Espetáculo teatralista, do grupo Barca de Dionisio, formado por ex-alunos da Escola de Comunicações e Artes e da Escola de Arte Dramática da Universidade de São Paulo, sob a direção de William Pereira. Voltado para a pesquisa de linguagem, o espetáculo domina todo o galpão de eventos do Sesc Pompéia.
O texto de George Büchner, datado de 1836, historicamente pertence ao romantismo; todavia dele faz uma crítica, inaugurando alguns procedimentos que, retomados pelo expressionismo, o tornam um admirável precursor. A ação centra-se nos desencontros entre o casamento arranjado entre Leonce e Lena, príncipes de reinos diferentes, que fogem de casa diante da iminência de uma união não pretendida. Em suas fugas acabam se conhecendo e se apaixonando, como joguetes do destino. O pano de fundo dessa história é a crise pessoal de seus integrantes, dominados pelo tédio, e a crise do poder político, imutável e sem perspectiva de alteração.
A encenação de William Pereira é grandiosa e emprega fartamente os ingredientes da alta teatralidade: no grande galpão são instalados carros móveis contendo os elementos cenográficos, deslocados de lá para cá, segundo as necessidades. Os atores encarregam-se da contra-regragem, imprimindo à realização procedimentos brechtianos. Os figurinos de Marco Antônio Lima recriam os estereótipos românticos, conferindo-lhes um tom crítico. O desenho de luz, criado por Cibele Forjaz e Edinho Amorim, infunde tons líricos e mágicos à plasticidade das cenas, ajudando na fluência do espetáculo, marcado igualmente pela trilha sonora que alterna Doors, Wagner, lieds de Schumman e Franz Schubert.
Em seu comentário, destaca o crítico Alberto Guzik: "William Pereira e Barca de Dionisos fizeram de Leonce e Lena uma celebração apaixonada da teatralidade. Desde o primeiro quadro, numa espécie de ante-sala do galpão, o teatro se denuncia enquanto ficção, mediante o recurso simples (tão querido de Brecht) de fazer os protagonistas envergarem suas vestes de cena à vista do público. (...) O público participa lúdica, fisicamente, do que se passa em cena. (...) O elenco, formado por um conjunto coeso de intérpretes, tem rendimento homogêneo, de admirável equilíbrio".1
Notas
1. GUZIK, Alberto. Uma celebração apaixonada, que resgata a pesquisa. Jornal da Tarde, São Paulo, p. Q-7, 11 dez. 1987.
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