sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

Antonio Brás Constante (Os Jardineiros de Sábado)

Os pátios das casas são ótimos locais para que as pessoas possam cultivar: hortas, pomares e um belo gramado. De modo geral, a ideia de se ter um gramado parte das mulheres. Os homens prefeririam uma calçada. Mesmo porque, quem varre as calçadas são as mulheres. Já no caso dos gramados, a tarefa é deles, os chamados jardineiros de sábado.

Enfim chega o fim de semana. O sono começa a se desvanecer, e o pretenso jardineiro parece ouvir o som de trovoadas. “Ótimo”, ele pensa. Não estava muito afim de cortar a grama mesmo. Mas as trovoadas vão ficando mais fortes e próximas. Seus ruídos parecendo extremamente familiares. Como se chamassem pelo seu nome.

Algo puxa suas cobertas, sacudindo-o. Finalmente percebe que não eram trovões. Era a voz de sua esposa, “mandando” levantar-se para ir cuidar do pátio. “Você prometeu”, ela diz. Aliás, para mulher, tudo que o homem diz após as juras de casamento ganha ares de “promessa”. Pode ser um simples “arram”, mais concordando com o comentário do técnico de futebol na entrevista da televisão, do que com ela.

O homem no sábado torna-se o barbeiro da natureza. É um momento único, onde ele começa limpando as “obras de arte” do seu cachorro, espalhadas pelo quintal. Depois tem de cuidar para não entrar em atrito com os inúmeros formigueiros ali existentes, que apesar de lhe ajudarem consumindo algumas folhas, acabam fazendo um serviço ineficiente. Talvez se devorassem a grama com a mesma energia que utilizam para lhe morder, evitariam que o gramado precisasse ser cortado.

Falando em preocupações, ele também tem que se preocupar com as rosetas, urtigas e pedras que ali se escondem. Mas principalmente deve atentar para não cortar a grama muito rápido. Esmerando-se para que o serviço termine próximo ao horário do almoço. Podendo então chegar com uma expressão cansada no seio de seu lar, tomar um banho rápido, saborear o almoço, e por fim se jogar no sofá para um ronco merecido, sem culpa, como um guerreiro cujo dever foi cumprido.

Quando arruma o pátio, o homem deve sempre buscar a ajuda de aliados, ou melhor, de “aliadas”. Geladinhas, deliciosas, e servidas em latinhas de alumínio. Armazenadas em caixas de isopor junto à sombra de alguma árvore. Longe do alcance de seus vizinhos e cunhados.  Elas ficarão ali, prontinhas para reanimá-lo durante toda manhã.

A cerveja é a eterna companheira do jardineiro de final de semana. Ela escuta suas lamentações, que tendem a aumentar à medida que ele vai ficando cada vez mais bêbado. Até o ponto em que as lamúrias transformam-se em decisões. Resolve que vai construir uma calçada no lugar do gramado e pronto.

A ideia vai tomando força em sua mente, mas é somente à noite, deitado na cama com sua adorada esposa que ele expõe a ideia. Ela houve pacientemente, e ao final das argumentações do marido, explica que, para por em prática a tal obra, eles terão de economizar um bom dinheiro. Ou seja, nada de cerveja nos próximos meses.

Com esta ultima afirmação da esposa, o homem desiste da ideia da calçada. Deita a cabeça no travesseiro e começa a pensar no plano “B”: Um gramado repleto de formigas amestradas, prontas para fazerem todo serviço, enquanto ele fica sentado na sombra, bebendo tranquilamente suas cervejas.

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