O que faço se preciso de um esclarecimento, de um tira-dúvidas? Mais seguro que procurar no “Google” ou na “Wikipedia” é consultar o velho e infalível dicionário, o “pai-dos-inteligentes”, naturalmente à prova de vírus, de “tilte” e de queda de energia elétrica. (Discordo veemente da antonomásia “pai-dos-burros”. Quem é burro acostuma-se e acomoda-se à sua ignorância. Afinal, quererá um dicionário para quê???) Alguns, mais curiosos e sequiosos da pureza vernacular, procurarão uma gramática.
Entre nossos dicionários, o Caldas Aulete foi a referência padrão durante muitos anos e, mais atualmente, o Aurélio e o Houaiss se destacam por seu alcance. O Houaiss é mais completo que o Aurélio, mas é de difícil consulta para um leigo. Entre as gramáticas, os mais antigos certamente evocarão a “Gramática Metódica da Língua Portuguesa”, de Napoleão Mendes de Almeida e a “Gramática Normativa da Língua Portuguesa”, de Rocha Lima. Atualmente, nossas melhores e mais confiáveis (apesar de alguns pormenores que não vem ao caso elencar) são a “Nova Gramática do Português Contemporâneo”, de Celso Cunha e Lindley Cintra, e a “Moderna Gramática Portuguesa”, do Prof. Evanildo Bechara.
Quem conhece um pouco de outras línguas, ficará impressionado com o atraso do Português neste quesito. Só o Espanhol possui atualmente três dicionários de grande vulto e emprego, o “Dicionario Usual”, editado pela Larousse, o “Dicionario de la lengua española”, da Universidad de Salamanca e o “Dicionario del Estudiante”, da Real Academia Española, três calhamaços dignos de respeito.
Por falar em Academia, é curioso lembrar que a Academia Brasileira de Letras, uma instituição teoricamente análoga à espanhola, limita-se a publicar o VOLP (Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa), praticamente desconhecido da maioria dos brasileiros e que se limita, simplesmente, a elencar as palavras em ordem alfabética, sem maiores explicações. Depois do acordo ortográfico, então, estamos em um caos praticamente institucional.
Em termos de gramática, também ficamos um pouco atrás: a primeira gramática do Espanhol foi publicada por Antonio Nebrija, em 1492; e a do Português, por Fernão de Oliveira, em 1536. E voltando a falar da Real Academia Espanhola, é ela quem edita a mais completa gramática do Espanhol contemporâneo, em dois alentados volumes, uma referência mundial para quem estuda Espanhol.
Enquanto isso, a nossa Academia prefere chá com biscoitos... Apesar de algumas boas iniciativas, a língua portuguesa ainda não tem uma gramática “oficial”, que sirva de parâmetro para pessoas de outras nações que queiram estudar Português. Mas e as nossas gramáticas, afinal? Bem... as nossas dão para o gasto. E é só. Uma gramática muito boa é a “Gramática de Usos do Português”, da Professora Maria Helena Moura Neves, da UNESP, todavia é de difícil consulta para um leitor comum. Outras iniciativas de pesquisadores brasileiros são boas, mas de pequeno alcance e esbarram em obstáculos de natureza logística. Fora essas iniciativas, o que encontramos nas livrarias são cópias de gramáticas anteriores e, na maioria dos casos, cópias mal feitas, cheias de inconsistências teóricas e de conceituações defeituosas. Cito como exemplo a minigramática que minha escola recebe do Governo do Estado (!!!), que traz a seguinte pérola, à p. 247: “Sujeito é o ser de quem se diz alguma coisa. Predicado é aquilo que se afirma do sujeito, ou melhor, é o termo que contém a declaração, referida, em geral, ao sujeito.” E quando o sujeito não é um ser? Na frase “O que aconteceu?”, “o que” é sujeito do verbo “aconteceu”, e nem por isto é um “ser”. E se “predicado” é aquilo que se afirma sobre o sujeito, como ficam as orações sem sujeito? “Está calor”, “fez frio”, “choveu”, “amanheceu”. Estas quatro frases são predicados, mas não estão afirmando nada sobre sujeito algum, porque o sujeito, nestes casos, simplesmente não existe!
Estudar língua portuguesa no Brasil é pisar em um campo minado. Muitas vezes o que parece não é e o que é não parece. Para nós da UBT, que escrevemos trovas e julgamos outras tantas para concursos, é preciso muita cautela antes de dar nota ou excluir determinadas trovas do escopo de um julgamento. É imprescindível consultar gramáticas e dicionários em casos de dúvida. De preferência, mais de uma obra. Há autores que divergem em determinados assuntos e às vezes mais complicam do que esclarecem. As línguas variam e as gramáticas nem sempre registram adequadamente tais variações ou, ao contrário, abonam construções que já caíram em desuso. De preferência, precisamos consultar obras atualizadas.
