Ciro Costa
(Limeira/SP, 18 março 1879 – Rio de Janeiro, 22 maio 1937).
" ROSAS "
Beijo-te as lindas mãos com que me feres.
As lindas mãos com que me feres, beijo.
Entre os desejos meus eu só desejo
ter a vaga ilusão de que me queres.
E é só. E é tudo. Entanto, se puderes
arme com um sorriso o meu cortejo.
Já não me iludo ao ver-te qual te vejo
uma mulher como as demais mulheres.
Ao teu jugo, ai de mim! estou sujeito.
Se há goivos que vicejam no meu peito
vivo contigo, amor, em pensamento.
Toda mulher é rosa - aroma e espinho.
Todo homem é um farrapo solto ao vento
mas, ai dele! sem rosas no caminho . . .
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Ciro Vieira da Cunha
(São Paulo/SP, 1 junho 1897 – Rio de Janeiro, 26 junho 1976)
" SAUDADE "
Saudade! teu olhar longo e macio
derramando doçura em meu olhar...
Um bocado de sol sentindo frio
uma estrela vestida de luar...
Saudade! pobre beijo fugidio
que eu tanto quis e não cheguei a dar. . .
A mansidão inédita de um rio
na volúpia satânica do mar...
Saudade! o nosso amor... o teu afago...
O meu carinho... o teu olhar tão lindo...
Um pedaço de céu dentro de um lago...
Saudade! um lenço branco me acenando...
Uma vontade de chorar sorrindo,
uma vontade de sorrir chorando...
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Cláudio Manuel da Costa
(Ribeirão do Carmo (atual Mariana)/MG, 5 junho 1729 – Vila Rica/MG, 4 julho 1789)
" SONETO XXXI "
Estes os olhos são da minha amada:
Que belos, que gentis, e que formosos!
Não são para os mortais tão preciosos
Os doces frutos da estação dourada.
Por eles a alegria derramada,
Tornam-se os campos de prazer gostosos;
Em zéfiros suaves, e mimosos
Toda esta região se vê banhada;
Vinde, olhos belos, vinde; e enfim trazendo
Do rosto de meu bem as prendas belas,
Dai alívios ao mal, que estou gemendo:
Mas ah delírio meu, que me atropelas!
Os olhos, que eu cuidei, que estava vendo,
Eram (quem crera tal!) duas estrelas.
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Cleómenes Campos,
(Maroim/SE, 10 agosto 1895 – São Paulo, 30 abril 1968)
" COR CORDIUM "
Quando eu morrer, procura uma árvore florida,
e cava-lhe no tronco, amada, o meu caixão:
quero que ai repouse o meu corpo sem vida,
longe do humano olhar, dentro da solidão.
Cante-me o réquiem triste a voz da água perdida...
Reze por mim o vento a sua alta oração...
E seja-me o silêncio a lápide escolhida:
- que vale, neste mundo, a maior inscrição?
E, um dia, quando tu, minha doce Querida,
fores ver-me (talvez o tronco esteja são);
para que aches, sem custo, a árvore preferida,
farei cair da altura um fruto em tua mão,
fruto que, ao te roçar a palma comovida,
irá tomando a forma e a cor de um coração...
CORAÇÃO DISTANTE
Eu bem sei que a tua alma está longe da minha,
tão longe que talvez não a possa alcançar:
vela que mal se vê na amplitude marinha,
dando mais a impressão de um reflexo de luar.
Contudo, muita vez, ela se me avizinha,
que a esperança é também uma brisa de mar.
E a alegria, que em tua ausência já nem vinha,
para te receber, não sai do meu olhar.
Não percebes, porém, a minha angústia imensa.
Prefiro o teu desprezo à tua indiferença;
à tua polidez, prefiro o teu rancor!
Teu coração distante, é inútil, pois não ama,
se o inferno ele não é - porque lhe falta a chama,
o céu não pode ser - porque lhe falta o amor!
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Clóvis Ramos
(Clóvis Pereira Ramos)
(Forte Tabatinga/AM, 20 novembro 1922 )
" BEIJO DE SAL "
Marinheiro, parti para longa viagem
e em demanda me pus de longínquo país.
Tinha os olhos de mar perdidos na paisagem,
pelos portos amei as mulheres que eu quis.
Praia branca de luar, sonhadora paragem
onde a nau ancorei - seios brancos de liz.
No meu peito ficou - ilusória miragem!
um nome de mulher, amarga cicatriz.
Por onde naveguei tive-a no pensamento.
Em vão quero apagar sua imagem fatal,
rosto de maresia, alma aérea de vento.
Em vão tento esquecer sua boca sensual,
que teima em me lembrar, momento por momento,
o seu amor de espuma, o seu beijo de sal!
Fonte:
– J.G . de Araujo Jorge . "Os Mais Belos Sonetos que o Amor Inspirou". 1a ed. 1963
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