Curioso, em nossa fala brasílica, doce e deliciosa, os verbos saltarem mais que baiacu no samburá.
O sol, por exemplo, não “sola”: faz . “- Ontem não fez sol”.
E o frio? Este, não esfria: o frio está. E na fala popular, “tá”. “Tá frio, hoje!”
Já o tempo, este é um leviano! Ele abre e fecha. “Ah, que bom, o tempo “abriu” hoje de manhã. E o tempo fecha também quando há briga “Chii, o tempo fechou lá em casa hoje”.
Você sabia que restaurante “abre”? “Sabia que abriu um restaurante lá no meu quarteirão?”.
Já o jornal é pródigo. Ele “dá” e ele “sai”.
O rádio não sai, dá. “Deu no rádio, não ouviu?”.
Pois não é que a lua também “sai”, a exibida.
A televisão, mais vaidosa não “sai”. Ela “dá”. Como o rádio. “Deu na televisão”. Porém não se contenta em dar. Ela faz aparecer, a milagrosa. “Viu o Jonir? Ele “apareceu” na televisão com a
bandeira do Brasil comemorando a vitória da Seleção”.
Já os místicos arranjaram verbos notáveis. Vejam só. Tarô se “bota”; Búzios “joga”. E carta também “bota”. “A Branca botou o tarô para mim”.
E o verbo bater? Danadinho ele. Encheu-se de significantes e ficou gordinho. Olhem só: “Às duas da tarde me “bateu” uma fome!”. E ele virou até concordância: “Minha opinião “bateu” com a dele!” E cálculo também “bate”, quem diria. “Fiz as contas, comparei com os recibos e não “bateu”.
O cansaço tem complexo de inferioridade. Ele não sobe. Ao contrário “baixa”. “Pô, me “baixou” um cansaço!” Aliás fome não apenas bate. Ela também “baixa”, como “baixa” o sono. “Depois do almoço me “baixou” um sono!”
Sentar. Ah sentar! Além daquele uso meio indecoroso que a gente conhece, agora sentar é reunir-se para deliberar. Sindicatos, grevistas, ministros “sentam”. “Agora precisamos “sentar” para resolver a questão pacificamente”. Uai, só sentado?
E quanta coisa mais: “Ontem “soprou” um vento!” “Fulana “recebe” espíritos”. Céu “limpa”. Já político e poeta a gente “vira”. “Lembra de Artur? Depois que “virou” político, nunca mais escreveu boas crônicas”...
Fonte:
http://intervox.nce.ufrj.br/~jobis/artur.htm
O sol, por exemplo, não “sola”: faz . “- Ontem não fez sol”.
E o frio? Este, não esfria: o frio está. E na fala popular, “tá”. “Tá frio, hoje!”
Já o tempo, este é um leviano! Ele abre e fecha. “Ah, que bom, o tempo “abriu” hoje de manhã. E o tempo fecha também quando há briga “Chii, o tempo fechou lá em casa hoje”.
Você sabia que restaurante “abre”? “Sabia que abriu um restaurante lá no meu quarteirão?”.
Já o jornal é pródigo. Ele “dá” e ele “sai”.
O rádio não sai, dá. “Deu no rádio, não ouviu?”.
Pois não é que a lua também “sai”, a exibida.
A televisão, mais vaidosa não “sai”. Ela “dá”. Como o rádio. “Deu na televisão”. Porém não se contenta em dar. Ela faz aparecer, a milagrosa. “Viu o Jonir? Ele “apareceu” na televisão com a
bandeira do Brasil comemorando a vitória da Seleção”.
Já os místicos arranjaram verbos notáveis. Vejam só. Tarô se “bota”; Búzios “joga”. E carta também “bota”. “A Branca botou o tarô para mim”.
E o verbo bater? Danadinho ele. Encheu-se de significantes e ficou gordinho. Olhem só: “Às duas da tarde me “bateu” uma fome!”. E ele virou até concordância: “Minha opinião “bateu” com a dele!” E cálculo também “bate”, quem diria. “Fiz as contas, comparei com os recibos e não “bateu”.
O cansaço tem complexo de inferioridade. Ele não sobe. Ao contrário “baixa”. “Pô, me “baixou” um cansaço!” Aliás fome não apenas bate. Ela também “baixa”, como “baixa” o sono. “Depois do almoço me “baixou” um sono!”
Sentar. Ah sentar! Além daquele uso meio indecoroso que a gente conhece, agora sentar é reunir-se para deliberar. Sindicatos, grevistas, ministros “sentam”. “Agora precisamos “sentar” para resolver a questão pacificamente”. Uai, só sentado?
E quanta coisa mais: “Ontem “soprou” um vento!” “Fulana “recebe” espíritos”. Céu “limpa”. Já político e poeta a gente “vira”. “Lembra de Artur? Depois que “virou” político, nunca mais escreveu boas crônicas”...
Fonte:
http://intervox.nce.ufrj.br/~jobis/artur.htm
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