sábado, 19 de janeiro de 2013

Adonias Filho (O Largo da Palma) 2. O Largo de Branco


O primeiro conto: A Moça dos Pãezinhos de Queijo está em http://singrandohorizontes.blogspot.com.br/2012/02/adonias-filho-o-largo-da-palma-1-moca.html
––––––––––––––-
 As personagens desse conto são Eliane, Odilon e Geraldo.

Espaços

 Externo - Largo e Igreja da Palma (como já vimos, presente em todas as novelas e tratado como ser vivo), e Rua do Bângala.

 Interno - Quarto em que mora Alice e que Eliane subloca. Casas em que Eliane morou na infância (Itapagipe), quando casada com Odilon e quando viveu com Geraldo (Campo Grande, Barris e Rio Vermelho).

Linguagem

 Concisa, períodos curtos, incisivos. O narrador explora os aspectos lírico-poéticos da linguagem. Percebe-se o uso de metonímias: “Você, Eliane, casou com um hospital”.

 O autor usa os mesmos recursos poéticos presentes nas outras novelas: metáforas, comparações, inversões, frases nominais e enumerações, assíndetos etc.

Foco narrativo e Tempo

 A narrativa é em terceira pessoa, embora centrada no personagem Eliane. Está muito presente o estilo indireto livre. É como se Eliane estivesse fazendo uma revisão de suas vivências: a vida com Geraldo e a vida com Odilon.

 Coloca-se como tempo presente narrativo aquela “manhã de junho”, em que, “gasto o vestido que usa, fora de moda, o melhor de todos os que restaram”, Eliane espera reencontrar-se com Odilon no Largo da Palma.

 Inclusive, neste início, as formas verbais estão no indicativo presente; ressaltam a idéia dos fatos que estão em curso.

 Não raras vezes se fundem presente – fatos que estão sendo vividos, e passado – fatos recordados, pois vividos no passado.

 Mudam, então, os tempos verbais (imperfeito, perfeito, mais que perfeito, ressaltando a idéia de fatos já ocorridos.) Inclusive, em longos trechos, utilizam-se as aspas, para indicar que esses trechos são “narrados” pela memória da própria Eliane, como em um longo discurso indireto livre, dentro do qual aparecem formas do discurso direto.

 O narrador, além de marcar o tempo, usando verbos no presente e no passado, usa os advérbios “agora” e “lá” que ressaltam o tempo presente e o lugar. Eliane no Largo da Palma, à espera de Odilon.

 Lê-se e percebe-se a passagem do passado, visto através da lembrança de Eliane, para o presente:

Essa lembrança a perseguiu durante bastante tempo, era como uma idéia fixa, hora a hora a rever as notas sobre a cama. Parecia-lhe uma coisa tão venenosa e viva quanto uma víbora ou um escorpião. O dinheiro na cama, sobre o lençol, nele refletido o desprezo do homem. E como se aquele dinheiro pudesse compensar a ingratidão e resgatar a mocidade e a vida que a ele dera em troca de alguma coisa. Tudo, dera tudo mesmo em troca de nada.

O sol, agora, invade o Largo da Palma e parece que vem mostrá-lo como uma das coisas mais preciosas da Bahia . Habituara-se aos poucos com ele, o Largo da Palma... Eliane, detendo-se para aquecer-se, esmorece os passos. Lá, no quartinho onde mora, o sol não entra.

 Pelo exposto, percebe-se que o tempo da narrativa é basicamente psicológico.

O mundo interior - mundo invisível

Gasto é o vestido que usa, fora da moda, o melhor dos que restaram. Os cabelos agora brancos, sempre sedosos, não melhoram o rosto cansado. Olhos sem brilho, boca um pouco murcha, as rugas. Este é o lado, o lado de fora, que Odilon verá. Sabe que o Odilon – e se não mudou inteiramente – examinar-lhe-á o rosto com atenção a observar todos os detalhes. Não poderá ver, porém, o lado de dentro, precisamente o lado da consciência e do coração.

 O mundo interior traz uma percepção subjetiva do mundo exterior: (...) a rua não era a mesma e certamente não era a mesma por causa dela própria. 

Apesar de menos de sete meses, ah, quanto tempo.

A tensão nervosa expulsando-a do quarto, empurrando-a para a rua. A tensão nervosa e os olhos de Alice sempre cheios de curiosidade.

 (ver mundo interior = tensão nervosa; mundo exterior = olhos de Alice = expressão mundo interior = curiosidade)

Desfecho: E, como se nada houvesse acontecido naqueles trinta anos, desde que se separaram, ele apenas diz:

 – Vamos, Eliane, vamos para casa.

 (...) Ela se lembra das manhãs de chuva que sempre escurecem o Largo da Palma. Agora, como a vingar-se daquelas manhãs, o sol ajuda o céu tão azul. E Eliane, ainda com o coração a bater muito forte, não tem dúvida de que o seu velho largo, como num dia de festa, está vestido de branco.

Fonte:

Nenhum comentário: