sábado, 4 de dezembro de 2010

Carolina Ramos (Livro de Trovas)


O mar da vida parece
que às vezes quer me afogar,
mas, Deus, que nunca me esquece,
atira a bóia no mar!

No amor o tempo se gasta
com medidas desiguais:
se estás longe, ele se arrasta;
se perto, corre demais!

Nosso amor, quadras desfeitas,
de um poema sem achados...
Rimas tristes, imperfeitas,
fechando versos quebrados!...

Que o presente se reparta
com o passado, sem queixa...
- A memória não descarta
o que a saudade não deixa!

Há contraste em nossas vidas
mas, perfeito é o desempenho:
luz e sombra, quando unidas,
dão força e vida ao desenho…

Saltando apenas num pé,
negrinho, maroto e arteiro,
o saci, nada mais é,
que o capeta brasileiro...

É possível que aconteça:
Seja folclore ou novela,
tanta gente sem cabeça...
por que não mula... sem ela?

Teu amor... tal força tinha,
que a saudade me conduz
e esta penumbra só minha
ainda é cheia de luz!

A lua beija a favela...
A estrela no céu reluz...
- Meu bem, apaga essa vela,
o amor não quer tanta luz!...

A sós, na penumbra doce...
Neste agora sem depois,
é como se o mundo fosse
um mundo só de nós dois!...

Lembrando a ternura antiga,
minha saudade se exalta...
- Bendigo a penumbra amiga
que me esconde a tua falta!

Esta penumbra... Este frio,
este agora sem porquê...
Este silêncio vazio
é o meu mundo sem você!

Quando a penumbra descia,
a nossa emoção vibrava,
sonhando o que não dizia,
dizendo o que nem sonhava!...

A penumbra da saudade
torna os meus dias tristonhos
e eu bendigo a claridade
das estrelas dos meus sonhos!

No claro-escuro da vida,
fusão de alegria e dor,
a penumbra é colorida
se for penumbra de amor!

Se a ternura nos aquece
e um grande amor nos ampara,
é quando a penumbra desce
que a vida fica mais clara!

A verdadeira alforria
é aquela que estende as mãos,
unindo em plena harmonia
branco e negro, como irmãos.

Alforria... e a voz dos bravos
se erga, potente, entre as massas,
negando criar escravos
de um ódio cruel entre raças.

Esse que vive algemado
às paixões, odiando a esmo,
mesmo sendo alforriado,
segue escravo de si mesmo!

Preso ao tronco, em ais tristonhos,
geme o negro, sem alarde...
- para quem não tem mais sonhos,
a alforria chegou tarde...

Alforriada, ela passa
gingsando frente ao feitor
e o dengo de sua raça
faz dele escravo do amor!

A pele negra retrata
a dor de uma triste saga,
pois o estigma d chibata
nem mesmo a alforria apaga!

Sorrindo ao branco menino,
que o negro seio mordia,
mãe preta cumpre o destino,
alheia à própria alforria.

Choram as mães... Alforria!
e os negrinhos, assustados,
não sabem que uma alegria
também faz olhos molhados!

Alforria... ela desperta
tendo ao rosto um novo brilho,
não lhe importa estar liberta,
mas, ver liberto o seu filho!

Alforria... que mentira!
pensa o negro velho a rir...
- seu braço tanto servira,
que apenas crê no servir...
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