sexta-feira, 13 de setembro de 2024

Fabiano Wanderley (Trovas em preto e branco)


1
Ao ver, a morte estampada,
na face de uma criança,
vê-se, ali, riste, ceifada,
para sempre, uma esperança,
2
Como que por acalanto,
descerra a noite, o seu véu.
Cobre a terra com seu manto,
expondo estrelas no céu! 
3
Confirmando as suas lendas,
por capricho, o velho mar,
cobre as areias de rendas,
quando a praia vem beijar…
4
Desista, irmão, dessa guerra,
abrace a paz benfazeja,
pois a vida, enfim, se encerra,
onde o combate, sobeja.
5
Em noite de lua cheia,
envolto a tanto esplendor,
um poeta galhardeia,
versando trovas de amor.
6
Nada detém tanto encanto,
nem tanta essência de amor,
qual o feito sacrossanto,
do desabrochar da flor!
7
No grande palco da vida,
desse enredo tão atroz,
em cada cena exibida,
há sempre um pouco de nós.
8
No voo, a linda graúna,
com graça e simplicidade,
entoa, por sobre a duna,
seu canto de liberdade.
9
Pelos caminhos da lida,
quantos castelos ergui...
- E esses sonhos, pela vida,
com trabalho, os consegui!
10
Por ser um real tormento,
indefinível ao pintor
e um sublime sentimento:
– A saudade não tem cor!
11
Quando no espelho me exponho,
a velhice me valida,
com marcas de um lindo sonho
e gratidão pela vida…
12
Saudade é dor que se sente,
por quem, por qual, ou razão.
Um vazio que há na gente:
— Mistério de um coração!...

As Trovas de Fabiano Wanderley em Preto & Branco
por José Feldman

SIGNIFICADO DAS TROVAS; TEMÁTICA E RELAÇÃO COM LITERATOS DE DIVERSAS ÉPOCAS

As trovas de Fabiano Wanderley expressam uma profunda sensibilidade e uma riqueza de temas que vão da vida e da morte, passando pelo amor, saudade e a beleza da natureza.

1. Morte e Esperança
"Ao ver, a morte estampada, 
na face de uma criança..."
A imagem da morte na face de uma criança evoca uma perda trágica e precoce. A esperança, representada na inocência infantil, é ceifada, gerando um profundo sentimento de desolação. Este contraste entre a vida e a morte estabelece um tema de fragilidade da existência.

Álvares de Azevedo aborda a morte com um tom melancólico em poemas como "Noite de Luar". Adélia Prado explora a fragilidade da vida e a dor da perda, refletindo sobre a esperança perdida.

2. Beleza da Noite
"Como que por acalanto, 
descerra a noite, o seu véu."
A noite é personificada como um ser que acalma e cobre a terra. O véu da noite revela as estrelas, sugerindo que mesmo na escuridão há beleza e serenidade. Essa metáfora reflete como a escuridão pode ser reconfortante e cheia de maravilhas.

Olavo Bilac celebra a beleza noturna em poemas como "O Caçador de Esmeraldas". Cecília Meireles utiliza a noite como metáfora para introspecção e mistério.

3. Mar e Lendas
"Confirmando as suas lendas, 
por capricho, o velho mar..."
O mar é descrito como um ente caprichoso que, ao cobrir as areias, traz à tona as lendas que o cercam. Isso sugere a conexão entre natureza e cultura, e como os elementos naturais inspiram histórias e mitos que enriquecem a tradição.

Gregório de Matos fala sobre o mar e suas lendas em sua obra, refletindo a natureza e o misticismo. Em “Marília de Dirceu”, de Tomás Antonio Gonzaga é um marco da poesia romântica do século XVIII no Brasil. O amor idealizado entre o eu lírico e Marília, uma figura que simboliza a beleza e a pureza, utiliza o mar como símbolo de amor e saudade, ligando natureza e emoção.

4. Paz vs. Guerra
"Desista, irmão, dessa guerra, 
abrace a paz benfazeja..."
Aqui, há um forte apelo à paz. A guerra é vista como um combate que não traz benefícios, enquanto a vida é efêmera. Esta trova reflete um desejo universal por harmonia e compreensão, ressaltando a futilidade da violência.

Vinícius de Moraes em "Soneto da Separação" reflete sobre a dor da guerra emocional e a busca pela paz interior. Eucanaã Ferraz aborda a luta pela paz em um mundo conturbado, destacando a importância da harmonia.

5. Amor e Poesia
"Em noite de lua cheia, 
envolto a tanto esplendor..."
A lua cheia simboliza romance e inspiração. O poeta, em um momento de beleza, expressa suas emoções através das trovas de amor, sugerindo que a arte é uma forma de manifestar sentimentos profundos e eternos.

Camões em "Os Lusíadas" e seus sonetos líricos transmitem a força do amor e da inspiração poética. Hilda Hilst explora o amor sob diversas facetas, incorporando a paixão e a sensibilidade em sua obra.

6. A Flor como Símbolo
"Nada detém tanto encanto, 
nem tanta essência de amor..."
A flor é um símbolo da pureza e do amor. O "feito sacrossanto" do seu desabrochar representa a beleza da vida e a fragilidade dos sentimentos humanos, reforçando a ideia de que o amor é uma experiência sublime.

