Uma ocasião achavam-se na beira da estrada um macaco e uma cotia e vinha passando na mesma estrada um carro de bois cantando. O macaco disse para a cotia:
— Tira o teu rabo da estrada, senão o carro passa e corta.
Embebido nesta conversa, não reparou o macaco que ele é que corria o maior risco, e veio o carro e passou em riba do rabo dele e cortou. Estava um gato escondido dentro de uma moita, saltou no pedaço do rabo do macaco e correu. Correu também o macaco atrás, pedindo o seu pedaço de rabo. O gato disse:
— Só te dou, se me deres leite.
— Onde tiro leite? — disse o macaco.
Respondeu o gato:
— Pede à vaca.
O macaco foi à vaca e disse:
— Vaca, dá-me leite para dar ao gato, para o gato dar-me o meu rabo.
— Não dou; só se me deres capim. — disse a vaca.
— Donde tiro capim?
— Pede à velha.
— Velha, dá-me capim, para eu dar à vaca, para a vaca dar-me leite, o leite para o gato me dar o meu rabo.
— Não dou; só se me deres uns sapatos.
— Donde tiro sapatos?
— Pede ao sapateiro.
— Sapateiro, dá-me sapatos, para eu dar à velha, para a velha me dar capim, para eu dar à vaca, para a vaca me dar leite, para eu dar ao gato, para o gato me dar o meu rabo.
— Não dou; só se me deres cerda.
— Donde tiro cerda?
— Pede ao porco.
— Porco, dá-me cerda, para eu dar ao sapateiro, para me dar sapatos, para eu dar à velha, para me dar capim, para eu dar à vaca, para me dar leite, para eu dar ao gato, para me dar o meu rabo.
— Não dou; só se me deres chuva.
— Donde tiro chuva?
— Pede às nuvens.
— Nuvens, dai-me chuva, para o porco, para dar-me cerda para o sapateiro, para dar-me sapatos para dar à velha, para me dar capim para dar à vaca, para dar-me leite para dar ao gato, para dar meu rabo…
— Não dou; só se me deres fogo.
— Donde tiro fogo?
— Pede às pedras.
— Pedras, dai-me fogo, para as nuvens, para a chuva para o porco, para cerda para o sapateiro, para sapatos para a velha, para capim para a vaca, para leite para o gato, para me dar meu rabo.
— Não dou; só se me deres rios.
— Donde tiro rios?
— Pede às fontes
— Fontes, dai-me rios, os rios ser para as pedras, as pedras me dar fogo, o fogo ser para as nuvens, as nuvens me dar chuvas, as chuvas ser para o porco, o porco me dar cerda, a cerda ser para o sapateiro, o sapateiro fazer os sapatos, os sapatos ser para a velha, a velha me dar capim, o capim ser para a vaca, a vaca me dar o leite, o leite ser para o gato, o gato me dar meu rabo.
Alcançou o macaco todos os seus pedidos. O gato bebeu o leite, entregou o rabo. O macaco não quis mais, porque o rabo estava podre.
Fonte:
Colhido por Sílvio Romero, em Pernambuco.
Jangada Brasil. Setembro 2010. Ano XII - nº 140. Edição Especial de Aniversário.
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