sábado, 19 de abril de 2014

Clevane Pessoa (Diamantes de Trovas)


A arte é a essência plástica
a cada coisa do mundo
— a criatividade é elástica
faz o que é raso, profundo

A empregada, despedida,
Sai triste, trouxa na mão...
Leva no ventre, uma vida
Que é do filho do patrão...

A gestante, carinhosa,
"leva" o bebê, comovida...
Sensação maravilhosa:
Guarda, no ventre, UMA VIDA...

Ajudando a toda gente
amando sem distinção
é que ganha o presente
de ter céu com pés no chão...

A minha alma, em plenitude,
Cheia de luminosidade
Faz-se bela, na quietude
Do amor que se faz saudade...

Ao ver as meias, coitado
o vovô pensa:-"Já sei!
Essas, dei no ano passado
no retrasado, as ganhei..."

As duas rosas do teu rosto
De róseas, brancas ficaram,
Para mostrar teu desgosto
— Já que os olhos não choraram...

As notas interpretando
Com os pés, pernas, mãos, braços,
A moça que está bailando
Vai "escrevendo" com seus passos...

A solidão que me embala
Canta-me tristes cantigas...
Será que o silêncio fala?
Serão as sombras, amigas?

A verdade é mole ou dura
dependendo da impressão
— ou é Bem que assim perdura
ou demonstra a escuridão

Ciúme é flor que não se cheira
Por mera premonição,
— Ainda assim, erva traiçoeira
envenena o coração

Com lucidez peculiar
Quantos "doidos" são mais certos
Que os que pensam acertar
Julgando-se muito espertos...

Deus, que escuta toda prece
Atende meu jardineiro
A roseira floresce
E há gerânios, o ano inteiro...

É minha mãe quem me inspira
Os versos do coração:
De seu amor, sonora lira,
Eu tiro qualquer canção...

Em vão espera um brinquedo
um menininho de rua...
Risca no chão, com um dedo,
um foguete e vai prá lua…

Gatos à noite são bardos
E miam versos para a lua
Dizem que então ficam pardos
Parecem da cor da rua…

Há muito "louco" no hospício
Fazendo tanto escarcéu
Por ter passe vitalício
Nos auditórios do Céu...

Impossível conhecer
Mesmo o presente obscuro:
Tudo pode acontecer
Sem fantasiar o futuro

Meu canto é de Amor e Paz
— Sou humilde passarinho
Que trovas, num leva-e-traz
Sai espalhando, de mansinho...

Meu mar de amor se renova...
— Será que vou conseguir
Na gota de orvalho — A TROVA —
Pôr meu jeito de o sentir?...

Minha rua, que se aclara
Com a luz do sol, nascente,
À tardinha se prepara
E vai dormir com o poente...

Nada é somente difícil
Tudo, mesmo, pode ser.
— O impossível só é incrível
Até quando acontecer...

Não há mulher que não minta
Nos diz um velho refrão...
— Tem gordura sob a cinta
E diz "sim" quando diz "não"...

Nossas máscaras do dia
nem sempre nos fazem mal
a esconder dor ou alegria
de um eterno carnaval...

Nos teus olhos, a luz que arde
Faz meu espírito brilhar...
Fui entendê-los tão tarde!
Agora não posso voltar...

Num mundo de faz-de-conta
O insano, bem contente
Parece dançar na ponta
De uma lança incandescente

Olhando fotos antigas
Tenho saudades de mim:
— Hoje, maduras espigas
Ontem, um frágil jardim...

O peru tomou cachaça
para ficar bem macio...
Borracho, quebrou a vidraça
e fugiu, quente no frio…

Peço a Deus que me transporte
Para uma outra dimensão...
— Aqui, despida da sorte
Sigo só, na multidão...

Qual um cavaleiro errante
Condenado a não parar
O meu sonho é bom viajante
Corre o mundo sem cessar...

Sobe o morro o caixãozinho
Levando o recém-nascido
Morreu sem nenhum carinho
Volta ao céu, sem ter vivido...

Tanta criancinha faminta
estende a mão sem lograr
tocar alguém que não sinta
Asco, sem sequer a olhar...

Veja o riacho, que andando,
Deseja chegar ao mar...
Coitado! Ao mar chegando
Nunca mais há de voltar!

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