O menino só possuía um guiné. Numa ocasião de necessidade matou o guinezinho e saiu pra adquirir farinha. Quando voltou, a avó, que morava com ele, comera o guinezinho inteiro. O menino reclamou muito e avó lhe deu um machadinho.
 Saiu o menino pela estrada e encontrou o pica-pau furando uma árvore com o bico.
 — Pica-pau! Não se usa mais o bico para cortar pau. Usa-se um machadinho como esse…
 — Oh! Menino! Empreste-me o machadinho.
 O menino emprestou o machadinho ao pica-pau e este tanto bateu que o quebrou.
 O menino recomeçou a choradeira:
 — Pica-pau, quero meu machadinho que minha avó me deu, matei meu guinezinho e minha avó comeu.
 O pica-pau deu ao menino um cabacinho de mel de abelhas. O menino continuou a viagem e lá adiante viu o papa-mel lambendo um barreiro que só tinha lama.
 — Papa-mel! Não se usa mais beber lama. Usa-se beber um melzinho como esse…
 — Oh! Menino! Me dê um pouquinho desse mel!
 Que pouquinho foi esse que o papa-mel engoliu todo o mel e ainda quebrou o cabacinho. O menino abriu a boca no mundo, berrando. O papa-mel presenteou-o com uma linda pena de pato. O menino seguiu.
 Lá na frente encontrou um escrivão escrevendo com uma pena velha e estragada.
 — Escrivão! Não se usa mais escrever com uma pena estragada como essa e sim com uma boa e novinha como esta aqui…
 — Oh! Menino! Empresta-me tua pena…
 O bobo do menino emprestou a pena. Num instante o escrivão estragou a pena. O menino cai no prato. O escrivão lhe deu uma corda.
 Depois de muito andar, o menino avistou um vaqueiro tentando laçar um boi com um cipó do mato.
 — Vaqueiro! Não se usa mais laçar boi com cipó e sim com uma corda como essa.
 — Oh! Menino! Me empresta essa corda.
 O menino, vai, emprestou. Num minuto o vaqueiro laçou o boi mas rebentou a corda.
 Novo chororô do menino. O vaqueiro lhe deu um boi.
 O menino viu a onça, uma enorme, comento um resto de carniça.
 — Onça! Não se usa mais comer carniça e sim um boi como esse meu!
 — Oh! Menino! Me dê o seu boi!
 E comeu o boi. O menino ficou no soluço, choramingando e pedindo o boi:
 — Onça, me dê meu boi que o vaqueiro me deu; o vaqueiro quebrou minha cordinha, a cordinha que o escrivão me deu; o escrivão quebrou minha peninha, a peninha que o papa-mel me deu; o papa-mel bebeu meu melzinho, o melzinho que o pica-pau me deu; pica-pau quebrou meu machadinho, o machadinho que minha avó me deu; matei meu guinezinho e minha avó comeu!
 A onça como não tinha coisa alguma para dar ao menino, disse, rosnando:
 — O boi foi pouco e vou comer você!
 E comeu o menino.
Fonte:
Jangada Brasil. Setembro 2010. Ano XII - nº 140. Edição Especial de Aniversário.

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