Cassiano Ricardo usa a flor como símbolo de beleza e efemeridade em sua poesia. Marina Colasanti também utiliza a flor para simbolizar a fragilidade e a beleza da vida.

7. A Vida como Palco
"No grande palco da vida,
desse enredo tão atroz..."
A metáfora do palco sugere que a vida é uma performance, onde cada um desempenha um papel. As experiências, boas e más, são partes de um enredo maior. Isso invita à reflexão sobre nossa individualidade e a interconexão entre as histórias humanas.

Shakespeare em suas peças explora a vida como uma performance, refletindo sobre os papéis que cada um desempenha. Adélia Prado trata da vida cotidiana como um palco onde emoções e experiências são vividas intensamente.

8. Liberdade e Natureza
"No voo, a linda graúna, 
com graça e simplicidade..."
A graúna é um símbolo de liberdade e beleza. Seu canto sobre a duna sugere uma celebração da simplicidade e da natureza, lembrando que a verdadeira liberdade está em viver de forma autêntica e em harmonia com o mundo ao nosso redor.

Guilherme de Almeida celebra a natureza e a liberdade em seus poemas. Carlos Drummond de Andrade frequentemente incorpora a natureza para discutir a liberdade e a condição humana.

9. Sonhos e Trabalho
"Pelos caminhos da lida, 
quantos castelos ergui..."
Aqui, o trovador reflete sobre a construção de sonhos através do trabalho duro. Os "castelos" simbolizam aspirações e realizações, enfatizando a importância do esforço e da perseverança na busca por objetivos na vida.

Machado de Assis em "Memórias Póstumas de Brás Cubas" reflete sobre o esforço e os sonhos na vida. Marçal Aquino aborda o tema da luta e dos sonhos em suas narrativas, enfatizando a perseverança.

10. Saudade
"Por ser um real tormento, 
indefinível ao pintor..."
A saudade é apresentada como um sentimento profundo e complexo, que não pode ser facilmente definido ou representado. Essa ideia ressalta a dor da perda e a nostalgia, que são experiências universais, porém únicas para cada indivíduo.

Fernando Pessoa, em sua obra, explora a saudade como um tema central, refletindo sobre a ausência e a nostalgia. Mário Quintana fala da saudade com leveza e profundidade, capturando a dor e a beleza desse sentimento.

11. Reflexão sobre a Velhice
"Quando no espelho me exponho, 
a velhice me valida..."
A velhice é vista como um processo de validação da vida, onde as marcas são testemunhos de experiências vividas. A gratidão pela vida sugere uma aceitação madura do tempo e das memórias que moldam a identidade.

Cecília Meireles discute a passagem do tempo e a sabedoria adquirida com a idade. Marina Colasanti reflete sobre a velhice e as memórias, reconhecendo a beleza do envelhecer.

12. Mistério do Coração
"Saudade é dor que se sente, 
por quem, por qual, ou razão."
A última trova explora a complexidade da saudade, identificando-a como um mistério do coração. O vazio que ela causa é uma expressão da conexão emocional que temos com os outros, destacando a profundidade dos laços humanos e o impacto da ausência.

Pablo Neruda explora o amor e a dor em seus poemas, refletindo sobre a complexidade dos sentimentos. Ana Cristina César aborda a intensidade emocional e os mistérios do coração em suas obras.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As trovas de Fabiano Wanderley revelam um rico bordado de temas universais, tecendo reflexões profundas sobre a condição humana. Através de uma linguagem poética acessível, o autor aborda questões como a fragilidade da vida, a busca pela paz, a complexidade do amor e a inevitabilidade da saudade.

Cada trova, embora possa ser lida de forma isolada, ressoa com as demais, criando um diálogo interno que enriquece a compreensão do todo. A morte e a esperança, por exemplo, estabelecem um contraste que permeia a experiência humana, enquanto a beleza da noite e a liberdade da natureza evocam a necessidade de encontrar serenidade em meio ao caos.

A natureza desempenha um papel central nas trovas, funcionando tanto como cenário quanto como símbolo das emoções humanas. O mar, as flores e a noite não são apenas elementos estéticos, mas sim representações das complexidades da vida, refletindo a influência do romantismo na literatura brasileira. Essa conexão com a natureza também aponta para uma valorização do que é efêmero e belo, uma característica que liga o trovador a poetas clássicos e contemporâneos.

As trovas não apenas exploram sentimentos pessoais, mas também capturam a essência da experiência coletiva. A luta pela paz, a construção de sonhos e a aceitação da velhice são temas que ecoam a universalidade da condição humana. A saudade, em particular, aparece como um sentimento intrínseco à vivência de quem ama e perde, solidificando a ideia de que a dor e a beleza coexistem.

Enfim, as trovas de Fabiano Wanderley são um convite à reflexão sobre a vida em suas múltiplas facetas. Elas nos lembram da importância de valorizar os pequenos momentos, da beleza encontrada na dor e da interconexão entre todos nós. Nas trovas acima, dialoga com tradições tanto antigas quanto contemporâneas, explorando temas universais que ressoam ao longo do tempo. Cada uma de suas trovas reflete uma profunda sensibilidade, conectando-se a grandes poetas que discutiram a vida, a morte, o amor e a saudade.