Por fim, um comentário absolutamente pessoal: em vista do caráter muitas vezes impressionista de nossos compêndios, não me admira que a palavra “TROVA” seja um mistério para as pessoas. E se quiserem saber o que é “trova” olhando um dicionário... Deus nos acuda!
Fonte:
O Autor
Entre nossos dicionários, o Caldas Aulete foi a referência padrão durante muitos anos e, mais atualmente, o Aurélio e o Houaiss se destacam por seu alcance. O Houaiss é mais completo que o Aurélio, mas é de difícil consulta para um leigo. Entre as gramáticas, os mais antigos certamente evocarão a “Gramática Metódica da Língua Portuguesa”, de Napoleão Mendes de Almeida e a “Gramática Normativa da Língua Portuguesa”, de Rocha Lima. Atualmente, nossas melhores e mais confiáveis (apesar de alguns pormenores que não vem ao caso elencar) são a “Nova Gramática do Português Contemporâneo”, de Celso Cunha e Lindley Cintra, e a “Moderna Gramática Portuguesa”, do Prof. Evanildo Bechara.
Quem conhece um pouco de outras línguas, ficará impressionado com o atraso do Português neste quesito. Só o Espanhol possui atualmente três dicionários de grande vulto e emprego, o “Dicionario Usual”, editado pela Larousse, o “Dicionario de la lengua española”, da Universidad de Salamanca e o “Dicionario del Estudiante”, da Real Academia Española, três calhamaços dignos de respeito.
Por falar em Academia, é curioso lembrar que a Academia Brasileira de Letras, uma instituição teoricamente análoga à espanhola, limita-se a publicar o VOLP (Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa), praticamente desconhecido da maioria dos brasileiros e que se limita, simplesmente, a elencar as palavras em ordem alfabética, sem maiores explicações. Depois do acordo ortográfico, então, estamos em um caos praticamente institucional.
Em termos de gramática, também ficamos um pouco atrás: a primeira gramática do Espanhol foi publicada por Antonio Nebrija, em 1492; e a do Português, por Fernão de Oliveira, em 1536. E voltando a falar da Real Academia Espanhola, é ela quem edita a mais completa gramática do Espanhol contemporâneo, em dois alentados volumes, uma referência mundial para quem estuda Espanhol.
Enquanto isso, a nossa Academia prefere chá com biscoitos... Apesar de algumas boas iniciativas, a língua portuguesa ainda não tem uma gramática “oficial”, que sirva de parâmetro para pessoas de outras nações que queiram estudar Português. Mas e as nossas gramáticas, afinal? Bem... as nossas dão para o gasto. E é só. Uma gramática muito boa é a “Gramática de Usos do Português”, da Professora Maria Helena Moura Neves, da UNESP, todavia é de difícil consulta para um leitor comum. Outras iniciativas de pesquisadores brasileiros são boas, mas de pequeno alcance e esbarram em obstáculos de natureza logística. Fora essas iniciativas, o que encontramos nas livrarias são cópias de gramáticas anteriores e, na maioria dos casos, cópias mal feitas, cheias de inconsistências teóricas e de conceituações defeituosas. Cito como exemplo a minigramática que minha escola recebe do Governo do Estado (!!!), que traz a seguinte pérola, à p. 247: “Sujeito é o ser de quem se diz alguma coisa. Predicado é aquilo que se afirma do sujeito, ou melhor, é o termo que contém a declaração, referida, em geral, ao sujeito.” E quando o sujeito não é um ser? Na frase “O que aconteceu?”, “o que” é sujeito do verbo “aconteceu”, e nem por isto é um “ser”. E se “predicado” é aquilo que se afirma sobre o sujeito, como ficam as orações sem sujeito? “Está calor”, “fez frio”, “choveu”, “amanheceu”. Estas quatro frases são predicados, mas não estão afirmando nada sobre sujeito algum, porque o sujeito, nestes casos, simplesmente não existe!
Estudar língua portuguesa no Brasil é pisar em um campo minado. Muitas vezes o que parece não é e o que é não parece. Para nós da UBT, que escrevemos trovas e julgamos outras tantas para concursos, é preciso muita cautela antes de dar nota ou excluir determinadas trovas do escopo de um julgamento. É imprescindível consultar gramáticas e dicionários em casos de dúvida. De preferência, mais de uma obra. Há autores que divergem em determinados assuntos e às vezes mais complicam do que esclarecem. As línguas variam e as gramáticas nem sempre registram adequadamente tais variações ou, ao contrário, abonam construções que já caíram em desuso. De preferência, precisamos consultar obras atualizadas.
Por fim, um comentário absolutamente pessoal: em vista do caráter muitas vezes impressionista de nossos compêndios, não me admira que a palavra “TROVA” seja um mistério para as pessoas. E se quiserem saber o que é “trova” olhando um dicionário... Deus nos acuda!
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