quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Maria do Carmo Marino Schneider (Cristais Poéticos)


SONETO DO ETERNO AMOR 

Sabes que, em tempo algum, jamais alguém
 te amou, assim, como eu sempre te amei.
 É o brilho de teus olhos diz, também,
 que eterna amada para ti serei...

 Esse amor de ontem que pensei perdido,
 é chama ardente, sonho revivido,
 mar proceloso que meu ser invade,
 a me afogar em ondas de saudade.

 Minh'alma aflita sofre a se indagar:
 virá tão grande amor a extinguir-se
 perdendo-se no ardil do esquecimento?

 E o coração me diz a sussurrar:
 jamais! Pois esse amor há de nutrir-se
 no seio de um e outro, enquanto houver alento.

QUIMERAS

Eu quisera poder parar o tempo,
 retendo o doce enlevo do momento,
 naquela grata surpresa, inesperada,
 de ver-te à minha espera, na chegada...

 Eu quisera esquecer, enfim, o mundo,
 correndo ao teu encontro, num segundo,
 para beijar-te longa e ternamente,
 como sempre o desejara, ardentemente...

 Eu quisera não deter o grito rouco
 e o descompasso do coração louco
 amando-te, afinal, ao ter-te perto...

 Eu quisera tantas coisas que não fiz...
 Mas embora muda a boca e preso o gesto,
 O meu olhar falou-te: estou feliz!

CORRENTEZA

O meu barco vida
 governar quisera
 nesta correnteza...

 Nas águas do tempo,
 em veloz corrida,
 eu me vejo presa...

 Navego o meu barco
 e, na dura lida,
 me vence o cansaço...

 São tantos os seixos,
 são tantas as pedras,
 são tantos percalços...

 Mas sigo sem queixas.
 Se a esperança medra,
 não detenho os braços.

 O leme seguro
 e, transpondo as águas,
 contemplo o futuro

ONDE ESTAVAS?

Onde estavas, onde estavas,
 Quando as sombras e o silêncio
 Vestiram a ilha dos sonhos
 De solidão, sem candeias?

 Por certo que te encontravas
 Velejando em outros mares,
 Buscando estrelas e luares
 Em céus que não conhecias...

 Da ilha, berço do carma,
 No teu baú de saudades,
 Só levaste farpas, mágoa,
 Quando na noite fugias...

 Abandonaste, esquecidos,
 O pão, o mel, a água fresca,
 A luz que clareia a estrada,
 E os sonhos, tesouros perdidos…

FIO DE ARIADNE

Ah! esse sabor amargo
 que na boca aflora
 e esse vazio atróz
 que faz de mim sozinha
 o que antes era nós...

 Ah! esse silêncio largo
 que me envolve agora
 e essa dor intensa
 que cedo me definha
 e cala minha voz...

 Ah! esse amor aziago
 que minh'alma chora,
 que torna a vida densa
 e os dias negras mós,
 é o que cortou a linha
 de seculares nós…

ACALANTO

Hoje, tranquei o meu canto.
 Nenhuma palavra vem.
 Quisera poder prender meu pranto
 também!

 O tempo é um duende alado
 que não permite a ninguém
 viver feliz sempre ao lado
 de um bem.

 Por isso, choro saudade,
 lamento a falta de alguém,
 Onde está a felicidade?
 Não vem?

 Adormeço na esperança
 De encontrá-la no além,
 Que ela venha sem tardança...
 Amem!

AMOR ANTIGO

O amor antigo que minh'alma abriga
 nasceu há muito, já não tem idade.
 É como som dolente de cantiga
 a repetir-se pela eternidade.

 O amor antigo, de esperança ausente,
 nada pede, nem exige, só perdura
 na espera triste, vã, calma e silente
 da sofrida e amante criatura.

 O amor antigo tem raízes fundas,
 feitas de sofrimento e de beleza;
 é o guardião dos sonhos mais profundos
 criando, na alma solitária, a fortaleza.

 O amor antigo, cultivada flor,
 perfuma, assim, a dor e não fenece.
 E, tanto mais vence o tempo é mais amor,
 no seio de quem ama e não esquece.

VÔO PEREGRINO

A alma, em suspense,
 espera o vôo que retarda
 adiando o sonho...
 Soltar-se,
 romper cadeia,
 deixar o tempo
 tecer sua teia,
 sem outro desejo
 que o de viver,
 e nada esperar,
 senão o adormecer
 da última esperança.

Fonte:
http://www.poetas.capixabas.nom.br/pesquisa/poesia.asp?poesia=3369

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