Fonte: José Feldman. 50 Trovadores e suas Trovas em preto e branco.vol.1. Maringá/PR: IA Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul. 2024.

Recordando Velhas Canções (Esmagando rosas)


(bolero, 1941)

Compositores: Alcir Pires Vermelho e David Nasser

Tu tens
No sol dos teus cabelos
A luz do velho sol nascente
Vem brincar
No azul de teu olhar
O azul-verde do mar
O fascínio dos teus lábios
Lembra a cor
Do sol lá no poente

E tens, também
Em teu porte divino
Toda nobreza romana
Mas, se tu passas por mim
Cheia de orgulho e de graça
Teus pés no chão
Parecem rosas pisar.

Aparecido Raimundo de Souza (Menina de Tranças)

NO PEQUENO E PACATO vilarejo de Santa Luzia do Monte Sagrado, onde o tempo parecia ter estancado os passos de seguir num ritmo próprio, havia uma menina que todos conheciam pela sua beleza ímpar e rara, e –, em igual sorte –, no modo carinhoso como tratava as pessoas. Seu nome, Laudicea (a maioria a chamava carinhosamente de “Menina de Tranças.”) Seus longos cabelos pretos, macios e sedosos, engalanados com fitas coloridas, se consubstanciavam na marca registrada dessa mocinha de quinze anos, cujos sorrisos fáceis e encantadores se misturavam e se alinhavam com os olhos verdes nervosamente matizados por um brilho indescritível.

Santa Luzia do Monte Sagrado não se estendia além de um lugarejo pacato e tranquilo sediada à margens direita de um rio de leito suave, e onde as pessoas de canto a canto se conheciam pelo primeiro nome, ou em decorrência de um apelido advindo de algum familiar ou alguém mais chegado à vida cotidiana. No geral, tudo seguia um ciclo de vida sopitado. A praça central virara um “point” obrigatório de começos de tardes para onde  convergiam não só os jovens, mas também as crianças em alvoroços barulhentos, os namorados e os idosos num regozijo reinante que se avultava até por volta das vinte e duas, mais tardar às vinte e três horas, quando então se iniciava a debandada de retorno, cada um voltado para o conforto de seus respectivos lares.  

Nessa praça se situava o seu Luiz, o pipoqueiro oficial e sua mulher, dona Almerinda das pamonhas –, o Benjamim do cafezinho, o Nicanor das cocadas e dos pés de moleques, e os poucos comerciantes quando encerravam as suas atividades ao longo da rua principal, onde ficavam o mercado, a padaria, o açougue, a farmácia e a funerária. Como toda cidade esquecida nos cafundós dos centros efervescentes, havia a igreja da Padroeira. Ou mais precisamente a de Santa Luzia. O santuário dela se arrimava defronte à praça e o palanque do coreto antigo (onde em tempos idos), as bandinhas dos dois grupos escolares se ajuntavam em datas comemorativas regidas pela batuta do maestro Otto Canavieiro. Em dias de hoje, o sustentáculo desse espaço virou palco ativo de moradores de ruas e usuários de drogas advindos de outras localidades, o que contribuiu para afastar a maviosidade dos futuros músicos a perderem no “para sempre” o viço dos saudosos tempos em que se aprendia a ler partituras ou tocar um instrumento qualquer.   

No mesmo tom, os bancos de cimento, os postes de madeira das luminárias acendidas todos os dias, no chegar das dezoito horas, pelo seu Belizário, que alimentava os surrados lampiões e o colossal jardim todo desflorido plantado pelas antigas administrações da prefeitura se pegaram carcomidos pelo decorrer dos anos, e não só deles – igualmente pelo descaso dos colaboradores dos prefeitos – numa sucessão sem tamanho, o que contribuiu, sobejamente para marcar, de forma retrógrada, o ápice das batidas do grandioso coração que vivificava as bases do esquecido vilarejo. Justamente ali, num local embaixo das sombras generosas de árvores centenárias, as únicas que insistiam em seguir lutando pela sobrevivência, a gloriosa Laudicea costumava se sentar para ouvir as histórias dos seus pais, avós e outros que se juntavam na mesma sintonia meridiana. 

Entre uma e outra, ela se luxuriava a urdir pequenos nós nos próprios cabelos e, de contrapeso, ajudava a avó, dona Cotinha, a produzir as suas bonecas de pano para, com as vendas, manter a sustentação dos alimentos mais prementes não se olvidarem das prateleiras contíguas às despensas da cozinha. As histórias desse centro nevrálgico se materializavam como uma tapeçaria estonteante que conectava o passado ao presente. Havia histórias de bravura e amor, de mistérios ocultos e figuras indecifráveis. Laudicea se fizera uma ouvinte atenta, absorvendo cada palavra como se fosse uma ponderação. Ela acreditava piamente que cada conto “atonal” tinha o poder de transformar a realidade, como se as palavras fossem fios invisíveis que desobstruíssem para melhor, o destino das pessoas.

