quinta-feira, 17 de abril de 2014

Nilto Maciel (Literatura e Internet)

Recebi esta semana do Nilto o livro que lançou recentemente: Sôbolas manhãs.

Falo com certa vaidade ao declarar que possuo quase todos os livros deste escritor cearense (a maioria me foi enviada pelo escritor), de Fortaleza, que considero um dos maiores escritores e ativista da atualidade no território nacional.

Assim como Mário Quintana, Monteiro Lobato, Carlos Drummond de Andrade ou Clarice Lispector, sem pertencerem aos “imortais” da Academia Brasileira de Letras, seus nomes ficaram imortalizados no livro de nossa história, também Nilto está gravando seu nome nele também.

Sôbolas Manhãs se compõe de textos de sua autoria ao longo dos anos, e ocasionalmente estarei postando um ou outro. Alguns, entretanto, já se encontram no blog, que com o decorrer do tempo estarei indicando seus links.
(José Feldman)

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Os sites literários devem ser grandes depósitos de textos, bibliotecas universais? Devem abrir espaço para a discussão de problemas editoriais no Brasil? Os catálogos das editoras e as estantes das livrarias brasileiras revelam que os escritores brasileiros contemporâneos (poetas, contistas e romancistas) são minoria no imenso universo do livro. Estão espremidos (quando muito) entre livros didáticos (a maior fonte de lucro), clássicos da literatura universal e brasileira (domínio público), traduções, biografias, livros de auto-ajuda, etc. O ideal seria a elaboração de uma lei que criasse um fundo, cujos recursos proviessem dos lucros obtidos pelas editoras com a publicação dessas obras de domínio público. Esse fundo poderia patrocinar concursos públicos para publicação de obras inéditas ou mesmo editar (como o fazia o Instituto Nacional do Livro) livros selecionados em concurso ou em outra modalidade de seleção.

                    Os poetas, contistas e romancistas contemporâneos brasileiros estão fora do mercado. Entretanto, na opinião de livreiros, editores, dirigentes de câmaras do livro, a indústria editorial no Brasil vai muito bem, obrigado. Ora, só o governo compra 40% da produção de livros. Isto significa que está tudo muito bom (para eles). Todos nós (ou quase todos) publicamos nossos livros (quando publicamos) por editoras universitárias ou por conta própria. Ou seja, somos lidos apenas pelos amigos. A grande maioria escreve para as próprias gavetas. Um ou outro escritor consegue pôr a cabeça fora da água, a muito custo. Alguns conseguem organizar antologias e, assim, tirar do limbo, uns poucos escritores. É o caso de Nelson de Oliveira, Rinaldo de Fernandes e outros. Louve-se também o trabalho de Rogério Pereira, à frente do jornal Rascunho.

                    Realizei pesquisa no dia 13 de março de 2006, no “Google”. Fiz busca das seguintes palavras, em ordem alfabética: amor, arte, Bíblia, conto,  cultura, guerra, Jesus, literatura, livro, paz, poesia, revista, saúde, sexo e vida. Pela ordem de grandeza, são os seguintes os números de páginas, no Brasil, de cada uma das palavras acima: Saúde – 37.600.000; Vida – 24.300.000; Cultura – 19.200.000; Livro – 16.500.000; Revista – 15.100.000; Arte – 13.600.000; Amor – 13.200.000; Literatura – 9.440.000; Sexo – 9.440.000; Guerra – 6.520.000; Jesus – 6.130.000; Poesia – 6.000.000; Bíblia – 5.130.000; Paz – 2.370.000; Conto – 1.690.000.

O elevado número de páginas dedicadas ao livro é sintomático. Como falar em “morte do livro”, se na própria Internet ele está mais vivo do que nunca? Eduardo Diatahy B. de Menezes, no artigo “A morte do livro na era virtual?”, observa: (...) “em nossa época de avanço exponencial das tecnologias de comunicação e informação, resumidas na presença avassaladora da Internet, surgem novos profetas anunciando a morte do Livro! Felizmente, o que se tem presenciado é o processo contrário: nunca se produziu tanto livro e jamais houve um acesso tão amplo a informações de toda ordem, contidas nas maiores bibliotecas e museus do mundo; jamais existiu uma livraria com um acervo de 3 milhões de livros como a 'Amazon.com', e criações generosas como a Biblioteca Virtual do Estudante produzida pela USP ou o Jornal de Poesia realizado por Soares Feitosa, que põem enorme volume de livros à disposição na Internet. Nossos velhos hábitos mentais não nos fazem capazes de vislumbrar sequer as mudanças que ainda virão nesse rumo sem limites”.

E “crise da literatura”? Pode-se falar em crise, num sentido amplo. Certamente a crise não será de criação, mas de editoração, de mercado editorial. Pois os poetas, contistas e romancistas não param de escrever. Se não conseguem publicar (em forma de livro), a causa não está neles. Ou está? Os leitores estariam mais interessados em Paulo Coelho do que em Francisco Carvalho? Ou tem sido sempre assim? Dizem que os editores esperam por novos transgressores da linguagem. Novos Guimarães Rosa, James Joyce, Franz Kafka. Não, eles esperam por novos O Nome da Rosa, Harry Potter, O Código da Vinci, que vendem antecipadamente milhões de milhares. O que é perfeitamente lógico, do ponto de vista do mercado. Eles estão interessados em quem vende mais. Em razão disso, poetas como Anderson Braga Horta, romancistas como Carlos Emílio Corrêa Lima, contistas como Emanuel Medeiros Vieira, e outras centenas de bons e excelentes escritores continuarão com seus livros nas gavetas ou nas páginas da Internet.

Como afirmar que poesia não é lida? Há dezenas ou centenas os sites e blogs de pura poesia. Pelos comentários dos leitores, percebe-se que há uma avidez de leitura. Então por que são raros os livros de poesia nas prateleiras das livrarias?

Fonte:
Nilto Maciel. Sôbolas Manhãs. Porto Alegre: Bestiário, 2014.

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