sexta-feira, 21 de novembro de 2025

Renato Benvindo Frata (Nosso labirinto particular)


Relendo a História de Minotauro antes de Teseu e analisando seu sofrimento por ter nascido diferente dos humanos - metade homem e touro, que vivia num labirinto a aprisionar e a matar para se alimentar, vem a pergunta: por que as pessoas se arriscavam nos estreitos corredores do labirinto, sabendo-o perigoso? Por curiosidade. Acreditavam que as paredes contavam o futuro de cada um em histórias fantásticas, daí a motivação. Creta, então, vivia o dilema: possuía uma riqueza especial com paredes falantes e, também um monstro horroroso.

Minotauro, na porção humana, era triste, pensativo e, sabendo da imperfeição em relação a outros, se tornou soturno, tomado pela necessidade de compreensão, de amor, de conexão que o fizesse se não igual, ao menos aceitável. E ali, no labirinto, com somente ele sabendo da entrada e da saída, fizera seu abrigo. Em contraste, também sua prisão em meio às pedras especiais. Estava destinado a viver só, com o amargor de pensamentos, desejos e sensações.

Sua história é linda e em muito se assemelha à de cada um de nós respeitada a individualidade. Ele sonhava em poder sair, vencer seus muros, apreciar o sol, lua, estrelas, sentir o perfume da relva em manhã de orvalho. Ter alguém com quem dividir a alegria, a tristeza que tece a vida como a um quebra-cabeças, e que faz do ser humano o único capaz de resolver tão intrincadas coisas que constroem. O ser humano era aguerrido, insatisfeito com o que fazia, por isso inventava. Ele gostaria de fazer o mesmo que o lenhador, o oleiro, construir com tijolos sua proteção, afiar uma faca para melhor cortar, arredondar o quadrado para melhor conduzir. Mas sua imperfeição corporal não o permitia. Por isso a imorredoura tristeza, a revolta e a agressão contra aqueles que lhe invadiam seu único espaço.

Trazendo o mito desse “monstro” solitário que vive em nós, e analisando as noites insones que nos pegam por horas encontrar, na penumbra, a solução ao que tira nosso sono, podemos dizer que cada um, nessa condição, constrói seu próprio labirinto, onde conviverá com seus defeitos ou deficiências em auto piedade enquanto se inunda de tristeza e faz da situação, a eterna prisão, ou agir com sabedoria como Ariadne, que entregou ao amado Teseu um rolo de barbante orientando-o a que amarrasse uma ponta na entrada do labirinto e a esticasse aonde fosse, para encontrar o caminho de volta.

O labirinto de Minotauro era tão misterioso como é nossa mente; intimamente ele buscava a saída não somente da prisão/abrigo, das paredes invisíveis que construíra dentro de si, assim como nós ao supervalorizar os problemas diários, as perdas, as lutas inglórias, os chororôs do insucesso, as pendências financeiras ao ponto de trocar horas de nosso sagrado repouso, ao ruminá-los sem sucesso.

Diz com sabedoria ‘MC Von Zuben’, no trabalho “O Nó(s) que Nunca Desata: o Fio de Ariadne e o Labirinto do Autoconhecimento” – que merece ser lido. - Contempla em resumo que: todos e cada um estamos conectados em um nó que nunca desata. Nossas relações, por mais complexas, não podem ser apagadas: há um fio invisível a nos unir e um labirinto para cada um. Esse fio sempre nos leva até nós mesmos; e só podemos lutar contra nosso Minotauro com a força animalesca que temos, guiados pelo fio para sair do ‘labirinto’. Desprovido dele, continuaremos a vagar pelo escuro como temos feito indefinidamente, razão de nossa amarga insônia.
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RENATO BENVINDO FRATA (79) nasceu em Bauru/SP, radicou-se em Paranavaí/PR. Formado em Ciências Contábeis e Direito. Professor da rede pública, aposentado do magistério. Atua ainda, na área de Direito. Fundador da Academia de Letras e Artes de Paranavaí, em 2007, tendo sido seu primeiro presidente. Acadêmico da Confraria Brasileira de Letras. Seus trabalhos literários são editados pelo Diário do Noroeste, de Paranavaí e pelos blogs:  Taturana e Cafécomkibe, além de compartilhá-los pela rede social. Possui diversos livros publicados, a maioria direcionada ao público infantil.
Fontes:
Texto enviado pelo autor. 
Imagem criada por Jfeldman com Microsoft Bing

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