Uma tarde, quando o sol preparava a mochila para ir embora e voltar dia seguinte, uma nova alma chegou ao vilarejo. Esse, um viajante maltrapilho, as roupas sujas da poeira de tantos quilômetros percorridos, com um chapéu largo e seboso, uma manta que parecia não ver água por um bocado de janeiros. Essa criatura fora do comum para os padrões daquele pedaço de chão, se achegou à localidade e se juntou ao largo do reduto. Em poucas palavras (e no correr dos dias) se soube que também contava histórias. A maior parte delas, relatos sem pé nem cabeça, nascidas de céus e mares distantes, apimentadas de aventuras fantásticas e inverossímeis. Os domiciliados que por ali viviam, em pouco tempo ficaram pasmos e encantados. 

Todavia, foi a “menina de tranças” quem mais as escutou com a devida dosagem da atenção que emanava da fluidez das suas curiosidades à flor da pele. O viajante em poucos dias diversificou lorotando crônicas e causos os mais estapafúrdios e, entre esses bololôs (rolos), o “chegado” narrou um imaginoso que despertou na adolescente Laudicea, a de uma garotinha de oito anos que tinha o poder de fazer os desejos se tornarem realidade. Para isso, ela precisava simplesmente engastar um fio de ouro que não se fazia visível aos olhos comuns. Esse suposto cordel, uma vez trançado, poderia realizar qualquer desejo que a menina mentalizasse. Em oposto, a donzelinha carregava uma responsabilidade imensa: os anelos almejados, como se fossem uma espécie de fatos intrincados que não se traduziam tão simples, e cada um deles, tinha lá as suas consequências no “a depois.”

Quando o repertório dessas histórias se fez conclusivo, o viajante misterioso, dezoito dias depois da sua aparição se despediu e deixou a bucólica Santa Luzia do Monte Sagrado tão enigmaticamente de quanto havia aportado. Laudicea ficou sem norte, ao sabor da mente repleta de perguntas e um revolvimento inquieto martelando dentro do peito. Na noite da partida do estrangeiro, ela não conseguiu conciliar o sono. A imagem fúlvida (viva e cativante) do fio de ouro e da tal garota que realizava desejos dançava tresloucadamente em seus pensamentos. Na manhã seguinte, Laudicea decidiu que queria tentar. Precisava, carecia, tinha urgência. Se fazia imperioso colocar em pratica, sem mais delongas o escutado. Por conta disso, ao invés de usar apenas fitas coloridas, pediu à avó um pouco de sua linha dourada.  

Esse condutor (composto de um fio simples), para ela, a incrível “menina de tranças,” do mais profundo do seu âmago, acreditava piamente que ele reunia todas as qualidades necessárias tipo as daqueles povos indígenas da antiguidade – que evocavam rituais místicos realizado por um pajé indígena visando curar enfermidades futuras. Enquanto conglomerava o “fio, ou o barbante dourado” em seus cabelos, ela se ateve a um único desejo: um só. Que a sua querida Santa Luzia do Monte Sagrado nunca perdesse (ainda que acontecesse algo sobrenatural), ou deixasse despencar por terra a sua essência de paz, de amor e amizade. A vida continuou a fluir como sempre. Entretanto, algo sutil havia mudado. E para melhor. As pessoas começaram a se unir mais, a ajudar umas às outras de maneiras inesperadas. Os problemas da pequena cidadezinha pareciam menores, e a sensação de uma comunidade unida e coesa crescia a cada dia. 

Embora Laudicea nunca tenha revelado a ninguém o que fizera, todos os habitantes sentiram que havia algo especial pairando no ar. Os anos passaram. Laudicea cresceu. Se tornou uma moça bonita. Mais do que já era. Se formou professora e se casou com um menino que, desde que se pegara apaixonada pelas malhas do amor, se tornou esposa desse garoto (na época um vizinho seu) que fora embora para a capital e voltou, anos depois, formado em medicina. Laudicea nunca deixou a sua cidade de berço, e sempre manteve a tradição das “tranças” e o fio dourado dentro de seu “eu oculto.” Em tempo algum precisou de invocar mais desejos, uma vez que descobrira a verdadeira magia da felicidade plena e que, para mantê-la em firme evidência bastava acreditar que um pouco de bondade e esperança poderiam fazer e não só fazer, operar maravilhas.

Quando ela chegou à casa dos sessenta, junto com o seu marido doutor e filhos (que, à semelhança do pai, seguiram as suas trilhas), a inoxidável “Menina de tranças” (após a morte de todos os seus entes queridos) deixou definitivamente Santa Luzia do Monte Sagrado para explorar a capital. Paralelamente, o mundo. Levou consigo, nessa viagem, não só o fio dourado, mas a certeza plena de que os verdadeiros encantos não se faziam construídos de fios de ouro, ou barbantes para se costurarem bonecas. Sobretudo, se avultavam reais e imorredouros, em face de pequenas ações, corações e mentes voltadas para um único objetivo: o bem comum. Assim, a fabulosa “Menina de Tranças” se tornou uma lenda viva em sua cidadezinha natal. Não apenas como aquela criança inocente que cuidava de seus cabelos cheios de tranças multicores, que ouvia histórias e que ajudava a avó a criar bonecas de pano. Ela se fez além das tranças, como a jovem que, num único desejo sincero, ajudou a tecer um destino brilhante e imorredouro para todos que circundavam ao seu redor. 

