
que a tua mão me desperta... e aflora
a paixão pelo ser - que me é contrário.

Ah, tu me deitas sob a árvore frondosa
e antes... muito antes da luz da aurora,
fazes-me tua amante... mulher... e rosa!
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Sandra Galante
(Piracicaba/SP)

AUSÊNCIA... 

Não deixarei que a tua ausência me maltrate. 
Me enfeitarei com o brilho das estrelas 
Para que nunca me vejas sofrendo e triste. 
Mas quero ser o perfume das tuas brisas. 

Quero te envolver nos véus da minha lua, 
Exibir-me esplendorosa pra ti toda nua. 
Em teus sonhos renascerei em ti e por ti 
Minh`alma te seguirá e te ti não sairei... 

Te levarei dentro de mim eternamente. 
Viveremos dias felizes em minhas fantasias. 
Eterno será o fugidio encontro em nossas luas 
Do teu amor e paixão, jamais serei descrente.
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Pedro Du Bois
(Balneário Camboriú/SC)

(DES)IMPORTÂNCIA

Na relativa importância
legamos conhecimento

impávidos descendentes
de (im)próprios deuses
cientes em verdades

em relativa (des)importância
insetos voam ao redor 
da luz onde se multiplicam

utilitários ascendentes
transferem aos novos

o necessários para a vida.

Um comentário:

Isabel Furini disse...

Prezado José Feldman, quero agradecer a gentileza. Obrigada por publicar um poema de minha autoria. Abraços.