SONETO DO ETERNO AMOR
Sabes que, em tempo algum, jamais alguém
te amou, assim, como eu sempre te amei.
É o brilho de teus olhos diz, também,
que eterna amada para ti serei...
Esse amor de ontem que pensei perdido,
é chama ardente, sonho revivido,
mar proceloso que meu ser invade,
a me afogar em ondas de saudade.
Minh'alma aflita sofre a se indagar:
virá tão grande amor a extinguir-se
perdendo-se no ardil do esquecimento?
E o coração me diz a sussurrar:
jamais! Pois esse amor há de nutrir-se
no seio de um e outro, enquanto houver alento.
QUIMERAS
Eu quisera poder parar o tempo,
retendo o doce enlevo do momento,
naquela grata surpresa, inesperada,
de ver-te à minha espera, na chegada...
Eu quisera esquecer, enfim, o mundo,
correndo ao teu encontro, num segundo,
para beijar-te longa e ternamente,
como sempre o desejara, ardentemente...
Eu quisera não deter o grito rouco
e o descompasso do coração louco
amando-te, afinal, ao ter-te perto...
Eu quisera tantas coisas que não fiz...
Mas embora muda a boca e preso o gesto,
O meu olhar falou-te: estou feliz!
CORRENTEZA
O meu barco vida
governar quisera
nesta correnteza...
Nas águas do tempo,
em veloz corrida,
eu me vejo presa...
Navego o meu barco
e, na dura lida,
me vence o cansaço...
São tantos os seixos,
são tantas as pedras,
são tantos percalços...
Mas sigo sem queixas.
Se a esperança medra,
não detenho os braços.
O leme seguro
e, transpondo as águas,
contemplo o futuro
ONDE ESTAVAS?
Onde estavas, onde estavas,
Quando as sombras e o silêncio
Vestiram a ilha dos sonhos
De solidão, sem candeias?
Por certo que te encontravas
Velejando em outros mares,
Buscando estrelas e luares
Em céus que não conhecias...
Da ilha, berço do carma,
No teu baú de saudades,
Só levaste farpas, mágoa,
Quando na noite fugias...
Abandonaste, esquecidos,
O pão, o mel, a água fresca,
A luz que clareia a estrada,
E os sonhos, tesouros perdidos…
FIO DE ARIADNE
Ah! esse sabor amargo
que na boca aflora
e esse vazio atróz
que faz de mim sozinha
o que antes era nós...
Ah! esse silêncio largo
que me envolve agora
e essa dor intensa
que cedo me definha
e cala minha voz...
Ah! esse amor aziago
que minh'alma chora,
que torna a vida densa
e os dias negras mós,
é o que cortou a linha
de seculares nós…
ACALANTO
Hoje, tranquei o meu canto.
Nenhuma palavra vem.
Quisera poder prender meu pranto
também!
O tempo é um duende alado
que não permite a ninguém
viver feliz sempre ao lado
de um bem.
Por isso, choro saudade,
lamento a falta de alguém,
Onde está a felicidade?
Não vem?
Adormeço na esperança
De encontrá-la no além,
Que ela venha sem tardança...
Amem!
AMOR ANTIGO
O amor antigo que minh'alma abriga
nasceu há muito, já não tem idade.
É como som dolente de cantiga
a repetir-se pela eternidade.
O amor antigo, de esperança ausente,
nada pede, nem exige, só perdura
na espera triste, vã, calma e silente
da sofrida e amante criatura.
O amor antigo tem raízes fundas,
feitas de sofrimento e de beleza;
é o guardião dos sonhos mais profundos
criando, na alma solitária, a fortaleza.
O amor antigo, cultivada flor,
perfuma, assim, a dor e não fenece.
E, tanto mais vence o tempo é mais amor,
no seio de quem ama e não esquece.
VÔO PEREGRINO
A alma, em suspense,
espera o vôo que retarda
adiando o sonho...
Soltar-se,
romper cadeia,
deixar o tempo
tecer sua teia,
sem outro desejo
que o de viver,
e nada esperar,
senão o adormecer
da última esperança.
Fonte:
http://www.poetas.capixabas.nom.br/pesquisa/poesia.asp?poesia=3369
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