Fonte: Texto enviado pelo autor

quinta-feira, 12 de setembro de 2024

Figueiredo Pimentel (O cágado e o urubu)

O cágado e seu companheiro urubu foram convidados para uma festa no céu. O urubu, querendo debicá-lo (ironizá-lo), disse:

– Então, compadre cágado, já sei que vai à festa e eu quero ir em sua companhia.

– Pois não, respondeu o outro, contanto que você leve a sua viola.

Separaram-se, ficando o urubu de ir à casa do cágado, para irem juntos.

No dia seguinte, logo muito cedo, o urubu apareceu. O cágado estava à janela, e assim que o viu voando, escondeu-se.

O outro entrou, e foi a mulher quem o recebeu. Convidou-o a passar para a sala de jantar.

– Venha cá para dentro tomar uma xícara de café. Deixe aí a sua violinha, que ninguém a quebra.

O cágado, assim que o urubu passou, meteu-se dentro da viola.

– E seu marido, comadre?

– Ora, mandou pedir mil desculpas, mas já foi adiante.

O urubu, acabando o café, pegou na viola sem nada desconfiar, abriu voo e chegou ao céu.

Perguntaram-lhe pelo cágado, sabendo que haviam combinado vir juntos.

– Qual! Pois vocês pensam que ele vem? Quando lá embaixo ele nem sabe andar, quanto mais voar!

Pilhando-o distraído, o cágado saiu da viola e apareceu no meio dos outros, que se admiraram muito ao vê-lo.

Dançaram e brincaram até tarde.

Acabada a festa, usando do mesmo estratagema, o cágado meteu-se dentro da viola.

O urubu descia voando, quando o cágado se mexeu sem querer.

– Ah! é assim que você sabe voar? Pois voa mais depressa. - exclamou o companheiro virando a caixa.

O cágado despenhou-se daquela imensa altura, e, quando vinha cegando à terra, vendo que ia se esborrachar sobre uma pedra, começou a berrar:

– Arreda, pedra, senão eu te esborracho!

Quem caiu foi ele, que se achatou completamente, ficando com a forma que ainda hoje conserva.

Fonte: Alberto Figueiredo Pimentel. Histórias da Avozinha. Publicado em 1896. Disponível em Domínio Público.  

Recordando Velhas Canções (Tardes De Lindóia)


(valsa, 1930)
Compositor: Zequinha de Abreu

Tardes silenciosas de Lindoia
Quando o sol morre tristonho
Tardes em que toda a natureza
Veste-se de um véu de sonho

Baixo os arvoredos murmurantes
De a tênue brisa um soprar
Anjinho dos sonhos meus
Não sabes tu com és
Sublime contigo sonhar

Longe, lá no horizonte calmo
As nuvens se incendeiam
Num incêndio de luz

Vibra e se exalta minha alma
Na sensação que a seduz

Um plangente sino toca
Chamando a prece a todos
Os que ainda sabem crer

Então que sonho e creio
Beijar a tua linda boca
Para acalmar o meu sofrer

A Nostalgia Poética em 'Tardes de Lindóia'
A música 'Tardes de Lindóia' de Francisco Petrônio é uma ode à beleza e à serenidade das tardes na cidade de Lindóia. A letra descreve um cenário bucólico e tranquilo, onde o sol se põe de maneira melancólica, e toda a natureza parece se vestir de um véu de sonho. Esse ambiente idílico é um convite à introspecção e à contemplação, onde o eu lírico encontra um refúgio para seus pensamentos e sentimentos mais profundos.

A canção utiliza uma série de metáforas e imagens poéticas para transmitir a sensação de paz e beleza do momento. As 'tardes silenciosas' e o 'véu de sonho' são exemplos de como a natureza é personificada e transformada em um cenário quase onírico. A brisa suave e os 'arvoredos murmurantes' contribuem para essa atmosfera de tranquilidade e introspecção, onde o eu lírico se sente em comunhão com a natureza e consigo mesmo.

Além disso, a música também aborda temas de fé e esperança. O 'plangente sino' que toca ao longe chama todos à prece, simbolizando um momento de reflexão e conexão espiritual. O eu lírico expressa um desejo profundo de encontrar consolo e paz, simbolizado pelo anseio de beijar a 'linda boca' de seu amado ou amada. Esse gesto é visto como uma forma de acalmar seu sofrimento, mostrando como o amor e a fé podem ser fontes de conforto em momentos de tristeza e melancolia.

"Tardes de Lindoia" foi escrita em 1916, e é uma das composições mais conhecidas de Zequinha de Abreu. Peça musical inspirada nas belezas naturais da cidade de Lindoia, localizada no Estado de São Paulo. A valsa é caracterizada por sua melodia doce e suave, que evoca uma atmosfera romântica e nostálgica. A obra é uma composição elegante, que combina elementos clássicos e populares, e é considerada uma das mais belas valsas da música brasileira.

A combinação de melodia e harmonia cria uma atmosfera serena e melancólica, que transmite a sensação de tardes tranquilas e ensolaradas. A obra de Zequinha, incluindo "Tardes em Lindoia" (Também conhecida como "Tardes de Lindoia"), foi um marco na música brasileira do século XX, destacando-se pela originalidade e beleza de suas composições. "Tardes de Lindoia" tem sido interpretada e regravada por muitos músicos ao longo dos anos, sendo uma das obras mais conhecidas e amadas do repertório brasileiro.
Fontes: 

segunda-feira, 9 de setembro de 2024

Daniel Maurício (Poética) 76

 

Arthur Thomaz (O cofre)

Imigrante, fugindo dos horrores da Segunda Guerra Mundial, juntou suas poucas economias e embarcou em um navio com destino ao Brasil. No convés da embarcação escutou conversas em que as pessoas exaltavam o valor de terras em um estado denominado Santa Catarina. Terras férteis e já ocupadas em grande parte por milhares de imigrantes de variadas nacionalidades.

Na viagem conheceu um distinto senhor brasileiro, que lhe contou algumas particularidades do seu povo e ainda trocou suas liras por dinheiro do Brasil.

Desembarcou, tendo o cuidado de esconder seu dinheiro nas meias, conforme aprendera com sua finada mãe.

Em uma banca de jornais, no cais, comprou um mapa da Revista Quatro Rodas. Foi a um albergue, onde pernoitou, e pela manhã, durante o café, estendeu o mapa do estado sobre a mesa, e com olhos fechados, colocou o dedo sobre ele.

Selecionou assim, ao acaso, a cidade onde iria estabelecer-se.

Na rodoviária, tomou o ônibus com destino à tal cidade.

Lá chegando, perambulou pela rua do comércio, por horas, até ouvir uma pessoa falando seu idioma.

Iniciou uma longa conversação com o novo amigo.

Orientado por ele, foi visitar as terras que almejava comprar para explorá-las na agricultura.

Com preços muito altos para suas economias, acabou encontrando uma propriedade no sopé de uma serra, onde fazia muito frio, com episódios de fortes geadas, e que era mais barata por esses fatores.

Acostumado aos rigores do inverno europeu, encantou-se pelo local, e no cartório da cidade, realizou a transferência da propriedade para o seu nome.

Com o restante das economias, comprou as ferramentas, insumos, defensivos agrícolas, mudas e sementes.

Na rústica casinha que havia na propriedade, realizou alguns reparos necessários para poder morar.

Após alguns meses de árduo trabalho, no qual empregou-se com afinco, chegando às vezes a ter as mãos sangrando, começou a colher algumas hortaliças, raízes e frutos.

Foi a pé empurrando um pequeno carrinho de mão, vendê-las no Mercado Municipal. 

Com esse dinheiro comprou uma pequena carroça e um burrinho para puxá-la.

Adquiriu mais insumos, mudas e sementes.

Iniciou a plantação de nova safra de produtos.

Algum tempo decorrido nessa faina diária, arrecadou uma quantia suficiente para comprar a propriedade vizinha e contratar uns empregados para ajudá-lo.

Passados alguns anos, já era considerado um grande produtor rural na região.

Contratou pedreiros e construiu uma casa sede da fazenda.

Sozinho, edificou um porão, com entrada oculta, para guardar, secretamente, dinheiro, documentos e pertences particulares.

Com o aprendizado da língua portuguesa, passou a frequentar o CTG (Centro de Tradições Gaúchas) da cidade, onde conheceu uma jovem descendente de europeus. Casaram-se e dessa união nasceram dois filhos, que em pouco tempo também ajudavam na lida das propriedades.

Não contou sobre o porão nem para a esposa, indo a noite arrumar o aposento e guardar o dinheiro em uma gaveta de uma estante.

Fiodor, por não confiar em instituições bancárias, mandou importar um enorme cofre e cimentou-o no solo do secreto porão. Memorizou, sozinho, o segredo, garantindo assim, ter somente ele, o acesso.

E nele armazenava todo o lucro da propriedade, realizando todos os pagamentos em espécie.

Uma vez por semestre ia até a capital do estado e em uma loja de câmbio, trocava suas economias por moedas estrangeiras, acumulando, assim, uma pequena fortuna, que guardava, zelosamente, no cofre.

Depois de seu falecimento, os laboriosos filhos, desconhecendo a existência do cofre, continuaram a vida na fazenda. Passaram a utilizar agências bancárias para transações financeiras. Expandiram os negócios, amealhando muito dinheiro e comprando mais terras vizinhas. 

Casaram-se e também tiveram filhos que mantiveram a tradição rural da família.

Já os membros da quarta geração, Giuseppe e primos, eram um pouco menos dedicados ao trabalho nas fazendas, acostumados às polpudas mesadas. Preferiam simular estar estudando em busca de diplomas do que a faina diária na lavoura. Moravam fora do Estado, vindo somente nas férias para visitar os parentes.

Em uma dessas férias, Giuseppe, um pouco mais curioso que os outros, resolveu explorar o antigo e enorme casarão sede das propriedades. Observou um som diferente no contato do taco de suas botas com o assoalho. Com a picareta, abriu um buraco e surpreendeu-se ao encontrar um aposento. 

Com a ajuda dos primos, alargaram a passagem e desceram com o auxílio de uma escada de madeira.

Depararam-se, surpresos, com o enorme cofre.

Entreolharam-se, já imaginando o que fazer com a possível quantia em dinheiro que poderia haver lá dentro. 

Tentaram, por muito tempo, diversas maneiras de abri-lo. Iniciaram por aleatórios números encontrar o segredo.

Depois, com o auxílio de um estetoscópio, procurando imitar o que assistiram nos filmes.

Mesmo relutantes em expor o achado a estranhos, apelaram a um chaveiro, que inutilmente tentou, por horas, abri-lo.

Já impacientes, dinamitaram o objeto, sem sucesso.

Recorreram até a um vidente e a um pai de santo, para entrar em contato com o espírito de Fiodor, em vão.

Após meses de vãs tentativas, com muito dinheiro gasto, reuniram-se e resolveram enterrá-lo e esquecer a existência desse estorvo.

Desdenharam a possibilidade do cofre conter algo interessante economicamente. Não contaram esse fato nem aos descendentes, a fim de que caísse no esquecimento para toda a eternidade.

O que nenhum deles reparou, foi em um quadro na parede do aposento, emoldurando um antigo mapa do Estado de Santa Catarina, no qual havia uma sequência de números escritos em volta do nome da cidade.

Fonte: Arthur Thomaz. Leves contos ao léu: insondáveis. 1. ed. Santos/SP: Bueno Editora, 2024. Enviado pelo autor 

domingo, 8 de setembro de 2024

José Feldman (Versejando) 148

 

Filemon Francisco Martins (Trovas em preto e branco)


1
A felicidade é um sonho,
- por que deixar pra depois?
O amor é sempre risonho
na vida vivida a dois.
2
Cai a chuva na vidraça
e eu fico triste, porquê
não há beleza, nem graça,
nesta casa sem você.
3
Criança és flor, és bonança
espargindo luz e amor,
porque trazes a esperança
de um futuro promissor.
4
“Das coisas belas da vida”
que colhi, em profusão,
eis a mais nobre e querida:
em cada TROVA um irmão!
5
Falando de amor, Maria,
que saudades sinto agora
daquela doce alegria
que em teus olhos vi outrora.
6
Gosto da vida pacata,
homens simples dos sertões,
pois vejo usando gravata
por aqui muitos ladrões.
7
Nenhum poema é mais belo
e inspira tanta esperança
do que um sorriso singelo
no rosto de uma criança.
8
No meu balaio carrego
sonhos de amor e venturas,
mas muitos sonhos, não nego,
se tornaram desventuras.
9
Quantas noites, meu amor,
olhando, no céu, a lua,
eu me sinto um trovador
pensando na imagem tua.
10
Que o teu futuro, criança,
seja de luz e esplendor,
vislumbre de confiança
no mundo do desamor.
11
“Sorriria de feliz”
e o mundo teria paz,
se o coração que maldiz
soubesse perdoar mais.
12
Tenho certeza que a trova
– poema feito de amor -
é um sonho que se renova
na vida de um trovador.
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AS TROVAS DE FILEMON MARTINS EM PRETO E BRANCO
por José Feldman

As trovas de Filemon Martins são belas expressões de sentimentos profundos e reflexões sobre a vida, o amor e a inocência. Cada uma delas traz um toque de sabedoria e carinho, capturando emoções que ressoam com muitos de nós.

AS TROVAS UMA A UMA

1. A felicidade é um sonho
A felicidade é apresentada como um ideal, um sonho que deve ser buscado. O amor, descrito como "risonho", indica que a partilha da vida a dois é fundamental para a realização desse sonho.

2. Cai a chuva na vidraça
A chuva simboliza tristeza e melancolia. A casa "sem você" representa a ausência de um amor, enfatizando que a beleza da vida está intrinsecamente ligada à presença do outro.

3. Criança és flor, és bonança
A comparação da criança a uma flor expressa a fragilidade e beleza da infância. A criança é vista como portadora de esperança, sugerindo que o futuro pode ser iluminado pela inocência.

4. “Das coisas belas da vida”
A valorização das conexões interpessoais é central. A frase "em cada TROVA um irmão" indica que a arte e a poesia podem unir as pessoas, criando laços de fraternidade.

5. Falando de amor, Maria
A menção a Maria e a "doce alegria" expressa uma nostalgia profunda. A lembrança dos olhos do amado sugere que o amor deixa marcas duradouras na memória.

6. Gosto da vida pacata
A preferência pela vida simples contrasta com a corrupção e desonestidade, simbolizadas pelos "homens usando gravata". Há uma crítica à superficialidade e à hipocrisia da sociedade.

7. Nenhum poema é mais belo
O sorriso de uma criança é exaltado como a mais pura forma de beleza. Essa simplicidade é um reflexo da esperança e da pureza que ainda existem no mundo.

8. No meu balaio carrego
A imagem do "balaio" representa a carga emocional que o eu lírico carrega. A dualidade entre sonhos e desventuras reflete a realidade de que nem todos os desejos se concretizam.

9. Quantas noites, meu amor
A lua simboliza a inspiração e a contemplação noturna, reforçando a ideia de que a distância do amor provoca reflexão e saudade.

10. Que o teu futuro, criança
Um desejo sincero para que as crianças tenham um futuro brilhante, mesmo diante das adversidades. O "mundo do desamor" sugere um ambiente difícil, mas a confiança é uma luz a ser cultivada.

11. “Sorriria de feliz”
O perdão é apresentado como uma solução para a maldade e a discórdia. A ideia de que um coração que perdoa poderia trazer paz ao mundo é um forte apelo à empatia e compreensão.

12. Tenho certeza que a trova
A trova é vista como uma forma de arte que renova sentimentos e experiências. É um testemunho do poder da poesia em refletir o amor e as vivências humanas.

TEMAS ABORDADOS PELAS TROVAS DE FILEMON E SUA SIMILARIDADE COM POETAS DE DIVERSAS ÉPOCAS

1. Felicidade e Amor
A busca pela felicidade é um tema universal. Filemon sugere que o amor é a chave para essa felicidade, refletindo a visão romântica de que a união entre duas pessoas é essencial para a realização pessoal. Poetas como Pablo Neruda e Vinicius de Moraes também exploraram essa conexão, enfatizando a intensidade e a beleza do amor. Para Neruda, o amor é um ato de resistência, uma força que nos conecta profundamente com o outro e com nós mesmos.

2. Solidão e Ausência
A tristeza provocada pela ausência de um amor é um sentimento profundo e recorrente na poesia. Filemon expressa essa dor de forma sensível, semelhante ao que Fernando Pessoa fez com sua famosa saudade, mostrando como a ausência pode modificar a percepção do mundo.

3. Inocência e Esperança
A criança como símbolo de esperança remete a uma visão otimista da vida. Cecília Meireles capturou essa essência, ressaltando a beleza da infância e a pureza dos sentimentos, mostrando que a inocência é uma forma de resistência ao desespero do mundo. A infância e a inocência trazem esperança em meio à tristeza. As crianças são flores que brotam em nossos corações.

4. Relações Humanas
O trovador valoriza as conexões humanas, refletindo uma visão de comunidade e amor fraternal. Esse tema é também central na obra de Adélia Prado, que muitas vezes fala sobre as relações interpessoais e a importância do afeto na vida cotidiana, nas relações simples que encontramos a verdadeira beleza. A vida cotidiana é repleta de amor fraternal.

5. Saudade
A saudade é uma emoção complexa, que mistura nostalgia e amor. Carlos Drummond de Andrade explorou essa sensação, mostrando como as memórias moldam nosso presente e futuro, a hipocrisia da sociedade nos rodeia. Precisamos valorizar a autenticidade e a verdade, mesmo que isso nos leve a desilusões.

6. Simplicidade e Crítica Social
A crítica à superficialidade e à desonestidade é um tema pertinente em várias obras. Machado de Assis também abordou a hipocrisia social, mostrando que a verdadeira riqueza está na simplicidade e na honestidade.

7. Inocência e Beleza
Filemon destaca a beleza do sorriso infantil, um tema que ressoa com a obra de Manuel Bandeira, que também cultivou a ideia de que a simplicidade e a pureza são fontes de verdadeira beleza, a simplicidade do sorriso infantil é um lembrete de que a beleza reside nas pequenas coisas, mesmo em tempos difíceis.

8. Sonhos e Desilusões
A dualidade entre sonhos realizados e desilusões é uma reflexão sobre a vida humana. Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa, também lidou com essa questão, abordando a relação entre aspirações e a dura realidade. 

9. Romantismo
O romantismo é uma constante na poesia, e a contemplação da lua é uma imagem clássica que evoca emoções profundas. Lord Byron e Mary Shelley usaram a natureza para expressar sentimentos amorosos e melancólicos.

10. Esperança e Confiança
O desejo de um futuro promissor para as crianças é um apelo à esperança em tempos difíceis. Poetas contemporâneos, como Martha Medeiros, também enfatizam a importância de cultivar a esperança em meio às adversidades, o futuro das crianças está entrelaçado com a luz que conseguimos cultivar hoje.

11. Perdão e Paz
O perdão como caminho para a paz é um conceito fundamental em muitas tradições literárias. Guilherme de Almeida e outros poetas enfatizaram a importância do perdão como um ato de amor e compreensão, somente assim podemos alcançar a paz que tanto desejamos.

12. Poesia e Renovação
A ideia de que a poesia renova sentimentos é uma reflexão sobre o poder da arte. Rainer Maria Rilke analisou a transformação que a poesia pode trazer à vida e às emoções humanas, pois a poesia é o caminho. Ela nos renova, transforma nossas dores e alegrias em algo eterno.

CONSIDERAÇÕES FINAIS 

As trovas acima expostas são um bordado de emoções, reflexões e críticas sociais. Elas abordam a complexidade das relações humanas, a busca pela felicidade, a importância da inocência e a necessidade de esperança e perdão.

Filemon Martins, através de suas trovas, oferece uma visão profunda e sensível da vida. Seus versos são um convite à reflexão, à busca de conexões autênticas e à valorização das emoções que nos tornam humanos. Ao explorar a complexidade dos sentimentos e das relações, ele deixa um legado atemporal que continua a ressoar, inspirando novas gerações a encontrar beleza e significado em suas próprias experiências. Não apenas torna suas mensagens mais acessíveis, mas também intensifica o impacto emocional de seus versos.

Os versos contidos nas trovas, carregam um peso emocional que nos lembra que, apesar dos desafios, o amor, a esperança e a poesia são fundamentais para a nossa jornada, fazendo delas uma contribuição valiosa à literatura e à poesia.

Fonte: José Feldman. 50 Trovadores e suas Trovas em preto e branco. vol.1. Maringá/PR: IA Poe. Biblioteca Voo da Gralha Azul. 2024.